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2. A FORMAÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS NO ESTADO DO RIO DE

2.2. AS PRIMEIRAS FUNDAÇÕES

Em sequência à aprovação da lei, o Ato Executivo Conjunto TJ/CGJRJ nº 03/1996 logo determinou o imediato provimento dos cargos de juiz titular dos I, II, III, IV, V, VII, VIII, IX, X, XI, XIII, XVII, XVIII, XXII, XXIV e XXV Juizados Especiais Cíveis, “de

modo a viabilizar sua implementação efetiva”. O mesmo se deu posteriormente com os

juizados do interior por meio do Ato Executivo Conjunto TJ/CGJRJ nº 04/1996.

Em um primeiro momento, porém, esse esforço esbarrou em uma resistência dos juízes a concorrerem para a titularidade dos juizados, segundo relato do desembargador Thiago Ribas Filho. De acordo com as declarações que prestou ao Programa de História Oral do Poder Judiciário do CCMJ - Centro Cultural do Poder Judiciário (doravante denominado também PHOPJ), essa resistência se devia a um receio inicial dos juízes de que se fossem removidos para os juizados especiais cíveis, não seriam conhecidos pelos desembargadores – responsáveis por suas eventuais promoções – pois suas sentenças não seriam levadas à apreciação do Tribunal de Justiça e, sim, às turmas recursais, formadas por outros juízes como eles.

60 Na sua entrevista para o referido Programa, Cristina Tereza Gaulia descreveu a impressão dos juízes na época: havia uma “desconfiança ao novo”, natural dos juízes e o mesmo se deu em relação aos juizados. Para ela, porém, que disse buscar no exercício de uma função pública a oportunidade de unir a experiência e a intenção de fazer algo para transformar a sociedade58, o juizado especial cível se apresentava como uma libertação

(“uma Lei Áurea”). Cristina Gaulia já havia se promovido e respondia pela 2ª Vara de Família Regional de Bangu (e era juíza auxiliar da Corregedoria Geral de Justiça), quando as vagas para os juizados foram abertas para remoção. Porém, ninguém mais além dela concorreu e assim conseguiu por “um golpe de sorte” – como disse – ser removida por merecimento para o I Juizado Especial Cível, ali iniciando suas atividades a partir de 17.09.1996, conforme relatório de movimentações dos magistrados59. O I Juizado

Especial Cível fora instalado e funcionou inicialmente no mesmo prédio do Centro Acadêmico Cândido de Oliveira da Faculdade de Direito da UFRJ - CACO, no mesmo lugar de onde Cristina Gaulia saíra bacharel.

Sérgio Cavalieri Filho também tratou dessa resistência:

(...), houve muita resistência até do próprio Judiciário (...). Resistência do Judiciário aos juizados especiais. Primeiro lugar, esse preconceito. Você passou por isso, você deve ter sentido, não é? E tal e tal tal... que o juiz do juizado especial não sabia direito (...). Então por isso precisamos valorizar o juiz do juizado especial. Segundo o juiz de direito não queria ser um juiz dos juizados especiais. – “Ah... minha sentença não vai ser revisa e só achava que ia ser revista... concorrer pra desembargador quando? Aí meu amigo, na época da estatística implantamos a estatística. E pra concorrer tem que ser isso. Relatório gerencial (...) ajudou nisso. Vai concorrer pra desembargador... não há dúvida. Produtividade dele? Tá aqui. Taí quantos processos, quantas ações, monstruosidade em face do juiz e lá tem todos os tipos de causa nos juizados especiais cíveis. Tem tudo, tudo (...). Então teve que romper essa... Você precisava da redenção. Para você ter uma ideia, Ronald. No início quantas varas criminais aqui? Acho que tinha 20 varas criminais, 20 varas criminais e no início então colocaram os juizados criminais como adjuntos. Vara criminal com juizado criminal. Isso funcionou até mesmo durante algum tempo aí. Foi quando a gente começou com estatística e informatização. Fizemos estatísticas...milhares(!), milhares de processos de juizados especiais prescritos! O Juiz criminal, nada! Dali pra lá... Aí você via o número e ações da vara criminal: estatística. Não se administra sem relatório gerencial. E ação criminal, 40 ações por mês, 50... Aí fizemos um projeto. Thiago bancou isso, Thiago bancou isso no Órgão Especial, depois disso fizemos a outra lei permitindo transformar, transformar 10 varas criminais em 10 juizados especiais criminais, deixando aqueles que já estavam previstos de fora, porque? Para redistribuir trabalho. Não justificava uma vara criminal... E escolhemos quais? As que tinham mais processos de juizados especiais parados. Claro. Nós vamos transformar isso ai em juizados criminais, e redistribuir os processos criminais para outras varas. Meu amigo, foi um pau... 58 GAULIA, 2018.

