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A regra jurídica previdenciária descreve as atividades que vinculam os segurados de modo compulsório ou facultativo, regulando a relação de filiação. No entanto, não basta ser considerado beneficiário para a aquisição do direito a proteção. O direito à prestação depende do preenchimento de certas circunstância previstas na norma jurídica (direito

objetivo). Assim, quando ocorre a materialização da hipótese prevista na norma jurídica nasce, a partir daí, a relação jurídica que se estabelece entre o sujeito da proteção e a entidade previdenciária.

Em notável estudo sobre a norma jurídica, Paulo de Barros Carvalho (2002, p. 35) observa as diretivas traçadas por Norberto Bobbio e ressalta:

[...] seja geral ou individual (sujeito passivo) e coletivo, ou pessoal (sujeito ativo) o que interessa saber, para bem qualificar a proposição prescritiva como norma jurídica, é se o comportamento previsto assume a forma de ação-tipo que deve repetir-se tantas vezes quantas seu destinatário se encontre na situação descrita.

No Direito previdenciário a norma jurídica narra uma hipótese que define o elemento material ou fato (contingência) que, se ocorrer nos moldes do que retrata a norma, trará uma conseqüência, ou seja, o direito de receber uma prestação pecuniária (aposentadoria).

A relação jurídica, portanto, se forma diante dos fatores que estabelecem o vínculo jurídico entre o sujeito da proteção e aquele que tem o dever jurídico estabelecido na norma. Por isso, Paulo Nader (2000, p. 288) destaca que “[...] é no quadro amplo das relações jurídicas que se apresentam os sujeitos do direito e se projetam direitos subjetivos e deveres jurídicos”.

Logo, o direito subjetivo vem definido pelo direito objetivo e apresenta-se em relação jurídica. Na relação jurídica o sujeito ativo detém o direito subjetivo de, segundo a sua liberdade de agir, reivindicá-lo do sujeito passivo, que é aquele a quem a norma atribui um dever jurídico.

Nestas condições, pode-se afirmar que o direito subjetivo corresponde a um dever jurídico e, ao titular do direito, atribui-se a possibilidade de exigi-lo, seja diretamente de seu titular, mediante cumprimento espontâneo da obrigação, ou mediante dedução de pretensão em juízo.

Lembre-se que a dinâmica da proteção social pode gerar três tipos de relação jurídica: de vinculação, de amparo ou de proteção e de custeio (FEIJÓ COIMBRA, RPS 50/9). É na relação jurídica de amparo ou de proteção que as prestações previdenciárias aparecem em correspondência com as contingências.

A estrutura interna da relação jurídica de proteção é composta por três elementos: os sujeitos, o objeto e o fato jurídico.

Essas prestações previdenciárias são constituídas por benefícios (obrigação de dar) e serviços (obrigação de fazer). Para Antônio Carlos de Oliveira (apud BALERA, 1992, p. 62):

Os benefícios são prestações pecuniárias, devidas pela Previdência Social a pessoas por ela protegidas, destinadas a prover-lhes a subsistência, nas eventualidades que as impossibilitem de, por seu esforço, auferir recursos para isto, ou a reforçar-lhes os ganhos para enfrentar encargos de família, ou amparar, em caso de morte, os que deles dependiam economicamente.

As espécies de benefícios assegurados pelo Regime Geral de Previdência Social são os seguintes: aposentadoria por invalidez, aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de contribuição, aposentadoria especial, auxílio-doença, salário-família, salário- maternidade, auxílio-acidente, pensão por morte, auxílio-reclusão, serviço social e reabilitação profissional.

A classificação dos benefícios, segundo as espécies normativas, são prestações de pagamento continuado; prestações privativas dos segurados; prestações privativas dos dependentes; prestações comuns aos segurados e dependentes; prestações decorrentes de acidente do trabalho.

As prestações de pagamento continuado são aquelas que a partir de sua concessão serão pagas sucessivamente, mês a mês, daí para frente até que cesse as condições para a manutenção do benefício. Assim, se o segurado recebe o auxílio-doença, enquanto persistir a incapacidade temporária receberá a prestação a esse título.

