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Principais acontecimentos após a implantação do sistema de cotas na

No documento Uma parte no latifúndio branco (páginas 36-41)

2 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A ANÁLISE DO DISCURSO

3.2 A IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DE COTAS NA UNIVERSIDADE FEDERAL

3.2.1 Principais acontecimentos após a implantação do sistema de cotas na

Em 29 de novembro de 2007 o estudante Tiago Duarte do Nascimento, de 17 anos, ingressou na Justiça Federal de Santa Catarina com um Mandado de Segurança e, por meio da decisão do Juiz Carlos Alberto da Costa Dias, da 2ª Vara Federal de Florianópolis, obteve o direito de concorrer a todas as vagas no vestibular da UFSC, inclusive àquelas destinadas ao programa de cotas. De acordo com o magistrado, o sistema de cotas implantado pela UFSC viola o princípio da igualdade previsto pela Constituição da República Federativa do Brasil.103

Em descompasso, no dia 11 de dezembro de 2007, o Juiz Osni Cardoso Filho, da 3ª Vara Federal de Florianópolis, afirmando que a política de cotas da UFSC não contraria o princípio da igualdade previsto na Carta Magna, mas, pelo contrário, busca a sua efetivação, negou o pedido de liminar de três candidatos que pretendiam disputar todas as vagas no vestibular 2008 da Universidade.104

Já em 12 de dezembro de 2007, em decisão liminar na ação proposta pelo Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de Santa Catarina (Sinepe/SC), o juiz Rafael Selau Carmona, da 1ª Vara de Justiça Federal de Florianópolis, determinou que a UFSC ampliasse o número de vagas no vestibular para atender ao sistema de cotas. Entretanto, em 18 de dezembro de 2007, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, suspendeu essa decisão,

103

SANTA CATARINA. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Seção Judiciária de Santa Catarina. MANDADO DE SEGURANÇA Nº 2007.72.00.011867-0 (SC). Disponível em: <http://www.trf4.jus.br >. Acesso em: 21 set. 2009.

104

SANTA CATARINA. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Seção Judiciária de Santa Catarina. Disponível em: <http://www.trf4.jus.br>. Acesso em: 21 set. 2009.

entendendo que a UFSC não tinha condições para ampliar o número de vagas além do sistema de cotas.105

No dia seguinte, em 19 de dezembro de 2007, o procurador da república Davy Lincoln Rocha, do Ministério Público Federal de Florianópolis, ingressou com uma Ação Civil Pública requerendo a anulação do sistema de cotas da UFSC.106

Nesse sentido, registra-se uma entrevista realizada com o citado procurador da república Davy Lincoln Rocha pelo veículo Zero Hora107:

105

SANTA CATARINA. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Seção Judiciária de Santa Catarina. AÇÃO ORDINÁRIA (PROCEDIMENTO COMUM ORDINÁRIO) Nº 2007.72.00.013905-2 (SC). Disponível em: <http://www.trf4.jus.br >. Acesso em: 21 set. 2009.

106

SANTA CATARINA. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Seção Judiciária de Santa Catarina. Disponível em: <http://www.trf4.jus.br>. Acesso em: 21 set. 2009.

107

ZERO HORA. “Cota na vaga dos outros é refresco”. Santa Catarina, 25 jan. 2008. Coluna: Geral, p. 46.

Em 7 de janeiro de 2008, contudo, o reitor da UFSC, Lúcio José Botelho, declarou que o processo das cotas é legal e que já conta com decisão judicial favorável para fazê-lo valer em 2008.108

Em meio a essa discussão, nessa mesma data, anotam-se as seguintes opiniões externadas na coluna “Diário do Leitor” do veículo Diário Catarinense:

Minha filha sempre havia estudado em escola pública. Tentando dar um estudo de qualidade para ela, com dificuldade a matriculei em escola particular no Ensino Médio. Ela ficou em 35º lugar no vestibular e não passou porque foram chamados no total 45, incluindo as cotas (20% para escola pública e 10% para negros). Por que o governo, em vez de tirar a vaga de quem se esforçou, não criou as 15 vagas a mais para o pessoal cotista? E a Constituição de 1988 (Art. 5º, “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza...”) não vale nada? Esse é o país da hipocrisia. Valdir Batista Filho - Técnico contábil – Palhoça.109

Manoela Maris Ribeiro, por sua vez, relatou que:

Fui vestibulanda da UFSC 2008, e estou indignada com relação às cotas para negros. Fui candidata ao curso de Administração Diurno. Durante o ano de 2007 fiz dois cursinhos pré-vestibular, trabalhei durante o dia e estudei à noite. Quando saiu o resultado, meu nome não estava no listão dos aprovados. Fiquei em 70º lugar entre 515 inscritos. Agora, olhando as pontuações de primeiros e últimos colocados por curso, nas cotas para negros o último colocado aprovado fez 32,73 pontos, e no geral o último aprovado fez 60,96. Minha pontuação foi de 60,36, só 0,6 ponto a menos. Em relação à criação de cotas para as escolas públicas concordo plenamente, mas para negros? Não é preconceito? Racismo não é crime? Além disso, é muita injustiça, afinal desde quando se passa em uma universidade federal que tem 80 questões somatórias, mais três discursivas e uma redação, com apenas 32,73 pontos? Qualquer pessoa é capaz de fazer uma pontuação maior. Manoela Maris Ribeiro - Por e_mail.110

