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PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

1.3 CONCEITO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL

1.3.1 PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

Além dos já demonstrados princípios da Seguridade Social aplicáveis a Previdência Social, constam no texto constitucional mais alguns princípios relativos à Previdência:

I – Da filiação obrigatória – Mantêm a linha do princípio da compulsoriedade da contribuição, no qual todo trabalhador que se encontre na situação de segurado é considerado pelo regime como tal, desde que não amparado por outro regime próprio (artigo 201, caput da Constituição).

Entretanto, é importante não confundir contribuição com filiação. Pode-se dizer que nem todo individuo que contribui para a Seguridade é, ao mesmo tempo, filiado ao regime geral da previdência,

pois um servidor público federal que, simultaneamente, seja empregador doméstico embora não filiado ao regime geral, será contribuinte da pelo fato de ser empregador, gerador de uma contribuição respectiva 38.

II – Do caráter contributivo – Determina a Constituição Federal que a Previdência Social, em qualquer de seus regimes, terá caráter contributivo (artigo 40, caput e artigo 201, caput).

O assalariado é segurado compulsório da Previdência Social, e só terá direito aos benefícios na medida em que for contribuinte, nos termos da Lei de custeio. Não cumpridas as contribuições necessárias, o cidadão arcará com medidas de indeferimento de benefícios promovidas pelo INSS.

Ainda nesse tema, cabe esclarecer que não existe vinculação direta entre o valor das contribuições do segurado e o benefício que possa vir a receber. O exemplo é um segurado com mais de 25 anos de contribuição e de um jovem, que trabalhe há apenas 02 anos, sendo que ambos venham a sofrer um acidente e sejam aposentados por invalidez. O primeiro pode não chegar a receber tudo o que contribuiu, mas certamente o jovem receberá mais do que recolheu aos cofres do sistema.

III – Do equilíbrio financeiro e atuarial – Tal princípio só foi expresso com o advento da Emenda Constitucional nº. 20/98 (artigo 40,

caput e artigo 201, caput). O princípio do equilíbrio financeiro e atuarial

pretende manter uma relação paritária entre o custeio e os benefícios, para trabalhar sempre com superávit e manter uma observação na média

38 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de e LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 105.

de vida da população, observação esta importante no que tange ao sistema contributivo.

Segundo Stephanes39, sobre a necessidade da adoção deste principio, ainda quando tramitava a Emenda nº.20/98, os impactos da dinâmica demográfica refletem-se tanto nas despesas quanto do lado das receitas. Em um sistema de repartição simples como o brasileiro, o elemento fundamental para manter seu equilíbrio, considerando-se somente as variáveis demográficas, é a estrutura etária da população em cada momento, pois é ela que define a relação entre beneficiários (população idosa) e contribuintes (população com idade ativa).

Com base nesse princípio, o regime geral da previdência foi modificado pelo Decreto nº. 3.048 de 06/05/1999, novo regulamento da Previdência Social, juntamente com a Lei 9.876 de 26/11/1999, que trouxeram modificações às Leis nº. 8.212 e nº. 8.213/91 alterando o critério do cálculo e salário de benefício através da criação do fator previdenciário e da utilização de média dos salários de contribuição a contar de julho de 1994.

IV – Da garantia do benefício mínimo – De acordo com o §2 do artigo 201 da Constituição, nenhum benefício que substitua o salário de contribuição poderá ter valor mensal inferior ao salário mínimo 40. Buscou-se com esse principio a garantia de renda mínima ao trabalhador, para que este possa atender às suas necessidades e às necessidades de sua família.

39 STEPHANES, Reinhold. Reforma da previdência sem segredos. Rio de Janeiro: Record, 1998, pág. 135.

Segundo Freitas41, não é isto que acontece na realidade

Evidente que o Estado brasileiro tem fracassado nessa sua obrigação de promover ao trabalhador e ao beneficiário da Previdência Social com o mínimo dispensável a sua dignidade, à erradicação da fome e da pobreza, à construção de uma sociedade livre, justa e solidária, e

evidentemente que terminamos incentivando a

marginalização daqueles que recebem valores tão ínfimos, não no sentido criminal, é bom que se saliente, mas no sentido da exclusão social mesmo.

A realidade vivenciada no Brasil é clara quanto as necessidades da população em relação ao baixo poder aquisitivo. O benefício mínimo (salário mínimo), percebido por um segurado, não é suficiente para atender suas necessidades e de sua família, apesar dos aumentos cedidos ao salário mínimo tenham sido superiores aos aumentos concedidos aos assalariados e aos aposentados.

V – Da correção monetária dos salários de contribuição – Determinam o artigo 40, § 17, e o artigo 201, § 3º da Constituição Federal que os salários de contribuição considerados no cálculo do benefício sejam corrigidos monetariamente. O legislador ordinário, ao fixar o cálculo do benefício previdenciário de acordo com a média dos salários de contribuição, deve adotar a fórmula que corrija nominalmente o valor da base do cálculo da contribuição ao sistema42.

VI – Da preservação real do benefício - por este princípio entende-se que os benefícios concedidos pela Previdência

41 FREITAS, Vladimir Passos. Direito previdenciário: aspectos materiais, processuais e penais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1998, p. 41.

42 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de e LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 107.

Social devem manter sempre seu valor real, conforme critérios definidos em Lei.

O fundamento está contido no §4º do artigo 201 da Constituição:

Art. 201, § 4º - Assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios definidos em lei.

Contudo, não é bem isto que acontece na prática. Enquanto cresce em progressão geométrica o número de bens e serviços disponibilizados, que passam a integrar as necessidades básicas humanas, o poder aquisitivo é corrigido com índices acanhados, diminuindo o valor real do benefício. Para Freitas43,

Na realidade, como está disposto na atualidade, não se trata de princípio constitucional e eficácia própria, porque, por mais absurdo que possa parecer, depende de legislação ordinária, portanto inferior, não apenas para lhe atribuir meios eficazes de recomposição dos valores, mas mesmo de definição do que seja o próprio conceito de valor real.

A legislação, que atribui aumento aos benefícios concedidos pela Previdência Social, está disciplinada pela Lei n° 8.213/1991, em seu artigo 41, com redação conferida pela Lei n° 10.699/2003. Ocorre que, mesmo com tal medida para concessão de aumento aos benefícios, estes não mantêm seu valor real devido às diversas variações econômicas sofridas pelo Brasil, conforme citado acima, e como conseqüência deste fato, fica inviável achar seu valor real.

43 FREITAS, Vladimir Passos. Direito previdenciário aspectos materiais processuais e penais, 1999 p. 42 e 43.

VII – Da indisponibilidade dos direitos dos benefícios – O princípio visa preservar os valores recebidos pelos segurados através das prestações da Previdência Social. Não é possível que o benefício sofra arresto, seqüestro ou penhora, não podendo haver também a venda ou cessão dos direitos do beneficiário. Cabe salientar que existem algumas exceções, com previsão legal, como ocorre com os descontos a título de pensão alimentícia, pagamentos de empréstimos consignados e devolução de benefício concedido indevidamente, que são debitados em folha, mediante a autorização do beneficiário. A parcela de pagamento de empréstimo consignado não pode ultrapassar o valor de 30% do benefício (artigo 115 da Lei n° 8.213/91).