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Preliminarmente, deve-se assinalar que este princípio encontra-se patente na lei n.º 6815/80, ao determinar no art. 77, inciso III que não se concederá a extradição quando o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime imputado ao extraditando.

Este princípio ao conferir a jurisdição nacional preferência para julgar indivíduos que em solo brasileiro praticaram crime, pressupõe a existência da concorrência entre o Brasil e qualquer Estado.

Comentando sobre a jurisdição nacional, Fernando Capez acentua, que:

A jurisdição é territorial, na medida em que não pode ser exercida no território de outro Estado, salvo em virtude de regra permissiva, emanada do direito internacional costumeiro ou convencional. Em respeito ao princípio da soberania, um país não pode impor regras jurisdicionais a outro94.

Tendo em vista os aspectos observados, pode-se referir que sendo a jurisdição territorial, um ato de soberania não pode Estado alheio desrespeitar o principio da soberania e impor suas normas ao acusado nem tão pouco invadir território alheio e capturá-lo a fim de satisfazer a necessidade punitiva.

Por seu turno, Luiz Régis Prado e Erika Carvalho prelecionam, a respeito que:

93

CASTRO, Joelíria Vey de. Op. cit. p. 37. 94

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral, v.1. 6ªed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2003, p.88.

A necessidade de reclamar ou de conceder a extradição de um delinqüente fundamenta-se, simultaneamente, na própria estrutura de aplicação da lei penal (visto que o Estado onde aquele reside nem sempre tem razão jurídica para puní-lo) e na necessidade de se respeitar a soberania estrangeira (o Estado competente para processar ou executar a sanção penal não pode capturar o indivíduo que se encontra fora de seus limites territoriais). Importa reconhecer, portanto, que o instituto da extradição suaviza as conseqüências que necessariamente derivam do acolhimento do critério da territorialidade, porque nem sempre um Estado, em cujo território se tenha refugiado um culpável depois de ter cometido no estrangeiro um crime, pode ou tem interesse em proceder a punição do próprio réu. Daí a necessidade de que seja entregue aos órgãos do Estado no qual o delito foi cometido, para que tenha lugar o processo penal ou o cumprimento da pena imposta95.

A partir dessa compreensão, é possível notar que o princípio da preferência da jurisdição nacional presente no inciso III, do art.77 encontra seu fundamento, sobretudo, na regra da extraterritorialidade da lei penal brasileira [já visto em páginas anteriores], que visa impedir que o brasileiro que se delinqüiu no estrangeiro permaneça impune caso não possa ser extraditado.

Sustentando essa perspectiva, Frederico Marques expõe:

O fundamento da aplicação da lei penal pátria nos casos de crime praticado por brasileiro no estrangeiro descansa precipuamente na necessidade de evitar que fique impune o nacional que delinqüe alinde. Se ele não pode ser extraditado, em virtude de sua qualidade de brasileiro, imprescindível se faz o processo e julgamento no Brasil para que o delito não permaneça sem punição96.

Efetivamente, pode-se afirmar que o princípio da extraterritorialidade da lei penal que consiste na aplicação da lei brasileira aos crimes cometidos fora do Brasil, encontra-se preservado de forma que não há que falar na impunidade do delinqüente.

Discorrendo sobre a jurisdição nacional Yussef Said nos lembra que:

(...) segundo alguns autores, para que a extradição seja possível, é necessário que o indivíduo reclamado deva encontrar-se voluntariamente no país requerido; se o extraditando ali se encontra em razão de uma circunstância independente de sua vontade, como se em virtude de um naufrágio foi lançado nas costas do país requerido, ou se foi feito prisioneiro de guerra, ou foi expulso por outro Estado, seria caso de recusar-se a extradição97.

O que se pode pensar é algo diverso, não há necessidade para que o Estado requerido somente atenda solicitação se o extraditando ingressou voluntariamente no país. Pode ser a única oportunidade para realização da justiça antes que o fato prescreva.

95

PRADO, Luiz Régis; CARVALHO, Érika Mendes de. Delito e Terrorismo: Uma Aproximação Conceitual. Revista dos Tribunais. São Paulo: v.771, 2000, p.432.

96

MARQUES, José Frederico de. Tratado de Direito Penal. Campinas: Bookseller, 1997.p.416. 97

Imagine-se que determinado criminoso, foragido de países cujo Brasil possui tratado de extradição esteja com mandado de captura expedido pela Interpol, encontre no território nacional por motivo de força maior [naufrágio do barco que lhe transportava para Argentina].

Obviamente que o motivo da sua presença no território nacional é irrelevante. O importante é que a sua prisão tenha sido decretada por um juiz competente em virtude de crime cometido, e que não responda perante tribunal de exceção dentre outras condições determinadas pela lei n.º6.815/80.

Atendendo ao princípio da humanidade, deve-se acolhê-lo, tratá-lo, e após a sua recuperação física e psicológica, entregá-lo para que seja punido pelos atos praticados antes de se pôr em fuga. Sua ausência do país não paga consequências dos crimes por ele cometidos.

A verdade, é que a posição apresentada pelo citado autor merece respeito, entretanto, não tem fundamento no Estatuto do Estrangeiro nem tão pouco jurisprudência do Supremo Tribunal Federal neste sentido.

Não há duvidas de que, eventual liberação desse indivíduo pelo Poder Público pode ser considerada como um perdão, um cheque em branco, uma autorização para cometimento de outros crimes inclusive no Brasil, já que ele não pode ser entregue porque não ingressou voluntariamente no país.

Esse raciocínio não deve ser aplicado de forma “nua” e “crua” pelo Poder Público para todos os casos. Sendo este indivíduo, um infrator da lei o governo brasileiro deve criar condições para que este seja mandado de volta.

Sua entrega ao país reclamante deve ser feita assim que esteja assegurado pelo Estado requerente o respeito à sua integridade física e psicológica.

4 PRESSUPOSTOS DA EXTRADIÇÃO

Superado o exame dos princípios norteadores da extradição, analisar-se-á neste item os seus pressupostos segundo a Lei n.º 6.815/80. São estes os seguintes pressupostos da extradição: competência do Estado requerente para julgar o extraditando, não extinção da punibilidade pela prescrição, gravidade do delito, natureza da infração, natureza do juízo existência de sentença final de privação de liberdade ou ordem de prisão do extraditando, detração penal e não reextradição.