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4 PROGRAMAS EDUCATIVOS TRÂNSITO E DROGAS

4.1 Prevenção Quanto ao Uso de Drogas

O abuso de drogas e seus efeitos nocivos sobre os usuários é uma questão de saúde, cuja prevenção se inscreve, necessariamente, na vertente da educação.

O fato do abuso de drogas ser apresentado à população como vinculado às drogas ilícitas, ficando as drogas lícitas - exatamente as mais consumidas e causadoras de maiores danos à saúde - inteiramente livres para o consumo, o qual é alimentado por propagandas que as colocam como caminho do sucesso e sinônimo de alegria, beleza e juventude.

Para Inem; Acselrad (1993), na medida em que o uso de drogas se generaliza e está de tal forma presente no nosso cotidiano, torna-se necessária a busca de soluções coletivas, comunitárias. Mas como essas práticas se organizam? Em sua prática de prevenção, que dificuldades a comunidade vem encontrando?

O uso de drogas lícitas, de venda legal, não é reconhecido de fato como um problema inquietante. As autoridades políticas têm-se preocupado principalmente com o preço do produto. No entanto, há questões mais graves que o preço: em certas regiões do Brasil e em certas populações específicas, o índice de automedicação é elevado.

A deficiência de fiscalização na venda de medicamentos que só poderiam ser vendidos mediante apresentação e/ou retenção da prescrição médica, é notória. As drogas lícitas são as mais usadas em alguns estratos sociais, segundo pesquisas epidemiológicas recentes, mas não há angústia coletiva face a este uso. O grande e temido fantasma continua sendo a droga ilícita - maconha, cocaína - ainda que na preferência dos jovens essas drogas não sejam as mais consumidas.

A noção de que o grande mal é a droga ilícita, bastante reforçada por alguns países desenvolvidos, gera muito medo, cristaliza dúvidas, reforça visões preconceituosas. Quando temos medo de alguma coisa, tentamos impedir sua chegada e o medo exacerbado, calado, acaba comprometendo nossa percepção da realidade, correndo o risco de gerar práticas autoritárias.

O discurso oficial sobre a droga, seja ele médico, pedagógico, jurídico ou repressivo, tradicionalmente buscou, a partir da intolerância face à diferença, amedrontar os indivíduos como forma de garantir e reforçar a submissão pela rejeição total ao consumo. Expressão de um modelo dito racional e tido como único e verdadeiro, esse discurso elimina a possibilidade da diferença, nega a multiplicidade, a diversidade, a oposição, constantes na vida. Ainda que esse discurso nem sempre consiga seu intuito de levar à rejeição das drogas, a discriminação é plenamente absorvida pelo inconsciente coletivo.

A generalização do uso indevido de drogas é um sintoma de que a sociedade vai mal. Às motivações tradicionais que levam o ser humano ao uso, em geral controlado, se sobrepõe a necessidade de compensação face a uma realidade adversa, plena de desequilíbrios ambientais como: desemprego, falta de atendimento médico e educacional gratuitos, de habitação digna, de saneamento básico, poluição geral, violência, fome, para citar alguns exemplos, num nítido e insuportável prejuízo da qualidade de vida.

Reconhecida a necessidade de soluções coletivas para um problema que é de sociedade, interiorizada a importância da comunidade resgatar sua própria fala, constatamos que a atuação preventiva terá tanto mais chances quanto mais o consumo de drogas for percebido como um entre os muitos problemas que comprometem o bem-estar social. Sintoma e não causa, forçoso será o reconhecimento de que o consumo de drogas não se constitui no problema número um de saúde pública no Brasil.

Porém o uso de drogas pelos caminhoneiros é um potencial de risco para o problema de acidentes de trânsito, sendo que as mortes no trânsito é considerado como o segundo problema de saúde pública mais grave do País, enfrentado pela sociedade.

Com vistas ao controle do uso de drogas, três estratégias são tradicionalmente adotadas. A primeira delas visa à redução da oferta e se caracteriza pelas ações de repressão à produção e ao tráfico de drogas; de combate à lavagem de dinheiro; de fiscalização e controle da produção, da comercialização e do uso de drogas. A segunda visa à redução da

demanda, dirigindo ações para desestimular ou diminuir o consumo e para tratar usuários e

dependentes. A terceira, redução de danos, orienta a execução de ações para a prevenção das conseqüências danosas à saúde que decorrem do uso de drogas, sem necessariamente interferir na oferta ou no consumo.

