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CAPÍTULO II A LEI DE POLÍTICA NACIONAL DE

2.1 A LEI DE POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

2.1.4.5 Princípio do desenvolvimento sustentável

Esse princípio está inserido na Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Organização das Nações Unidas – Declaração das Nações Unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento. Ministério do Meio Ambiente, 1992), em seu princípio 313. Tem por objeto a manutenção das bases vitais da produção e reprodução do ser humano e das atividades e propõe uma relação saudável entre o homem e o meio ambiente para que as gerações futuras, igualmente, possam aproveitar idênticos recursos que possuímos hoje à nossa disposição (GUERRA, 2012, p. 106).

Observa-se que, junto ao conceito de “sustentabilidade”, os atos do homem passam a ser objeto de análise quanto ao alcance de seu resultado no tempo determinado, eis que são objetos de pesquisa no momento atual e no futuro, como também, ao buscar fazer uma previsão do futuro, será necessário estudar que consequências permanecerão e os resultados de sua permanência.

Desse princípio, três questões são fundamentais: a econômica, a social e a ambiental. Ou seja, o desenvolvimento sustentável deve prever i) a sustentabilidade social, com minimização das desigualdades na distribuição de bens e renda, incluindo a sociedade excluída; ii) a sustentabilidade econômica que implica uma gestão pública e privada eficientes, usando dos recursos para eliminar barreiras protecionistas entre os países, com a oferta de oportunidade de tecnologias; e iii) a avaliação da eficiência econômica em termos macrossociais, a sustentabilidade do meio ambiente, usando dos recursos esgotáveis com limitação (GUERRA, 2012, p. 107).

Oliveira (2012, p. 84), a respeito disso, discorre que a expressão [...] “desenvolvimento sustentável” ganhou visibilidade por intermédio do Relatório Bruntland, produzido pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento,

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O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam atendidas equitativamente às necessidades de desenvolvimento e de meio ambiente das gerações presentes e futuras.

estabelecida sob o patrocínio da ONU. Presidida pela norueguesa Gro Harlem Bruntland (da qual deriva o nome do respectivo relatório), essa comissão produziu um documento intitulado Nosso Futuro Comum, que trouxe a definição de desenvolvimento sustentável como sendo o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras satisfazerem as suas.

O Relatório Brundtland foi de crucial importância para a discussão mundial da situação ambiental, surtindo resultado positivo. Atualmente, o Planeta busca uma solução sustentável. Muitos pesquisadores estão se dedicando a investigar meios de viver de forma sustentável. E um dos maiores dilemas é a dificuldade em se perceber que, para haver desenvolvimento sustentável, deve ser dada igual importância às questões social, econômica e ambiental. Este, sem dúvida, é o maior problema a se atingir: a justiça socioeconômica (BOSSELMANN, 2015).

As vantagens da aplicabilidade desse princípio são evidentes como por exemplo, maximizar a atividade biológica, a conservação de nutrientes, minimizando a utilização de fertilizantes químicos no caso em particular do trabalho agrícola.

Na ótica de Martin Mateo (1998), incumbe a admissão da diminuição de uso dos recursos naturais de maneira quantitativa e qualitativa. Na ordem quantitativa, a procura de meios de redução do uso, por exemplo de energia, abdicando de embalagens desnecessárias. No que se refere a questão qualitativa pode-se optar pelo uso de matérias-primas numerosas, menos contaminantes e energias renováveis (MATEO, 1998, p. 200).

Os termos “desenvolvimento” e “sustentabilidade” são antagônicos; por muito tempo, foi dada ênfase maior à questão econômica, deixando-se de lado a sustentabilidade. Todavia, deve haver uma harmonia dos interesses em jogo para que haja desenvolvimento com sustentabilidade e, em consequência, um equilíbrio do meio ambiente (MACHADO, 2012a, p. 123). É preciso ressaltar que o princípio do desenvolvimento sustentável tem previsão legal na PNRS e, portanto, tem ampla aplicabilidade de modo a alcançar uma gestão dos resíduos em harmonia com o desenvolvimento. Nessa linha de pensamento, o princípio do desenvolvimento sustentável está interligado ao princípio da ecoeficiência, como também aos objetivos principais da PNRS: não geração de resíduo e redução de resíduo, resguardando a

ampliação dos ganhos sociais da geração presente e, ao mesmo tempo, sem impedir o direito das gerações futuras de usar os recursos naturais e a diversidade ecológica.

É importante mencionar que os princípios 5 e 8 da Declaração do Rio (Organização das Nações Unidas. Declaração das Nações Unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento. Ministério do Meio Ambiente, 1992) retrocedem à linha do desenvolvimento sustentável: “os recursos não renováveis da Terra devem ser empregados de maneira a se evitar o perigo de seu esgotamento e a se assegurar a toda a Humanidade a participação nos benefícios de tal emprego” e “o desenvolvimento econômico ou social é indispensável para assegurar ao Homem um ambiente de vida e trabalho favorável e criar na Terra condições favoráveis para melhorar a qualidade de vida”.

