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3. Metodologia

3.1. Principais opções metodológicas

Ao longo de uma investigação é essencial que o investigador adeque a metodologia de trabalho aos objetivos que pretende alcançar. Neste sentido, apresentar- se-ão de seguida as opções metodológicas que nortearam esta investigação e a respetiva fundamentação teórica.

Investigar é uma das componentes da profissão docente e é por isso que se torna tão importante para o meu início de carreira docente experimentar as diferentes fases de um processo investigativo que certamente me auxiliará no meu futuro, enquanto profissional de educação, já que esta será uma constante ao longo da minha carreira. Na verdade, o profissional de educação deve sustentar a sua prática pedagógica numa ação de reflexão constante. É por isto que Ambrósio (2001) defende que a educação é um processo autoformativo que carece de constante ação, reflexão, experimentação e reformulação de processos e técnicas.

Deste modo, utilizei uma abordagem qualitativa no desenvolvimento deste estudo. Neste tipo de investigação “a fonte directa de dados é o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 47). Explanado este conceito os mesmos autores (idem, p. 48) definem, desta forma, este tipo de investigação:

A investigação qualitativa é descritiva. Os dados recolhidos são em forma de palavras ou imagens e não de números. Os resultados escritos da investigação contêm citações feitas com base nos dados para ilustrar e substanciar a apresentação. Os dados incluem transcrições de entrevistas, notas de campo, fotografias, vídeos, documentos pessoais, memorandos e outros registos oficiais. Neste sentido, considero que este seja o tipo de investigação mais adequado ao meu estudo, uma vez que eu fui a investigadora que ao aplicar diversas tarefas, tentei compreender de que forma os alunos (o meu objeto de estudo) beneficiavam com a utilização de recursos não formais na sala de aula (ambiente natural) na área das ciências. Para isso utilizei a observação participante, recolhendo dados da prática através de entrevistas, gravações áudio e recolha documental.

Para levar a cabo uma investigação deste âmbito é essencial passar tempo no local de estudo com os indivíduos sobre os quais estamos a investigar. Por isso, esta abordagem poderá também designar-se por naturalista. Na verdade, neste tipo de investigação o investigador está no campo onde a ação se passa, pois “em educação a investigação

37 qualitativa é frequentemente designada por naturalista, porque o investigador frequenta os locais que naturalmente se verificam os fenómenos, nos quais está interessado (…)” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 17). Assim se verifica que para além do papel de professora estagiária, desempenhei também, durante todo o período de estágio, o papel de investigadora.

Na verdade, o profissional de educação é muitas vezes confrontado com situações problemáticas que requerem uma reflexão mais aprofundada, uma reformulação e, muitas vezes, uma desconstrução da prática. Por isso, uma das ferramentas fundamentais, para que o docente tenha plena consciência da sua ação pedagógica é a investigação sobre a prática. Este método é definido por Ponte (2002, p. 3) como

um processo privilegiado de construção do conhecimento. A investigação sobre a sua prática é, por consequência, um processo fundamental de construção do conhecimento sobre essa mesma prática e, portanto, uma actividade de grande valor para o desenvolvimento profissional dos professores que nela se envolvem activamente.

Não obstante, importa realçar que este é um processo que exige esforço e dedicação do docente, sendo que é fundamental que este reflita sobre as suas ações e analise as decisões. Muitas vezes as opções tomadas, perante diversos imprevistos e a azáfama do dia-a-dia, principalmente na sala de aula, podem não ser as mais acertadas. Contudo, através de um balanço retrospetivo, é possível identificar os erros e procurar estratégias para os modificar. Cabe a cada profissional compreender qual a forma mais adequada para si, no que toca a refletir sobre o processo pedagógico e procurar resoluções que se coadunem com a situação em questão.

Assim, o profissional de educação é responsável por melhorar a sua intervenção pedagógica, reformulando práticas e partilhando-as com os seus pares, visto que, deste modo, evoluirá como profissional e ajudará na evolução da instituição em que está inserido.

