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CAPÍTULO II A LEI DE POLÍTICA NACIONAL DE

2.1 A LEI DE POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

2.1.4.11 Princípio da proporcionalidade e da razoabilidade

A Lei de PNRS inclui, ainda, os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. Esses não são princípios próprios do Direito Ambiental, pois são muito usados na fiscalização da constitucionalidade de leis ou atos administrativos e na fiscalização das ações na administração pública.

Possuem definições muito semelhantes e, por vezes, confundem o intérprete. Santos, conceitua o princípio da proporcionalidade:

[...] um instrumento específico, identificado, e desenvolvido em uma dada experiência jurídico- constitucional, que permite a limitação do poder estatal. Trata-se de um instrumento segundo o qual a medida a ser tomada pelo Estado há de ser adequada e necessária à finalidade apontada pelo agente, bem como deve ser garantida uma relação de proporcionalidade entre o bem protegido pela atividade estatal e aquele que, por ela, é atingido ou sacrificado. O princípio da proporcionalidade faz essa mediação entre diferentes grandezas, combinando, proporcionalmente à importância para o caso concreto, diferentes valores contidos no sistema. As normas em colisão serão comparadas e testadas de forma a se chegar a uma conclusão consagradora de uma das duas ou que compatibilize as duas SANTOS (2004, p. 108- 109).

Por outro lado, no que diz respeito ao conceito de “razoabilidade”, Barroso (1996, p. 259) leciona: “Trata-se de um parâmetro de avaliação dos atos do poder público para aferir se eles estão informados pelo valor superior inerente a todo ordenamento jurídico: a justiça”. Na mesma ótica, Machado (2012b, p. 53) explana

que a “[...] razoabilidade se aplicará quando não houver regra expressa e clara, dando-se, assim, oportunidade para ser interpretada na concepção mais profunda e mais equânime”.

Os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade na PNRS atribuem ao administrador, quando da execução da norma, responsabilidade para não exigir atos descomedidos, impróprios e desnecessários ao administrado, como também para que sobre a prática da discricionariedade pairem os princípios de razoabilidade, quer dizer, evite-se exceder a permissão legal, ou seja, coações excessivas ou atos de ingerência desnecessários na área jurídica dos particulares (CANOTILHO, 2003, p. 273).

Observa-se que o princípio da proporcionalidade se molda para proteger e impor a obediência aos direitos fundamentais em conformidade com as leis, com objetivo de impedir excessos em especificidades de casos concretos. Mello (2001, p. 93-94) é incisivo ao representar a proporcionalidade como uma especificidade do princípio da razoabilidade, defendendo que tem direito a um “destaque próprio, uma referência especial, para ter-se maior visibilidade da fisionomia específica de um vício que pode surgir e entremostrar-se sob esta feição de desproporcionalidade do ato”.

Na mesma linha de pensamento, Moreira Neto (2002, p. 98) expressa que:

[...] compreendida na razoabilidade está a proporcionalidade, exigente do equilíbrio justo entre os meios empregados, ainda que legais, e os fins públicos a serem alcançados, e que tanto pode ser tomada como um princípio autônomo, como considerada como um tipo de razoabilidade. Por outro lado, há autores que divergem no sentido de que o dever de proporcionalidade não se caracteriza com o dever de razoabilidade. Na proteção dessa ideia, Ávila (2009) defende que a proporcionalidade se relaciona à similitude entre dois bens protegidos juridicamente por princípios natos, em que se persegue se o meio escolhido é suficiente para alcançar o objetivo constitucionalmente adotado. Além disso, procura-se conhecer se o meio escolhido é preciso enquanto não amparado por outra forma também eficiente e menos decisiva do bem jurídico comprometido, e se o meio escolhido é desigual em relação ao objetivo a ser atingido.

Para esse autor, cuida-se de investigação obscura dos bens jurídicos compreendidos. De outra forma, a razoabilidade se aprofunda à

postura pessoal da pessoa comprometida. O emprego perpassa a relação meio-fim, classificada como constitucional – é a teoria da justaposição de uma regra geral a um evento específico (reprovação de excesso no evento específico). A dimensão não é inconstitucional em virtude da fronteira sucessiva da reflexão entre princípios, porém, acima de tudo, em razão da palpável colocação ao referido indivíduo. A situação pessoal e individual deve ser considerada (ÁVILA, 2009).

Nos tribunais pátrios, os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade têm sido constantemente usados de forma vinculada. Um exemplo é a decisão do Supremo Tribunal Fedeal (STF) na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) 855 (PR) na qual foi relator Sepúlveda Pertence que, no julgamento, atribuiu a inconstitucionalidade da lei do Estado do Paraná como transgressora dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, suspendendo a lei de forma liminar16.

A razoabilidade terá aplicação quando não houver norma escrita, surgindo-se, assim, momento de ser interpretada com pontos de vista profundos e de forma ponderada.

Observa-se que há autores, conforme acima exposto, que separam completamente os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade e outros que vinculam ambos os princípios. Tem-se que o melhor é observar cada caso concreto porque há situações em que é possível reunir os dois princípios, como no caso da decisão do STF acima mencionada. Contudo haverá momentos em que os princípios devem ser usados de forma autônoma. Assim, o caso concreto dirá qual caminho deve ser tomado dentro da equidade.

Outro princípio é o da correção na fonte que possui afinidade com o princípio da prevenção.

16

STF na ADIN 855 (PR), Relator Sepúlveda Pertence, consta da ementa: “Gás liquefeito de petróleo: lei estadual que determina a pesagem de botijões entregues ou recebidos para a substituição à vista do consumidor, com pagamento imediato de eventual diferença a menor: argüição de inconstitucionalidade fundada nos artigos 22, IV e VI (energia e metrologia), 24 e Parágrafos, 25, 2º e 238, além de violação ao princípio de proporcionalidade e razoabilidade das leis restritivas de direitos: plausibilidade jurídica da arguição que aconselha a suspensão cautelar da lei impugnada, a fim de evitar danos irreparáveis à economia do setor, no caso de vir a declarar-se a inconstitucionalidade: liminar deferida”.