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Setores de inserção de agricultores familiares pluriativos

CAPÍTULO 3 ITAPEJARA D´OESTE – CARACTERÍSTICAS TERRITORIAIS E

3.4 Características internas de unidades de produção e desenvolvimento de pluriatividade na

3.4.3 Setores de inserção de agricultores familiares pluriativos

A indústria é o principal destino dos agricultores familiares pluriativos entrevistados. São 12 famílias com pelo menos um membro se inserindo como trabalhador assalariado na indústria. O destaque é o frigorífico Agrogen, localizado

próximo à cidade de Itapejara D‟Oeste, onde se inserem alguns agricultores das famílias pesquisadas.

É o caso da unidade pesquisada número 36, onde o senhor Ivanir, 39 anos, e a senhora Roseli, 30 anos, habitam (Foto 9). Ambos trabalham no frigorífico abatedouro de frango da Agrogen. Quando questionados sobre o principal motivo que os levam a trabalhar fora da unidade, declaram o tamanho da unidade como o principal: “Pouca terra para plantar e muita dificuldade de sobrevivência apenas com plantio de soja e milho”. Ivanir se diz acostumado com o trabalho na empresa devido ao tempo de atuação na mesma, mais de 10 anos.

Além do casal, os pais de Ivanir habitam na unidade em moradia ao lado, tendo a aposentadoria como base de renda. Na unidade, a principal atividade desenvolvida é pequeno plantio somente para o complemento da alimentação.

Quando questionados sobre uma possível saída da unidade para morar na cidade, ambos afirmam que não têm intenção e que preferem a tranquilidade do local e a possibilidade de realizar pequenos plantios para a alimentação como fatores de permanência na unidade.

FOTO 9: Residências na unidade pesquisada n. 36.

FONTE: Arquivo pessoal do autor: Pesquisa a campo realizada no dia 8 de outubro de 2015.

Na família, portanto, ocorre o desenvolvimento de trabalho assalariado na indústria como principal fonte de renda; o desenvolvimento de atividades agrícolas na unidade é realizado somente para complemento da alimentação.

O comércio aparece em 7 famílias pluriativas pesquisadas como o local de trabalho de algum membro assalariado. São famílias em que, geralmente, apenas uma pessoa trabalha no comércio e em algumas situações ocorrem combinações com outros membros familiares em outros setores. Os principais setores de trabalho dos agricultores pluriativos pesquisados são apresentados na tabela a seguir.

Tabela 14: Local de trabalho de agricultores pluriativos.

Famílias Membros/Total Na unidade 2 4 Outra unidade 7 10 Indústria 12 14 Comércio 7 9 Construção civil 3 3 Setor público 7 8 Outros 3 3

Fonte: Trabalho de campo. Org. Musatto, R.M. 2015.

De acordo com a Tabela 14, em 7 famílias existe pelo menos um membro vendendo a força de trabalho para outra unidade de produção agrícola como forma de diversificação das fontes de renda.

Em geral, o trabalho remunerado em outra unidade agrícola não apresenta situações de formalidade nas relações de trabalho como predominantes, exceto em aviários de frango, onde a mão de obra contratada é definida a partir das normas trabalhistas. Porém, as demais situações configuram-se como trabalhos informais, temporários e pouco remunerados, caracterizando uma situação de complemento de renda por parte dos agricultores pluriativos que vendem a força de trabalho em unidades mais capitalizadas.

Um exemplo de trabalho remunerado em outra unidade agrícola é perceptível na entrevista número 59 (Foto 10). O senhor Isaias 28, anos de idade, declara trabalhar esporadicamente em unidades próximas, sem salário fixo e sem carteira assinada.

De acordo com Isaias: “O trabalho por dia serve para ajudar nas despesas da casa. A vantagem é que dá pra trabalhar quando mais precisa só, quando não tem serviço aqui na propriedade”. Ele não procura outros setores, onde poderia trabalhar com carteira assinada, justamente pela possibilidade de, quando necessário, dedicar-se somente às atividades internas da própria unidade.

O senhor Isaias e a esposa habitam a unidade juntamente com 2 filhos. Na mesma unidade ainda habitam a mãe de Isaias, a senhora Eva, 65 anos, e mais 3 filhas em outra moradia cuja aposentadoria representa a principal fonte de renda.

A produção de vassoura, de acordo com Isaias, é a principal atividade interna e também a maior fonte de renda para sua família. Porém, o trabalho remunerado esporádico em outras unidades representa uma situação de complemento de renda, pois não seria possível uma sobrevivência somente com a venda de vassouras.

Na unidade em questão ocorre, portanto, a combinação de atividades agrícolas, confecção e venda de produtos manufaturados e trabalho remunerado esporádico em unidades próximas.

FOTO 10: Residências na unidade pesquisada n. 59.

FONTE: Arquivo pessoal do autor: Pesquisa a campo realizada no dia 16 de outubro de 2015.

O trabalho remunerado, conforme Isaias, é realizado esporadicamente em unidades próximas, geralmente em períodos de colheita de feijão e soja, além de limpeza de pastagem e outras atividades.

O entrevistado relata ainda que os dias que trabalha fora são intercalados com o trabalho interno, no cultivo e confecção de vassouras, sendo que o produto pronto é vendido diretamente no comércio e/ou individualmente através da oferta nas ruas da cidade.

Outras situações de inserção nas ocupações de agricultores em atividades não-agrícolas como funcionários públicos aparece em 7 famílias entrevistadas como alternativa de renda em que pelo menos um membro se insere.

Em 2 famílias entrevistadas, a condição de empregados na unidade foi verificada; são unidades que desenvolvem avicultura como atividade econômica. Essas famílias, por mais que não tenham a posse da propriedade, desenvolvem pequenos

cultivos para o complemento da alimentação e têm no trabalho assalariado a principal fonte de renda, constituindo assim casos de pluriatividade.

Dessa forma, os locais de trabalho dos agricultores pluriativos entrevistados apresentam-se de acordo com a organização da Tabela 14.

Tendo na indústria um importante destino para os agricultores pluriativos, torna-se considerável no território pesquisado a influência de fatores externos à unidade como influentes para ocorrência ou intensificação da pluriatividade na agricultura familiar.

A possibilidade de inserção como trabalhador assalariado na indústria é possível a partir da atuação da mesma no território. Evidenciando assim no território pesquisado os apontamentos teóricos de Elias (2006), (2013), quando considera a industrialização difusa no território nacional como possibilidade de oferta de postos de trabalho próximos a locais onde a agricultura familiar se faz presente como um fator que altera a atuação e organização da mesma.

No território de Itapejara D‟Oeste, nota-se a presença de indústria que tem como base a produção agrícola, no caso da Agrogen, o que evidencia as ligações das atividades agrícolas e indústria como decorrentes das dinâmicas apontadas por Silva (1998), (2002), quando da constituição dos complexos agroindustriais.

Além disso, a própria transformação da agricultura evidenciada em Santos (2008), influenciando na organização e contribuindo para a incorporação de agricultores familiares ao trabalho não-agrícola em setores urbanos, é dinâmica territorial perceptível na comunidade de Palmeirinha e apresentada a partir dos dados e entrevistas realizadas.