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CONSIDERAÇÕES DO GRUPO DE TRABALHO

4. PRINCÍPIOS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL

4.1 GERAL

SUMÁRIO

Esta seção traz orientações sobre sete princípios de responsabilidade social: accountability, transparência, comportamento ético, respeito pelos interesses das partes interessadas, respeito pelo estado de direito, respeito pelas normas internacionais de comportamento e respeito pelos direitos humanos.

Esses princípios não representam uma lista definitiva e exaustiva de princípios em RS, mas que deveriam ser respeitados e adotados pelas organizações. Os temas centrais descritos na seção 6 também trazem princípios específicos relativos a cada área que deveriam igualmente ser respei- tados. As organizações deveriam adotar comportamentos e normas de conduta em conformidade com esses princípios. Ao adotar a Norma, é também recomendável que as organizações levem em consideração as diversidades sociais e culturais que possam existir.

CNI/SESI

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Serviço Social da Indústria (SESI) entendem que as ações de Responsabilidade Social das empresas não substituem a necessidade de um Estado presente. As empresas devem cum- prir sua função social por meio de um comportamento ético que contribua para o desenvolvimento sustentável e considere as expectativas de suas partes interessadas. O SESI promove a melhoria da qualidade de vida do trabalhador da indús- tria e auxilia a indústria brasileira a incorporar uma gestão socialmente responsável em seu negócio. A CNI, por sua vez, atua para garantir a participação ativa da comunidade indus- trial na formulação de políticas públicas que garantam um ambiente saudável para o desenvolvimento dos negócios.

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Ao identificar e alinhar um conjunto relativamente pequeno de princípios da RS, a ISO 26000 ajuda seus usuários a focarem no que – efetivamente – são as implicações e os compromissos essenciais da gestão socialmente responsável. Dois aspectos no trecho introdutório desta seção receberam especial atenção do GT: o reconhecimento da complexidade inerente à aplicação prática da RS e de seus princípios, e, como consequência, a orientação para que as organizações busquem certa flexibilidade na aplicação dos mesmos, levando em conta as pe- culiaridades de cada situação, e atendo-se mais ao seu espírito do que seguindo rigidamente o conteúdo oferecido.

Isso traz um desafio para as organizações que desejam implementar a ISO 26000, que é a impossibilidade de encarar os princípios da RS como meros “re- quisitos a serem satisfeitos”: é

preciso refletir profundamen- te sobre cada um deles, sobre seus propósitos e fundamen- tos para poder então estabele- cer (e justificar sempre que ne- cessário) as diretrizes a serem utilizadas nas situações reais vividas pelas organizações.

Finalmente, cabe ressaltar que esta seção apresenta apenas os princípios de aplicabilida- de geral no campo da RS, mas que existem outros princípios, igualmente importantes, mas que, por serem aplicados apenas a um ou alguns dos temas cen- trais da RS, são mencionados em trechos específicos da seção 6.

4.2 ACCOUNTABILITY

SUMÁRIO

A Norma traz como um de seus princípios gerais a accountability. Esse termo, apesar de não possuir uma tradução literal para o português, pode ser entendido como um conceito que une prestação de contas, responsabilização e responsividade.

TELEFÔNICA

O Grupo Telefônica entende a RS como uma ferramenta de geração de valor para a companhia. Ela permite construir relações sustentáveis com seus públicos de relacionamento, gerando confiança por meio da gestão eficaz dos riscos e opor- tunidades e incrementando sua legitimidade nas sociedades onde opera. Dessa forma, sua estratégia de Responsabilidade Social se vincula aos seus processos de negócio.

AMCE

A existência e aplicação efetiva de princípios dentro de uma organização são importantes para uma atuação sólida e transparente. Deve-se ir além do cumprimento de normas, e buscar a implementação de ações que estimulem reflexões conjuntas com seus diferentes públicos, acerca de aspectos de desenvolvimento sustentável e da relação desses com o cotidiano de suas atividades.

