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1. LEI DA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

2.3. Princípios da razoabilidade e a da proporcionalidade aplicados no Tribunal de

122 SILVEIRA, Clariana Oliveira da. A influência do princípio da proporcionalidade na dosagem das sanções dos casos de Improbidade Administrativa, 2012.

Em uma breve análise com tudo que foi explanado acima sobre os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade pode-se notar a aplicação de tais princípios nos casos práticos do Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Desembargador Pedro Manoel Abreu julgou em 24 de julho de 2018:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. SERVIDOR PÚBLICO. SECRETARIA DE ESTADO DA JUSTIÇA E CIDADANIA. UTILIZAÇÃO INDEVIDA DE CARTÃO DE ABASTECIMENTO DE VEÍCULO PÚBLICO PARA UTILIZAÇÃO EM AUTOMÓVEL PARTICULAR. USO IRREGULAR COMPROVADO POR INTERMÉDIO DE IMAGENS DO SISTEMA INTERNO DE VIGILÂNCIA DO POSTO DE COMBUSTÍVEL, NOTAS FISCAIS E RECIBOS DE PAGAMENTO. CONFISSÃO NA SEARA ADMINISTRATIVA E JUDICIAL. PATENTE A UTILIZAÇÃO, EM PROVEITO PRÓPRIO, DOS BENS E VERBAS DA ADMINISTRAÇÃO (art. 9º, XII, Lei n. 8.429/92). APLICAÇÃO DA MULTA CIVIL NO IMPORTE DE TRÊS VEZES O DANO ADMINISTRATIVAMENTE AVALIADO. IRRESIGNAÇÃO. ALEGADO RESSARCIMENTO DO DANO QUE AFASTARIA OS EFEITOS DA CONDENAÇÃO. IRRELEVÂNCIA. TUTELA JURISDICIONAL QUE TEM POR OBJETO A DEFESA DE INTERESSES DIFUSOS, NESSES, INCLUÍDOS A PROBIDADE ADMINISTRATIVA E AO PATRIMÔNIO PÚBLICO. PRETENSÃO QUE TRANSCENDE A SIMPLES REPARAÇÃO DO DANO, COM VISTA À RESPONSABILIZAÇÃO DO AGENTE ÍMPROBO. PROVAS ROBUSTAS

DE ILICITUDE PERPETRADA. OFENSA AOS PRINCÍPIOS

CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, DENTRE ELES O DA LEGALIDADE E MORALIDADE. DEVER INATO AOS AGENTE PÚBLICOS NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO, CARGO OU EMPREGO PÚBLICO, AGIR COM RETIDÃO, PROBIDADE E HONESTIDADE.

APLICAÇÃO DA MULTA CIVIL. COMINAÇÃO ADEQUADA À ESPÉCIE. ATENDIMENTO AOS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE, À GRAVIDADE DO DELITO, ATENDENDO AO CARÁTER PUNITIVO A QUE SE DESTINA A PENA PECUNIÁRIA.

SENTENÇA BEM LANÇADA. RECURSO DESPROVIDO. A ação civil pública protege interesses não só de ordem patrimonial como, também, de ordem moral e cívica. O seu objetivo não é apenas restabelecer a legalidade, mas também punir ou reprimir a imoralidade administrativa a par de ver observados os princípios gerais da administração. Essa ação constitui, portanto, meio adequado para resguardar o patrimônio público, buscando o ressarcimento do dano provocado ao erário, tendo o Ministério Público legitimidade para propô-la. Precedentes. Ofensa ao art. 267, IV, do CPC, que se repele (STJ, rel. Min. José Delgado). O ressarcimento

é apenas uma medida ética e economicamente defluente do ato que macula a saúde do erário; as outras demais sanções é que podem levar em conta, v. g., a gravidade da conduta ou a forma como o ato ímprobo foi cometido, além da própria extensão do dano. Vale dizer: o ressarcimento é providência de caráter rígido, i. e., sempre se impõe e sua extensão é exatamente a mesma do prejuízo ao patrimônio público (STJ, Min. Mauro Campbell Marques). (grifo

nosso).123

Extrai-se do voto do relator que a sentença imposta ao apelante no caso de improbidade administrativa aqui tratado foi de “pagamento de multa civil no valor

123 Apelação Cível n. 0900681-08.2015.8.24.0023, da Capital, rel. Des. Pedro Manoel Abreu, Primeira Câmara de Direito Público, j. 24-07-2018

equivalente a 3 (três) vezes o valor do acréscimo patrimonial, devidamente atualizado”.124 De forma razoável e proporcional aos crimes cometidos e à

gravidade do ato ilícito discutido no julgado.

No mesmo tribunal, julgou o desembargador Francisco Oliveira Neto por reduzir para o mínimo legal as sanções aplicadas ao réu embasado nos princípios da razoabilidade e proporcionalidade.125 Quando justifica em seu voto que “não há

que se falar em violação dos princípios inerentes à Administração Pública ou mesmo lesão ao erário, já que restou demonstrado que não houve intenção do agente público em realizar fato descrito na norma incriminadora.”126 E sobre a

aplicação das sanções no mesmo caso, argumentou o desembargador:

4. Da aplicação das sanções:

Tendo em vista a reforma da sentença para absolver o réu de uma das condutas descritas na inicial (item 3), necessário fazer um pequeno ajuste nas penas aplicadas.

Isso porque, respeitando a proporcionalidade e razoabilidade com os

critérios utilizados pela sentenciante, as penas devem ser minoradas para o mínimo previsto no art. 12, inciso III, da Lei de Improbidade Administrativa, quais sejam: a) suspensão dos direitos políticos de 3

(três) anos; b) pagamento de multa civil em uma vez o valor da remuneração percebida pelo agente no cargo de Prefeito do Município de Lebon Régis e; c) proibição de contratar com o poder público ou receber incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 5 (cinco) anos.127

Pode se observar pelos casos concretos que os julgadores, ao condenar por ato de improbidade administrativa, não deixam de observar a aplicação dos princípios constitucionais do que diz respeito as sanções. Provando que não há que se falar em aplicação conjunta do art. 12 da lei 8.429/92 e sim em análise do caso concreto para que se condene em consonância com o crime cometido pelo agente. A proporcionalidade é indispensável à justa aplicação da Lei de Improbidade Administrativa e até mesmo à garantia de sua efetividade.

124 Apelação Cível n. 0900681-08.2015.8.24.0023, da Capital, rel. Des. Pedro Manoel Abreu, Primeira Câmara de Direito Público, j. 24-07-2018

125 TJSC, Apelação Cível n. 0001541-77.2008.8.24.0088, de Lebon Régis, rel. Des. Francisco Oliveira Neto, Segunda Câmara de Direito Público, j. 09-10-2018

126 TJSC, Apelação Cível n. 0001541-77.2008.8.24.0088, de Lebon Régis, rel. Des. Francisco Oliveira Neto, Segunda Câmara de Direito Público, j. 09-10-2018

127 TJSC, Apelação Cível n. 0001541-77.2008.8.24.0088, de Lebon Régis, rel. Des. Francisco Oliveira Neto, Segunda Câmara de Direito Público, j. 09-10-2018