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O princípio rítmico binário

AS RESPOSTAS CONCORDANTES RESPOSTAS

4.6. Avaliação da relevância de outros factores para a proeminência secundária

4.6.3. O princípio rítmico binário

Na literatura sobre o PE, defende-se frequentemente que um princípio rítmico binário constitui a motivação básica para a distribuição do acento secundário. No entanto, apenas alguns dados podem ser descritos tendo em conta este princípio – cf. condições,

demonstrações, compensaçõezitas vs. monumentalidade, tuberculinizações, super- arquitectações.

Considerando os resultados gerais, verificamos que a distribuição da grande maioria das proeminências secundárias não pode ser atribuída a um padrão rítmico binário. Para o fazer, utilizamos o algoritmo proposto por Pereira (1999), que considera a existência de um princípio rítmico binário, não permitindo choques acentuais (com o

acento primário), com duas direccionalidades possíveis e distribuído tendo em conta as supressões de vogais e semivocalizações (o que corresponde à nossa noção de CSs). Temos em conta apenas as palavras com mais de um CS pré-tónico e contabilizamos os acentos especiais. Os resultados, apresentados no Quadro 21, indicam que, mesmo utilizando as duas direccionalidades do algoritmo, um número relativamente elevado de proeminências não é explicado. Estas proporções podem, no entanto, constituir um indício de que existe uma tendência para a criação de uma certa alternância rítmica (embora não necessariamente com um padrão binário ou com intervalos entre proeminências de comprimento rigorosamente estabelecido).

Quadro 21: Proporção (em %) de possibilidade de existência de um padrão rítmico binário de acordo com os algoritmos de Pereira (1999) (todas as respostas)

Esquerda-Direita Direita-Esquerda

ω simples 22,59 31,37

ω compostas 18,80 33,98

Além disso, na quase totalidade das respostas dadas pelas informantes, encontrámos apenas uma proeminência inicial e, eventualmente, um acento especial, o que impossibilita a atribuição destas proeminências a um princípio rítmico binário.

Assim, defendemos que o princípio rítmico binário também não parece ser o factor relevante para explicar a distribuição da proeminência secundária no PE, por três motivos: (i) este factor não permite descrever a grande maioria dos dados; (ii) não é necessário para descrever as regularidades encontradas; e (iii) é incompatível com o facto de que a maioria das palavras apresenta uma proeminência inicial e, eventualmente, um acento especial.

4.7. Síntese

Tendo em conta as respostas concordantes analisadas e os resultados gerais, podemos considerar a existência de dois processos de acentuação secundária autónomos no PE: o acento especial e a proeminência inicial. O acento especial está ligado a duas combinações específicas de morfemas (-iza-ção e -ifica-ção) e parece poder co-ocorrer

com qualquer padrão de acentuação secundária inicial.

A distribuição da proeminência inicial parece depender basicamente da posição inicial de ω/ωmin e da qualidade das vogais existentes nessa posição inicial, sendo adicionalmente influenciada pelo número de CSs pré-tónicos de ω/ωmin e pela posição dos CSs acentuáveis relativamente aos restantes acentos de ωmax.

A constituição do CS, o efeito cíclico e o princípio rítmico binário não parecem ser factores relevantes para a distribuição da acentuação secundária no PE, já que não permitem dar conta da grande maioria dos dados e não se revelaram necessários como factores adicionais para descrever a distribuição da proeminência secundária encontrada nos dados.

É importante salientar que a distribuição da acentuação secundária encontrada na grande maioria das respostas das informantes – mais precisamente em 81,24% das respostas – é adequadamente captada pelas nossas generalizações. A quantidade de respostas divergentes existentes no corpus não é suficiente para considerar a existência de outros padrões acentuais, nem para infirmar as generalizações encontradas e os princípios que serão propostos no próximo capítulo. Assim, apresentamos em (1) uma síntese das generalizações feitas a partir dos dados e que pretendem descrever os padrões de acentuação secundária encontrados.

(1) a. Acento especial

Opcionalmente, nas palavras com uma das combinações de morfemas

-iza-ção e -ifica-ção, é atribuído um acento especial à segunda sílaba antes do acento primário. Este acento especial pode co-ocorrer com qualquer padrão acentual, embora seja mais frequente quando o intervalo entre a proeminência inicial e o acento especial é constituído por mais de uma sílaba.

b. Proeminência inicial

i. Opcionalmente, é atribuída uma proeminência à posição inicial de ω/ωmin. Esta posição é constituída pelo adjunto (quando existir) e/ou pelos três CSs iniciais pré-tónicos de ω (ωs simples e ωs às quais são adjungidos os prefixos ou os proclíticos) / ωmin (nas ωs compostas). ii. Sendo possíveis cinco padrões acentuais diferentes (zero

proeminências; proeminência no adjunto; proeminência no primeiro CS; proeminência no segundo CS; e proeminência no terceiro CS), a escolha do padrão acentual é influenciada por três factores: (a)

qualidade da vogal; (b) número de CSs pré-tónicos em ω/ωmin; (c) posição do CS relativamente aos restantes acentos de ωmax; (d) contexto prosódico.

