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PRINCIPAIS CONSTATAÇÕES E RECOMENDAÇÕES

10.1.1. Em relação ao Quadro Jurídico e Institucional dos Direitos Humanos em

Moçambique

1. A OAM reconhece o esforço do Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos na implementação de alguns programas de direitos humanos com envolvimento ou participa-ção das organizações da sociedade civil.

2. Reconhece, ainda, o esforço de envolvimento participativo nos processos de elaboração dos relatórios periódicos impostos pelos tratados de direitos humanos de que o País é parte, sendo que se recomenda que a participação da sociedade civil seja mantida e alargada.

3. Contudo, constata que o Estado moçambicano ainda não concluiu a implementação das reco-mendações do II Ciclo de Mecanismo de Revisão Periódica Universal, bem como do Comité dos Direitos Humanos, relativas à aplicação do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Polí-ticos.

4. Do mesmo modo, não cumpriu o prazo de submissão do segundo relatório periódico ao Comi-té de Direitos Humanos no âmbito das responsabilidades decorrentes do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos.

10.1.2. Garantia do Direito de Acesso à Justiça e a situação dos estabelecimentos

penitenciários

1. Em relação à dimensão judicial, há que registar que, do ponto de vista formal, os indicadores de conformidade das garantias constitucionais conferidas ao poder judicial estão conforme os padrões internacionais fixados pelo artigo 10 da DUDH e artigo 10 do PIDCI, segundo os quais a pessoa tem o direito humano de ser julgado publicamente, por um tribunal indepen-dente e imparcial.

2. No entanto, o indicador processual de alocação de recursos financeiros e materiais, corres-pondente à distribuição geográfica dos tribunais no país, quando comparado com a extensão geográfica e a população por província, é ainda fraco ou negativo. Com efeito, tal como refe-rido nos relatórios anteriores, a distribuição dos tribunais não tem seguido o critério da relação magistrado/população, sendo este o indicador mais comum e que aconselha a proporção de 8 juízes por cada 100 mil habitantes.

3. Avaliado o desempenho dos tribunais, por referência ao backlog index, o indicador de re-sultado sobre a celeridade processual indica que esta é baixa, na medida em que os níveis de morosidade processual e a taxa de congestionamento dos tribunais continuam altos. Tal demonstra que apesar de o número dos processos julgados pelos tribunais estar a aumentar, em conformidade com as metas definidas pelo sector, o que é louvável, a eficiência e produti-vidade dos tribunais não melhorou nos anos de 2018 e 2019, mantendo-se a tendência que se vem registando nos últimos cinco anos.

4. No que tange à garantia do Direito à Liberdade, os dados disponíveis permitem concluir que se continua a usar excessivamente a detenção e prisão preventiva de cidadãos, o que representa uma tendência contrária ao regime de aplicação das medidas alternativas às penas privativas de liberdade de que o ordenamento jurídico dispõe.

5. Além do mais, continuam a registar-se casos de prisão preventiva fora do prazo, situação que se tem vindo a tentar corrigir com os julgamentos de campanha, o que é inaceitável, na me-dida em que as prisões preventivas fora do prazo legal, sendo ilegais e uma afronta ao direito fundamental da liberdade e segurança, previsto no artigo 59 da CRM, deveriam dar lugar à libertação imediata.

6. Portanto, corrigir a situação das prisões preventivas fora do prazo através dos julgamentos de campanha é, por si só, uma ilegalidade, por ser uma forma de acobertar a situação de prisão ilegal em que o cidadão se encontra; para além de que esta medida acaba perpetuando o pro-blema, pelo facto de as instituições responsáveis pelo controlo penal não agirem, ficando à espera das referidas campanhas de julgamento.

7. Por outro lado, os indicadores quantitativos e qualitativos mostram que os resultados quanto à superlotação dos estabelecimentos penitenciários continuam ainda negativos, sendo necessá-rio tomar medidas de impacto imediato e que não impliquem avultados investimentos, como seja a garantia do uso da prisão preventiva em conformidade com os direitos humanos e o uso das medidas alternativas ao encarceramento.

