• Nenhum resultado encontrado

2.2 Princípios do direito à segurança e saúde no trabalho

2.2.5 Princípio do não improviso

O princípio do não improviso recebeu essa denominação baseado no entendimento lógico do auditor fiscal do trabalho, Cléber Amorim Junior. Seguindo a ideologia do Direito Hebraico, postulada no Decálogo formulado pelo Legislador do Sinai, o princípio do não improviso pretende alcançar a força de mandamento, qual seja: não improvisarás, assim como as normas traduzidas no referido instrumento do Direito Hebraico (AMORIM JUNIOR, 2013, p. 130-131).

A instrumentalização desse princípio objetiva romper com uma realidade ainda imperante em nossa sociedade. Em vários setores e contextos sociais ainda se percebe a improvisação sobrepondo os planejamentos de processos, condutas, medidas de controle, dentre outros. Essa improvisação tem sua raiz histórica na colonização sofrida pelo Brasil, bem como em razão da política capitalista, que almeja os resultados esperados a qualquer custo, mesmo que seja adotando

medidas improvisadas em detrimento do direito à vida, à saúde, a integridade física e mental dos diversos atores sociais.

Ao longo dos anos, as organizações passaram por fases distintas de modelos de administração; o foco, antes centrado nos métodos e nas máquinas, deslocou-se nos tempos hodiernos para o ser humano, buscando-se o gerenciamento de pessoas em bases éticas, responsáveis, principalmente com foco na implementação de sistemas de gestão voltados para saúde e segurança no trabalho, a fim de garantir sucesso e competitividade no mercado (OLIVEIRA, 2011).

Como fator determinante para a implementação de sistemas de gestão de saúde e segurança no trabalho nas empresas, tem-se um elevado número de acidentes do trabalho, ocasionados muitas vezes pela falta de planejamento, pelas ações de improviso, por atos inseguros no desempenho do trabalho.

Assim, as organizações devem combater essa realidade, estabelecendo sistemas de gestão de saúde e segurança no trabalho com os objetivos de: fornecer meios para a identificação dos riscos laborais e suas medidas de controle, assegurar uma melhoria contínua dos controles determinados, implementar condutas e normas de saúde e segurança no trabalho em conformidade com o contexto de cada área empresarial e cada uma das funções existentes na organização, a fim de garantir medidas preventivas adequadas a cada meio ambiente de trabalho, bem como promover o acesso e conhecimento por parte de todos os intervenientes acerca do planejamento estabelecido e fiscalizar continuamente.

Para o atingimento de melhores resultados, a implementação dos sistemas de gestão devem ser realizada de forma integrada, ou seja, é necessário relacionar as questões relativas à qualidade, à segurança, à saúde, ao meio ambiente e à responsabilidade social do processo, para que se alcance a essência fundamental do princípio do não improviso em toda organização (AMORIM JUNIOR, 2013, p. 143).

A aplicação de um sistema único de gestão apresenta uma série de vantagens, bem pontuadas por Amorim Junior (2013, p. 143):

A integração dos sistemas de gestão apresenta uma séria de vantagens, das quais três devem ser aqui destacadas: abordagem holística para o gerenciamento dos riscos organizacionais ao assegurar que todas as consequências de uma determinada ação sejam consideradas; melhoria na comunicação ao utilizar um único conjunto de objetivos e uma abordagem integrada; e, ainda, melhoria no desempenho organizacional ao estabelecer uma única estrutura para aperfeiçoar a qualidade, o meio ambiente, a

responsabilidade social e a saúde e segurança do empregado, ligada aos objetivos corporativos.

Cumpre esclarecer que, apesar da eficiência e das vantagens pontuadas na implementação dos sistemas de gestão integrada, ainda não há no cenário atual a efetivação plena do princípio do não improviso, pois falta a inserção do instituto da cogestão, crucial para o êxito dos planejamentos organizacionais.