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Eu me lembro que estava no órgão, chegou a empatar e quem desempatou foi o Thiago. Muita pressão. Como, cara? Isso é estatística! Aí, não vou dizer o nome... Esses 10 juízes que iam ter as varas transformadas em criminais e aí achamos que não alterava a titularidade. Mudando a competência não... não é nada. Aí fizeram uma reunião com o Thiago. O Thiago chamou a gente. Com isso com aquilo. Não vou dizer o nome, mas eu me lembro, um determinado magistrado (pra não dizer se é masculino ou feminino), tomou a palavra (tinha muito acesso a imprensa): - “Olha aqui e não sei quê e o quê... vou pra imprensa...”. Estava quietinho até então assistindo. – “Vou pra imprensa, vou fazer...”. Ótimo: a imprensa vai ficar sabendo que na sua vara tem tantos processos prescritos em que não foi dada a sentença. Nós estamos querendo esconder isso aqui. É o maior exemplo que a tua vara é a que tem o maior número de processos parados.... Acabou. Pediu aposentadoria logo depois (CAVALIERI FILHO, 2019).

Essa resistência (ou desconfiança) a se colocarem à frente de um juizado especial não impedia que alguns juízes se destacassem na construção desses órgãos no estado do Rio de Janeiro. Além de Cristina Tereza Gaulia, atualmente desembargadora e Luís Felipe Salomão, atualmente ministro do Superior Tribunal de Justiça, o juiz Luiz Fux, atualmente ministro do Supremo Tribunal Federal, participou ativamente desse esforço na transição dos juizados de pequenas causas para os juizados especiais. Quando exerceu a função de juiz auxiliar da Corregedoria-Geral de Justiça, primeiro junto ao desembargador Paulo Roberto de Azevedo Freitas, em 1995, e depois junto ao desembargador Ellis Ermydio Figueira, a partir de 1996, Fux foi responsável pela supervisão dos juizados especiais e elaborou um fluxo de procedimentos que deveria ser observado pelos juízes em atuação nos juizados. A ideia era incentivar a adoção de práticas que prestigiassem os princípios da Lei nº 9.099/95, evitando que se reproduzisse nos novos órgãos procedimentos adotados nas varas cíveis. Esses fluxos foram adotados por meio do Ato SN1/1997 – CGJ, de 6 de janeiro de 1997 e nas suas razões podia-se ler os argumentos de Fux:

(...) a Lei dos Juizados Especiais inspirou‐se nos princípios da oralidade e da simplicidade, bem como instituiu a compressão procedimental como instrumento viabilizador da ideologia dessa novel Justiça. A apresentação dos fluxogramas ora elaborados visa exatamente alcançar os objetivos legais e uniformizar de forma padronizada o procedimento adotado em todos os Juizados Cíveis de nosso Estado. É desígnio maior da Corregedoria que "numa só audiência" as causas que tramitam pelos mesmos sejam compostas através de conciliação ou de decisão jurisdicional. A atual praxe de designação de duas audiências, uma de conciliação e outra de instrução, tem dado ensejo a uma indesejável “ordinarização" do rito dos Juizados, mercê de infirmar os princípios acima evidenciados e prestigiados pela letra e pelo espírito da Lei 9099/95 (TJERJ/CGJ, 1997).

62 Além de Fux, o desembargador Sergio Cavalieri Filho, a quem Cristina Gaulia se referiu como uma “estrela em ascensão” na época, também contribuía com seu importante apoio nos primeiros passos dos juizados especiais. Cavalieri Filho, que fora Presidente do Tribunal de Alçada Cível entre 1993 e 1994, ocupava, por ocasião da construção dos juizados especiais, a coordenação dos serviços de informática do PJERJ e foi integrante da primeira composição da comissão estadual dos juizados especiais cíveis e criminais, juntamente com Luiz Fux e Thiago Ribas Filho. Na sua presidência do Tribunal de Justiça, entre fevereiro de 2005 e fevereiro de 2007, Cavalieri seria um grande incentivador dos Juizados Especiais, dedicando-se a obter instalações físicas mais adequadas para eles e provendo-os de toda estrutura necessária para que pudessem lidar com a crescente demanda que absorviam. Foi sob seu comando que o PJERJ criou a função dos juízes leigos nos juizados especiais cíveis, sobre o que nos dedicaremos mais adiante.