8. Embora alguns estabelecimentos penitenciários assegurem a disponibilidade de um posto mé-dico, a assistência médica e sanitária nos estabelecimentos penitenciários não está ao nível do exigido pelos padrões internacionais. Contudo, não se pode dizer que o indicador de resultado seja negativo, na medida em que, por um lado, as recomendações internacionais preconizam que os serviços de saúde nos estabelecimentos penitenciários sejam equivalentes aos das de-mais unidades sanitárias, e as dificuldades ou limitações do SNS no país são generalizadas. Por outro lado, porque nos casos em que os postos médicos não têm condições para o trata-mento dos reclusos, os mesmos são transferidos paras as unidades sanitárias próximas.

9. No plano estrutural, ou seja, o plano formal, o grau de compromisso do Estado moçambicano contra o excesso de poder da polícia é, formalmente, positivo e forte, tendo em conta a exis-tência de um quadro jurídico correspondente à prevenção e repressão da tortura e execuções sumárias.

10. Contudo, continuam a verificar-se casos de uso excessivo da força pelas autoridades, nomea-damente detenções arbitrárias e algumas situações que podem ser qualificadas como execu-ções sumárias e desaparecimentos forçados de cidadãos, sendo de registar a ocorrência de sequestro, desaparecimento, agressão e assassinato de um conjunto de pessoas que têm em comum as suas intervenções públicas na qualidade de activistas de direitos humanos, jornalis-tas, políticos e académicos.

10.1.3. Direito à Informação

1. No plano do direito à informação, a aprovação do Decreto n.º 40/2018, de 23 de Julho, consti-tuiu um indicador processual negativo, por representar uma limitação ou restrição económica à liberdade de imprensa em Moçambique.

2. Os indicadores de resultado do ambiente do exercício do direito à informação em Moçambi-que são negativos, uma vez Moçambi-que a posição de MoçambiMoçambi-que no ranking internacional baixou no biénio 2018/19, o que se deve em grande parte às detenções arbitrárias e intimidações de jornalistas. Esta observação inclui a fragilidade das garantias jurisdicionais deste direito, por-quanto os tribunais não têm estado a garantir eficazmente o direito à informação, particular-mente o Tribunal Administrativo.

10.1.4. Direitos humanos da Mulher e Criança

1. Constata-se a existência de uma letargia do Estado moçambicano em observar os instrumentos de suma importância na consolidação dos direitos humanos no país. Entre as diversas razões, conta-se a fraca implementação e monitoria dos instrumentos de direitos humanos pelos ór-gãos públicos, sobretudo o Parlamento.

2. Entretanto, as reformas legais ocorridas não são, até hoje, suficientes para promover mudanças nas relações cotidianas dos indivíduos e reduzir as assimetrias de género. Homens e mulheres continuam a ocupar um lugar diferenciado perante a lei. A justificativa de âmbito cultural, em si, não pode ser a única explicação para a violência doméstica, a visão da mulher como objecto sexual, a subjugação do feminino, a pobreza que assola agregados familiares chefiados por mulheres e tantas outras situações afins.

3. No terreno, a situação da mulher permanece frágil e exposta a diversas situações de vulnerabilidade. Embora o país conte com agências das Nações Unidas como a UNWomen e grande número de organizações não governamentais que trabalham no sentido de protecção aos direitos da mulher no seu território, o panorama ainda é justificado pela necessidade de tempo para que as mudanças e as mentalidades, muito enraizadas, sofram alteração. Enquanto as modificações necessárias que “não podem ocorrer de um momento para o outro”, o silêncio, a vulnerabilidade e a violência per-manecem o pano de fundo da vida das mulheres moçambicanas.

4. Outrossim, apesar de o país possuir um quadro de políticas, programas, planos e leis relevantes para a realização dos direitos da criança, há limitações importantes que inibem a sua opera-cionalização.

5. As raparigas continuam a ser vítimas da acção insuficiente do Estado, nomeadamente por continuarem a registar-se casos de uniões prematuras, maternidade infantil e assédio sexual da rapariga. A ausência da paz efectiva também é um factor importante para que se possam materializar avanços na implementação e execução dos direitos da criança. Continuam a ve-rificar-se elevados índices de pobreza infantil, com implicações em problemas nutricionais e casos de trabalho infantil, entre outros.