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Uma organização que segue o princípio de accountability deveria prestar contas e se respon- sabilizar por seus impactos na sociedade, aceitando e assumindo a responsabilidade por erros e pela adoção de medidas corretivas correspondentes. Além disso, as organizações deveriam aceitar o dever de responder a questionamentos e investigações.

O grau de aplicabilidade desse princípio varia de acordo com o poder de influência de uma organização. Organizações maiores e com maior poder relativo na sociedade em que operam deveriam ter maior accountability.

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Pode-se dizer que esse princípio, juntamente com o da transparência e do respei- to pelos interesses dos stakeholders constituem a origem e o cerne da RS: somente ao reconhecer o dever de “prestar contas e dar conta do que é da sua conta” uma organização passa a

encarar a RS como parte inerente à sua existência, e não como uma impo- sição, um “modismo” ou uma demanda de setores empenhados em defen- der seus interesses.

Assumir de fato o princípio de accountability implica levar para dentro da organização – e para toda a lógica em que ela opera – um modo de agir e de se posicionar que in- clui as pessoas em todos os seus níveis e posições, não apenas como profis- sionais, mas na sua condi- ção humana mais ampla.

4.3 TRANSPARÊNCIA

SUMÁRIO

Seguir esse princípio significa que as organizações deveriam ser transparentes com relação aos impactos de suas atividades e decisões. Para que isso ocorra, as organizações deveriam divulgar

EDP

Ciente da importância de estabelecer relações transparentes com seus stakeholders, a EDP no Brasil, desde 2006, elabora seu Relatório Anual de Sustentabilidade de acordo com a Global Reporting Initiative (GRI). Tal relatório abrange indicadores sociais, ambien- tais e econômicos das empresas controladas pelo grupo nos negócios de geração, distribuição e comercialização de energia. Para garantir a confiabilidade e a veracidade das informações, essas são confirmadas por uma auditoria externa independente desde 2007.

TELEFÔNICA

Para o Grupo Telefônica, o relatório de responsabilidade social é uma oportunidade para apresentar um balanço transparente de seu desempenho e construir uma relação de confiança com seus públicos de relacionamento. É uma ferramenta de prestação de contas de seu comportamento social, ambiental e econômico para a sociedade e que permite, também, avaliar e evoluir em sua estra- tégia de responsabilidade social.

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suas informações sempre de forma comple- ta, correta e precisa, de maneira suficiente e clara. As informações deveriam abordar impactos conhecidos e potenciais da organi- zação, bem como suas políticas e atividades. Um comportamento transparente não se traduz apenas pela disponibilização de informações, mas inclui também a forma como essas informações são disponibilizadas e divulgadas. As informações devem ser de

fácil acesso e estar disponíveis em formatos de fácil compreensão para as diferentes partes interessadas. Ser transparente, no entanto, não implica divulgação de informações confidenciais. Alguns exem- plos das informações que deveriam ser divulgadas pelas organizações são: propósito e localização das atividades, desempenho nos temas e questões de responsabilidade social, impactos negativos e riscos de produtos/serviços, estrutura societária e origem/destino dos recursos financeiros.

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O grupo compreende que o princípio da transparência é central na RS, sem o qual uma organização é incapaz de perceber o que de fato significa uma gestão socialmente responsável. A disposição para dar visibilidade às informações rele- vantes, para que as partes interessadas possam formar sua opinião e tomar suas decisões, traz implicações profundas para a gestão das organizações, que passam a se preocupar e preparar mais conscientemente para explicar o que fazem, e por que o fazem. O aprofundamento da reflexão por parte dos gestores possibilita o aprimoramento da qualidade de suas decisões.

Sob a perspectiva da implementação, outro ponto que merece destaque é a clareza com que a ISO 26000 situa a questão da transparência. Se, por um lado, não implica exposição total e fim do sigilo, por outro, não se limita à simples divulgação de dados e informações, sem cuidado com a capacidade ou possibi- lidade que as partes interessadas têm em compreendê-los.

