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1. Simulacro e sujeito enunciante Simulacro

1.3. Princípios de uma dinâmica identitária

Para pensarmos a dinâmina identitária, tomamos emprestado a Landowski ([1997] 2002) a organização esquemática das práticas semióticas da constituição da identidade e da alteridade, sem adotarmos, no entanto, a cobertura zoossemiótica fornecida por ele, por julgarmo-la excessivamente figurativa8.

Esta dinâmica tem o mérito de apresentar, em um quadrado semiótico, os quatro processos por meio dos quais uma identidade se forja no contato com os valores e com a(s) alteridade(s) que a atravessam. Landowski ([1997] 2002) pensa a dinâmica identitária como um estado, sempre instável, que envolve a tensão entre quatro configurações: a assimilação (conjuntiva), a exclusão (disjuntiva), a admissão (não-disjuntiva) e a segregação (não-conjuntiva). É na correlação entre estas posições que a dinâmica da identidade se tece. Veja-se o quadro abaixo:

CONJUNÇÃO (Inclusão) Assimilação DISJUNÇÃO “Exclusão” “Admissão” (Agregação) NÃO-DISJUNÇÃO “Segregação” NÃO-CONJUNÇÃO (LANDOWSKI, [1997] 2002, p. 15) 8

O autor descreve os estilos esnobe, dândi, urso e camaleão, consoante o outro se poste diante do um (o homem do mundo em perfeita conformidade com o seu meio) como um sujeito conjunto, disjunto, não- conjunto ou não-disjunto, respectivamente.

Quando sugere estas quatro configurações, Landowski ([1997] 2002) está pensando a enunciação na perspectiva da narratividade, como um processo em que os actantes da comunicação se definem mutuamente, e de modo dinâmico, mediante a maneira como se apresentam uns para os outros. Como diz o autor:

Ora, estes princípios não constituem, em si mesmos, determinações que se possam considerar como simples e unívocas. Efetivamente, não se trata aí de dados que caracterizam cada um dos parceiros independentemente das circunstâncias de seu encontro com o outro, mas ao contrário de determinações que se constituem somente em

situação e se transformam no próprio âmbito da interação. Pouco importa saber se este

ou aquele sujeito é “por essência” adepto da disjunção – ou de outra coisa (supondo que qualquer psicologia, ainda a inventar, permita sabê-lo); o que conta em compensação é o fato de que, em tal contexto preciso e em função de tais condutas particulares, o sujeito considerado possa eventualmente – e talvez deva mesmo em certos casos – parecer como tal a seu parceiro, pois é a partir da “leitura” que será assim feita de seu comportamento que o outro regrará sua própria conduta a seu respeito – e reciprocamente, claro, segundo um processo recursivo teoricamente até o infinito. (LANDOWSKI, [1997] 2002, p. 52)

Na base desta estrutura está a tensão entre a conjunção e a disjunção, ou, em termos hjelmslevianos, a tensão entre a relação “e...e” e a relação “ou...ou”, de que Fontanille e Zilberberg ([1998] 2001), por exemplo, aproximam as correlações que se estabelecem entre os gradientes da intensidade e da extensidade, na constituição do valor.

Estes dois autores reconhecem dois tipos de correlação entre os functivos valenciais que originam a função valor. A correlação conversa, quando mais intensidade pede mais extensidade ou menos pede menos, e a correlação inversa, quando mais intensidade requer menos extensidade e vice-versa. Estes dois tipos de correlação dão lugar a dois modos de convivência entre as duas macro-valências (a intensidade, dimensão do sensível, e a extensidade, dimensão do inteligível) e “liberam um espaço de acolhimento plausível para os dois grandes princípios introduzidos pela antropologia, a saber, o princípio da exclusão, que tem como operador a disjunção, e o princípio de participação, que tem como operador a conjunção” (Op. cit.: p. 27).

