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2 UMA ANÁLISE DOS PRINCÍPIOS QUE REGEM O DIREITO ADMINISTRATIVO E OS CERTAMES LICITATÓRIOS

2.2 OS PRINCÍPIOS INFRACONSTITUCIONAIS PREVISTOS NA LEI GERAL DE LICITAÇÕES

2.2.4 Princípio do Julgamento Objetivo

A Lei de Licitações e Contratos Administrativos, ao longo de seu texto normativo, estabelece critérios objetivos a serem estritamente observados pelo administrador público quando este for realizar a análise das propostas que lhes são postas durante o processo licitatório, bem como qualquer ato decisório que venha realizar.

Tal forma de reger as decisões administrativas concerne à observância do princípio do julgamento objetivo, norma basilar expressa na citada Lei nº 8.666/93, mais precisamente, em seu art. 3º.

O julgamento objetivo nada mais é do que a Administração reger as suas decisões de acordo com o que está previamente estabelecido no instrumento convocatório, ou seja, o administrador ao realizar a análise das propostas dos licitantes, por exemplo, deve fazê-lo seguindo os critérios elencados no Edital.

Assim, diz-se que o princípio do julgamento objetivo está relacionado ao princípio da vinculação ao instrumento convocatório, haja vista que, como dito, os critérios de julgamento deverão estar previamente estabelecidos no edital.

Logo, o ato convocatório deverá ser confeccionado sobre critérios objetivos, devendo a Administração afastar de sua elaboração qualquer exigência que possa vir a macular essa premissa, caso contrário, estar- se-ia pondo em risco a lisura do julgamento que será realizado.

Frise-se, ademais, que tanto o princípio do julgamento objetivo, como os princípios da vinculação ao edital se completam, tornando-se premissas máximas que evitam desigualdades durante o processo licitatório, fazendo com que este se realize desde o seu início até o seu término, de forma impessoal e isonômica.

Nesse escopo, ao efetuar seus julgamentos nos processos licitatórios, o Poder Público deve se afastar de influxos subjetivos, como bem nos elucida MELLO (2003, p. 489), ao tratar sobre esta norma fundamental:

O princípio do julgamento objetivo almeja, como é evidente, impedir que a licitação seja decidida sob o influxo do subjetivismo, de sentimentos, impressões ou propósitos pessoais dos membros da comissão julgadora.

Objetiva este princípio, tão somente, estabelecer um limite na discricionariedade do julgamento a ser efetuado pelo órgão público nas licitações, para que não haja prejuízo ao interesse público, ou tratamento não isonômico entre os participantes da licitação.

Reconhecendo a sua importância, o legislador brasileiro estabeleceu as regras relativas a este princípio no ordenamento jurídico, como bem pode ser percebido na leitura dos artigos 44 e 45 da Lei de Licitações e Contratos Administrativos6.

6 Art. 44. No julgamento das propostas, a Comissão levará em consideração os critérios objetivos definidos no edital ou convite, os quais não devem contrariar as normas e princípios estabelecidos por esta Lei.

§ 1º É vedada a utilização de qualquer elemento, critério ou fator sigiloso, secreto, subjetivo ou reservado que possa ainda que indiretamente elidir o princípio da igualdade entre os licitantes.

No artigo 44 da Lei 8.666/93, tem-se expressa a máxima deste princípio, ao se estabelecer que a comissão ao realizar o julgamento das propostas dos licitantes, deverá levar em consideração os critérios objetivos definidos no edital, vedando em seu parágrafo primeiro a utilização de qualquer critério subjetivo, que possa elidir a igualdade entre os participantes.

Enquanto que, o artigo 45 estabelece, novamente, que o julgamento das propostas será objetivo, devendo a comissão realizar este julgamento de acordo com os tipos de licitações e os critérios estabelecidos no Edital.

Portanto, a Administração está obrigada, ao realizar os seus julgamentos, a seguir o que estabelece as exigências editalícias.

§ 2º Não se considerará qualquer oferta de vantagem não prevista no edital ou no convite, inclusive financiamentos subsidiados ou a fundo perdido, nem preço ou vantagem baseada nas ofertas dos demais licitantes.

§ 3º Não se admitirá proposta que apresente preços global ou unitários simbólicos, irrisórios ou de valor zero, incompatíveis com os preços dos insumos e salários de mercado, acrescidos dos respectivos encargos, ainda que o ato convocatório da licitação não tenha estabelecido limites mínimos, exceto quando se referirem a materiais e instalações de propriedade do próprio licitante, para os quais ele renuncie a parcela ou à totalidade da remuneração.

