• Nenhum resultado encontrado

Previsões e expectativas futuras do turismo nos bairros históricos

Capítulo IV – Discussão dos resultados

4.1. Concretização dos objetivos e questões da tese

4.1.6. Previsões e expectativas futuras do turismo nos bairros históricos

Os planos para o futuro são variados e as esperanças para o desenvolvimento da situação actual são promissoras, tanto por parte das pessoas inquiridas, como por parte de todas as entidades entrevistadas.

Em termos de alterações a serem realizadas, as mais mencionadas por todos as entidades entrevistadas foi sem dúvida a necessidade de uma melhor regulamentação e legislação em redor das questões que se mostraram problemáticas para os residentes, como o caso da apropriação de um número elevado de prédios habitacionais para arrendamento turístico e também o incumprimento das normas de segurança e de higiene nos espaços comerciais que aqui se instalaram.

Atendendo a que cada vez se tornam mais notáveis as complicações que estão a originar o descontentamento da população, o importante agora é gerar um plano de acção a desenvolver nos próximos que vá de encontro às necessidades e pedidos das pessoas. Isto disseram-nos todas as Juntas de Freguesia, estando em andamento planos de implementação de novas medidas, algumas já para os anos 2018 e 2019.

“Eu diria que no limite tenho ouvido muita conversa que os problemas do turismo se resolvem com a redução dos turistas ou com o controlo dos turistas... E eu acho que isso é tão aberrante como dizer a seguir que os fogos se resolvem acabando com as florestas. Isto é uma visão mais do que redutora, é uma visão pobre daquilo que é ao fim ao cabo uma gestão comunitária e uma gestão do território.” (Newton, 2017).

Na altura em que as entrevistas decorreram, falava-se de uma alteração legislativa proposta pelo Partido Socialista que ditava que para transformar um apartamento outrora habitacional num alojamento turistico, seria necessária a aprovação da maioria dos moradores do mesmo edifício (Suspiro, 2017). Contudo, a proposta foi criticada em Parlamento e não seguiu em frente. Isto foi umas ideologias que se discutiu ainda durante as entrevistas levadas a cabo nesta tese.

Contudo, as tentativas de controlar a situação não se ficaram por aí e novas quotas de limitações no alojamento local foram, de facto, implementadas ainda no ano passado e com planos de entrar em vigor em 2018 (Relvas, 2017). Ainda no passado ano de 2017, vimos a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica a realizar sérias fiscalizações e a correr investigações com intenção de encerrar alojamentos locais ilegais (Pinheiro, 2017). Numa questão de meses, esta nova medida resultou em dezenas de processos de contraordenações.

Entre novas medidas que ainda hoje estão a surgir no Parlamento para discussão e a possível concretização em associações e programas de ajuda aos residentes, como foi anteriormente discutido na entrevista com a Dra.Teresa Nunes da Câmara Municipal de Lisboa, é seguro dizer que as devidas acções estão definitivamente a ser realizadas.

Não querendo, porém, isto significar que a solução está à vista ou que o sucesso e a sustentabilidade são agora garantidos no turismo da cidade de Lisboa. Isto apenas justifica o porquê das entidades responsáveis se mostrarem confiantes no futuro e terem crença no sistema de gestão turístico que estão a desenvolver em conjunto.

Foram ainda mencionados planos para uma diluição do turismo, com o desenvolvimento de várias ofertas de turismo de nicho, como oposição à oferta massificada hoje visível. Pretende-se escoar os turistas para fora das áreas que estão sobrecarregadas e apresentar-lhes outras partes da cidade e até do país. Mas também oferecer um conteúdo mais personalizado aos visitantes na cidade, criando assim uma experiência mais positiva e proveitosa tanto para os locais, como para os residentes temporários da cidade.

Esta ideia, apesar de não ser oficial, foi mencionada por mais do que uma entidade durante as reuniões, pelo que devemos ficar atentos a qualquer medida que possa vir a ser criada nesse sentido.

Apesar do lento desenvolvimento nas melhorias e nos problemas que hoje são presentes, é impossível não reconhecer todas as mudanças positivas que já são visíveis na cidade graças ao turismo, e como ele é extremamente importante para todo o país. A posição de todos é de reconhecimento da situação atual mas, ainda assim, de maior

Luís Newton da Junta de Freguesia da Estrela consegue até encarar de maneira positiva as relações menos boas que a Junta enfrenta com os residentes insatisfeitos:

“Há obviamente dificuldades de parte a parte, mas isso é normal, se não houvesse dificuldades os autarcas não eram úteis para nada. Deixávamos isto em auto piloto e a coisa funcionava sozinha e não haveria necessidade de intervenção.” (McNamara, 2005, p.151).

A opinião geral, tanto da parte dos autarcas como da parte dos residentes inquiridos, pode resumir-se a poucos, mas valiosos pontos-chave: o turismo é maioritariamente vantajoso para o país e para a população, mas os seus variados problemas devem também ser resolvidos antes que aumentem de escala e nível de gravidade. Para isso, é necessária uma avaliação aprofundada da questão e um conjunto de soluções viáveis, mas também duradouras e que sejam capazes de satisfazer todas as partes envolvidas no fenómeno do turismo em Portugal.

4.2. Notas conclusivas

Apesar do número de participantes ter preenchido a norma daquilo que foi definido como mínimo e máximo na definição de parâmetros desta tese, continua ainda a ser uma escala muito pequena da realidade. Como vimos anteriormente, e restringindo-nos apenas às duas freguesias que foram o foco desta análise, temos um total de aproximadamente 26 mil habitantes. Logo, estes números são ainda muito ínfimos para uma análise aprofundada e verdadeiramente precisa desta situação.

Isto ainda sem contar com o número de possíveis comerciantes na região, cujo valor que se transforma quase diariamente, e também com a opinião dos próprios turistas, uma vez que este assunto não só é directamente influenciado por eles, como também resulta em consequências directas para eles, mesmo que apenas temporariamente.

É possível até dizer que uma amostra maior de inquiridos não seria suficiente para que os resultados fossem conclusivos, por mais detalhados que possam ser. Pois este é um sector que está em constante transformação e apresenta também uma constante instabilidade. Não no sentido de poder não estar a desenvolver-se correctamente, mas no sentido em que um mero evento político, cultural, ambiental ou económico pode mudar drasticamente por completo o seu actual percurso, em meros momentos. São exemplos disso grandes catástrofes naturais, como o Tsunami na Indonésia em 2004, situações de instabilidade governamental como a Revolução do Egipto em 2011, e até possíveis atentados terroristas como o ataque às Torres Gêmeas em 2001. Alguns destes episódios podem ser de tal forma marcantes na História, que a sua influência e consequências tomam proporções globais.

Na realidade, nem é preciso chegar a uma visão tão extremista para saber que o constante fluxo urbano nunca permitirá uma análise a fundo desta questão. O tempo que levaria uma recolha de uma amostra significativa de milhares de pessoas significaria sempre que, no fim da análise, já existiriam alterações notáveis na realidade do turismo e da metrópole em que este se insere, de maneira que a recolha já não seria 100% fiável.