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De acordo com a dicção do artigo 194 da Lei Maior: “A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade destinadas a assegurar o direito relativo à saúde, a previdência e assistência social”.

Celso Barroso Leite, em análise adequada à interpretação que se faz do artigo em questão, ensina que: “Em princípio e pelo menos no tocante à organização administrativa da área social, um regime integra um sistema. Normalmente diz respeito a determinado grupo ou setor, enquanto sistema pressupõe mais de um regime” (LEITE, 1996, p. 137).

Assim, a Seguridade Social é constituída pelas áreas da saúde, da previdência social e da assistência social que atuam de forma integrada para garantir a proteção e proporcionar o bem-estar e justiça social.

Embora as técnicas agrupadas dentro do sistema tenham inúmeras peculiaridades e regimes diversos, o papel que cada uma deverá desempenhar dentro do sistema já vem previamente definido pela Constituição, nos artigos 196, 198 e 201, em conformidade com os

princípios que norteiam a Seguridade Social, harmonizando-as e dando-lhes coesão. A atuação de cada uma das diferentes ações também é facilitada porque perseguem os mesmos objetivos.

2.3.1 Subsistema da Saúde

O art. 196 da Constituição Federal desenha o modelo com o qual a saúde irá atuar dentro do sistema de seguridade social. O texto afirma inicialmente que “a saúde é direito de todos”, reafirmando, com isso, que a mesma é um direito subjetivo público que dá a seus destinatários o direito de exigir a sua prestação ao Estado.

Mais adiante, acrescenta o legislador que a saúde não depende de filiação e contribuição direta e pessoal para garantir o seu custeio. As ações da saúde serão desenvolvidas através de políticas públicas voltadas para a promoção, proteção e recuperação das condições de saúde, bem como a redução do risco de doenças.

A Lei n. 8.080, de 19/09/1990, Lei Orgânica da Saúde, dispõe sobre a organização e o subsistema da Saúde, fixando que o mesmo será constituído Sistema Único de Saúde - SUS. O legislador, de forma imprecisa, se refere a um “sistema” único de saúde, fazendo crer que há um sistema que integra outro sistema.

As ações da saúde serão prestadas sob a forma de serviços cuja execução deve ser feita pelo Poder Público ou por intermédio de terceiros, conforme autoriza o artigo 199 da Constituição.

Os incisos I a XI do artigo 6º da Lei n. 8.080/90 enumeram as atribuições do Sistema Único de Saúde, destacando-se, entre elas, as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, de saúde do trabalhador, de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica, participação na formulação da política e na execução das ações de saneamento básico, controle e fiscalização dos procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e participação na produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, homoderivados e outros insumos.

2.3.2 Subsistema da Assistência Social

A assistência pública tem sua inspiração no espírito de caridade e de solidariedade entre pessoas e grupos, próprias da natureza humana, cujas manifestações permeiam a vivência social desde os primórdios das civilizações. Dessas manifestações, muitas marcas

foram deixadas pelas civilizações passadas, como narra Feijó Coimbra (1993, p. 18) a respeito do Texto de Teofrasto (228 a.C.) que se refere a uma associação existente na Hélade, onde pessoas, com inspiração no egoaltruísmo, se cotizavam para prestar socorro àqueles membros que se encontrassem em estado de necessidade.

Contudo foi na Inglaterra, com a Poor Law Act, de 1601, que, pela primeira vez, o Estado aparece para garantir assistência aos necessitados, sendo suas ações geridas pelas paróquias, mediante cobrança de uma taxa obrigatória (BALERA, 2004, p. 45).

No Brasil, na Constituição do Imperial de 1824, assegurava os chamados “socorros públicos” (BALERA, 2004, p. 46). A atual Carta Magna, no art. 203, demonstra a evolução substancial dada à matéria no plano constitucional. Prevê o mencionado artigo que a Assistência Social também integra o Sistema de Seguridade Social e será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição, de acordo com o que o disposto no art. 203 da Carta Magna.

