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Principais forças motrizes do consumo colaborativo

Capítulo 2 – O consumo colaborativo e o alojamento peer-to-peer

2.2. Economia da partilha e consumo colaborativo: uma nova era

2.2.4. Principais forças motrizes do consumo colaborativo

Embora a partilha não seja um fenómeno novo, o contexto social, económico e tecnológico de partilha da atualidade, tem mudado drasticamente nos últimos anos (Owyang, Samuel, & Grenville, 2014). Assim para Rachel Botsman (2013) as quatro principais forças motrizes que transformaram a partilha de um comportamento mais íntimo e local para um movimento transformacional e global, nomeadamente o CC, foram a mudança de valores, a inovação tecnológica, a pressão ambiental e o contexto económico. De seguida far-se-á uma breve descrição destes quatro fatores que permitiram o aparecimento do CC:

Tecnologia

As tecnologias atuais desempenham um papel fulcral na construção de comunidades de partilha em larga escala, sendo o principal condutor do crescimento da economia da partilha (Belk, 2010; Hamari et al., 2016; Richardson, 2015). Diferentemente da Web 1.0 em que a Internet era apenas uma plataforma de transmissão de informações, na Web 2.0 (sites que possibilitam a partilha de conteúdo, como a enciclopédia virtual Wikipedia) os utilizadores podem produzir e consumir conteúdos online, de acordo com os seus interesses e opiniões, estando acessível a qualquer pessoa em qualquer parte do mundo (Labrecque, Esche, Mathwick, Novak, & Hofacker, 2013).

Assim, de forma a colmatar as diferentes necessidades de maneira eficiente, o CC procura atuar por meio de plataformas robustas (Smolka & Hienerth, 2014) que auxiliam o encontro

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entre a procura e a oferta, permitindo custos de transação extremamente reduzidos (Munkøe, 2017). A informação disponibilizada através das redes sociais, onde os utilizadores partilham as suas experiências e informações entre si, pode ser influenciada através de opiniões de outros utilizadores no momento de decisão de compra, contribuindo para a popularidade das plataformas de partilha P2P e, desta forma, para o aparecimento de práticas de CC (John, 2013b).

Por conseguinte, o CC está enraizada na tecnologia mostrando ser uma continuação dos hábitos de partilha online: desde a partilha de fotografias, comentários e vídeos online, estendendo a partilha para áreas físicas tais como espaços, transportes e outras áreas da vida cotidiana (Botsman & Rogers, 2010b; Denning, 2014; Lahti & Selosmaa, 2013).

Preocupações ambientais

A sustentabilidade rege-se por ser um tema omnipresente no mercado do século XXI. Cada vez mais os grupos de consumidores procuram soluções de consumo alternativas que sejam mais sustentáveis, evitando, assim, o aumento dos níveis de consumo global e a procura por bens e serviços em mercados internacionais (Albinsson & Perera, 2012).

Uma vez que os recursos finitos do planeta estão a ser consumidos de uma forma descomunal e que a humanidade enfrenta problemas de superpopulação, mudanças climáticas e degradações ambientais, novas formas de fazer negócio em ambiente mais sustentável têm- se manifestado (Albinsson & Perera, 2012; Kotler, 2011; Sheth, Sethia, & Srinivas, 2011).

Segundo Selloni (2017), a partilha e a sustentabilidade são dois conceitos interligados, uma vez que muitas pessoas que decidem adotar práticas de partilha, consideram as suas escolhas como sendo benéficas para o meio ambiente. Em tempos de escassez, a partilha de recursos significa colaborar em formas de vida mais sustentáveis (Selloni, 2017). Estamos, então, na presença de um desenvolvimento que atende as necessidades da geração atual sem comprometer as gerações vindouras de satisfazerem as suas próprias necessidades (Botsman & Rogers, 2010b).

O facto de se estar a mudar de sistemas de hiperconsumo para sistemas inovadores baseados no consumo partilhado, adotando práticas anti consumistas (Black & Cherrier, 2010), permite obter-se benefícios ambientais significativos, nomeadamente o aumento da eficiência de utilização, a diminuição do desperdício e o incentivo ao desenvolvimento de

19 melhores produtos (Botsman & Rogers, 2010b). Assim, a proliferação deste modelo de partilha é movida por um aumento da necessidade em produzir e consumir de forma sustentável nos negócios e na sociedade (Silveira, Petrini, & Santos, 2016). A participação no CC envolve uma redução do consumo excessivo, permitindo aos indivíduos adquirir e utilizar os seus recursos de uma forma que influencie positivamente os três pilares da sustentabilidade: ambiental, económica e social (Huang & Rust, 2011).

Recessão global

A crise económica que se fez sentir em 2008-2009, provocou grande desconfiança perante as marcas e os modelos mais antigos, expondo a incerteza que se fez sentir na área dos negócios (Dominici & Roblek, 2016), fazendo com que os consumidores viessem a repensar nos seus gastos (Gansky, 2010). A recessão encorajou, assim, os consumidores a procurar opções de compra mais baratas e, por outro lado, a procurar um rendimento suplementar, após verem os seus salários estagnarem e o seu padrão de vida entrar em declínio (Killick, 2015). Segundo Selloni (2017), o proveito mais popularmente percebido ao participar na economia da partilha é o benefício económico. Este é deveras importante em tempos de crise económica, na medida em que as pessoas perdem o seu poder de compra, aumentando a sua consciencialização sobre as suas decisões de compra procurando a praticidade sobre o consumismo (Selloni, 2017). A cultura consumista passou, então, a valorizar o acesso a um bem em detrimento da sua posse, estando mais abertos ao modelo de partilha.

Comunidade

As comunidades têm sido estudadas de forma extensiva em estudos sobre consumo pós- moderno, reconhecendo que os indivíduos consomem, não só pela utilidade do produto ou serviço, mas também pela criação de vínculos sociais (Cova & Cova, 2002). O aumento da população e a cada vez maior urbanização, criam oportunidades que favorecem os negócios de partilha (Gansky, 2010).

O facto das pessoas se conectarem e interagirem por meio das redes sociais (John, 2012, 2013a), permite e facilita a compra de produtos e serviços através das diversas informações disponíveis online (Lahti & Selosmaa, 2013). Esta conexão online acaba por facilitar a partilha de atividades sociais, permitindo o contato direto entre pessoas que, apesar de viverem na mesma área, não interagem entre si (Selloni, 2017). Igualmente, o facto de os

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consumidores colaborarem uns com os outros em comunidade, acaba por melhorar o bem- estar social e individual dos mesmos (Perren & Grauerholz, 2015).

A partilha, e, consequentemente, o CC serve deste modo, como um propósito social: criar e reforçar laços sociais entre membros individuais de um grupo ou de uma comunidade (Dredge & Gyimóthy, 2015).