10.1.5. Indústria extractiva e direitos humanos

1. No que diz respeito à indústria extractiva, o quadro jurídico em vigor é insuficiente para ga-rantir uma efectiva protecção dos direitos humanos das pessoas e das comunidades afectadas pelas concessões mineiras e petrolíferas.

2. Os indicadores de resultado da situação de direitos humanos no contexto da indústria extracti-va são negativos, pois continuam a registar-se casos de falhas na efectiextracti-va garantia dos direitos humanos das pessoas e comunidades afectadas pela indústria extractiva; fundamentalmente, pela lentidão dos processos de reassentamento, falta de transparência dos processos de consul-ta pública comunitária para a implemenconsul-tação de projectos da indústria extractiva e incumpri-mento das compensações e benefícios a que as comunidades têm direito.

3. Considerando ser função do Governo garantir a protecção das comunidades locais, conforme decorre da lei, constata-se a inércia das autoridades públicas na defesa dos direitos da comu-nidade, sendo exemplo o facto de o processo de reassentamento da JINDAL se arrastar desde 2010 até à data, bem como a recusa das autoridades governamentais em aplicar as sanções previstas na lei, o que levou a OAM a ter que intentar uma acção judicial contra o Estado.

10.1.6. Conflito na Região Centro e em Cabo Delgado

1. Os esforços do Governo na manutenção da ordem e segurança públicas em Cabo Delgado é notório e de louvar. Contudo, no plano dos indicadores processuais das obrigações do Estado de proteger o direito à vida, integridade física e propriedade das populações, os estudos dispo-níveis demonstram algumas falhas, conforme atrás elencadas, sendo a mais notória a aparente falta de uma estratégia de prevenção e combate ao terrorismo. Com a excepção do UNODC, Moçambique parece ter desperdiçado as janelas de cooperação internacional na área da pre-venção e combate ao terrorismo decorrentes da sua adesão à Conpre-venção da União Africana relativa à Prevenção e Combate ao Terrorismo.

2. De um modo geral, pode-se dizer que, apesar dos esforços do Governo em travar a insurgência militar em Cabo Delgado, a situação militar e humanitária tendeu a agravar-se em termos de aumento do número de vítimas humanas, refugiados e ataques. Com base nestes dados, pode-se concluir que, do ponto de vista da protecção do direito à vida, integridade física e bens, os indicadores de direitos humanos são negativos.

10.1.7. Estado de Direito Democrático

1. Constata-se que, no que diz respeito ao Estado de Direito Democrático, o ordenamento jurídi-co dispõe de legislação e políticas públicas que permitem o exercício dos direitos polítijurídi-cos e a salvaguarda dos atributos da transparência e participação pública.

2. Relativamente ao Estado de Direito Democrático enquanto ambiente para o exercício do direi-to de participação os indicadores estruturais mostram-se positivos, na medida em que o quadro jurídico em vigor conforma-se com as principais exigências dos direitos humanos.

3. No entanto, o procedimento de designação dos juízes conselheiros do Conselho Constitucio-nal e dos membros da Comissão NacioConstitucio-nal de Eleições, por referência ao princípio da

represen-tação proporcional na Assembleia da República, é contrário aos princípios de independência, imparcialidade organizacional e institucionais impostos pela CRM.

4. O Estado de Direito Democrático apresenta sinais de degradação do ambiente político, por-quanto o exercício de direitos civis e políticos tem sido ameaçado por actos de intimidação e intolerância de activistas de direitos humanos, jornalistas, fazedores de opinião pública e políticos, conforme demonstram os casos de assassinatos, sequestro e espancamento desta ca-tegoria de cidadãos no País e cujos processos de investigação e punição dos autores materiais e morais são inconclusivos.

5. A deterioração do Estado de Direito Democrático constitui uma violação do preconizado no artigo 11, alíneas b) e g), que proclamam a consolidação da unidade nacional e a promoção de uma sociedade de pluralismo, tolerância e cultura de paz.