Na tensão que envolve estes dois princípios, duas operações podem ocorrer. No regime de exclusão, o operador triagem (disjuntivo) exclui participantes, cujo processo, se levado ao limite, resulta na “confrontação contensiva do exclusivo e do excluído e, para as culturas e as semióticas que são dirigidas por esse regime, à confrontação do ‘puro’ e do ‘impuro’” (Op. cit.: p. 29). No regime da participação, o operador mistura (conjuntivo) faz com que excluídos participem, produzindo a “confrontação distensiva do igual e do

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desigual: no caso da igualdade, as grandezas são intercambiáveis, enquanto no da

desigualdade, as grandezas se opõem como ‘superior’ e ‘inferior’” (Op. cit.: p. 29).

Baseados nestes dois tipos de regime, Fontanille e Zilberberg ([1998] 2001) reconhecem dois tipos de valores, ou regimes axiológicos: os valores de absoluto e os

valores de universo. Os valores de absoluto implicam, como operadores, a triagem e o

fechamento, até o ponto no qual se tem intensidade máxima com um mínimo de extensidade, “uma definição válida do uno, ou do único” (p. 47). Nos valores de universo, verifica-se o contrário: uma intensidade nula com uma extensidade máxima, uma definição do universal. Estes dois regimes de valores, no entanto, são dependentes um do outro e não têm senão um valor relativo, por isso os autores prevêem a distensão em cada complexo admitindo uma sintaxe canônica: triagem – fechamento – abertura – mistura – triagem, e assim se expressam: “no caso dos valores de absoluto, parece que a triagem e o fechamento intervêm como operadores principais, tendo por benefício a concentração, enquanto os valores de universo pedem o concurso da mistura e da abertura, tendo por benefício a expansão” (p. 29). E completam: “identificamos a exclusão-concentração, regida pela triagem, e a participação-expansão, regida pela mistura, como as duas principais direções capazes de ordenar os sistemas de valores” (p. 49).

De acordo com os autores, tanto os valores de absoluto como os de universo aplicam-se às profundidades da intensividade e da extentividade. Do ponto de vista intensivo, os operadores que intervêm são a abertura e o fechamento, enquanto, do ponto de vista da extensidade, a modulação se dá entre a triagem e a mistura.

Assim, para eles, as valências próprias a essas operações suscitam a seguinte tipologia de valores:

a) os valores de universo supõem a predominância da valência da abertura sobre a do fechamento e a predominância da valência da mistura sobre a da triagem; em relação à primeira, a abertura vale como livre e o fechamento como restrito, ou até

apertado; em relação à segunda, o misturado é avaliado como completo e harmonioso e o puro é depreciado como incompleto ou mesmo imperfeito ou desfalcado;

b) os valores de absoluto supõem a predominância da valência do fechamento sobre a da abertura e a predominância da valência da triagem sobre a da mistura; em relação à primeira, o fechado vale como distinto e o aberto como comum; em relação à segunda, o misturado deprecia-se por ser disparatado (...), e o puro aprecia-se justamente por ser absoluto, sem concessão. (FONTANILLE E

Do exposto, pode-se concluir que: a) se a constituição da identidade é processual e dependente do discurso-enunciado, como defende a semiótica, o sujeito do discurso se faz conhecer na e pela própria atividade enunciativa, como um simulacro; b) este simulacro, na qualidade de objeto semiótico, reconstituível a partir da leitura dos textos de um dado

corpus, tomado como totalidade discursiva, é o resultado das operações de abertura e

fechamento e de triagem e mistura agenciadas em discurso; c) essas operações se dão em razão de uma base axiológica e de um fundo tensivo, presentes em todas as fases do percurso de geração do sentido; d) a base axiológica e o fundo tensivo, presentes em todo discurso, simulam o sujeito na sua dimensão sócio-histórica e individual, respectivamente; e) no percurso gerativo do sentido, a base axiológica e o fundo tensivo ganham gradativamente maior densidade sêmica, e, no nível discursivo, sobremodo através da seleção dos temas e das figuras, o sujeito revela-se em sua porção ideológica.