De todo modo, desde a fase inicial, o PJERJ parecia realmente disposto a investir nos juizados especiais, especialmente durante a presidência de Thiago Ribas Filho, com Ellis Hermydio Figueira na Corregedoria-Geral da Justiça.

Esse pioneirismo da administração de Ribas Filho no processo de construção dos juizados especiais foi destacado por todos os juízes que prestaram depoimento ao Programa de História Oral do Poder Judiciário (ALMEIDA NETO, 2018; CITRO, 2018; GAULIA, 2018; OLIVEIRA, 2018). Sérgio Cavalieri Filho, por exemplo, ao abrir o 1º Painel do I Encontro de Juízes de Juizados Especiais Cíveis e Adjuntos Cíveis do Interior em junho de 1998, ressaltou o caráter “participativo” da presidência de Thiago Ribas Filho, que abriu espaço para a colaboração de juízes e desembargadores em uma gestão que privilegiou os juizados especiais.

Um exemplo da atenção dedicada aos novos órgãos pode ser visto na promessa (nem sempre cumprida) de uma lotação mínima de servidores para cada juizado especial cível, formalizada pelo Provimento CGJRJ nº 34/1997: 1 titular (função exercida pelo antigo escrivão), 2 oficiais de justiça avaliadores, 3 técnicos judiciários, 2 auxiliares judiciários e 2 auxiliares de cartório. A previsão mostrava pelo menos uma preocupação com o funcionamento efetivo dos juizados. Essa disposição traduzia-se na redação dos “considerandos”60 dos atos do PJERJ na época, como o que se via, por exemplo, na

Resolução nº 03/1997 do Conselho da Magistratura ao regular o funcionamento das

63 Turmas Recursais: “CONSIDERANDO que o cumprimento da Lei 9.099/95 não deve ser

obstado pela insuficiência de estrutura material para a instalação definitiva das Turmas Recursais Cíveis e Criminais”61. A mesma redação fora utilizada na motivação do Ato

Executivo Conjunto TJ/CGJRJ nº 03/1996 para instalar os juizados da capital de modo a atender as divisões administrativas com a estrutura existente.

Para Cristina Tereza Gaulia, houve “momentos em que em que a hierarquia do

tribunal era muito progressista, gostava da ideia do novo e se empenhou em implementar o novo” (GAULIA, 2018).

Sergio Cavalieri Filho o confirma ao declarar, no VII Encontro de Juízes de Juizados Especiais Cíveis e de Turmas Recursais, que foi na administração de Thiago Ribas Filho em 1997-1999 que se despertou “o amor e o cuidado” com os juizados especiais cíveis e que foi Ribas que deu prioridade a eles dando atenção à instalação de novos juizados, o provimento de cargos com juízes com dedicação exclusiva etc62.

Em outra ocasião, ele o reafirmou ao expressar sua opinião sobre o estado dos juizados especiais cíveis antes da gestão de Thiago Ribas Filho, que era “problemática”. Contou que na capital havia apenas 4 juizados espalhados. Um deles no porão do prédio do antigo Tribunal do Júri, que recebia cerca de mil processos novos por mês e não dava conta deles, porque não tinha juiz titular e o escrivão era o “pior do fórum”; outro ficava no endereço do PROCON, recebendo cerca de quinhentos processos novos por mês; e os outros dois em universidades, um na UFRJ e outro na Estácio de Sá, recebendo cerca de 40 e 30 processos novos por mês, respectivamente63.

Na verdade, o próprio Cavalieri foi um dos maiores atores da dedicação do PJERJ aos juizados especiais. Como vimos, foi um dos primeiros integrantes da comissão dos juizados especiais junto com Thiago Ribas Filho e Luiz Fux, mas, ao contrário deste último, continuou ainda por muitos anos envolvido com a gestão dos juizados, participando de vários encontros de juízes e acompanhando o trabalho realizado por eles, seja como coordenador dos serviços de informática, seja como Diretor-Geral da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro - EMERJ entre os anos de 2001 a 2005. Esse

61 TJERJ/CM, 1997.

62 JUIZADOS Especiais e os Juízes Leigos. Palestra de Abertura. Palestrante: Sérgio Cavalieri Filho, VII ENCONTRO DE JUÍZES DE JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E TURMAS RECURSAIS CÍVEIS, Angra dos Reis, 15 a 17 de julho de 2005, 5 DVD.

