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2 REGIME JURÍDICO ESPECIAL DAS AGÊNCIAS REGULADORAS

2.6 REGIME DOS DIRIGENTES DAS AGÊNCIAS REGULADORAS

Embora parte da doutrina se reporte a independência e autonomia das agências reguladoras para diferenciá-las das autarquias já existentes, Celso Antônio Bandeira de Mello (2004, p. 160) entende que a única característica que as distinguem das demais está nas disposições atinentes à investidura e fixidez do mandado de seus dirigentes:

Ora, ‘independência administrativa’, ‘autonomia administrativa, ‘autonomia financeira’, ‘autonomia funcional’ e ‘patrimonial e da gestão de recursos humanos’ ou de quaisquer outros que lhe pertençam, ‘autonomia de suas decisões técnicas, ‘ausência de subordinação hierárquica’, são elementos intrínsecos à natureza de toda e qualquer autarquia, nada acrescentando ao que lhes é inerente. Nisto, pois, não há peculiaridade alguma; o que pode ocorrer é um grau mais ou menos intenso destes caracteres. Assim, o único ponto realmente peculiar em relação à generalidade das autarquias está nas disposições atinentes à investidura e fixidez do mandato dos dirigentes destas pessoas.

Não deixa de ser mais uma forma de afastar a ingerência politica e garantir a prevalência de decisões neutras e técnicas pelas agências reguladoras.

A direção das agências reguladoras se estabelece por meio de um regime de colegiado denominado pela norma do art. 4º, da Lei nº 9.986/00 de conselho diretor ou diretoria: “As

agências serão dirigidas em regime de colegiado, por um Conselho Diretor ou Diretoria composta por Conselheiros ou Diretores, sendo um deles o seu Presidente ou o Diretor-Geral ou o Diretor-Presidente”.

A Lei nº 9.986/00 não fixou a quantidade de membros conselheiros ou diretores, o que passou a ser especificado pela lei criadora de cada agência reguladora.

Os dirigentes das agências reguladoras brasileiras são nomeados pelo Presidente da República, após aprovação do Senado Federal e exercem mandatos fixos, preservando o caráter técnico e de continuidade da direção das agências reguladoras, conforme norma do art. 5º24 da Lei nº 9.986/00.

Dessa forma, a duração dos mandatos dos dirigentes irá depender do que a lei de criação da agência reguladora determinar.

A não coincidência dos mandatos dos dirigentes das agências reguladoras veda que todos os dirigentes sejam nomeados ao mesmo tempo e que também deixem seus cargos simultaneamente, por consectário, garante-se a estabilidade e a consolidação dessas agências e se afasta mais uma vez a forte ingerência política, consoante previsto na norma do artigo 7º da Lei nº 9.986/00: “A lei de criação de cada Agência disporá sobre a forma da não-coincidência de mandato”.

Outra norma relevante, que reforça ainda mais a autonomia das agências reguladoras, é a vedação de livre exoneração de seus dirigentes, por conseguinte só poderão perder seus cargos em caso de renúncia, de condenação judicial transitada em julgado ou de processo administrativo disciplinar, conforme norma do art. 9º e seu parágrafo único, da Lei nº 9.986/00: “Os Conselheiros e os Diretores somente perderão o mandato em caso de renúncia, de condenação judicial transitada em julgado ou de processo administrativo disciplinar. Parágrafo único. A lei de criação da Agência poderá prever outras condições para a perda do mandato”.

A ressalva no parágrafo único do artigo supracitado, que prevê a possibilidade da lei de criação prever outras hipóteses para a perda do mandato, ensejou a previsão em

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Art. 5º da lei nº 9.986/00: “O Presidente ou o Diretor-Geral ou o Diretor-Presidente (CD I) e os demais membros do Conselho Diretor ou da Diretoria (CD II) serão brasileiros, de reputação ilibada, formação universitária e elevado conceito no campo de especialidade dos cargos para os quais serão nomeados, devendo ser escolhidos pelo Presidente da República e por ele nomeados, após aprovação pelo Senado Federal, nos termos da alínea f do inciso III do art. 52 da Constituição Federal. Parágrafo único. O Presidente ou o Diretor- Geral ou o Diretor-Presidente será nomeado pelo Presidente da República dentre os integrantes do Conselho Diretor ou da Diretoria, respectivamente, e investido na função pelo prazo fixado no ato de nomeação”.

determinadas leis criadoras desses entes de uma exoneração imotivada de diretores nos quatros meses iniciais do mandato como, por exemplo: o art. 12 da Lei nº 9782/99 – Agência Nacional de Vigilância Sanitária; art. 8º da Lei nº 9.961/00 – Agência Nacional de Saúde Suplementar, etc.; apesar dessa ressalva, não deixa de ser um avanço considerável no direito brasileiro, pois os dirigentes das autarquias comuns podem ser afastados imotivadamente e a qualquer tempo pelo Chefe do Executivo.

A norma inserta no artigo 8°, da Lei nº 9.986/200025 prevê o instituto da quarentena após o término do mandato dos dirigentes das agências reguladoras, que não poderão assumir cargos em empresas do setor regulado pela agência da qual faziam parte.

O período da quarentena é de quatro meses ou outro prazo que venha a ser estipulado pela lei criadora da agência, por ser regra especial, as leis que criarem novas agências podem estabelecer prazo superior a quatro meses, por exemplo, a norma do art. 14, da Lei nº 9.478/9726 prevê a vinculação de doze meses de quarentena para seus dirigentes.

Durante o impedimento, o ex-diretor continuará prestando serviço mediante remuneração equivalente à do cargo de direção que exercia. E caso transgrida o impedimento da quarentena incorrera na prática de advocacia administrativa.

Todas essas normas supracitadas visam garantir uma maior autonomia dos dirigentes das agências reguladoras no desempenho de suas atribuições de direção se comparadas com as autarquias comuns que se submetem a um controle politico, que consistente na livre nomeação e exoneração de seus dirigentes.

25 Art. 8º da Lei nº 9.986/00: “O ex-dirigente fica impedido para o exercício de atividades ou de prestar qualquer

serviço no setor regulado pela respectiva agência, por um período de quatro meses, contados da exoneração ou do término do seu mandato. (...) § 2º Durante o impedimento, o ex-dirigente ficará vinculado à agência, fazendo jus a remuneração compensatória equivalente à do cargo de direção que exerceu e aos benefícios a ele inerentes”.

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Art. 14 da lei nº 9.478/97: “Terminado o mandato, ou uma vez exonerado do cargo, o ex-Diretor da ANP ficará impedido, por um período de 12 (doze) meses, contado da data de sua exoneração, de prestar, direta ou indiretamente, qualquer tipo de serviço a empresa integrante das indústrias do petróleo e dos biocombustíveis ou de distribuição. § 1° Durante o impedimento, o ex-Diretor que não tiver sido exonerado nos termos do art. 12 poderá continuar prestando serviço à ANP, ou a qualquer órgão da Administração Direta da União, mediante remuneração equivalente à do cargo de direção que exerceu. § 2° Incorre na prática de advocacia administrativa, sujeitando-se às penas da lei, o ex-Diretor que violar o impedimento previsto neste artigo”.