Antônio Álvares da Silva esclarece a influência do instituto da cogestão nos sistemas jurídicos dos povos cultos da atualidade:

Os sistemas jurídicos dos povos cultos da atualidade avançam pelo instrumento da co-gestão, que, superando a oposição empregado e empregador, capital e trabalho, integra-os numa unidade eficiente e harmônica, em que a cooperação substitui a oposição e a igualdade se coloca no lugar da subordinação, valorizando igualmente ambos os fatores na atividade econômica e social que se propõem. (SILVA, 1991, p. 264)

A influência do instituto da cogestão proporciona a efetivação do princípio do diálogo social, garantindo a participação de todos os atores sociais na busca pela efetividade das normas de saúde e segurança do trabalho, com o objetivo de alcançar uma mudança no cenário degradante de acidentes do trabalho no Brasil.

Seguem trechos extraídos das Convenções n. 155 e 161 da OIT que fundamentam a importância de ações planejadas com envolvimento de todos os intervenientes da relação de trabalho, objetivando a promoção à saúde e segurança no trabalho:

Convenção n. 155– Artigo 4: 1. Todo Membro deverá, mediante consulta

com as organizações mais representativas de empregadores e de trabalhadores interessadas e tendo em conta as condições e prática nacionais, formular, pôr em prática e reexaminar periodicamente uma política nacional coerente em matéria de segurança e saúde dos trabalhadores e meio ambiente de trabalho. (OIT, 1981)

Convenção n. 161–Artigo 2: Diante das condições e a prática nacionais e

mediante consulta com as organizações de empregadores e de trabalhadores mais representativas, quando existirem, todo Membro deverá formular, aplicar reexaminar periodicamente uma política nacional coerente sobre serviços de saúde no trabalho.

Artigo 5: Sem prejuízo da responsabilidade de cada empregador a respeito da saúde e a segurança dos trabalhadores que emprega e considerando a necessidade de que os trabalhadores participem em matéria de saúde e segurança no trabalho, os serviços de saúde no trabalho deverão assegurar as funções seguintes que sejam adequadas e apropriadas aos riscos da empresa para a saúde no trabalho:

[...]

d) participação no desenvolvimento de programas para o melhoramento das práticas de trabalho, bem como nos testes e a avaliação de novos equipamentos, em relação com a saúde; (OIT, 1985)

Por essa razão, torna-se imprescindível a efetivação das diretrizes e normas previstas nas Convenções da OIT sobre saúde e segurança no trabalho já ratificadas pelo Brasil. A efetivação de tais diretrizes garantirá uma mudança de cultura, na medida em que não haverá mais ações improvisadas, colocando em risco a integridade física e mental dos trabalhadores, pois a implementação de sistemas de cogestão permitirá uma melhor comunicação e participação de todos os intervenientes da relação de trabalho e, consequentemente, definirá ações e medidas planejadas que consideram todas as consequências que podem repercutir no ambiente de trabalho e aos trabalhadores.

No âmbito nacional, tem-se a Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho (PNSST), aprovada em 2011, anteriormente pontuada, que revela um avanço para uma nova fase no contexto de saúde e segurança no trabalho, qual seja a busca pela qualidade de vida do trabalhador, que vai para além do paradigma saúde do trabalhador, é a consagração institucional do princípio do não improviso.

A PNSST possui diretrizes claras que estabelecem a necessidade de uma política permanente de planejamentos de todas as ações da relação de trabalho, norteada pelo instituto da cogestão, ou seja, através da coparticipação dos trabalhadores no processo.

Ademais, a efetivação do princípio do não improviso garante a concretização do princípio da indisponibilidade da saúde do trabalhador, bem como do princípio da retenção do risco na fonte, que será analisado na sequência, vez que ações coordenadas, planejadas permitem a preservação da vida, da integridade física, mental e social do trabalhador e a compreensão de medidas preventivas adequadas aos riscos laborais.