Seus objetivos estão delimitados na Constituição, incisos I a V do art. 203. As ações a ela inerentes estão voltadas para a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; ao amparo de crianças e adolescentes carentes; à promoção da integração ao mercado de trabalho; a habilitação e a reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária e ao benefício constituído de um salário mínimo mensal à pessoa portadora de deficiência ou ao idoso carente.

Segundo Wladimir Novaes Martinez (1989, p. 52): “Os assistidos são os não protegidos pela Previdência Social, geralmente indigentes ou pessoas necessitadas, desempregados ou exercentes de subemprego, carentes, inscritos ou não nos órgãos assistenciais”.

O custeio da Assistência Social provém de recursos do orçamento da Seguridade Social e as ações governamentais nessa área se orientam com base na descentralização político-administrativa, “cabendo a coordenação e normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como as entidades beneficentes e de assistência social” (inciso I, art.204 CF).

A assistência social encontra-se disciplinada pela Lei n. 8.742, de 07 de setembro de 1993, Lei Orgânica da Assistência Social.

2.3.3 Subsistema da Previdência Social

A previdência social, no Brasil, tem seu modelo inspirado no seguro social criado por Otto Von Bismark, na Alemanha, em 1883. A técnica de proteção alemã caracterizava-se pela constituição de um seguro obrigatório, instituído legalmente, sob a gestão de ente público (intervenção do Estatal), destinado à proteção do cidadão, segurado obrigatório. À legislação alemã tem sido atribuída a inspiração para a implantação de todos os sistemas de seguro social criados desde então (FEIJÓ COIMBRA, 1985, p. 17).

Os mesmos fundamentos que orientaram a técnica em sua origem ainda aparecem vívidos nos modelos de previdência social contemporâneos. No Brasil, a Constituição Federal de 1988, no artigo 201, tratou de incluir a técnica no Sistema de Seguridade Social e, aqui, sim, fiel ao sentido dado a um sistema de proteção, a ele integra a Previdência Social, que será constituída por um Regime Geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória que garante a seus beneficiários direitos subjetivos públicos à proteção oferecida.

O legislador prevê a coexistência da previdência social com o denominado regime de previdência privada, instituído com caráter complementar e de forma autônoma em relação àquele, mediante adesão facultativa de seus beneficiários (art. 202, CF).

Os sujeitos protegidos vinculam-se ao regime pelo exercício de atividade abrangida pela previdência social, nos termos da lei. Estes são os segurados que deverão, por força de sua vinculação compulsória, contribuir para, observando o regime de repartição e em contrapartida, fazer jus aos benefícios (prestações pecuniárias e serviços).

O Sistema de Seguridade Social, em que pese estar sob as bases da universalidade da cobertura e do atendimento, exclui os servidores públicos regidos por regimes próprios de previdência e assistência social (art. 40, CF).

Do mesmo modo como o vocábulo previdência origina-se do latim pre videre que significa antever o futuro para se precaver contra as seqüelas dos riscos a que todos estão sujeitos, a previdência social tem como um de seus fundamentos a prevenção e reparação dos riscos sociais.

A Constituição se preocupa em definir o nível de atendimento que a previdência irá proporcionar e identifica cada uma das situações cobertas, apesar de remeter o assunto à regulamentação. A proteção garantida alcançará os eventos de doença, invalidez, morte, idade avançada, maternidade, desemprego involuntário, encargos familiares e reclusão (incisos I a V do art. 201, CF).

Capítulo 3

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE SOCIAL

O estudo dos princípios da Seguridade Social insertos no texto constitucional requer, como medida preliminar, a fixação do conceito de princípio constitucional.

Além disso, seguindo as necessidades metodológicas, apresenta-se relevante a demonstração da concepção contemporânea de princípio no âmbito da teoria geral do direito e no âmbito da Constituição Federal.

A articulação lógica da argumentação desenvolvida neste capítulo também requer uma noção sobre a normatividade dos princípios dentro da ordem jurídica, em conformação com a estrutura do sistema de normas hierarquizado, para só então serem identificados os princípios da Seguridade Social.