§ 4º O disposto no parágrafo anterior aplica-se também às propostas que incluam mão-de-obra estrangeira ou importações de qualquer natureza.

Art. 45. O julgamento das propostas será objetivo, devendo a Comissão de licitação ou o responsável pelo convite realizá-lo em conformidade com os tipos de licitação, os critérios previamente estabelecidos no ato convocatório e de acordo com os fatores exclusivamente nele referidos, de maneira a possibilitar sua aferição pelos licitantes e pelos órgãos de controle. § 1º Para os efeitos deste artigo, constituem tipos de licitação, exceto na modalidade concurso: I - a de menor preço - quando o critério de seleção da proposta mais vantajosa para a Administração determinar que será vencedor o licitante que apresentar a proposta de acordo com as especificações do edital ou convite e ofertar o menor preço;

II - a de melhor técnica; III - a de técnica e preço.

IV - a de maior lance ou oferta - nos casos de alienação de bens ou concessão de direito real de uso.

§ 2º No caso de empate entre duas ou mais propostas, e após obedecido o disposto no § 2º do art. 3º desta Lei, a classificação se fará, obrigatoriamente, por sorteio, em ato público, para o qual todos os licitantes serão convocados, vedado qualquer outro processo.

§ 3º No caso da licitação do tipo "menor preço", entre os licitantes considerados qualificados a classificação se dará pela ordem crescente dos preços propostos, prevalecendo, no caso de empate, exclusivamente o critério previsto no parágrafo anterior.

§ 4º Para contratação de bens e serviços de informática, a administração observará o disposto no art. 3º da Lei no 8.248, de 23 de outubro de 1991, levando em conta os fatores especificados em seu parágrafo 2º e adotando obrigatoriamente o tipo de licitação "técnica e preço", permitido o emprego de outro tipo de licitação nos casos indicados em decreto do Poder Executivo.

§ 5º É vedada a utilização de outros tipos de licitação não previstos neste artigo.

§ 6º Na hipótese prevista no art. 23, § 7º, serão selecionadas tantas propostas quantas necessárias até que se atinja a quantidade demandada na licitação.

Imperioso destacar que a objetividade absoluta nem sempre é fácil de ser alcançada, sobretudo em alguns processos licitatórios. Isto ocorre, tendo em vista os critérios que serão postos a exame.

O caso se torna mais complexo à medida que o serviço que está sendo contratado ganha natureza mais intelectual. Em regra, quanto mais intelectual o serviço a ser prestado, mais difícil será a sua objetivação no desenvolvimento do certame.

Nessas licitações, devido ao objeto que se almeja contratar, critérios como qualidade, técnica e rendimento são indispensáveis para a aferição das propostas dos licitantes, são os certames desenvolvidos por melhor técnica ou técnica e preço.

Mesmo nestes casos, critérios técnicos objetivos devem ser alçados como pontuação, tal qual a quantidade de profissionais com determinada titulação acadêmica, o número de vezes que o serviço foi prestado ou mesmo o tempo de serviço daquela determinada empresa.

Quando os critérios objetivos não forem suficientes para atender às necessidades da Administração, por óbvio está-se diante de uma situação de inexigibilidade de licitação, na qual não cabe o processo licitatório para promover a escolha do contratado. É a hipótese definida pelo artigo 25, II da Lei nº 8.666/93:

Art. 25. É inexigível a licitação quando houver inviabilidade de competição, em especial:

[...]

II - para a contratação de serviços técnicos enumerados no art. 13 desta Lei, de natureza singular, com profissionais ou empresas de notória especialização, vedada a inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação;

Mesmo vedando a contratação por inexigibilidade para as atividades de publicidade e propaganda, o legislador desenvolveu uma solução elaborada na forma da Lei nº 12.232/11, que disciplina regras para as licitações na área de publicidade, mantendo as relações de subjetividade inerentes às áreas que envolvem critérios artísticos ou criativos, mas minorando os seus efeitos prejudiciais à isonomia ao criar uma subcomissão técnica específica que, em análise cega (sem identificação dos participantes) define qual a pontuação que será atribuída a cada empresa.

Nesse escopo, o julgamento concreto do certame de forma objetiva é verdadeira garantia ao participante da licitação,

impossibilitando que a Administração utilize critérios não previstos no Edital, respeitando a igualdade entre os licitantes.