A compreensão desse princípio não é possível sem ligá-lo com o direito e a economia; e esse é o seu ponto de destaque, ou seja, há que interrogá-lo a respeito da atual máquina econômica e sua sustentabilidade. O desenvolvimento não pode acontecer de maneira desregrada, ocasionando prejuízo ao meio ambiente. Por isso, o bem que proporciona o desenvolvimento econômico, social, cultural, político é idêntico ao que conta para a permanência da boa qualidade de vida.

“Desenvolvimento sustentável” foi conceituado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento como aquele que “atende as necessidades do presente sem comprometer as necessidades de as gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades”14

. Esse conceito trata do desenvolver-se cuidando do meio ambiente.

O princípio do desenvolvimento sustentável repercute nas ações econômicas e nas relações sociais. O aumento da fabricação dada a procura e a capacidade efetiva de excesso dos recursos naturais é assunto relevante quando o objeto são a tutela ambiental e a obrigação pós-consumo. Acatar o princípio em comento impõe fazer uso de uma reunião de ações preventivas a fim de mudar o cotidiano econômico, científico, educacional procurando alcançar o bem-estar da comunidade. Quer dizer, deve haver uma harmonia entre a atividade econômica e a defesa do meio ambiente.

Leff (2001) leciona que a racionalidade ambiental fornece um norte à edificação da ideia de sustentabilidade e envolve um conjunto de racionalidades, diferentes formas de sentir, de pensar e de valorar as

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A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) e presidida por Gro Harlem Brundtland.

coisas. Dessa maneira, as incompatibilidades entre a ecologia e o capital não estão limitadas às ideias inconcretas opostas; não há resultado conformando o capital à ideia da ecologia, nem mesmo o contrário.

A racionalidade ambiental e a racionalidade capitalista possuem uma diferença crucial na comparação dos interesses sociais enraizados em esqueletos institucionais, a exemplo de estudos das formas de interpretar o mundo e processos de qualidade, que embatem os variados agentes, classes e grupos sociais.

Esse princípio tem aplicação importante na PNRS. Exemplo importante consta da obra de Lemos (2012, p. 52-53) quanto ao fato de a reciclagem de resíduos sólidos aumentar a atividade biológica e a retenção de nutrientes, diminuindo a necessidade de fertilizantes químicos no caso específico da atividade agrícola. Outra situação relevante é a do artigo 7º, XI, da Lei de PNRS, ao estabelecer-se que devem ser priorizados, tanto na compra quanto nos contratos a serem firmados pelo Estado, os serviços e obras qualificados como ambientalmente sustentáveis. Um dos principais objetivos da PNRS é diminuir o consumo, atingindo um padrão sustentável.

A noção de “níveis de consumo e produção” deve atingir as prioridades da geração presente, preservando-se o uso adequado para as gerações futuras, garantindo dessa maneira melhor condição de vida sem prejudicar a qualidade do meio ambiente e a vida das futuras gerações (artigo 3º, XIII, PNRS). Para o atendimento dessa perspectiva, estabeleceu a lei sobre a gestão integrada de resíduos sólidos, conforme noção do artigo 3º, XI, PNRS, o conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões políticas, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável. Assim, é imprescindível considerar o desenvolvimento sustentável.

Também, o artigo 7º, da PNRS, dispõe uma ordem de prioridade a ser observada na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos: “não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos”. Para ser atendida, a proposição da norma requer mudanças na ordem econômica, procurando novas tecnologias, buscando novos instrumentos de gestão ambiental que possibilitem um superior emprego dos bens abrangentes na ação lucrativa.

O desenvolvimento sustentável, de acordo com Bosselmann (2015) e Lemos (2014), precisa ser observado, sobretudo com finalidade de objetivar a minimização do consumo, promovendo a capacidade dos indivíduos de materializar como ideal considerar estratégias em defesa

da natureza. Dessa forma, no princípio do desenvolvimento sustentável, preza-se um paradigma de desenvolvimento que alcance as necessidades da presente geração, contudo sem comprometer a satisfação das necessidades das futuras gerações.

Então, o desenvolvimento é uma necessidade, mas a sustentabilidade é necessária. Assim, o desenvolvimento, para ocorrer, deve, de forma conjunta, ter o devido cuidado com a natureza, atender as necessidades econômicas sem esquecer as pessoas e sua dignidade e qualidade de vida.

As pessoas necessitam de vida saudável, proteção contra a pobreza, como também precisam de liberdade, segurança, educação, justiça, água, alimento, abrigo, ar puro, solo fértil. As gerações futuras poderão ter necessidades diferentes, mas muitas das necessidades atuais permanecerão para essas gerações vindouras. O que não muda entre as necessidades atuais e futuras é o meio ambiente saudável: este será necessário sob pena de perecimento do ser humano.

O princípio tratado a seguir é a respeito do acesso à informação e controle social, importante instrumento para a sociedade ficar informada e fiscalizar.