6. Um dos sinais preocupantes do enfraquecimento da democracia é constatação de que o pro-cesso de revisão constitucional não foi participativo, mesmo ao nível dos partidos políticos parlamentares, o que é contrário aos valores do princípio do Estado de Direito Democrático. 7. Pelo que a revisão constitucional de matérias que interferem com a organização política e

as-pectos atinentes aos processos democráticos não deveria e nem deve ocorrer sem participação pública.

10.2. RECOMENDAÇÕES

10.2.1. Quadro Jurídico dos Direitos Humanos

1. A OAM reitera a sua recomendação de que o Governo aprove a Política Nacional e Estratégia de Direitos Humanos, bem como os respectivos planos de acção;

2. A OAM reitera igualmente a sua observação sobre a necessidade de que a elaboração dos relatórios periódicos das convenções e relatórios de direitos humanos apresentados pelo Go-verno nos diversos Comités das Nações Unidas ou na Comissão Africana de Direitos Huma-nos seja participativa. Para a melhoria deste processo, recomenda-se que o Governo partilhe, atempadamente, o calendário de elaboração e apresentação destes relatórios, a fim de que a sociedade civil tenha conhecimento para poder preparar as respectivas contribuições e acções de monitoria.

3. O Governo deve acelerar a implementação das recomendações da Revisão Periódica Univer-sal, do Comité de Direitos Humanos e de outras instâncias, para o que urge a apresentação de um relatório público dos progressos, o qual já deveria ter sido submetido ao Comité de Direi-tos Humanos em 2017, reportando as acções até aqui desencadeadas e o plano de acção para a implementação das actividades ainda não realizadas.

4. Criar um órgão de acompanhamento do processo de incorporação das convenções interna-cionais de direitos humanos, entidade que poderia ficar sob a alçada do Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos.

5. A OAM reitera a sua recomendação dos anos anteriores de que o Estado moçambicano ratifi-que o Pacto Internacional dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais e o Tratado de Roma,

bem como outros instrumentos internacionais recomendados no II Ciclo de Revisão Periódica Universal.

6. A OAM mantém a sua recomendação sobre a necessidade da aprovação de uma Lei do Di-reito Internacional162, que regule todos os aspectos inerentes à ratificação e domesticação de tratados internacionais, o tornaria possível melhorar o regime sem necessidade de revisão da Constituição.

7. Ainda no que concerne ao melhoramento do quadro legislativo, uma das soluções legislativas a ser introduzida é de que a ratificação dos instrumentos internacionais pela Assembleia da República e pelo Governo seja feita por lei ou decretos.

8. À semelhança da recomendação do Comité de Direitos Humanos, a OAM recomenda que os tribunais integrem, sempre que possível, a jurisprudência internacional e regional dos organis-mos internacionais de direitos humanos como forma de materializar a harmonização e integra-ção das normas dos direitos fundamentais decorrentes do conteúdo da Declaraintegra-ção Universal e da Carta Africa.

10.2.2. Direito de Acesso à Justiça e garantia dos Direitos e Liberdades

1. O Estado moçambicano deve continuar a envidar esforços de nomeação de mais juízes, com vista a duplicar o número de magistrados actualmente existentes, sendo também necessário introduzir reformas estruturais na legislação processual de modo a permitir a celeridade dos processos.

2. O Informe Anual da Procuradoria da República à Assembleia da República deve basear-se em indicadores internacionalmente aceites de medição do desempenho da Justiça para que se traduza num instrumento orientador na criação de políticas criminais e tomada de medidas administrativas sobre as necessidades da justiça com base em evidências concretas.

3. A OAM reitera a necessidade de que o regime da prisão preventiva seja usado de acordo com os padrões de direitos humanos, com respeito ao direito à liberdade e à presunção de inocên-cia do arguido, sendo que a prisão preventiva ilegal deve dar lugar à imediata libertação do recluso.