Em 18 de janeiro de 2008, o juiz Gustavo Dias de Barcellos, da Justiça Federal, deferiu o pedido de liminar na ação promovida pelo Ministério Público Federal, determinando que UFSC não aplicasse o sistema de cotas e, com isso, garantisse o direito de matrícula a todos os candidatos que tinham alcançado a pontuação mínima exigida para a classificação em cada curso. De acordo com o magistrado, “a discriminação da cor ou da tonalidade de pele apenas resultara em

108

DIÁRIO CATARINENSE. Cotas voltam a valer no vestibular da UFSC. Santa Catarina, 01 fev. 2008. Coluna: geral, p. 26.

109

FILHO, Valdir Batista. Cotas. Diário Catarinense, Florianópolis, 07 jan. 2008. Coluna: Diário do Leitor, p. 30.

110

RIBEIRO, Manoela Maris. Diário Catarinense, Florianópolis, 07 jan. 2008. Coluna: Diário do Leitor, p. 30.

casuísmos e arbitrariedades, pois hoje em dia não haveria critérios precisos para identificar alguém como negro ou branco”.111

Diante dessa decisão, em 21 de janeiro de 2008, a UFSC, através de seus representantes, anunciou na imprensa que iria recorrer da decisão no TRF4, em Porto Alegre, e acreditava que, antes mesmo do início das matriculas (14 e 15 de fevereiro), resolveria todas as pendências judiciais contrárias, fazendo valer o sistema de cotas.112

No dia 25 de janeiro de 2008 o Supremo Tribunal Federal arquivou a ação promovida pelo Sinepe/SC contra o sistema de cotas.113

Em 29 de janeiro de 2008 “um hacker faz vazar na internet um documento interno da UFSC, com 806 páginas, trazendo o desempenho detalhado, em ordem alfabética, dos mais de 30 mil candidatos ao vestibular”.114 Com isso, foi possível comparar a pontuação dos candidatos e constatar o efeito das cotas. Muitos alunos sentiram-se extremamente injustiçados porque, mesmo com uma pontuação elevada, perderam a vaga para um candidato cotista com pontuação menor.

Por conseguinte, em 31 de janeiro de 2008, o TRF suspendeu a liminar concedida pela Justiça Federal de Santa Catarina que impedia a aplicação do sistema de cotas na UFSC, possibilitando a matrícula dos beneficiados.115

Em 13 de fevereiro de 2008, o Professor da UFSC Sérgio Colle, contrário ao sistema de cotas, disse ao jornal Diário Catarinense que:

Falta ao senhor Marcelo Tragtenberg, da UFSC, o conhecimento do que seja universidade séria. Em lugar algum do planeta a universidade foi instituída para reduzir desigualdades sociais ou étnicas, elas foram, na verdade, instrumento de transferência e desenvolvimento do conhecimento, calcados na busca da excelência pela competitividade dos talentos. Ademais, ações afirmativas (esporádicas e isoladas) foram abandonadas nos EUA por terem se mostrado inúteis. O que integrou pobres à economia foram políticas de governo corretas, diga-se, de liberdade econômica e política, com controle de gastos públicos e prioridade de investimento na educação.

Estatísticas oficiais do MEC comprovam ser a proporção de negros, pardos e índios nas universidades públicas praticamente a mesma das populações respectivas, em cada Estado. Ademais, a aprovação das cotas pelo Conselho Universitário não considerou a posição do corpo docente da UFSC e por isso é uma usurpação, além do que fere uma cláusula pétrea

111

DIÁRIO CATARINENSE, 01 fev. 2008, Coluna: geral, p. 26.

112

DIÁRIO CATARINENSE, loc. cit.

113

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Disponível em: <http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 21 set. 2009.

114

DIÁRIO CATARINENSE, loc. cit.

115

da Constituição, ao passo que concede, à revelia da Lei, privilégios a minorias. Aos prejudicados, como a senhora Érika Trentini (carta ao DC de 12 de fevereiro), ainda resta recorrer judicialmente contra esse desatino. Sérgio Colle - Professor da UFSC – Florianópolis. 116

Finalmente, no dia 18 de março de 2008, o TRF da 4ª Região colocou um ponto final na questão, apesar de existirem ainda diversas ações pendentes de julgamento, julgando procedente o recurso da UFSC, entendendo que a Universidade tem autonomia para implantar sistemas de cotas destinadas ao ingresso de alunos no ensino superior.117

Após essa breve explicação acerca da implantação do sistema de cotas na UFSC, registra-se que, no capítulo seguinte, se pretende cumprir o objetivo principal proposto para este trabalho de conclusão de curso através da abordagem crítica do discurso jornalístico sobre a implementação do sistema de cotas na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.

Para tanto, serão analisadas algumas reportagens publicadas sobre o tema no período que compreende os anos de 2006 a 2008.

116

COLLE, Sérgio. Cotas. Diário Catarinense, Florianópolis, 13 fev. 2008. Coluna: Diário do Leitor, p. 38.

117

4 ABORDAGEM CRÍTICA DO DISCURSO JORNALÍSTICO SOBRE A

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