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Prevalência de características respiratórias

No documento UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO (páginas 86-90)

6 DISCUSSÃO

6.4 Considerações sobre os resultados deste estudo e os dados disponíveis

6.4.2 Prevalência de características respiratórias

O presente estudo avaliou a presença de características anatômicas e funcionais que podem exercer influência na determinação do padrão respiratório, assim como a prevalência do tipo de respiração (nasal, mista ou bucal), em 507 crianças na fase da dentadura decídua.

As características avaliadas foram hipertrofia de tonsila faríngea, hipertrofia de tonsilas palatinas, desvio de septo, hipertrofia de cornetos e ronco noturno.Estas características, arbitrariamente denominadas “primárias”, estão relacionadas à obstrução nasal, gerando repercussões na etiologia da respiração bucal, justificando, assim, uma análise em separado sobre suas possíveis interações com a prevalência da mordida cruzada posterior na dentadura decídua.

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A prevalência de hipertrofia de tonsila faríngea foi da ordem de 18,5% , sendo maior para hipertrofia de grau 3 (13,4%) do que de grau 4 (5,1%). Resultado similar foi apresentado para hipertrofia de tonsilas palatinas: 17,1% no total, sendo 11,4% para grau 3 e 5,7% para grau 4. O septo nasal apresentou-se desviado em 19,5% das crianças, e os cornetos hipertróficos acometeram 27,2% da amostra. A coleta de dados sobre a da presença de ronco noturno foi feita por meio de relato das mães, mediante questionários específicos, mostrando-se presente em praticamente metade da amostra (47,3%), como indica a Tabela 5.7.

A partir destas e outras características relatadas, foi estabelecido o padrão respiratório das crianças envolvidas no estudo. As crianças classificadas como respiradoras bucais representaram 65,3%, as respiradoras mistas 26 % e as respiradoras nasais apenas 8,7% (Tabela 5.7).

A literatura fornece poucos dados com relação à prevalência das características respiratórias em crianças. Além disso, a análise do padrão respiratório muitas vezes é feita apenas com dados relatados em questionários ou pela observação clínica das crianças, sem análise detalhada de estruturas anatômicas, como realizado neste estudo. Alguns trabalhos mais precisos fazem uso de exames radiográficos para avaliação de hipertrofia de tonsila faríngea, e poucos se utilizam de exames complementares como a rinometria acústica e, menos ainda, da nasofibroscopia, pois são exames de realização mais complexa, que exigem estrutura física e aparato tecnológico mais dispendioso para sua realização.

Corrucini, Flander e Kaul (1985) avaliaram 315 jovens, de 12 a 16 anos, do norte da Índia. Os autores compararam a prevalência de respiradores bucais e nasais entre grupos urbanos e rurais. Dentre os habitantes urbanos, 27 de 127

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jovens apresentaram respiração bucal (21,3%); enquanto, dentre os habitantes da zona rural, um número bem menor, de apenas 18 em 188 (9,6%) apresentou respiração bucal.

Melsen et al. (1987), em um estudo de 721 crianças italianas, observou que apenas 5,5% delas apresentaram respiração bucal, diagnóstico este realizado clinicamente, por dois examinadores diferentes, mediante a observação direta da respiração no momento do exame.

A avaliação de 644 crianças suecas, com idade de quatro anos, realizada por Lofstrand-Tidestrom et al. (1999) mostrou uma prevalência baixa de problemas respiratórios. A prevalência de respiradores bucais, pelos relatos de questionários, foi de 9,1%. Do total da amostra, 48 apresentavam ronco noturno frequente (7,45%), com paradas respiratórias durante o sono. Após a análise destes dados, relatados em questionários, os autores diagnosticaram que 28 delas apresentavam obstrução respiratória (4,34%) e seis sofriam de apnéia do sono (0,93%).

Em um estudo com 213 estudantes venezuelanos, com idade entre 5 e 14 anos, Parra (2004) constatou uma prevalência de 63% das crianças com características de respiradores bucais, além de 68% com incompetência labial. O autor valeu-se de exame clínico para análise do padrão respiratório, a partir de características externas visualizadas, e de relatório de pais a respeito de hábitos respiratórios.

DiFrancesco et al. (2006) avaliaram 80 pacientes atendidas no curso de especialização em Ortodontia da Sociedade Paulista de Ortodontia. Os autores observaram obstrução nasal em 51,3% da amostra, sendo que o principal causador da alteração respiratória foi a rinite inflamatória, provavelmente alérgica. As

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hiperplasias de tecidos linfóides, que englobam as hiperplasias adenoideanas e amigdalianas, acometeram, juntas, 15,6% da amostra.

Em um estudo com 150 crianças, com idade entre oito e dez anos, em Recife (PE), Menezes et al. (2006) observaram uma prevalência de 53,3% de respiradores nasais. A determinação do tipo respiratório foi feita com o auxílio de um espelho próximo às narinas das crianças, mostrando a saída de ar pelo nariz ou pela boca, e também com o teste da criança mantendo água na boca durante 3 minutos, com lábios fechados, e avaliando sua capacidade respiratória nasal.

No estudo de Suliano et al. (2007), com 173 crianças brasileiras, a prevalência de respiradores nasais foi de 17,9%. Foram realizados testes clínicos e avaliações visuais das crianças em repouso para determinação do padrão respiratório.

No trabalho de Ovsenik (2009), a determinação do padrão respiratório foi feita pela observação clínica das crianças em repouso, e de sua respiração, com atenção especial ao selamento labial. Também foi utilizado um aparelho, colocado próximo às narinas das crianças, para medir a temperatura do ar expelido durante a respiração, o que determinaria a predominância de respiração nasal ou bucal. Num grupo de 243 crianças eslovenas, com idade de três a cinco anos, foram encontradas prevalências entre 25 e 40% de respiradores bucais.

Melink et al. (2010) também estudaram alterações respiratórias em crianças eslovenas (n=30). A amostra selecionada para o estudo apresentava elevada prevalência de hipertrofia das tonsilas faríngeas e palatinas (83,33%). Observou-se desvio de septo em cinco crianças (16,67% da amostra) e obstrução nasal, com respiração bucal, em 11 destas crianças (36,67%).

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Conforme se pode observar, as prevalências das características respiratórias são variadas, conforme as regiões geográficas envolvidas e os métodos diagnósticos utilizados. Naturalmente, é possível esperar que a prevalência da respiração nasal decresça à medida que aumente o rigor dos exames otorrinolaringológicos e os critérios de classificação.

6.4.3 Relação entre características respiratórias e a prevalência de mordidas

No documento UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO (páginas 86-90)

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