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Principais argumentos em defesa da vinculação dos enunciados das

3.2 Críticas à súmula vinculante no direito brasileiro

3.2.1 Principais argumentos em defesa da vinculação dos enunciados das

O efeito vinculante dado aos enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal é defendido principalmente como mecanismo de otimização do Poder Judiciário.

Conforme Teixeira (1998, p. 29-30) existem quatro justificativas do efeito vinculante dos enunciados das súmulas editadas pelo Supremo Tribunal Federal: morosidade, decisões contraditórias, negativa do engessamento da jurisprudência e negativa de que impediria a liberdade de decisão do juiz.

De acordo com Moraes ([s.d.], p. 8) sobre a lentidão do processo judicial e a decorrente necessidade de tornar a Justiça mais ágil e eficiente, os defensores da vinculação da súmula entendem que “esta impedirá que recursos meramente protelatórios sejam interpostos e que processos inúteis cheguem aos Tribunais Superiores, tomando o tempo que poderia ser dedicado a questões mais relevantes.”

Ao tratar do tema, Demo (2004, p. 85) defende a súmula vinculante, argumentando que:

Se no passado havia razões, como de segurança jurídica e isonomia, para fundamentar a edição de assentos, hoje se pode acrescer a celeridade processual para a edição de súmulas, constituindo uma plataforma procedimental que catalisa o ritmo do processo, necessidade premente de uma sociedade marcada pelo caráter instantâneo das comunicações, que acelera o ritmo de nossa vida e torna nossas expectativas mais urgentes. Não está na filosofia da súmula, portanto, ser uma superestrutura de dominação intelectual.

De modo similar Tavares (2005, p. 109) pondera que:

Considere-se o dado de que o Poder Público (União, Estados-membros e Municípios) é o maior cliente (em termos de números de processos nos quais estão envolvidos) do Poder Judiciário brasileiro, porque reiteradamente questiona direitos fundamentais (caros ao cidadão) já previamente reconhecidos pelo Supremo Tribunal Federal - STF; com isso, ter-se-á um breve panorama da mudança que se pode alcançar pela introdução da súmula vinculante no modelo brasileiro (que, nesse sentido, soma-se ao efeito vinculante das decisões em ações diretas).

Neste pensar, o efeito vinculante afasta afastar as ações desnecessárias e os recursos protelatórios, que, “na maioria reproduzindo peças lançadas em computador, estão a congestionar os tribunais, agredindo o princípio da celeridade processual e tornando a prestação jurisdicional ainda mais morosa” (TEIXEIRA, 1998, p. 29). Argumenta-se, aqui, que não existem justificativas para a multiplicidade de demandas e recursos sobre teses jurídicas idênticas, já definidas inclusive pelo Supremo Tribunal Federal, sendo que o descumprimento das diretrizes dessas decisões promana, na maioria das vezes, da própria Administração Pública.

Em segundo lugar está a necessidade de se prestigiar o princípio isonômico - direito fundamental à igualdade perante a lei -, eliminando o perigo das decisões contraditórias, muitas delas que afrontam, inclusive, a declarações de inconstitucionalidade, em incompreensível contra-senso. Esse motivo, apontado como justificante da adoção da súmula vinculativa, se resume na imprescindibilidade de resguardar o princípio da segurança jurídica, assegurando a previsibilidade das decisões judiciais em causas idênticas (TEIXEIRA, 1998, p. 29-30).

Além de se preocupar com a celeridade processual, essa corrente de pensamento entende que há, ainda, a vantagem da segurança jurídica, sentimento que faz com que o cidadão tenha a confiança de que receberá tratamento isonômico

perante o Poder Judiciário, corolário do princípio da igualdade de todos perante a lei expresso no artigo 5º, caput, da Constituição Federal de 1988 (MORAES, [s.d.], p. 8).

Outro motivo que baliza a tese favorável à súmula vinculante é que não existe perigo de engessamento da jurisprudência, vez que são previstos o cancelamento e a alteração/revisão dos enunciados sumulares (TEIXEIRA, 1998, p. 30).

Por fim, há o argumento de que o efeito vinculante não retira do julgador a sua liberdade de decidir, mas apenas o impede de dar curso à renovação de teses já apreciadas e decididas anteriormente de forma reiterada por órgãos colegiados, presumidamente detentores de maior conhecimento na matéria (TEIXEIRA, 1998, p. 30).

