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Principal atividade na unidade e maior fonte de renda nas unidades pesquisadas

CAPÍTULO 3 ITAPEJARA D´OESTE – CARACTERÍSTICAS TERRITORIAIS E

3.3 Formação e características territoriais da comunidade Palmeirinha – Itapejara D‟Oeste

3.3.2 Principal atividade na unidade e maior fonte de renda nas unidades pesquisadas

Uma característica importante observada nas unidades pesquisadas é que nem todas têm na principal atividade interna a maior fonte de renda da família.

A agricultura convencional aparece como a principal atividade interna em 26 unidades pesquisadas, representando 43,3% das 60, perceptível no Gráfico 8. A baixa utilização de força de trabalho combinada com a utilização de máquinas são características do desenvolvimento da agricultura em grande parte das unidades pesquisadas.

Apesar do custo elevado na utilização de insumos e dos investimentos necessários mesmo para unidades pequenas, a possibilidade de desenvolvimento de outras atividades, tanto na unidade quanto fora, contribui para que a agricultura continue sendo desenvolvida. Dessa forma, nem sempre a agricultura convencional aparece como a maior fonte de renda da família, mesmo sendo a principal atividade desenvolvida na unidade de produção.

Gráfico 8: Principal atividade interna nas unidades pesquisadas.

Das 26 unidades que declaram a agricultura convencional como principal atividade interna, a mesma é a principal fonte de renda em 10 ou 38,4% das famílias, em 8 ou 30,7% das famílias, a maior fonte de renda e o trabalho assalariado urbano.

Em 6 das 26 famílias, aposentadorias/pensões representam a principal fonte de renda. A pecuária leiteira e outras atividades aparecem em 1 família cada como principal fonte de renda, tendo a agricultura como principal atividade na unidade. Esses dados são mais perceptíveis no Gráfico 9.

Gráfico 9: Principal fonte de renda de unidades que tem na agricultura a principal atividade interna.

Fonte: Trabalho de campo. Org. Musatto, R.M. 2015.

Nota-se, assim, a presença de unidades em que as atividades agrícolas não aparecem como principal fonte de renda da família, apesar de ser a principal atividade interna, sendo considerada somente como um suporte econômico.

Um exemplo é a unidade número 33, a família da entrevistada, a senhora Mari Rosana, 46 anos, tem no trabalho assalariado a principal fonte de renda. Ela trabalha em uma indústria de confecção localizada na própria comunidade. Além disso, na unidade é desenvolvida a pecuária leiteira pelo marido e filho da entrevistada, sendo a principal atividade interna.

O local destinado à agricultura é arrendado devido, principalmente, ao tamanho da área, considerada pequena, 2 alqueires, e pela família não possuir máquinas próprias para a realização da atividade agrícola, o que, segundo a entrevistada, dificulta sua realização pelos próprios familiares: “É mais fácil arrendar porque não temos trator e o pedaço de plantio é pequeno, não compensa plantar, é muito caro o plantio de soja e milho”.

Essa unidade é um exemplo de diversificação das fontes de renda apresentadas na classificação das unidades de produção no capítulo 1, referente às diferentes formas de organização das atividades econômicas. Características como a presença do trabalho assalariado e a perda de importância das atividades agrícolas se fazem presentes.

De acordo com a classificação tipológica proposta por Candiotto (2007) e apresentada no capítulo 2, essa unidade se enquadraria na situação 5, em que, apesar do desenvolvimento de atividades agrícolas internas, ocorre a combinação com o trabalho assalariado fora da unidade em outro setor econômico.

Outros casos em que a atividade agrícola perde importância econômica ocorrem devido à baixa utilização de força de trabalho. A agricultura libera mão de obra para outras atividades, deixando de ser a principal fonte de renda familiar.

É o caso da unidade pesquisada número 60, onde o senhor Celso, 51 anos, e a esposa, senhora Zeli, também com 51 anos, habitam (Foto 6). De acordo com os entrevistados, a principal fonte de renda da família é o trabalho não-agrícola de Celso. Com rendimento médio em torno de R$ 2.300, o trabalho de Celso como motorista de transporte de funcionários, segundo o mesmo, é “mais atraente e garantido do que o plantio de soja. É um dinheiro certo e não precisa abandonar a lavoura”.

FOTO 6: Local de moradia com família pesquisada n. 60. Celso e Zeli entrevistados em seu local de moradia, na imagem ainda antiga residência do casal.

Nessa unidade, a agricultura se apresenta como principal atividade interna, o que, de acordo com o entrevistado, por não ocupar muito tempo de trabalho, continua sendo desenvolvida e ao mesmo tempo permite trabalhar como motorista.

Além da agricultura, o casal ainda desenvolve pecuária em uma área da unidade, apesar de não ser expressiva em termos de receita financeira, e pequenos cultivos de verduras, feijão, mandioca e outros para o complemento da alimentação.

Ocorre, portanto, na unidade o desenvolvimento de atividades agrícolas com baixa utilização de mão de obra, possibilitando a liberação de força de trabalho para atividade não-agrícola externa.

Ainda há casos de perda de importância econômica das atividades agrícolas, situações em que, devido à insustentabilidade, a família complementa a renda fora da unidade, muitas vezes arrendando a área destinada à agricultura.

Esse é o caso da unidade pesquisada número 50, onde o senhor Alcides 57 anos e a família habitam. A principal fonte de renda declarada pela família é a aposentadoria da esposa, a senhora Joana, de 58 anos. O trabalho não-agrícola se faz presente esporadicamente, quando o entrevistado declara ter na construção civil um complemento da renda familiar.

O senhor Alcides trabalha informalmente como carpinteiro na comunidade e até mesmo na cidade de Itapejara D‟Oeste esporadicamente. A área destinada às atividades agrícolas da unidade encontra-se arrendada, segundo ele, devido principalmente à falta de máquinas, o elevado custo de investimentos necessários e o tamanho da propriedade, que não compensaria e não seria suficiente economicamente para a família.

Percebe-se, assim, as combinações entre atividades agrícolas e não-agrícolas se manifestando no território pesquisado. Combinações essas compreendidas como consequências de fatores territoriais que provocam alterações no campo, tanto nas formas de produção quanto na organização social. Mudanças principalmente devido à modernização agrícola.

Entrelaçam-se no território pesquisado dinâmicas como práticas agrícolas convencionais modernizadas interagindo com formas tradicionais de agricultura, em alguns casos levando famílias a diversificarem suas fontes de renda com atividades não-agrícolas.

Sendo assim, analisam-se, além de fatores externos, estratégias internas das unidades para compreender o desenvolvimento da pluriatividade na agricultura familiar de Palmeirinha, Itapejara D‟Oeste.

3.4 Características internas de unidades de produção e desenvolvimento de