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5 PESQUISAS REALIZADAS NO BRASIL ENVOLVENDO MOTORISTAS PROFISSIONAIS (CAMINHONEIROS)

5.4 Remédios que Matam: perigo nas estradas

Pesquisa realizada por Simas Filho; Pamplona (1995) repórteres da Revista "ISTO É" com o objetivo de alertar quanto ao uso de anfetaminas por pessoas comuns e o seu uso pelos caminhoneiros.

A pesquisa foi realizada junto a pessoas comuns como profissionais liberais, donas de casa entre outros e caminhoneiros sobre o uso de anfetaminas, além de relatar uma pesquisa realizada pela Universidade Federal da Paraíba.

No relato do artigo “Perigo nas estradas” constataram que grande parte dos acidentes de trânsito nas estradas brasileiras provavelmente é causada pelo abuso de anoréxicos. Uma pesquisa elaborada entre junho de 1993 e fevereiro de 1995 pela Universidade Federal da Paraíba constatou que 80,7% dos caminhoneiros do País tomam o “rebite”, comprimidos à base de anfetamina para permanecer acordados. Remédios para emagrecer, como o Lipomax, são encontrados com facilidade nos postos de beira de estrada. “Os motoristas costumam usar as drogas como se fossem uma ferramenta de trabalho”, relata a professora Rinalda Araújo de Oliveira, uma das responsáveis pela pesquisa. Os rebites são vendidos sem receita médica, em cartelas — fora da embalagem — contendo 20 unidades. Cada cartela custa de R$ 5 a R$ 10 e vêm sem bula.

“Costumo tomar de 30 a 40 rebites para suportar uma viagem de três dias”, conta o motorista Júlio César Ricardo, 33 anos, que mora em Blumenau/SC. O caminhoneiro diz que faz três viagens por mês de sua cidade a Recife/PE. A jornada de trabalho é intensa, “cochilo das 4 às 6 horas da manhã e do meio-dia às 2 da tarde, não dá para dormir mais, senão não consigo pagar as prestações do caminhão”, afirma. Os comprimidos de Lipomax e Nobese são tão importantes quanto a pasta de dente na bagagem de Júlio César. “Não sei quanto tempo dura o efeito do ‘rebite’, por causa disso, nunca deixo faltar o remédio em minhas coisas”, diz. O caminhoneiro admite estar dependente da droga. Segundo ele, “o melhor das viagens são os ‘rebites’, se eles forem retirados de circulação, vou parar de trabalhar”, afirma.

Para conduzir uma carga de Porto Alegre/RS a São Paulo/SP, o caminhoneiro gaúcho José Machado da Cunha, 42 anos, toma quatro comprimidos de Lipomax. “Não existe coisa melhor que o ‘rebite’. Acho que até para dirigir o remédio é eficiente, pois fico mais atento ao trânsito”, diz o motorista. Quando está em casa, Cunha abandona os comprimidos e passa a tomar muito leite. “É para cortar o efeito do ‘rebite’, senão fico muito irritado e acabo brigando com a família”, explica. O mesmo raciocínio é feito pelo motorista Romeu Rigon, 26 anos. “Só não uso ‘rebite’ quando estou de folga”, afirma. A maioria dos caminhoneiros justifica o uso das drogas por causa dos horários apertados impostos pelas transportadoras. “Se não cumprimos o horário as empresas fazem uma pressão maluca e o pagamento é

menor”, explica o gaúcho Cunha. O presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Estado de São Paulo, Romeu Panzan, nega as pressões. De acordo com ele, “os horários estipulados são os mais adequados às condições de trânsito das estradas brasileiras”.

5.5 Eles Estão "Drogados": caminhoneiros estão rodando pelas estradas

brasileiras sob o efeito perigoso de “rebites”

Pesquisa realizada por Martins; Cury (1997) repórter e colaborador da Revista "Quatro Rodas" com o objetivo de levantar a venda ilegal de anfetaminas nos postos de gasolina nas BR-101 e 116, provando como é fácil conseguir esses remédios controlados.

Percorreram ao longo de seis dias cinco Estados brasileiros (São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro) pelas duas BRs de maior trânsito do País: 101 e 116, adquirindo junto aos postos de gasolina as anfetaminas que são usadas pelos caminhoneiros como "rebites".

Constataram que os restaurantes de postos de gasolina, com muitos caminhões estacionados, têm comida farta e barata, somando-se a esta o "rebite". Sem nenhuma dificuldade, dos 46 postos que a reportagem percorreu conseguiu comprovar a venda ilegal da droga em 26 deles. "Compramos um escandaloso arsenal de 556 comprimidos de Nobese e Lipomax (remédios fortes usados em regimes para emagrecimento)". Neste instante, pelo menos 300.000 caminhoneiros estão rodando pelas estradas brasileiras sob o efeito perigoso de “rebites”. Um risco não só para eles, mas também para todos que cruzam seus caminhos. Esse número significa 18% dos 1,7 milhões de caminhoneiros do Brasil em 1997. Ou seja, um em cada seis caminhoneiros estão, neste momento, “Drogados” (dados do Grupo Executivo de Redução de Acidentes de Trânsito – GERAT e USP/1997). Este consumo de “rebite” está diretamente ligado ao índice de desastres envolvendo o transporte de carga rodoviária. Afinal, 42% dos acidentes têm a participação de pelo menos um caminhão, o que é preocupante, pois eles representam apenas 6,5 % de todos os veículos que circulam no país, revelados por esta pesquisa.

Além do relato da pesquisa, a revista “Quatro Rodas” também publicou depoimentos de alguns motoristas sobre o uso de “rebites” como segue:

"Rebite e caminhoneiro é como homem e mulher: um não vive sem o outro. Com quatro comprimidos em vinte e quatro horas, estou tinindo. Faz bem para tudo. Não se pega nem gonorréia" - Ademir Menegol, gaúcho, trinta e nove anos. Desde os dezoito anos é

caminhoneiro.

"Rebite é nossa hora-extra" - Ivonir de Paiva, sergipano, quatorze anos de profissão.

"Quem diz que viaja dia e noite e não rebita não é motorista: é pescador e mentiroso" -

Hipólito Cabral, maranhense, dezesseis anos de profissão.

"O único jeito de não pressionar o caminhoneiro é fabricar caminhão sem faróis. Com um Nobese com conhaque enxergo até uma agulha no asfalto" - Vilmar Bernardino

Almeida, mineiro, quarenta e três anos, dezenove como caminhoneiro.

"Vi um boiadeiro se descabelar e rolar no chão de madrugada porque seus bois tinham fugido. Era delírio puro: ele já tinha entregue a carga na noite anterior"- Osvaldo

Schiochet, quarenta e três anos, catarinense. Há vinte e dois anos é caminhoneiro. (N.R.: os boiadeiros, por lidarem com carga viva e curtos prazos de entrega, são os que mais lançam mão dos “rebites”).

"Tenho pena dos caminhoneiros empregados. Esses coitados são obrigados a dirigir drogados e se abrirem o jogo, vão para a rua" - Alair de Sousa, mineiro, trinta e seis anos.

"A pressão é que faz o caminhoneiro apelar para o ‘rebite’. Prestação do caminhão e

dívidas levam um motorista a rodar setenta e duas horas na base da droga, ou então varam noite e dia para fugir das multas e do arrocho das cargas com prazo" - Gilberto

Maciel Padilha, gaúcho, trinta e seis anos.

"Algum tempo depois de tomar o ‘rebite’, eu vi a pista subindo, subindo, até chegar às nuvens, quando acordei, estava debaixo do Mercedes-Benz" - Cláudio Clovis Ely, trinta e