As ações de redução de danos constituem um conjunto de medidas de saúde pública voltadas a minimizar as conseqüências adversas do uso de drogas. O princípio fundamental que orienta é o respeito à liberdade de escolha, na medida em que os estudos demonstram, muitas vezes que o usuário não consegue ou não quer deixar de usar, mas necessita minimizar os riscos para a saúde pelo uso.

Nessa direção, a consciência ética permite-nos dizer que a pessoa que faz uso de droga - lícita ou ilícita - é antes e primeiramente, ser humano e cidadão e dessa forma, portador dos mesmos direitos de um cidadão que não usa droga. Uma vez reconhecido como cidadão, esta mesma sociedade, do ponto de vista ético e com base nos direitos por ela reconhecidos, deverá incluí-lo no conjunto de respostas sociais e de saúde que tenham por objetivo reduzir tanto o consumo quanto os danos sociais e de saúde decorrentes dos diferentes usos e das diversas drogas - sejam elas lícitas ou ilícitas.

Segundo Paulino (1995), a prevenção procura criar condições mais saudáveis de vida, buscando diminuir os fatores de risco, pela mobilização das pessoas para aquisição de atitudes e valores considerados positivos para o desenvolvimento do potencial sócio-afetivo adequado.

A prevenção ao uso de drogas é muito complexa e depende de muitos fatores, principalmente num país como o nosso cheio de contrastes e peculiaridades em todos os setores da vida. Um programa eficiente de prevenção depende, desde medidas governamentais até o envolvimento da sociedade para controlar o programa. A prevenção ao uso de drogas depende, portanto, da participação de todos os segmentos da sociedade. Pois os fatores de risco envolvem a droga e seus efeitos, a sociedade, o contexto sócio-cultural e econômico, suas pressões e contradições e a pessoa, sua personalidade e seus problemas pessoais. Neste caso, a prevenção ao uso de drogas está ligada diretamente à prevenção de acidentes de trânsito, pois se caracteriza como um fator de risco para a ocorrência dos mesmos.

Pode-se caracterizar, segundo a OMS, três níveis de prevenção:

- Prevenção primária: Assegura que as pessoas abstêmias, especialmente crianças e

adolescentes, não iniciem o uso de drogas. Os pais e os professores são os mais indicados para o trabalho, pelo fato de manterem contato com toda a clientela, não apenas aquela considerada como de alto risco. O trabalho deve enfatizar informações aos educandos e aos filhos sobre os riscos e prejuízos que as mesmas provocam para o organismo e também à sociedade;

- Prevenção secundária: Destina-se aos que fazem uso eventual ou recreativo, buscando

desenvolver ações que possibilitem impedir a transição do uso habitual ao uso contínuo da droga. Auxilia o indivíduo a retomar à abstenção. Ocorre quando a prevenção primária não foi eficiente, principalmente com crianças e adolescentes que apresentam dificuldades pessoais, familiares, sociais etc.;

- Prevenção terciária: Ocorre quando o indivíduo faz uso habitual, buscando que o mesmo

não se torne dependente. Na maioria das vezes, é necessário um trabalho individual, sendo também eficientes trabalhos coletivos no sentido de recuperar o dependente e integrá-lo ao meio social.

A prevenção secundária e terciária exige uma ação técnica de profissionais de várias áreas que possam intervir no processo.

A política do governo brasileiro para o trato das questões relacionadas com as drogas - lícitas e ilícitas - incluindo o seu uso indevido, está sob a responsabilidade de dois Ministérios, o da Justiça e o da Saúde. O primeiro trata das questões relacionadas com o controle do tráfico e da regulamentação de assuntos pertinentes à área, concretizadas nas ações da Polícia Federal e da Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD).

No âmbito da saúde, o MS por meio da Coordenação de Saúde Mental (COSAM), define as diretrizes políticas de tratamento e de prevenção ao uso indevido de drogas lícitas e ilícitas. A COSAM trabalha na reestruturação dos modelos de atenção em dependência química, apoiando a criação de serviços extra-hospitalares. Nesse contexto, está inserida a atenção às pessoas comprometidas pelos danos causados pelo uso do álcool e de outras substâncias psicoativas. No setor, atua ainda, uma extensa rede de instituições de caráter privado, filantrópicas ou não.

Em relação à prevenção, essa política a aborda de maneira compreensiva, diferenciando-se do enfoque apenas repressivo. Desenvolve campanhas e provê materiais educativos em apoio às ações das múltiplas organizações que tratam do tema no País (BASTOS; MESQUITA; MARQUES, 1998).