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3. NÍVEIS E PADRÃO DA CONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL NO BRASIL: EVIDÊNCIAS A PARTIR DOS ESTADOS

3.4 Principais Resultados Obtidos

Como visto na seção anterior, a indústria de transformação no Brasil ainda está fortemente concentrada nas regiões Sudeste e Sul do país, com destaque para o estado de São Paulo, que tinha participação no emprego desta indústria de 43,97%, em 1994, e 35,57%, em 2004. Esta característica também é registrada para os segmentos industriais, com capital intensivo o mais concentrado, seguido por trabalho intensivo e recursos naturais intensivos.

Contudo, as evidências apontam para desconcentração industrial no período analisado, onde o Sudeste é a única região que apresenta queda de participação do emprego, tanto para a IT quanto para os segmentos industriais. Esta queda de participação se reflete, particularmente, nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Enquanto as demais regiões obtiveram aumento da participação no emprego industrial, onde o maior crescimento percentual da IT é obtido pela região Centro-Oeste e o absoluto pela região Sul que, em 2004, possui 27, 01% do emprego da IT. Em relação aos setores, o maior crescimento percentual foi verificado para o Centro-Oeste em capital intensivo, o Nordeste em trabalho intensivo e, de novo, Centro-Oeste em recursos naturais intensivos. Vale lembrar o aumento de participação do estado do Ceará no emprego do segmento trabalho intensivo (124,38%).

O índice de GINI obtido para a indústria e os estados para os anos de 1994 e 2004 confirma esse caráter concentrador. Este indicador situa-se entre 0,64 e 0,84, em que são maiores para o segmento capital intensivo e menores para o setor de recursos naturais, o que demonstra que este último segmento é o menos concentrado e o primeiro é o mais concentrado entre os estados da federação. Uma outra evidência é o recuo de tal índice neste período, o que destaca a ocorrência da desconcentração industrial. Para a IT, esta diminuição é de 7,55%, para o segmento de capital intensivo, é 4,62%, para recursos naturais intensivo, é de 7,19% e, para trabalho intensivo, é de 7,31%. Portanto, esta desconcentração é maior para o último segmento e menor para o capital intensivo.

A fim de identificar a existência de possíveis clusters e outliers industriais, localizados nos estados brasileiro também foi feito testes formais de estatísticas espaciais. As evidências para o índice de Moran global indicam que há dependência espacial positiva para a variável da participação estadual no emprego industrial. Em relação à medida local deste indicador, os dados para a IT e os segmentos de capital intensivo e recursos naturais

intensivos, nos anos de 1994 e 2004, mostram a existência de clusters do tipo AA, ou seja, estados com participação no emprego alta, cujos vizinhos também possuem alta participação, localizados nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. Em relação ao segmento de trabalho intensivo, é identificado clusters AA apenas nos estados do Rio de Janeiro e Paraná. Já os clusters BB, ou seja, aqueles onde o estado e seus vizinhos possuem baixa participação do emprego, são registrados para a IT no Pará e no Amazonas, para capital intensivo no Pará e Amazonas, para trabalho intensivo, além destes dois estados, em 1994, em Rondônia e Mato Grosso, e para o segmento recursos naturais intensivos apenas no estado do Pará. Por fim, apenas um outlier do tipo BA é identificado, tanto para a IT quanto para os segmentos, localizado no estado do Mato Grosso do Sul, porém sem efeitos na sua vizinhança.

No tocante ao indicar LISA para a variável do crescimento da participação do emprego estadual entre 1994 e 2004, observam-se clusters do tipo AA para a IT, localizados nos estados do Amazonas, Pará, Mato Grosso e Goiás, para o segmento capital intensivo nos estados do Acre, Amazonas, Rondônia e Mato Grosso, para trabalho intensivo no Mato Grosso e para recursos naturais intensivo no Pará e Mato Grosso. Já os

clusters do tipo BB para a IT é registrado no estado do Rio de Janeiro, para capital

intensivo no Pernambuco e para recursos naturais intensivos no Espírito Santo. Em relação aos outliers do tipo BA, registra apenas um para o segmento trabalho intensivo, localizado no estado do Pará e outro para o segmento recursos naturais intensivos, situado no Maranhão. Finalmente, neste último segmento é identificado um outlier do tipo AB. A identificação destas aglomerações espaciais locais significantes pode estar indicando o surgimento de pólos de crescimento industrial localizados nestas áreas.

As evidências apontadas neste estudo vão ao encontro daquelas destacadas por Silveira Neto (2005). De fato, o trabalho deste autor que usa a base de dados censitária para análise do período de 1950-1985 e a Pesquisa Industrial Anual para o período de 1996-2000, fornecidas pelo IBGE, também registra forte concentração da indústria de transformação nos estados localizados nas regiões Sudeste e Sul do país, tanto quando usa a variável de pessoal ocupado, tanto quando usa o valor da transformação industrial – VTI. Especificamente, quando é observada a análise para o segundo período do estudo, esta evidência ainda permanece válida. Contudo, nota-se a continuação do processo de desconcentração industrial em curso desde a década de 1960, com perda de participação da

região Sudeste, em favor dos ganhos das demais regiões14. Esta tendência à desconcentração é confirmada pela queda do índice de GINI, medido para este período, apesar deste ter apresentado menor valor em relação ao obtido no presente estudo.

Resultados semelhantes também foram registrados por Domingues (2005). As evidências apontadas para o ano de 2000, com o uso do VTI dos estados brasileiros, novamente, como esperado, revelam alta concentração industrial na região Sudeste, especialmente, no estado de São Paulo. O estudo deste autor identifica também aglomerações industriais espaciais - AIE, através da utilização de estatísticas espaciais aplicáveis aos VTIs municipais. Os resultados mostram que existem poucas AIEs e que são fortemente concentradas no território brasileiro, restritas, especialmente, a áreas metropolitanas do país.

14 A única diferença, neste ponto, é que o estudo do autor registra perda de participação industrial, em relação

4. NÍVEIS E PADRÃO DA CONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL NO BRASIL: