• Nenhum resultado encontrado

3. NATUREZA JURÍDICA E ATIVIDADES DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS

3.2. Princípios aplicáveis ao MPC

3.2.3 Princípio da Independência Funcional

Dentre os três princípios positivados em sede constitucional destaca-se uma diretiva relacionada individualmente aos membros do Parquet sui generis, denominada Independência Funcional, a qual, para o escopo deste trabalho, não será tomada como sinônimo de autonomia funcional57. É a partir deste princípio que

se deduz a atuação livre em matérias relacionadas ao pleno exercício funcional (discricionariedade) e a não responsabilização por atos praticados no estrito

57

Segundo Hely Lopes Meirelles, "independência e autonomia, do ponto de vista jurídico- administrativo, são conceitos diversos e com efeitos diferentes. A independência é de caráter absoluto; a autonomia é relativa a outro órgão, agente ou Poder. Ora, no que concerne ao desempenho da função ministerial, pelo órgão (Ministério Público) e seus agentes (Promotores, Procuradores), há independência de atuação e não apenas 'autonomia funcional'. Os membros do Ministério Público quando desempenham as suas atribuições institucionais não estão sujeitos a qualquer subordinação hierárquica ou supervisão orgânica do Estado a que pertencem. Seus atos funcionais só se submetem ao controle do Poder Judiciário, quando praticados com excesso ou abuso de poder, lesivo de direito individual ou infringente das normas legais que regem a sua conduta. Essa submissão ao controle judicial não descaracteriza a sua independência funcional, pois tem sede constitucional no mandamento universal do artigo 153, § 4º, da Lei Maior (EC nº 1/69), abrangente de toda conduta humana abusiva ou ilegal".

(Parecer sobre o Ministério Público, in Justitia nº 123/185 apud GARCIA, Emerson. Exercício de funções eleitorais, pelos Promotores de Justiça, perante os Juízes e juntas eleitorais. Poder de designação do Ministério Público estadual. Tese aprovada no XV Congresso Nacional do Ministério Público, realizado na Cidade de Gramado/RS, no período de 1º a 05 out. 2003).

cumprimento do dever funcional, entendido o estrito cumprimento como o ato ou o efeito de seguir a própria consciência (livre convencimento motivado).

Na medida em que a Independência Funcional pressupõe uma completa ausência de subordinação da instituição a qualquer outro órgão ou poder, já se tem sinalizado no sentido de que as ordens de comando só poderão partir da chefia da instituição em comento, destacando uma estreita relação com o Princípio da Unidade, com o qual se concilia pela aplicação do Poder Hierárquico ao aspecto puramente administrativo.

Importa salientar que o princípio em tela não comporta apenas comandos negativos. Ao contrário, urge positivar os meios necessários para que os procuradores de contas possam atuar em defesa da legalidade, bem assim por meio dos princípios elencados no art. 37 da Constituição Federal. (Ex.: o direito de requisitar informações de qualquer natureza).

Não é outra, pois, a ratio legis da seção I do Título IV da CRFB (“Das Funções Essenciais à Justiça”) senão a de que toda forma de embaraço capaz de influir nos resultados legitimamente pretendidos pelos órgãos ali previstos, in casu, aquele insculpido no art. 130, CF, padecerá da pecha de inconstitucionalidade, o que na quadra atual ainda mais se sustenta em razão da necessidade do controle de mérito administrativo.

Com efeito, é de se concluir, como o Pretório Excelso, que a independência funcional dos membros do Ministério Público de Contas decorre diretamente da Constituição Federal, prevalecendo mesmo diante da ausência de lei expressa e afastando todo e qualquer ato contrário que vise a colocar os representantes do Parquet especial sob vara, coação ou intimidação, como os submetendo à Corregedoria dos Tribunais de Contas ou negando-lhes o poder de requisitar informações e documentos para fundamentarem as suas atuações.

Pensar de forma diversa impediria que tais representantes do Parquet agissem, com plena independência e sem tegiversação, justamente perante os poderes do Estado, a começar pela corte junto à qual oficiam, como quer a Corte Suprema do país, ao dar a correta interpretação ao artigo 130 da Lei Maior58.

58

CORREIO BRAZILIENSE. Ministério Público de contas no controle e na fiscalização. Artigo publicado por Saulo Ramos. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/noticias/145739>.

Por tais razões é que deve ser esvaziado conteúdo das normas infraconstitucionais que criam relação de submissão administrativa entre o Parquet

sui generis e os Tribunais de Contas, através, principalmente, de uma exegese

constitucional capaz de harmonizar os princípios da Unidade e a Indivisibilidade. A aludida submissão ocorre não apenas diretamente, como já foi aludido (LOTCU, art. 80, ss.), mas principalmente por via indireta, dada a vinculação do pessoal de apoio à chefia do Tribunal, o que aponta para uma necessidade implícita de uma maior autonomia administrativa.

Do cotejo entre as normas, nota-se que o Princípio da Unidade orienta o caráter incindível da instituição, de sorte a se verticalizarem as funções, bem como os serviços auxiliares, através de faculdades tais como avocação, delegação, fiscalização e revisão, dentro das hipóteses legais (ex.: LC nº 75/1993, art. 4759).

Por seu turno, a Independência Funcional surge como uma mitigação ao princípio hierárquico, em face da constatação de que não apenas as influências externas podem macular o exercício funcional dos integrantes, como também as pressões internas, provenientes da própria chefia, no que se homenageia o princípio da obrigatoriedade. Este princípio, sem dúvida aplicável à espécie, é invocado diante de indícios de malversação de recursos por parte de agentes públicos ou pessoas jurídicas, quando a discricionariedade cede espaço diante da obrigatoriedade da representação e denúncia dos envolvidos, com todos os meios e recursos necessários para o êxito da apuração.

Por último, cumpre ressaltar ainda que quando se diz que o membro do Ministério Público junto aos Tribunais de Contas não está sujeito a ordens emanadas de fonte estranha aos seus quadros, deve-se compreender nessa

59

Art. 47. O Procurador-Geral da República designará os Subprocuradores-Gerais da República que exercerão, por delegação, suas funções junto aos diferentes órgãos jurisdicionais do Supremo Tribunal Federal.

§ 1º As funções do Ministério Público Federal junto aos Tribunais Superiores da União, perante os quais lhe compete atuar, somente poderão ser exercidas por titular do cargo de Subprocurador-Geral da República.

§ 2º Em caso de vaga ou afastamento de Subprocurador-Geral da República, por prazo superior a trinta dias, poderá ser convocado Procurador Regional da República para substituição, pelo voto da maioria do Conselho Superior.

§ 3º O Procurador Regional da República convocado receberá a diferença de vencimento correspondente ao cargo de Subprocurador-Geral da República, inclusive diárias e transporte, se for o caso. Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em: 26 set. 2013).

vedação, inclusive, o próprio Tribunal em que oficia, e como ressaltado, até mesmo a sua chefia. Neste caso, no exercício das prerrogativas funcionais.

Neste passo, importa salientar que a ausência de recursos suficientes, tanto físicos como humanos, não rende ensejo a que sejam direcionados os trabalhos num ou noutro sentido, mas como argumento em favor da autonomia institucional como único meio se concretizar o princípio em estudo.