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2 REGIME JURÍDICO ESPECIAL DAS AGÊNCIAS REGULADORAS

4.6 PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

Os atos da Administração devem ser públicos, divulgados em nome da democracia. Depreende-se do princípio republicano que o administrador como gestor da coisa pública deve dar ciência de sua gestão ao titular do poder constituinte.

Consagra-se nisto o dever administrativo de manter plena transparência em seus comportamentos. Não pode haver em um Estado Democrático de Direito, no qual o poder reside no povo (art. 1º, parágrafo único, da Constituição), ocultamento aos administrados dos assuntos que a todos interessam, e muito menos em relação aos sujeitos individualmente afetados por alguma medida.

Pelo princípio da publicidade o Estado deve dar acesso aos cidadãos para fiscalização e controle da atuação da Administração Pública, segundo A. Saddy (2009, p. 112) “o Estado é obrigado a dar transparência, ou melhor, visibilidade às opções tomadas conforme a discricionariedade, estando o agente público vinculado a prestar informações ao administrado para que tenha acesso a tais condutas e possa controla-las”.

A norma do art. 37, §1º, CRFB58 prescreve dois comandos importantes no que tange ao dever de publicidade: 1) dever de informação, de suma relevância em um Estado que se intitula democrático de direito, ao passo que sua violação pode configurar ato de improbidade administrativa, nos termos da Lei nº 8429/92; e 2) dever de transparência com vedação de promoção pessoal do administrador na gestão pública.

Ressaltando a importância do princípio da publicidade na efetivação dos direitos sociais Alessandra Gotti (2012, p.180) comenta que: “A dimensão social do direito à informação está centrada no princípio da publicidade, segundo o qual há o dever de publicidade dos atos de administração, especialmente em uma República que possibilita ao povo a participação direta (art. 1º, parágrafo único, da CF)”.

A sociedade contemporânea é plural, multifacetada, os direitos fundamentais ultrapassaram as fronteiras nacionais, desse modo a proteção destes direitos não pode ficar a cargo, apenas, da ordem estatal.

Segundo Paulo Bonavides (2008, p. 28) a democracia participativa é um direito de quarta dimensão do cidadão para o gênero humano. A democracia direta é de extrema perfeição, de legitimidade absoluta, do povo governante de si e do povo no mundo virtual.

Nesse contexto, podemos observar que o princípio da publicidade é muito mais amplo que o simples dever de publicar. Ademais, pode em nosso sistema jurídico ser entendido como condição de eficácia dos contratos administrativos, conforme preceitua a norma do art. 61, § único, da Lei nº. 8.666/93.

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Art. 37, §1º, CRFB § 1º: “A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos”.

As disposições de forma de participação democrática, de acesso a dados e registros administrativos e a informações sobre atos do governo, previstas nas normas no inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º do art. 37 e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal de 1988 foram regulamentadas pela Lei nº. 12.527 de 2011, denominada de Lei de acesso à informação.

Esta lei veio proporcionar meios de participação popular na fiscalização e controle da gestão pública, possibilitando o direito de acesso à informação do cidadão brasileiro e a democratização da atuação administrativa. Nesse sentido, comenta Phillip Gil França (2011, p. 114) que: “O grau de difusão de informação – qualitativa e quantitativamente – ao cidadão é o meio efetivo para aferir a extensão do exercício de controle democrático de determinado Estado”.

Nesse sentido, Sérgio Alexandre de Moraes Braga Júnior (2012, p. 5) assevera que o direito mais relevante em um Estado Democrático é o direito a ter direitos, ou seja, é o reconhecimento das prerrogativas inerentes ao exercício da cidadania:

Na verdade, o acesso à justiça, na alcunha de Boaventura Sousa Santos é um “direito charneira”, é um direito altruísta, pois sua vocação é permitir a existência dos demais direitos. Por isso, o acesso à justiça não pode se compadecer com uma concepção meramente abstrata. Essa garantia de possibilidade efetiva de gozo de direitos é permitida pelo Estado Democrático de Direito, porque este é fundado na cidadania e na dignidade da pessoa humana. Sem estas metas o Direito perde a alma, e se presta veicular qualquer tipo de valor sem se cogitar de sua essência, e pode servir como um bonito invólucro para um conteúdo qualquer.

O cidadão tem vários instrumentos jurídicos a sua disposição para fazer valer o direito de acesso às informações no Estado Democrático de Direito como o direito de petição (Art. 5º, XXXIV, a CRFB), certidões (Art. 5º, XXXIV, b CRFB), mandado de segurança, habeas data (Art. 5º, LXXII CRFB), etc.

No que se refere à competência normativa das agências reguladoras a realização de consultas e audiências públicas tem o intuito de dar publicidade às normas que estão sendo elaboradas e de aperfeiçoamento da legitimidade das decisões da Administração Pública, em particular, aquelas que tragam impacto econômico ao cidadão.

O parágrafo 3º, do artigo 4º, da Lei nº 9.427/96, que instituiu a ANEEL, estabelece que “o processo decisório que implicar afetação de direitos dos agentes econômicos do setor

elétrico ou dos consumidores, mediante iniciativa de projeto de lei ou, quando possível, por via administrativa, será precedido de audiência pública convocada pela ANEEL”59.

Essa nova concepção de cidadania é necessária na Administração Pública, uma vez que permite forjar uma democracia participativa em que os cidadãos e a sociedade civil participam da realização das ações públicas e de seu controle, mas com o amadurecimento da experiência acumulada passem a exercer função primordial na concepção de politicas públicas ampliando não só a eficiência, mas também a legitimidade dessas ações.