(a) As vogais não reduzidas e nasais funcionam como “vogais fortes”, isto é, vogais que atraem a proeminência secundária. Quando existe apenas uma vogal forte na posição inicial de uma ω/ωmin, esta tende a receber a proeminência inicial. Quando existem duas vogais fortes, a proeminência inicial é preferencialmente atribuída à vogal forte mais à direita.

As vogais reduzidas [i, , u, ] funcionam como “vogais fracas”. Em palavras com apenas vogais fracas na posição inicial, a proeminência inicial só pode ser atribuída ao primeiro ou ao segundo CS de ω/ωmin.

Nas palavras com duas posições iniciais (adjunto e CSs iniciais de ω à direita do adjunto), a proeminência inicial pode ser atribuída a qualquer uma delas, independentemente da qualidade das vogais existentes em cada posição.

(b) Nas ω/ωmin com um número reduzido de CSs pré-tónicos, verifica-se mais frequentemente a não atribuição de qualquer proeminência inicial ou a atribuição de uma proeminência a um dos CSs mais próximos da sua fronteira esquerda.

Nas ω/ωmin com um número maior de CSs pré-tónicos (quatro a seis CSs), a proeminência inicial é preferencialmente atribuída a um CS mais próximo do acento primário (isto é, ao segundo ou terceiro CS), para evitar lapsos acentuais.

(c) Os CSs imediatamente adjacentes a CSs com um acento secundário (especial) não podem receber qualquer proeminência.

Os CSs constituídos por vogais fortes em posição de choque com um acento morfológico (acento secundário morfológico ou acento primário) em ωmax tendem a não receber qualquer proeminência inicial.

Os CSs constituídos por vogais fracas em posição de choque com um acento morfológico em ωmax não podem receber qualquer proeminência inicial.

(d) As ω/ωmin localizadas no início de sintagma entoacional recebem preferencialmente uma proeminência inicial.

Assim, os dados indicam a existência de dois tipos, ambos opcionais e (bastante) independentes, de proeminência secundária: uma proeminência inicial e um acento

especial. Este último, podendo co-ocorrer com diferentes padrões de proeminência inicial,

acento primário (independentemente do comprimento da cadeia pré-tónica da palavra). A proeminência inicial, pelo contrário, apresenta uma localização mais flexível, menos estável, dependendo de factores como a qualidade das vogais iniciais, o comprimento da cadeia pré-tónica de ω/ωmin, a posição dos CSs acentuáveis relativamente a outros acentos (em ωmax) e o contexto prosódico. A unidade relevante para a sua distribuição parece ser o conjunto silábico (isto é, uma sílaba de núcleo produzido e, eventualmente, as sílabas de núcleo não realizado foneticamente como vogal que a antecedem). Como a expressão “conjunto silábico” refere apenas uma distinção operatória, consideramos que, na verdade, a unidade relevante para a atribuição das proeminências secundárias consiste nas vogais foneticamente realizadas que constituem os núcleos desses conjuntos. Assim, para efeitos de localização da proeminência secundária, contabilizam-se as vogais produzidas (e não, de forma imediata, o constituinte fonológico sílaba).

Os dados levaram-nos ainda a considerar que o domínio da acentuação secundária

inicial consiste na ω/ωmin, isto é, nas ωs simples, nas ω às quais são adjungidos um prefixo ou um proclítico e em qualquer uma das ωmin que integram uma ω composta.

Da observação dos dados concluímos igualmente que este acento secundário se localiza, sempre que é atribuído, na posição inicial do seu domínio, isto é, na posição inicial de ω/ωmin. Para o processo de acentuação secundária, tanto o adjunto (nas ωs com adjunto), como os três CSs iniciais pré-tónicos de ω/ωmin (nos três tipos de ω), parecem funcionar como uma posição inicial de ω. Por este motivo e também porque a proeminência inicial é opcional, encontramos nos dados cinco padrões acentuais possíveis: (i) zero proeminências iniciais; (ii) proeminência sobre o adjunto; (iii) proeminência no primeiro CS da ω/ωmin; (iv) proeminência no segundo CS; e (v) proeminência no terceiro CS. Enquanto a acentuação do segundo CS, a não atribuição de proeminência inicial e a acentuação do primeiro CS constituem os padrões mais frequentemente identificados pelas informantes, a acentuação do terceiro CS só se verifica mediante certas condições.

Assim, a distribuição deste tipo de proeminência secundária parece ser basicamente determinada pela posição inicial na palavra e pela qualidade das vogais iniciais, sendo a escolha de cada um dos padrões acentuais possíveis influenciada por factores adicionais como o número de CSs pré-tónicos da palavra e a localização dos CSs acentuáveis

relativamente aos restantes acentos.

A qualidade das vogais é determinante, como se pode constatar na sistematização feita em (1).

Os factores adicionais número de CSs pré-tónicos de

ω

/

ω

min e localização dos CSs

acentuáveis relativamente aos restantes acentos também contribuem para a escolha de um determinado padrão acentual, procurando evitar que se criem lapsos e choques acentuais.

O último factor adicional, o contexto prosódico, parece constituir uma mera tendência para atribuir uma proeminência inicial a ωs que se encontrem no início de um sintagma entoacional.