4.4 COMPORTAMENTO ÉTICO

SUMÁRIO

A Norma entende que um comportamento ético deveria ser aquele pautado por valores como honestidade, equidade e integridade. Tais valores deveriam se traduzir em uma preocupação com o bem-estar das pes- soas, do meio ambiente e também dos animais. Uma organização comprometida com o comportamento ético também assume o compromisso de lidar com seus impactos e as demandas das partes interessadas.

BRASKEM

Na Braskem, o Código de Conduta já ensina ao Integrante a responsabilidade que ele tem de exercer suas atividades e conduzir os negócios da Companhia com transparência. Esse princípio está presente em todas as áreas, primando pela transparência no relacionamento, que reflete a exce- lência nos sistemas de gestão e governança corporativa, fazendo parte da cultura e da atuação da Braskem.

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Ao aplicar o princípio de com- portamento ético em suas ativida- des diárias, uma organização deveria promovê-lo por meio de ações como a definição e a divulgação de seus valores, princípios e compromissos fundamen- tais; o estabelecimento de mecanismos de supervisão e controle para garantir que os princípios estejam sendo segui- dos; o estabelecimento de mecanismos de denúncia que protejam a identidade dos autores evitando possíveis represá- lias; a promoção da conscientização e o estímulo para que os valores e princí- pios sejam adotados e seguidos; a inte- gração dos valores e dos princípios nas estruturas de governança; entre outros. CONSIDERAÇÕES DO GRUPO DE TRABALHO

A ISO 26000 aborda com cautela o tema da Ética, pois, conforme discutido pelo grupo, é possível falar em “éticas específicas” para determinados grupos, profis- sões, categorias, culturas etc. Por isso, aborda a questão do comportamento ético, não da Ética em si. O sentido é deixar claro que o que está em pauta não é um ou outro quadro de valores humanos, e nem uma tentativa de definir uma Ética global para todos no planeta. Por isso, a Norma foca o comportamento, procurando explicitar aspectos práticos relacionados ao comportamento no ambiente organizacional e identificando fatores comuns à maioria das situações, independentemente do tipo de organização ou do país em que atua.

4.5 RESPEITO PELOS INTERESSES DAS PARTES INTERESSADAS

SUMÁRIO

No contexto da responsabilidade social, uma organização não deveria levar em conta apenas os interesses de seus proprietários, conselheiros, clientes ou associados, mas também outras partes cujos direitos e interesses sejam afetados pelas atividades da organização. As partes interessadas podem ser indivíduos, grupos ou outras organizações.

Ao seguir o princípio de respeito ao interesse das partes envolvidas, uma organização deveria tomar medidas como: identificar suas partes interessadas, considerando sua capacidade de estabelecer AMCE

Para garantir uma conduta ética, que abranja todas as ativi- dades e os relacionamentos da organização, é interessante que a criação e a difusão de seu conjunto de valores sejam realizadas de forma participativa, por meio de fóruns de diálogos, grupos de trabalho e outros mecanismos, ajudando a construir uma identidade com seus públicos que vá além de um simples con- junto de regras de conduta.

SANOFI-AVENTIS

A ética que norteia a indústria farmacêutica de forma geral, bem como os princípios corporativos específicos da empresa são divulgados formal e regularmente ao seu público interno. Uma rede de compliance officers, sem vínculo hierár- quico local, tem por missão zelar pelo cumprimento das regras de conduta da organização no mundo.

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contato; engajar-se e dialogar com as partes interessadas, considerando suas diferentes perspectivas e interesses, ainda que essas partes não estejam plenamente conscientes de tais interesses.

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O grupo compreende que esse é um dos três princípios centrais para emergência da RS (sendo os outros accountability e transparência). Seu papel central se justifica pelo fato de que é por meio desse princípio que a organização abandona um comportamento “autista” e passa a reconhecer que outros têm seus interesses afetados por suas decisões e ações, e que por isso devem ser informados, ouvidos, envolvidos e considerados nos seus processos de tomada de decisão.