Com efeito, é esta investigação que permite ao professor ir construindo, diariamente, a sua identidade profissional, uma vez que a investigação é uma das melhores ferramentas para o profissional de educação tomar consciência da sua prática. É desta forma que o professor pode questionar a sua ação pedagógica e tomar as medidas adequadas. “Assim, podemos dizer que a investigação sobre a prática profissional, a par da sua participação no desenvolvimento curricular, constitui um elemento decisivo da identidade profissional dos professores” (Ponte, 2002, p. 1).

38 Contudo, importa ressalvar que esta investigação sobre a prática, realizada pelos professores, acontece, geralmente, de um modo informal, ou seja, os professores fazem uma análise e reflexão, pensando nas situações e não escrevendo sobre elas. Todavia, ainda que de um modo informal, é fundamental que existam estes momentos de reflexão, pois como refere Alarcão (2005, p. 5), cit. por Ponte (2002, p. 2)

realmente não posso conceber um professor que não se questione sobre as razões subjacentes às suas decisões educativas, que não se questione perante o insucesso de alguns alunos, que não faça dos seus planos de aula meras hipóteses de trabalho a confirmar ou infirmar no laboratório que é a sala de aula, que não leia criticamente os manuais ou as propostas didácticas que lhe são feitas, que não se questione sobre as funções da escola e sobre se elas estão a ser realizadas.

Por isso, é deveras importante que, perante uma situação-problema sejam postas em causa as decisões tomadas, de modo a compreender se estas foram ou não as mais acertadas. Desta forma, de acordo com Ponte (2002), estamos perante um processo investigativo sobre a nossa própria prática, sendo que aqui importa considerar duas principais vertentes, com objetivos diferenciados:

• identificar e alterar aspetos que requerem uma mudança;

• compreender determinados aspetos de modo a conceber uma estratégia de ação a aplicar posteriormente;

Esta segunda opção foi a que pretendi desenvolver durante o meu período de estágio, uma vez que através das atividades desenvolvidas e da observação e reflexão que ia fazendo dos acontecimentos, me questionava “quais foram as minhas fragilidades?”, “o que poderia ter corrido melhor?” e “o que vou (e como vou) modificar para que corra melhor da próxima vez?”, “o que correu bem?”, “de que forma posso aplicar os aspetos positivos numa próxima tarefa?”. Estes são alguns exemplos de questões que os profissionais de educação devem ter sempre presentes, com vista à melhoria da sua prática pedagógica. Tendo em consideração a perspetiva defendida por Ponte (2002), o autor enumera quatro principais razões que defendem que o professor deverá também ser investigador. Assim, os professores devem encarar esta investigação:

i. para que se assumam como autênticos protagonistas no campo profissional e curricular, munidos de estratégias para enfrentar os problemas emergentes; ii. com privilégio, em termos de desenvolvimento profissional e organizacional; iii. de modo a contribuírem para a construção de um património de cultura dos

39 iv. como uma contribuição para o conhecimento geral dos problemas educativos. Se um professor tiver em consideração estes quatro motivos que justificam a necessidade de um profissional de educação em investigar a sua prática, poderá crescer profissionalmente e adequar determinadas estratégias aos diferentes contextos que encontrará, bem como aos diferentes alunos que ensinará.

Em suma, considero que a opção “investigação qualitativa” foi a mais adequada, uma vez que este é um estudo sobre o meu desempenho em sala de aula, em que me foquei no meu desempenho, através da questão: “de que forma a exploração de recursos não formais pode contribuir para:

▪ desenvolver de forma integrada aprendizagens ao nível conceptual, procedimental e atitudinal?

▪ relacionar a aprendizagem das ciências com o quotidiano e temas da atualidade? Por conseguinte, esta experiência e a apresentação desta investigação permitem-me o contacto com o processo investigativo deverá ser uma constante na minha vida profissional, pois será ele que me permitirá detetar fragilidades e aspetos positivos, de modo a realizar um balanço sobre o que aconteceu e melhorar a minha prática, adequando-a aos contextos com os quais me vou deparando e aos diferentes alunos com quem me vou cruzando.