No nosso trabalho, interessa, portanto, a constituição da identidade como um processo em que se dão as operações de abertura / fechamento, triagem / mistura, tensão /

relaxamento e expansão / concentração, na base das quais se forjam os simulacros

discursivos. Por conseguinte, no que tange à alteridade, temos mais interesse pela tradução que o sujeito enunciativo faz do outro com quem dialoga, polêmica ou contratualmente, do que o como este outro efetivamente se apresenta. Sendo tudo simulacro, interessa-nos o simulacro do outro concebido pelo si, mesmo porque as identidades se forjam num intrincado de combinações em que a interpretação do outro para o si é o que acaba preponderando, como já o fazia saber Maingueneau ([1984] 2005) por meio das noções de interincompreensão regulada e tradução interdiscursiva.

Além do mais, desejamos acompanhar a construção dos simulacros de si que as canções em que pontificam as configurações da imigração e da canção apresentam para os leitores-ouvintes. Estes simulacros se forjam num processo contínuo de conjunções e disjunções, conforme sugere Landowski ([1997] 2002], que envolve não só o conjunto de objetos-valor convocados para o discurso, mas também as relações intersubjetivas, isto é, as relações que o si entretém com as representações, em seu discurso, das alteridades com quem dialoga.

Em suma, parece-nos que a dinâmica identitária proposta por Landowski pode ser homologada aos princípios da exclusão e da participação, às operações de triagem,

mistura, fechamento e abertura, aos valores de absoluto e de universo, como sugerimos.

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absolutamente falsa, sobretudo para aquele que recebe o discurso, uma vez que este centro é construído a partir daquelas operações.

É oportuno reiterar, aqui, que admitir o centro de referência não significa assumir, conjuntamente, a idéia de um sujeito empírico, como fonte única do discurso. Aderimos às teses da dispersão do discurso e do sujeito descentrado de Foucault ([1969] 1997 e [1970] 2002) e não estamos em desacordo com Pêcheux e Fuchs (1975), que nos alertam para os esquecimentos (de natureza ideológica e inconsciente) que estão na base da ilusão

discursiva de sujeito. Esta nossa posição não deve surpreender, pois, conforme já

salientamos, a debreagem tem a propriedade de ser pluralizante, ou seja, ela, ao dissociar a pessoa da não-pessoa, instala, no mesmo ato enunciativo, uma diversidade de não-pessoas (de “eles”).

No entanto, quando falamos de simulacro, queremos focar nossa atenção precisamente na construção discursiva do sujeito enunciante. São os simulacros de sujeito que nos interessam, simulacros estes que se tornam tanto mais “ilusoriamente” estáveis quanto mais a enunciação é simulada no enunciado, isto é, quando se cria um efeito de centro de referência a partir do qual as operações de abertura / fechamento, de triagem /

mistura e de expansão / concentração podem ser acompanhadas como dinâmica em que se

forja um simulacro do si para a apreensão, no nosso caso, realizada por um público- ouvinte.

Para Fontanille e Zilberberg ([1998] 2001), por exemplo, este efeito de centro é uma decorrência da embreagem, dado seu caráter homogeneizante. Estes autores consideram, ainda, a debreagem e a embreagem como verdadeiros avatares das duas operações (extensiva / intensiva) da práxis enunciativa, aplicadas à própria instância de discurso. O simulacro do sujeito enunciante surgiria, assim, de um movimento centrípeto, de concentração, que finda por simular um centro de percepção, a exemplo daquele que a operação de debreagem desfaz ao pluralizar a instância discursiva.

Neste ponto, cremos poder aproximar das proposições de Fontanille e Zilberberg a contribuição fundamental de Coquet (1984), concernente à constituição do sujeito na sua relação com o objeto. Este autor sugere quatro posições de sujeito num quadrado semiótico, em função da identidade que podem assumir. Reproduzimo-lo abaixo, com algumas alterações para efeito de comparação com a proposta de dinâmica identitária de Landowski ([1997] 2002) e com as postulações de Fontanille e Zilberberg ([1998] 2001).

