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Princípios que regem a atividade das instituições de educação

No documento Revista Estudos nº 34 | ABMES (páginas 77-79)

superior

Em razão do que foi dito até aqui, facilmente se percebe que os princípios que regem a administração pública, entre nós, aplicam-se tanto às instituições de educação públicas quanto às instituições privadas. Alguns desses princípios estão enunciados no texto da Constituição, art. 37, caput: são os princípios de lega-

lidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

Por outro lado, na relação jurídica que se forma entre a instituição de ensino e os estudantes nela matriculados, há típica relação de consumo, que se subsume ao re- gime do Código de Defesa e Proteção do Consumidor, uma vez que a instituição se coloca, nesse contexto, como fornecedora de serviço, a teor do disposto no art. 3.º, caput, daquela Lei (Lei n.º 8.078, de 11 de setembro de 1990). Combinam-se, pois, na disciplina

jurídica da atividade educacional de nível superior, princípios do Direito do Consumidor e princípios de Di- reito Público. Daí dizer o Prof. Carlos Cezar Barbosa:

... como prestador de serviço público e integrante de relação de consumo, no trato com o aluno, o empreendedor privado de ensino está submetido aos princípios que regem os serviços públicos, so- bretudo os princípios da eficiência, continuidade e igualdade perante os usuários. Os serviços hão de ser eficientes, de modo a atingir as finalidades traçadas pela própria norma constitucional, a de formar o cidadão para o exercício da cidadania e para a vida profissional; devem ser contínuos, não podendo ser interrompidos no curso da execução, salvo pelos motivos permitidos por lei, e devem observar o princípio da igualdade dos usuários, de modo a não promover distinções de caráter pessoal, ou seja, devem estar acessíveis à pessoa que preen- cha as condições legais de utilização.11

Na concepção de um dos mais eminentes adminis- trativistas do País, o saudoso Prof. Ruy Cirne Lima, os princípios que regem o serviço público assumem o ca- ráter de garantias do usuário. Entre tais garantias cumpre destacar:

a ) a que exige o patriotismo dos agentes; b ) a que impõe o não-predomínio de lucro;

c ) a que assegura o prosseguimento normal do ser- viço12.

11 Op. cit., p. 36. 12 Op. cit., p. 83.

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O patriotismo dos agentes é uma garantia que esta- belece reservas à prestação do serviço por estrangei- ros. No que tange ao ensino superior, a Constituição faculta às universidades admitir professores, técnicos e cientistas estrangeiros, ressalvando, porém, que isso se fará “na forma da lei” (art. 207, § 1.º, acrescenta- do pela Emenda Constitucional n.º 11/1996). Trata-se de princípio que há de estar imune ao risco da xenofo- bia, mas que deve ser aplicado sob determinadas con- dições que a lei estabeleça, assim como acontece em relação aos serviços públicos em geral.

A segunda garantia implica, antes de tudo, a adoção de uma diretriz, de nítido sentido filosófico, para a ministração do ensino: a de que os fins pedagógicos hão de prevalecer sobre o interesse no lucro do empre- endimento. Noutras palavras, o projeto pedagógico de um curso não pode ser concebido em função das vantagens econômicas do empreendimento, mas tendo em vista a qualidade do ensino que se vai oferecer. Como ponderou o Ministro Eros Grau no artigo citado, “o ensino universitário, qual o básico, não se o pode tomar como objeto de mercancia. O Estado é respon- sável pela sua prestação à sociedade. Ele, não o mercado, deve orientar essa provisão”.

A garantia do prosseguimento normal ou da conti-

nuidade do serviço deve ser de tal ordem que,

mesmo em face de vicissitudes que o curso enfrente, a instituição seja capaz de assegurar-lhe a regularidade. Põe-se, aí, o delicado problema que os nossos tribunais têm enfrentado relativamente às situações de inadimplência, para as quais não se tem admitido a

imposição das chamadas penalidades pedagógicas, tais como “impedir a freqüência do aluno às aulas, im- pedir que o aluno faça provas, negar transferência para outro estabelecimento, negar a expedição de certificados e outras”13. Cuida-se de aspecto da pres-

tação do serviço que tem, naturalmente, a sua outra face, a que diz respeito às condições econômicas da instituição para, diante de um quadro grave de inadimplência, manter os seus compromissos sociais. Não se pode deixar de considerar que também a insti- tuição de ensino há de ter as suas garantias, não sendo razoável nem justo impor-lhe ônus excessivos a pretexto de exigir a observância do princípio da conti- nuidade do serviço. Assim como, nas concessões de serviço público, há que ser garantida a equação eco-

nômica do contrato, mediante a fixação de tarifas

adequadas, assim também em relação à atividade educacional hão de ser adotadas soluções eqüânimes que possam estabelecer o desejável equilíbrio nas relações jurídicas dela emergentes. Cremos seja essa uma questão que está a reclamar da União urgente regulamentação, mediante sistema de bolsas de ensino que possa atender satisfatoriamente ao interesse econômico das instituições. Reconhecemos, de outra parte, que a dificuldade para a solução ideal decorre, no caso, da dimensão que ganhou, nos últimos tempos, o ensino privado, no País, com a expansão desordenada de cursos em determinadas áreas, sobre- tudo na área jurídica. No fundo, o problema constitui reflexo de um quadro de crise por que passa o ensino universitário, em determinados setores.

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EDUCAÇÃO SUPERIOR POR UM ENSINO JURÍDICO EDUCAÇÃO SUPERIOR POR UM ENSINO JURÍDICO EDUCAÇÃO SUPERIOR POR UM ENSINO JURÍDICO EDUCAÇÃO SUPERIOR POR UM ENSINO JURÍDICO EFICIENTE

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O ensino jurídico: peculiaridades do

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