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PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO RETROCESSO AMBIENTAL

1. PRINCÍPIOS AMBIENTAIS E SUA APLICABILIDADE

1.4 PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO RETROCESSO AMBIENTAL

As conquistas ambientais advindas das lutas sociais e da evolução dos direitos

fundamentais consideram o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, um direito

fundamental, como bem afirma Paulo (2013, p.103),

Os direitos de terceira geração consagram os princípios da solidariedade e da

fraternidade. São atribuídos genericamente a todas as formações sociais,

protegendo interesses de titularidade coletiva ou difusa. São exemplos de direitos

de terceira dimensão, que assistem a todo o gênero humano, o direito ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado, (...). (g.n.)

A Constituição Federal apresenta o direito ao meio ambiente como direito

fundamental, in verbis:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem

de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder

Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e

futuras gerações. (g.n.)

O Princípio da Vedação ao Retrocesso Ambiental significa que as garantias de

proteção ambiental conquistadas não podem retroagir, nesse sentido Silva (2015, p.89) afirma

que "É inadmissível o recuo da salvaguarda ambiental para níveis de proteção inferiores aos já

consagrados, a não ser que as circunstâncias de fato sejam significativamente alteradas".

Existem circunstâncias de fato que podem levar a uma mudança evidente na proteção

ambiental realizada, mas seria um caso eventual.

Como exemplo de uma circunstância de fato, para que as garantias de proteções

ambientais possam retroceder, Canotilho (2007, p.37) expõe que: "o afastamento do perigo de

extinção antropogênica, isto é, a efectiva recuperação ecológica do bem cuja protecção era

regulada pela lei vigente, desde que cientificamente comprovada: ou a confirmação de

proteção do bem natural carecido de protecção."

Já no campo legislativo pode haver retrocesso ambiental em casos extremos quando

se verifica situações de calamidade pública, estado de sítio ou estado de emergência grave,

entretanto, trata-se de um caso de retrocesso ambiental transitório, tendo em vista a

temporariedade dos acontecimentos, Canotilho (2007, p.37) esclarece que "o retrocesso

ecológico será necessariamente transitório, correspondente ao período em que se verifica o

Com base no Princípio da Vedação ao Retrocesso Ambiental, a proteção dada para

os Recursos Ambientais devem continuar, no sentido de não permitir que o poder econômico

se sobressaia ao poder de proteção ambiental, compatibilizando o crescimento econômico e a

qualidade de vida como bem afirma Silva (2013, p.36), "Põe-se, pois, compatibilizar

crescimento econômico e qualidade de vida, ou seja: orientar o desenvolvimento de tal forma

que não continue a destruir os elementos substanciais da Natureza e da Cultura (...)".

Além disso, o Princípio da Vedação ao Retrocesso Ambiental, conforme Canotilho

(2007, p.36,37,38), aplica-se no "direito interno", no "direito internacional (direito interno das

organizações internacionais)" e nas "relações do Direito Comunitário com o direito interno".

No Brasil não havia proteção específica para o meio ambiente, a própria

nomenclatura de "Meio Ambiente" não existia na legislação federal até a Lei de Política

Nacional do Meio Ambiente, conforme afirma Machado (2015, p.51) "Nota-se a ausência de

definição legal e/ou regular de meio ambiente até o advento da Lei de Política Nacional do

Meio Ambiente".

Observa-se que a lei é de 1981, ou seja, uma construção muito recente para a

importância que o próprio conceito possui para a sociedade, sendo que apenas em 1988 a

Constituição Federal do Brasil acrescentou expressamente a proteção ao meio ambiente, fato

esse que gerou um avanço e uma conquista para a sociedade brasileira.

Com a evolução legislativa a respeito do meio ambiente, surgiram construções

legislativas referentes ao uso dos recursos naturais. Nesse sentido Padilha (2010, p.101)

afirma que:

A legislação ambiental brasileira anterior a Constituição Federal de 1988 não

logrou produzir um microssistema jurídico próprio para a proteção do meio

ambiente, mas, sim, legislações esparsas, numa dispersão normativa referida

apenas a elementos setoriais do meio ambiente (florestas, águas, fauna, solo) de

forma fragmentada e desarticulada, sem a concepção holística de meio

ambiente e a visão de inter-relação de ecossistemas e equilíbrio ecológico. Por

outro lado, tal normatividade fragmentada é profundamente influenciada pela

conotação privatista de regimes de mera apropriação, pública ou privada, de recursos

naturais, sob forte influência do direito tradicional de cunho civilista, não se

tutelando o meio ambiente de modo autônomo. (g.n.)