Quadrado da identidade

Eu sou tudo Eu não sou nada

Dêixis positiva

Dêixis negativa Eu sou alguém que

(Eu sou alguma coisa)

Eu sou alguém que não (Eu não sou tudo)

(COQUET, J-C., 1984, p. 26)

No quadrado, o processo de individuação de um sujeito dá-se no termo neutro, eixo que subsume os subcontrários, quando ele se afirma como sujeito ao atribuir-se uma imagem na dêixis positiva (eu sou alguém que) conjuntamente com outra na dêixis negativa (eu sou alguém que não). Na posição eu sou tudo, Coquet põe o sujeito cuja identidade é total e positiva, isto é, um eu que deseja todo objeto de valor, que pode tudo e que sabe tudo. Na posição eu sou alguém que, está o sujeito cuja identidade é parcial e positiva, quer dizer, um eu que assume objetos de valor, saber e poder específicos. Na posição eu não sou nada, localiza-se o sujeito de identidade total e negativa, ou seja, o eu que não almeja qualquer objeto de valor, que nada pode e que nada sabe. Na posição eu

sou alguém que não, tem-se um sujeito de identidade parcial e negativa, um eu que não

assume objetos de valor, saber e poder específicos. Segundo sua classificação, o primeiro e terceiro sujeitos são produto de um foco generalizante, enquanto o segundo e o quarto decorrem de um foco particularizante. Logo, sendo o sujeito, para Coquet, aquele que assume e não apenas predica, é na conjunção do eu sou alguém que e do eu sou alguém

que não que a identidade do sujeito se forja.

Comparando este quadrado com o fornecido por Landowski ([1997] 2002), não é difícil constatar as convergências entre eles. Subjacente ao quadrado da identidade de Coquet, estão as operações básicas indicadas por Landowski: conjunção / disjunção. No entanto, Coquet parece considerar a modulação da categoria juntiva (conjunção / disjunção) pela intensidade. Assim, para ele, a conjunção excessiva (intensa) origina um sujeito pleno e a disjunção excessiva (intensa) um sujeito nulo, e, cremos, ambos marcados pela falta de identidade, que, segundo vimos, se define pela diferença com relação à

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alteridade e pela seleção dos objetos-valor eufóricos e disfóricos, isto é, pela reunião da diferença positiva eu sou alguém que com a diferença negativa eu sou alguém que não.

Coquet (1984, p. 58) fornece outro quadrado, homologável ao da identidade, em que o sujeito (S) se apresenta em relação com um destinador (D), ou terceiro-actante, referentemente ao qual se mantém ou não autônomo.

S D S é tudo D não é nada D S D é tudo S não é nada Dêixis positiva Dêixis negativa S D S domina o destinador reduzido ao papel instrumental D S D domina o sujeito reduzido ao papel instrumental

Sobrepondo os dois quadrados, verifica-se que Coquet (1984) sugere uma tipologia actancial bastante interessante. Em primeiro lugar, ele reconhece a dimensão do não-

sujeito, que apenas predica e não assume a predicação, completamente dominado pelo

destinador, “assimilado à sua função”, a qual não pode deixar de cumprir (p. 65). Trata-se, numa aproximação possível, do corpo próprio na subitaneidade da presença, puro afetado, na eventicidade da percepção e da emoção. Em segundo lugar, apresenta o sujeito, que se define por sua relação com o objeto, da qual se origina um actante pessoal e autônomo, “engajado nos atos que cumpre”. No entanto, na relação ternária (é o que vemos neste segundo quadrado), o sujeito se identifica também por meio da constante tensão com os actantes sujeitos deônticos (autônomos ou heterônimos): os destinadores.

