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CAPÍTULO II A LEI DE POLÍTICA NACIONAL DE

2.1 A LEI DE POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

2.1.4.9 Princípio da cooperação entre os diferentes setores

A respeito do princípio da cooperação, em seu artigo 6º, inciso VI, a PNRS expressa: “cooperação entre as diferentes esferas do poder público, o setor empresarial e demais segmentos da sociedade” (BRASIL, 2010b). Da leitura do dispositivo, observa-se que os destinatários desse princípio abrangem os geradores de resíduos sólidos, e também aqueles que intervirem, de alguma maneira, na gestão e gerenciamento de resíduos.

Então, a cooperação é muito importante para o êxito da política nacional, incluindo a participação de todos os segmentos da sociedade, público ou privado, para juntos ajustarem uma política pública de gestão e gerenciamento dos resíduos. O meio ambiente é um bem de todos e todos devem se unir para sua manutenção em condições de uso das presentes e futuras gerações.

Philippi Junior (2012) ensina que cooperar é agir em conjunto e não sozinho ou de forma separada. Agir de uma maneira integrada na ciência dos resíduos sólidos, na criação de leis e na sua implementação envolve o setor público e o privado, ou seja, toda a sociedade. A palavra “cooperação”, à primeira vista, pode dar a ideia de indeterminação e transmitir uma informação utópica. Porém esse não é o objetivo da lei. Nessa seara, é importante lembrar o primeiro objetivo da Constituição Federal: a construção de “uma sociedade livre, justa e solidária” (artigo 3º, I). A inserção de um princípio dessa relevância na Lei de PNRS demonstra que a obrigação não é somente de um setor, mas de todos os atores da gestão dos resíduos sólidos, como bem demonstra o artigo 10 da PNRS.

A dependência constitucional não possibilita a separação do poder público e privado, bem como da sociedade em geral, nem mesmo a falta de informação ou o afastamento entre si na gestão dos resíduos sólidos, eis que a falta de cooperação resultaria no insucesso de uma política ambiental e social, a qual, enfim, é a existência de todos.

Guerra (2012) leciona que esse princípio não é novo. O meio ambiente é um direito de terceira geração, chamado “direito de solidariedade”:

[...] surge como resposta à dominação cultural e como reação ao alarmante grau de exploração dos países industrializados, bem como dos quadros de injustiça e opressão no próprio ambiente interno dessas e de outras nações reveladas mais agudamente pelas revoluções de descolonização

ocorridas após a Segunda Guerra Mundial, além da afirmação contemporânea de interesses que desconhecem limitações de fronteiras, classe ou posição social e se definem como direitos globais ou de toda a humanidade (GUERRA, 2012, p. 110).

Não há dúvida de que a proteção do meio ambiente está relacionada à proteção do ser humano, pois é necessária para uma vida digna do homem.

O princípio em questão está inserto nos princípios 24 e 25 da Declaração originária da Primeira Conferência da Organização das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Homem, realizada em Estocolmo no ano de 1972, os quais preveem no Princípio 24 que todos os países devem unir-se para cooperar em igualdade a favor da proteção do meio ambiente. E, no Princípio 25, expressa que: “Os Estados devem assegurar-se de que as organizações internacionais realizem um trabalho coordenado, eficaz e dinâmico na conservação e no melhoramento do meio ambiente” (DECLARAÇÃO DA CONFERÊNCIA, 1972, p. 7).

Esse princípio da cooperação constitui-se na união das potências dos diversos domínios da sociedade, englobando o poder público, empresas e sociedade civil no avanço de uma inovação na política pública de logística e administração dos resíduos. Não foi aleatoriamente que o legislador uniu os esforços do poder público, empresas e sociedade civil, cada uma com suas especialidades, porque a natureza, como bem prevê a CRFB, retrata-se como bem de uso comum do povo cujo cuidado e conservação devem ser delegados a todos os atores que lhe aproveitem.

O pensamento de ajuda e união expressa a relevância de adotar na mente dos participantes dessas diversas áreas do poder a assimilação da precisa cooperação no procedimento de originar uma nova política pública de logística e administração dos resíduos. A tarefa não de um único setor:

Incumbe ao Distrito Federal, e aos Municípios a gestão integrada dos resíduos sólidos gerados nos respectivos territórios, sem prejuízo das competências de controle e fiscalização dos órgãos federais e estaduais do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), do Sistema nacional de Vigilância Sanitária (SNVS) e do Sistema Nacional de Atenção à Sanidade Agropecuária (SUASA), bem como da

responsabilidade do gerador pelo gerenciamento de resíduos, consoante o estabelecido nesta Lei (PHILIPPI JUNIOR, 2012, p. 45).

Então, para a PNRS, esse princípio é muito importante porque promove a cooperação entre todos os setores com um objetivo comum: a proteção e sustentabilidade do meio ambiente.

Nesse espírito, o artigo 25, da PNRS e o artigo 7º, do Decreto 7.404/2010 atentam que a obrigação pela existência dos movimentos focados a proporcionar a aplicação da PNRS, bem como suas linhas e indicações, são sinônimo do Poder Público, do domínio empresarial e da sociedade.

Com efeito, a reverência ao princípio da cooperação é substancial para o aprendizado do meio ambiente. E, nesse particular, para uma vigorosa administração de resíduos sólidos, não se pode escapar dessa proposição, motivo pelo qual o citado princípio se constitui vigente entre os dispositivos da PNRS. Não é possível pensar no individual e, sim, no coletivo quando a ideia é resolução do problema ambiental. Somente com a união entre o Poder Público e o particular será possível manter uma vida saudável para as futuras gerações. E, nessa seara, a PNRS trouxe o princípio do respeito às diversidades locais e regionais que será tratado no item seguinte.