Dessa forma, suprimir as legislações de proteção ambiental, ou, abandonar conceitos

com o intuito de restringir proteções ambientais, é uma afronta ao que promove o Princípio da

Vedação ao Retrocesso Ambiental.

Além disso, a vedação ao retrocesso não alcança apenas ao legislador, mas também o

administrador público como aponta Silva (2015, p.89): "A proibição de retrocesso diz respeito

mais especificamente a uma garantia de proteção dos direitos fundamentais contra a atuação

do legislador tanto no âmbito constitucional quanto infraconstitucional, e também proteção

em face da atuação da administração pública."

Os tribunais também fundamentam seus julgamentos no Princípio da Vedação ao

Retrocesso Ambiental:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA - IMPOSIÇÃO DE INSTITUIÇÃO DE ÁREA DE

RESERVA LEGAL - AVERBAÇÃO NO CARTÓRIO DE REGISTRO DE

IMÓVEIS - SUPERVENIÊNCIA DO NOVO CÓDIGO FLORESTAL - CRIAÇÃO

DO CADASTRO AMBIENTAL RURAL - REGULAMENTAÇÃO -

NECESSIDADE - MANUTENÇÃO DA OBRIGAÇÃO - FUNÇÃO PROTETIVA

DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL - PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO AO

RETROCESSO SÓCIOAMBIENTAL - ALEGAÇÃO DO DEMANDADO DE

CUMPRIMENTO DA EXIGÊNCIA LEGAL NO CURSO DA LIDE - PLEITO

MINISTERIAL DE CONDENAÇÃO DO REQUERIDO AO PAGAMENTO DE

INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS AMBIENTAIS - QUESTÕES QUE

DEMANDAM REGULAR DILAÇÃO PROBATÓRIA - JULGAMENTO

ANTECIPADO DA LIDE - IMPOSSIBILIDADE - SENTENÇA ANULADA. 1 - A

obrigatoriedade de constituição da área de reserva legal, que era prevista no antigo

Código Florestal, Lei nº. 4.771/65, foi mantida pela Lei nº. 12.651/12, com a

criação, pela novel legislação, do 'Cadastro Ambiental Rural - CAR', no qual passará

a ser feito o registro da área de reserva. 2 - Ante a finalidade protetiva da

legislação ambiental, não é cabível a desoneração do proprietário rural de

procedimento de averbação junto ao registro imobiliário, enquanto não for

efetivamente implementada nova forma de registro da área de reserva legal.

Princípio da proibição do retrocesso socioambiental. 3 - Se pende dúvida sobre a

regularidade da instituição da reserva legal procedida pelo demandado, bem como

havendo pedido ministerial de condenação da parte ao pagamento de danos morais

ambientais, o feito não comporta o julgamento antecipado da lide, devendo ser

providenciada a regular dilação probatória para esclarecimento das questões

necessárias à solução da demanda. (TJ-MG - AC: 10702110422160001 MG,

Relator: Sandra Fonseca, Data de Julgamento: 03/12/2013, Câmaras Cíveis / 6ª

CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 17/12/2013). (g.n.)

O Princípio do Não Retrocesso Ambiental trata da continuidade e da evolução no

tratamento da proteção do meio ambiente. Diante das construções legislativas e o tratamento

jurisdicional e legislativo no campo da responsabilidade civil, estas, devem sempre atender

aos interesses das presentes e futuras gerações na manutenção dos recursos naturais.

A valoração dos recursos deve ser trabalhada a fim de que os recursos naturais não se

desvalorizem e gerem um retrocesso ambiental, razão pela qual se deve trabalhar na

construção valorativa dos recursos naturais efetivando os mandamentos constitucionais e

legislativos.

A Responsabilidade Civil impõe a todo poluidor o dever de indenizar a sociedade

pelos danos causados ao Meio Ambiente, e diante dessa indenização se faz importante o

conhecimento do dano causado ao Recurso Natural e qual o seu valor monetário.

Como representação da continuidade na proteção do meio ambiente, o Princípio da

Reparação Integral do Dano Ambiental representa uma efetivação na proteção, determinando

que a indenização deve ser integral ao dano ambiental sofrido.