63 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Visão Panorâmica dos Juizados Especiais. ENCONTRO DE JUÍZES DE JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E TURMAS RECURSAIS CÍVEIS, 2, Conservatória, 2000, 24 a 26 de novembro, 5 DVD.

64 protagonismo se confirmou no período em que ele mesmo exerceu a presidência do TJERJ.

Uma de suas preocupações foi a de valorizar o juiz do juizado especial:

Então nós tivemos que trabalhar em duas áreas. Primeira: mudar a mentalidade tanto quanto possível do Tribunal, do Tribunal. Não só do Órgão Especial – se não barrava tudo – da gestão existente e dos demais desembargadores, porque eles estavam julgando e tinham que entender o juiz do juizado especial. E formar uma mentalidade dos juízes, formar mentalidade dos juízes, de que eles eram importantes, de que essa era uma nova Justiça e que isso era ser da maior relevância e que deles dependia o sucesso disso ai. Então, daí fizemos realmente os encontros por área, por setores, desembargadores e insistindo... E agora tínhamos que mostrar aos juízes o empenho da administração e mostrar os juízes o empenho da administração. Primeiro, instalação adequada, informatização, tudo o que era possível fazer. E dois: prestigiá-los. Prestigia- los como? O trabalho deles tem que ser mostrado, o trabalho dele tem que se relevante, tem que ser divulgado. E outra: eles têm que ser reputados juízes de primeira qualidade. Por isso valorizamos... Foi uma luta... (CAVALIERI FILHO, 2019).

A grande atenção dada aos juizados especiais cíveis pela administração do PJERJ e por suas figuras mais ilustres, pode ter contribuído para quebrar a resistência dos juízes ao novo órgão, convencendo-os de que não seriam desprezados pelos desembargadores. O apoio da administração do PJERJ foi destacado em todos os depoimentos dos juízes que entrevistamos.

Nas palavras de Flávio Citro Vieira de Mello, o investimento feito pela administração foi “fundamental” para quebrar as resistências, pois “havia um

reconhecimento de que aquela sua atividade era importante para o sistema de Justiça, o que nós não tínhamos antes no sistema dos juizados de pequenas causas” (2018).

Conforme o depoimento de Ana Maria Pereira de Oliveira, as resistências viriam a ser quebradas posteriormente:

Ao longo do tempo isso mudou completamente, né, porque eu acho que as pessoas que se dedicaram ao juizado na época – e aí eu cito sempre e a gente nunca pode deixar de citar -- Cristina Gaulia que é uma pessoa que foi uma vanguardista e que a ela se seguiram outros.... Flávio Citro e tantos outros, Eduardo Oberg (...) pessoas que entraram e que vieram com outra visão, mas que também ingressaram e não se impressionaram com essas questões que já eram mencionadas nessa época. O Luís Felipe Salomão que era um líder nessa questão, o Murilo Kieling, que foi juiz do Juizado do Consumidor, o Marcos Quaresma que ficou no Juizado do Consumidor também na época. Então, assim, pessoas que valorizavam o sistema e que fizeram com que essa imagem fosse sendo desfeita porque na verdade o juizado acabou atraindo a atenção das pessoas, né, exatamente porque era diferente (...) e na turma recursal atuaram muitos que hoje são desembargadores e que teve um efeito assim muito interessante... (2018).

65 Com essa atenção da comissão e da administração do PJERJ, abriu-se caminho para o despertar de uma expectativa de adequação dos juizados ao campo judiciário, contribuindo para formar um processo de legitimação.

Assim, depois de Cristina Gaulia, os demais juizados especiais cíveis da capital viriam a ser logo preenchidos, passando a funcionar com juízes que se removiam de juízos de mesma entrância ou eram promovidos.

Para cumprir a promessa da facilitação do acesso à Justiça, a Lei nº 2.556/1996 havia optado por criar, na comarca da capital do estado do Rio de Janeiro, tantos juizados quantos fossem as regiões administrativas da cidade, uma divisão administrativa da prefeitura municipal64. O Tribunal de Justiça aproveitava, desse modo, a experiência do

Município na repartição dos serviços entre a população.

Cavalieri Filho lembrou que “os primeiros juizados nós fomos instalando onde

podia, instalamos os juizados em região administrativa, instalamos juizados em colégios, estacionamento de shopping e fomos instalando onde tinha...” (2019).

