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2.2 Princípios do direito à segurança e saúde no trabalho

2.2.2 Princípio do risco mínimo regressivo

No entendimento de Sebastião Geraldo de Oliveira (2011) a segurança e saúde do trabalhador se fundamenta num princípio denominado por ele princípio do risco mínimo regressivo, que busca em sua essência a diminuição dos riscos de acidentes do trabalho diante dos avanços tecnológicos. A redução dos riscos laborais emana como direito da CF/88 e também possui diretrizes internacionais, conforme corrobora a Convenção n. 155 da OIT em seu artigo 4º, ratificada pelo Brasil:

Art. 7º - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

[...]

XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de

saúde, higiene e segurança; (BRASIL, 1988, grifos nossos)

Artigo 4

1. Todo Membro deverá, mediante consulta com as organizações mais representativas de empregadores e de trabalhadores interessadas e tendo em conta as condições e prática nacionais, formular, pôr em prática e reexaminar periodicamente uma política nacional coerente em matéria de segurança e saúde dos trabalhadores e meio ambiente de trabalho.

2. Esta política terá por objetivo prevenir os acidentes e os danos para a saúde que sejam consequência do trabalho, guardem relação com a atividade de trabalho ou sobrevenham durante o trabalho, reduzindo ao

mínimo, na medida em que seja razoável e factível, as causas dos riscos inerentes ao meio ambiente de trabalho. (OIT, 1981, grifo nosso). Assim, depreende-se que o princípio do risco mínimo regressivo também deve ser reconhecido como um princípio específico do direito tutelar da saúde e segurança do trabalhador.

Ora, os riscos laborais devem ser avaliados mediante a análise das condições do meio ambiente de trabalho e as atividades praticadas pelos trabalhadores.

E, conforme entendimento apregoado pela mencionada Convenção da OIT, numa análise da redução dos riscos laborais, percebe-se que a mesma está fundada na compreensão dos limites de tolerância de exposição aos riscos e na aplicabilidade do princípio da precaução de forma contributiva para a efetividade do princípio do risco mínimo regressivo.

Os avanços produtivo e tecnológico se relacionam ao princípio do risco mínimo regressivo de forma paradoxal. O paradoxo está relacionado ao fato de que as indústrias, assim como o progresso tecnológico deveriam trabalhar proporcionalmente ou até mesmo exponencialmente na redução dos riscos laborais; o que não reflete a realidade vivenciada no presente e nem mesmo pensada para o futuro, porquanto tais avanços têm potencializado a exposição dos trabalhadores a esses riscos

Por tais motivos, hoje somos reconhecidos como a sociedade do risco, que deve assumir a tarefa de combater os riscos produzidos pelos avanços mencionados, compreendendo os distintos aspectos que influenciam na avaliação dos riscos, tais como questões sociais, econômicas, ambientais, dentre outras, conforme concepção apresentada pelo sociólogo alemão Ulrich Beck (AMORIM JUNIOR, 2013, p. 59).

Compreender os riscos laborais é de suma importância para definição dos limites toleráveis que funcionam como fronteira entre a segurança e saúde dos trabalhadores e os infortúnios laborais (AMORIM JUNIOR, 2013, p. 68).

Nesse sentido, a concepção de Cléber Amorim Junior (2013, p. 57-58), que entende que “a ideia de risco se associa à possibilidade de exposição a um evento danoso ou a uma série de circunstâncias e situações que podem colocar em perigo a saúde e a vida dos trabalhadores”.

Quanto aos limites de tolerância, estes devem estar presentes em todo o ambiente de trabalho, seja para agentes físicos e químicos, como para agentes mecânicos e ergonômicos. Sua definição deve ser realizada pelos agentes legitimados, sendo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) o responsável por tal definição, conforme previsto no art. 190 da CLT.

São parâmetros considerados para definição dos limites de tolerância: natureza e intensidade de exposição ao agente de risco, o tempo de exposição, bem como o meio ambiente de trabalho e as atividades praticadas pelo trabalhador, conforme entendimento extraído do art. 189 da CLT.

Quando da incerteza científica para a definição dos limites de tolerância de exposição aos agentes de riscos laborais, conforme esclarece Cléber Amorim Junior, deve-se aplicar o princípio da precaução, “que preconiza a adoção de medidas preventivas em face do nível e grau de risco ambiental de determinadas atividades [...]. Havendo dúvida, deve-se decidir em prol do meio ambiente e contra o empreendedor” (AMORIM JUNIOR, 2013, p. 70).

Nesses casos, o perito técnico que fará a avalição do limite de tolerância não deve permitir a influência do empregador ou de outros intervenientes da relação de trabalho, pois seu parecer técnico deve ser bem fundamentado em observância aos parâmetros de definição dos limites toleráveis, inclusive em seu conhecimento técnico-científico acerca dos riscos laborais de cada situação analisada.

Insta salientar que os limites de tolerância para exposição aos riscos laborais devem ser revisados periodicamente, conforme entendimento esposado nas normas internacionais, sendo possível constatar essa diretiva nos textos das Convenções da OIT sobre saúde e segurança do trabalhador.

Não obstante a existência desses limites e a determinação de sua observação pelas normas da OIT, conforme Cléber Amorim Junior, essa não tem sido a realidade brasileira, pois nossas normas regulamentadoras acerca da saúde e

segurança no trabalho, que estabelecem limites de tolerância dos riscos laborais, estão em sua maioria defasadas, levando em consideração o contexto atual, os avanços tecnológicos, as mudanças nos ambientes de trabalho e as novas cadeias produtivas estabelecidas.

Dessa forma, o princípio do risco mínimo regressivo deve ser imediatamente instalado na cadeia de elaboração, interpretação e aplicação das normas de segurança e saúde no trabalho, pois as medidas preventivas dependem dessa mudança de paradigma, dependem do rompimento dessa inércia. Caso contrário, de nada adiantará prosseguir com políticas nacionais nem programas de prevenção, uma vez que se estará alicerçado em ideais ultrapassados, em bases epistemológicas superadas.

Por fim, cumpre esclarecer que os princípios tratados até o momento devem ser aplicados de forma complementar, pois a definição do risco mínimo regressivo, além da necessária observância aos parâmetros já traçados, deve sempre estar pautada na indisponibilidade da saúde do trabalhador.