Sobre a possibilidade da súmula vinculante subtrair a independência do juiz, Demo (2004, p. 85) informa que:

A edição de súmula, com sua posterior vinculação aos ministros do Supremo Tribunal Federal, não foge tanto aos quadros tradicionais do direito brasileiro, nos quais se costuma entronizar a liberdade de julgamento para os juízes. O Tribunal é um órgão único, apenas com a nota de ser coletivo. Se a súmula dá certo para os juízes membros do tribunal, por que não daria certo, como súmula vinculante, para os juízes singulares, todos componentes de uma única expressão do Poder nacional, o Poder Judiciário? É da sabedoria popular que o Brasil não precisa de mais leis: precisa de mais homens que cumpram as leis. A mesma filosofia vale para o Poder Judiciário, que precisa de mais operadores do direito que abandonem o ranço “pão-pão, queijo-queijo” da independência intelectual absoluta, tenham humildade e grandeza intelectual e sigam a orientação jurisprudencial dominante nos tribunais superiores, ainda que dela discordem, ressalvando o seu ponto de vista crítico, o que pode acontecer e de fato acontece em virtude das diferentes formações técnica e humanista de cada magistrado. O Poder Judiciário não é espaço para o juiz mostrar erudição ou para o advogado ganhar dinheiro, mas para o cidadão obter justiça. E para lembrar esta verdade, cai a talho o resgate da súmula pelo Supremo Tribunal Federal (grifo do original).

Porém, conforme Tavares (2007, p. 107-109), a respeito da liberdade de convicção do juiz em face da súmula vinculante, é necessário ponderar duas situações:

a) por primeiro, ao juiz restará, sempre, a possibilidade de avaliar se aplica ou não uma dada súmula a um determinado caso concreto, o que se dá através da “operação de verificação”. A súmula não incorpora os casos concretos que formaram a base para sua edição. Assim, sendo a vinculação apenas ao enunciado da súmula, o juiz terá que fazer uma operação mental de verificação do cabimento da súmula ao caso concreto que lhe foi apresentado, bem como sobre as normas aplicáveis à situação fática que está analisando para proferir julgamento.

b) por segundo, o próprio enunciado da súmula é passível de sofrer uma interpretação, porque é expressa em linguagem escrita, tal como as leis em geral.

No entanto, até mesmo os defensores do efeito vinculativo dos enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal reconhecem certa fragilidade. Neste particular, André Ramos Tavares (2007, p. 109) identifica como maior problema da súmula vinculante o que chama de “mecanismo de auto-imposição dependente”, esclarecendo que:

O descumprimento da súmula vinculante impõe uma atuação sucessiva e desgastante ao Supremo Tribunal Federal, transformando-o em uma espécie de “oficial de execução de suas sentenças” de suas próprias decisões, situação não apenas altamente constrangedora para um Tribunal dessa envergadura, mas também inviabilizadora do exercício de suas funções fundamentais. A fraqueza do instituto, portanto, acaba prevalecendo sobre o receio de que pudesse vir a inviabilizar a existência de um Poder Judiciário livre (grifo do original).

De fato, não tem como garantir que o efeito vinculativo dos enunciados das súmulas seja capaz de acabar com os recursos protelatórios. Contudo, Maurício José Corrêa (apud KASEKER, 2004, p. 01) faz uso de algumas estatísticas para defender a súmula vinculante. Relata que o combate à morosidade da Justiça, custa ao país US$ 20 bilhões por ano e que 57% dos processos do Supremo Tribunal Federal de 2003 eram agravos de instrumento, cuja “esmagadora maioria é julgada incabível ou improcedente”. Informa, ainda, que no Tribunal Superior do Trabalho, o índice chegou a 72% e o Supremo Tribunal Federal recebeu 57 mil em 2002. Por isso, argumenta que “a insistência em recorrer de questões já superadas, não pode continuar a merecer a complacência da lei”.

Esses são, em síntese, os argumentos daqueles que defendem a instituição e permanência da súmula vinculante no cenário brasileiro.

3.2.2 Tese contrária ao efeito vinculante dos enunciados da súmula do Supremo

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