A conjugação da opção clara da administração de prestigiar os novos órgãos e a possibilidade de movimentação na carreira permitiu o preenchimento dos cargos de juiz titular por todos os juizados criados na comarca da capital do estado e no interior.

A alocação da sede dos juizados especiais nos prédios onde funcionavam os demais órgãos da Justiça comum (nos prédios a que se chama fóruns – Fórum Central, situado na Rua Dom Manoel, no Centro, e fóruns regionais) pode ter contribuído também para afastar a impressão de que seriam juízos de menor categoria. Já em 1998, os juizados da área central do Rio de Janeiro se encontravam sediados no Fórum Central, em instalações que nada deviam àquelas das demais varas ali sediadas. Eram, além do I Juizado Especial Cível, de titularidade de Cristina Tereza Gaulia, o II, o III e o VII juizados especiais cíveis, cujos primeiros titulares foram respectivamente os juízes Claudio Braga Dell’Orto, Leandro Ribeiro da Silva e Marcia Perrini Bodart. Claudio se removeu posteriormente e a juíza Leila dos Santos Lopes assumiu seu lugar. Leandro logo se aposentou, dando lugar à juíza Ana Cristina Dib. O mesmo ocorreu com o VII Juizado Especial Cível, tendo o juiz Horácio Ribeiro dos Santos Neto assumido após a remoção de Marcia Bodart. Cristina Gaulia foi a que permaneceu mais tempo como titular, só deixando o I Juizado Especial Cível em 30.10.2006, quando tomou posse como desembargadora. Em seu lugar, assumiu o juiz Paulo Mello Feijó. Todas essas sucessões

64 Como as regiões administrativas do Rio de Janeiro eram ordenadas em algarismos romanos, até hoje os juizados especiais da capital do estado são denominados com o uso desses algarismos.

66 foram imediatas (descontado o tempo necessário para as formalidades de vacância, publicação do edital de promoção ou remoção, apuração do merecimento ou antiguidade pelo Órgão Especial do Tribunal de Justiça, nomeação e posse), o mesmo ocorrendo com outros juizados da capital e do interior, mostrando que um eventual desprestígio dos juizados especiais pode ter ficado para trás, pelo menos no estado do Rio de Janeiro.

O movimento de transferência dos juizados cíveis para os fóruns foi um movimento contrário à concepção original dos juizados de pequenas causas e dos primeiros juizados especiais cíveis de espalhá-los pela capital e pelo interior. Como bem lembrou Cristina Gaulia em sua entrevista, o I Juizado Especial Cível da capital teve sua sede fixada originalmente no prédio da faculdade de direito. O juizado de pequenas causas e do consumidor, instalado em 1992 e depois sucedido pelo VII Juizado Especial, funcionava na rua Buenos Aires e havia juizados funcionando na Barra da Tijuca, antes de ali haver um fórum regional e outro em pleno morro do Pavão/Pavãozinho. Alguns desses juizados foram visitados por Maria Celina D’Araújo em seu trabalho já citado sobre os juizados de pequenas causas, de 1988 (D’ARAÚJO, 1988).

Os juízes ouvidos no PHOPJ relutaram em reconhecer a existência de uma estratégia pensada pela comissão ou pela administração do PJERJ, mas, segundo Gaulia, se havia uma estratégia, ela envolveu a multiplicação dos juizados, que caracterizou o trabalho institucional no estado do Rio de Janeiro:

Eu acho que a primeira estratégia, foi efetivamente multiplicar os Juizados, porque a gente percebia quando íamos aos encontros do FONAJE e, o Desembargador Thiago Ribas era um personagem extremamente relevante nos FONAJES, nessas reuniões do FONAJE que era o Fórum dos Juizados Especiais, a gente percebia que os outros estados da federação não achavam que era obrigação dos tribunais criar o sistema de juizados. Então, ao contrário de alguns estados que não queriam, que entendiam que não, “nós não temos que criar nada. Não, vamos botar sim o juiz da vara cível para acumular as causas de juizado”, o que era realmente o pior dos mundos. Então, me pareceu que o Desembargador Thiago, nessa luta por implementar a política dos Juizados Especiais, ele chegava com verdadeiro orgulho nos FONAJES que aconteciam a cada 6 meses e ainda acontecem hoje a cada semestre, e dizia: “abrimos mais os juizados”. Então, nesse primeiro momento, eu acho que havia a estratégia de multiplicar os juizados e principalmente não se deixar

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