4. A fim de melhorar os seus indicadores estruturais no domínio do combate à tortura e às execu-ções sumárias, recomenda-se que o Estado moçambicano ratifique os Protocolos Opcionais ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e à Convenção contra Tortura, bem como o protocolo que permite o acesso ao Tribunal Africano de Direitos Humanos e dos Povos. 5. O Estado moçambicano deve convidar o Relator Especial das Nações Unidas contra

Execu-ções e Desaparecimentos Forçados para proceder a uma investigação exaustiva da situação no terreno.

6. Em relação aos processos pendentes das vítimas de execuções sumárias ou desaparecimentos forçados, a OAM recomenda que, por um lado, em observância ao preconizado na Declaração das Nações Unidas sobre a Protecção de todas as Pessoas contra Desaparecimentos

dos163, o Estado Moçambicano tome medidas que demonstrem que não tolera nem dá qualquer apoio directo e indirecto, nem negligencia a importância de eliminar práticas de desapareci-mentos forçados ou execuções sumárias.

7. Por outro lado, e por força do disposto no artigo 3 da Declaração das Nações Unidas contra Desaparecimentos Forçados, recomenda-se que o Estado tome todas as medidas legislativas, administrativas, judiciais e de outra natureza para prevenir e combater estes casos através de actos concretos de conclusão da respectiva investigação, julgamento e a consequente punição dos alegados autores morais e materiais.

10.2.3. Direito à Informação

1. No que tange à cobertura jornalística das zonas de conflito em Cabo Delgado, a OAM sublinha que o Governo deve garantir a observância do artigo 19 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos de que Moçambique é signatário, segundo o qual ninguém deve ser molesta-do por causa das suas opiniões, senmolesta-do obrigação molesta-dos estamolesta-dos proteger e garantir que toda a pes-soa terá o direito à liberdade de expressão; esse direito incluirá a liberdade de procurar, receber e difundir informações e ideias de qualquer natureza, independentemente de considerações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, de forma impressa ou artística, ou por qualquer meio de sua escolha.

2. Deve melhorar-se o ambiente do exercício do direito à informação pelo cidadão no acesso à informação de interesse público, a qual deve ser divulgada espontaneamente pela Adminis-tração Pública, em observância dos princípios da publicidade, transparência e abertura, bem como pela necessidade de reforço das garantias judiciais, o que implica a mudança da postura processualista dos tribunais competentes.

10.2.4. Direito de Associação das Pessoas LGBT

1. O legislador deve rever a Lei n.º 8/91, de 18 de Julho, de modo a adequá-la ao reconhecimento de associações de cidadãos cujos direitos associativos são recusados por alegadas razões de ordem moral. Ademais e no que tange às recomendações da Comissão de Direitos Humanos em 2013 e do Relator Especial, a OAM aproveita esta oportunidade para recordar as autori-dades sobre o compromisso constitucional constante do artigo 17 da CRM, segundo o qual Moçambique aceita e aplica a Carta das Nações Unidas e a Carta Africana.

10.2.5. Indústria Extractiva e Direitos Humanos

1. O legislador deve melhorar o regime jurídico dos reassentamentos, nomeadamente, assegu-rar que o processo seja conduzido por entidades independentes em vez de directamente pelo Governo, uma vez que este se encontra numa situação de conflito de interesses. Deve ainda permitir o regime de negociação particular das compensações e deixar que o valor dos bens atingidos pelas concessões seja estabelecido de acordo com as regras de mercado e não por

tabelas unilateralmente fixadas pelo Governo e que muitas vezes se mostram desactualizadas. 2. Deve ser melhorado o regime do direito ao consentimento livre e informado como direito

fun-damental das comunidades durante os processos de concessões e reassentamento.

3. O Governo deve aprovar o Regulamento de Participação das Comunidades no Processo de Ne-gociação das Concessões Mineiras e Petrolíferas, devendo garantir-se a natureza vinculativa da opinião expressa pela comunidade nos processos de consulta, os quais devem ser desenca-deados antes do início do procedimento concessionário.

10.2.6. Estado de Direito Democrático

1. À medida que os processos de litigação estratégica em matérias de interesse público aumen-tam, em defesa dos direitos fundamentais e do interesse público, mostra-se necessária uma maior capacitação das magistraturas do Ministério Público e Judicial nestas matérias, a fim de