Esse princípio é muito signi- ficativo também pelo fato de que a ISO 26000 enfoca os stakeholders de modo muito específico, defi- nindo-os essencialmente como portadores de interesses identi- ficáveis que podem ser afetados pelas decisões e ações de uma organização, sem misturar esse atributo com a capacidade que tenham (ou não) de impactar os interesses dessa organização.

Num jogo de palavras, per- cebeu-se nos trabalhos do GT que a ISO 26000 faz a distinção entre “partes interessadas” e “par-

tes interessantes” (sendo estas últimas definidas não pelo fato de terem interesses, mas pela capacidade de afetar os interesses da organização e, portanto, merece- rem atenção especial dos gestores). Cuidar das “partes interessantes” é caracte- rística de uma boa gestão, mas não necessariamente se refere a um comporta- mento socialmente responsável, pois não parte do princípio de reconhecimento e respeito pelos interesses de terceiros.

4.6 RESPEITO PELO ESTADO DE DIREITO

SUMÁRIO

A noção de estado de direito se traduz como “o valor absoluto das leis sobre o comportamento”, ou seja, significa que nenhum indivíduo, organização ou autoridade pública (incluído o Estado) está acima das leis, que devem ser seguidas e respeitadas por todos. É um conceito que visa eliminar situações e processos

EDP

A EDP no Brasil se compromete a manter um diálogo constante, aberto e transparente, com suas diferentes partes interessadas, por meio dos diversos canais de comunicação que disponibiliza. O rela- cionamento com seus públicos é fundamental para o planejamento estratégico da companhia, já que fortalece a governança corporati- va, possibilita a identificação de oportunidades, a busca de soluções inovadoras e a detecção de falhas. Em conformidade com a norma AA1000 APS, o processo de engajamento de stakeholders da EDP no Brasil considera as principais partes interessadas; possui um procedimento transparente em relação à determinação da relevância dos assuntos materiais; tem uma estrutura bem definida do processo de Capacidade de Resposta no Relatório Anual de Sustentabilidade.

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decisórios pautados pela arbitrarie- dade e pelo abuso de poder.

Para uma organização que dese- ja ser socialmente responsável, seguir o princípio de respeito pelo estado de direito significa cumprir todas as leis e regulações aplicáveis a ela. Isso quer dizer que as organizações deve- riam tomar medidas proativas para estarem informadas sobre as leis que lhes são aplicáveis, além de garantir que todos os seus membros estejam informados e que estabeleçam medi- das para o seu cumprimento. Ao seguir esse princípio, uma organização deveria adotar medidas como: cumprir todos os requi- sitos legais, mesmo na ausência de fiscalização; assegurar-se que suas atividades e suas relações estejam em conformidade com a lei; atualizar-se permanentemente sobre suas obrigações legais etc.

CONSIDERAÇÕES DO GRUPO DE TRABALHO

Esse princípio não foi considerado inovador pelo grupo (pois é amplamente re- conhecido que a RS começa com o respeito à lei), mas é, mesmo assim, algo desa- fiador. Especialmente no contexto brasileiro, onde muitas vezes o cumprimento da lei não é devidamente fiscalizado e imposto pelo Estado, criando situações em que, paradoxalmente, o mero atendimento das obrigações legais surge como um diferencial positivo (do ponto de vista da RS) e como um ônus adicional (do ponto de vista dos custos ou exigências trazidos pelo seu cumprimento).

Do ponto de vista da aplicabilidade da Norma, esse princípio coloca em pauta e enfatiza a importância de se estabelecer mecanismos voluntários de ve- rificação do cumprimento legal, por meio dos quais uma organização revê siste- maticamente as obrigações legais às quais está sujeita, e certifica-se de que estão sendo cumpridas. Algo ainda raro no país.

4.7 RESPEITO PELAS NORMAS