As prestações privativas dos segurados são aquelas que só o segurado a elas faz jus. Constituem-se direito pessoais e intransferíveis. Só o segurado dela pode usufruir na condição de titular do direito. Cessadas as condições para recebimento da prestação, esta se extingue. Cite-se, por exemplo, as aposentadorias. Em caso de morte do segurado aposentado, extingue-se o benefício.

Com o óbito do segurado, cessa o pagamento da prestação e, caso deixe dependentes identificados nos termos da lei, nasce para estes o direito ao recebimento de outra prestação, a pensão por morte, que se enquadra na classificação das prestações devidas exclusivamente àqueles que mantêm dependência econômica em relação ao segurado.

Esta situação peculiar revela a existência de uma relação jurídica indireta entre o dependente e a entidade previdenciária, que subsiste enquanto o segurado estiver vinculado ao Regime.

Se na data do óbito do segurado o dependente preencher os requisitos qualificadores dessa condição, nos termos do que dispõe o art.16 da Lei n. 8.213/91, no instante em que se extingue, com a morte, a relação mantida entre o segurado e a entidade previdenciária, o dependente passa a ser titular de direito subjetivo a prestação (pensão por morte) e a relação jurídica se estabelece diretamente daí para frente.

Atualmente, a legislação que rege o regime geral de previdência social não prevê, expressamente, a classificação dos benefícios em comuns e acidentários. O art. 18 da Lei n. 8.213/91 dispõe sobre os benefícios “quanto ao segurado”, “quanto aos dependentes” e “quanto aos dependentes e segurados” e determina que os mesmos benefícios e serviços incluídos nessa classificação serão devidos inclusive em decorrência de acidentes do trabalho.

Embora a legislação reguladora do assunto não faça expressamente a distinção entre benefícios comuns e acidentários, numa interpretação sistemática os resultados apontam que os benefícios continuam sendo diferenciados e identificados quanto a sua espécie no ato da concessão de benefícios.

Se o benefício decorre de acidente do trabalho (artigos 19 e seguintes da Lei n. 8.213/91), deve ser realizada a comunicação do acidente do trabalho e a caracterização deste perante a previdência social (artigos 336 e 337 do Decreto n. 3048/99). Os fatores que justificam essa distinção são poucos.

A caracterização do acidente de trabalho, em caso de incapacidade temporária por mais de quinze dias, gera direito ao pagamento do auxílio-doença acidentário ao segurado. Neste caso, com a recuperação da capacidade, o segurado terá garantida, pelo prazo de doze meses, a manutenção do seu contrato de trabalho na empresa.

Além da estabilidade provisória, a caracterização do acidente do trabalho também servirá de critério para fixação da competência para apreciar eventual litígio daí decorrente e do procedimento, na via judicial, que, nos termos do inciso I art. 109 da Constituição Federal e inciso II do art. 344, do Decreto n. 3.048/99, é da Justiça dos Estados e do Distrito Federal.

Esse mesmo evento danoso irá determinar na via administrativa, a prioridade para a conclusão dos processos, de acordo com o inciso I, do art. 344 do Decreto n. 3.048/99.

Para o caso de acidente de origem traumática e por exposição a agentes exógenos (físicos, químicos e biológicos) que acarrete lesão corporal ou perturbação funcional, a perda, redução permanente ou temporária da capacidade laborativa, inclusive se acidente do trabalho, não será exigido o cumprimento de carência para a concessão da aposentadoria por invalidez ou auxílio-doença (parágrafo único do art. 30 do Decreto n 3.048).

Os benefícios podem ser ainda usufruídos sob a forma de serviços que se subdividem em serviço social e reabilitação profissional. Tanto os segurados quanto os dependentes podem usufruir dos serviços.

Cada espécie de benefício possui requisitos específicos. Via de regra, os benefícios exigem a prova da condição de segurado, o cumprimento de carência, que equivale ao número mínimo de contribuições vertidas à previdência social para aquisição do direito aos benefícios, e o elemento material da relação jurídica de proteção que é o risco social (morte, invalidez etc.).

As prestações pecuniárias estão diretamente ligadas ao princípio da irredutibilidade, e é por isso que o foco deste estudo estará concentrado sobre as prestações pecuniárias que substituem a remuneração do segurado.