Com base no quadrado acima, podemos afirmar que a identidade do sujeito faz-se, também, na tensão entre o sujeito e o(s) seu(s) destinador(es). Observe-se que, nos extremos do quadrado, correspondendo aos termos contrários, estão as figuras de sujeitos cuja identidade é impossível determinar, ou porque se trata de um sujeito ( S ) nulo, completamente neutralizado pelo destinador (D), sujeito inteiramente assujeitado, segundo uma concepção sócio-histórica determinista, ou porque diz respeito a um sujeito (S) pleno, independente de qualquer destinador ( D ) e senhor absoluto de seu ser e fazer, de acordo

com uma concepção voluntarista de sujeito. Segundo o quadrado nos instrui, a identidade do sujeito enunciante também deve ser buscada na tensão que se estabelece entre o centro de referência e a presença (no campo discursivo) do(s) destinador(es) com os quais o sujeito mantém um contrato fiduciário. Esta tensão revela as condições semióticas do sujeito, quanto à sua competência, em sua relação com códigos prescritivos de possíveis destinadores.

Como já fazia saber Coquet (1984), não se pode conceber “um universo semiótico que não seja igualmente universo de valores”9. De fato, todos os elementos da gramática narrativa, “os actantes, os programas engajados, as modalidades caracterizantes são submetidos a avaliação”10 (p. 155), até mesmo o ato inicial da predicação implica uma avaliação. Acompanhemos o que afirma Coquet (1984) sobre a constituição da identidade e o processo de avaliação que acompanha as seleções operadas em discurso.

A proclamação da identidade, no caso mais simples, o levar em consideração pelo sujeito enunciante seu próprio estatuto, postula, portanto, o recurso a uma seleção dos objetos do universo. O percurso do actante se reconstrói facilmente. Ele deve a princípio efetuar uma primeira escolha entre o que, segundo ele, é ou não é objeto de valor. Depois, ele designa ou denomina os objetos com os quais ele está conjunto (definição positiva) e aqueles dos quais está disjunto (definição negativa).11

A identidade do sujeito enunciante se faz, então, na dinâmica que envolve os objetos-valor, sobretudo os valores-modais, e as relações que ele, sujeito enunciante, entretém com outros sujeitos. Do ponto de vista da extensidade, é pelas operações básicas de conjunção e disjunção que o efeito de centro do discurso se faz; e, do ponto de vista da intensidade, é o valor tônico ou átono das grandezas que as aproxima ou as afasta do centro do discurso. Esta dinâmica identitária torna-se tanto mais apreensível quanto mais a enunciação é simulada no enunciado.

Claro está, e já o dissemos, que a enunciação enunciada difere da enunciação propriamente dita, porque aquela é a simulação desta no interior do discurso. No entanto, um fenômeno interessante se dá no momento da execução de uma canção, que não acontece, por exemplo, no teatro, quando um ator representa uma personagem. Trata-se do

9

(...) un univers sémiotique qui ne soit également univers de valeurs. (COQUET, 1984, p. 155)

10

(...) les actants, les programmes engagés, les modalités caractérisantes sont soumis à évaluation. (COQUET, 1984, p. 155)

11

La proclamation de l’identité, dans le cas le plus simple, la prise en compte par le sujet énonçant de son propre statut, postule donc le recours à une sélection des objets de l’univers. La démarche de l’actant se reconstruit aisément. Il doit d’abord effectuer un premier choix entre ce qui, selon lui, est ou n’est pas objet de valeur. Puis il designe ou dénomme les objets avec lesquels ils est conjoint (définition positive) et ceux dont il est disjoint (définition negative). (COQUET, 1984, p. 155)

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sincretismo entre o cantor e o sujeito da enunciação enunciada. Numa peça teatral, por exemplo, o expectador está habituado a separar o ator que empresta o corpo à personagem da personagem que ele corporifica. Já no momento da execução de uma canção, o ouvinte tende a não fazer tal separação. A seguir, apresentamos algumas ponderações de Tatit (1987) que nos ajudaram a dar direção ao nosso trabalho.