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Transformação Das Funções Atribuídas À Reclusão – Da Punição à

Reeducação

Para enquadrar o surgimento e desenvolvimento da Formação Profissional no

contexto prisional torna-se imperativo perceber a Prisão em todas dimensões e analisar a sua

evolução e contextualização históricas. Segundo Gonçalves (2000) a prisão foi conhecendo

diferentes conceitos ao longo dos tempos, desde logo pelos tipos de castigos aplicados nas

diferentes épocas históricas e culturais: “torturas e suplícios; o exilio; a deportação; a pena

de morte, os trabalhos forçados e a privação da liberdade”. O mesmo autor refere, ainda,

que a prisão se define como sendo o resultado de um “processo político de controlo e

segurança interna do grupo social, que coloca o condenado como alguém que,

simultaneamente, é objeto de submissão ao poder punitivo e, sobretudo, é exemplo didático

para o povo, tal qual garante da lei e do poder” (Gonçalves, 2000:138).

Na sua origem, a prisão assume-se como “um dispositivo penal, produto da

interligação entre a lei e o poder”, que pretende aplicar uma forma de “punição” produto de

uma “ideologia que veicula a necessidade de identificar e punir o desvio de acordo com o

princípio de uma “ortopedia corretiva”, fundamentada de acordo com as repercussões

“ideológicas, da época histórica vigente, na religião, na moral, na sociedade e também no

saber intelectual dominantes” (Idem:137).

Esta descrição diz-nos muito do peso que estas instituições representam nas nossas

sociedades apoiando no combate à criminalidade. Das nossas pesquisas, concluímos que a

punição foi-se adequando aos tempos, uma vez que inicialmente o condenado estava

desprovido de todo e qualquer direito, até que no século XVIII se observam movimentos de

devolução da “humanidade” ao condenado independentemente do seu crime (Ibidem).

A prisão enquanto “organização/instituição” apresenta-se com um objetivo social

muito “particular” e é identificada pelo autor como uma “instituição total”, espaço que

permite controlar a “exclusão, criando a dicotomia e a etiquetagem (…) criminoso/não

criminoso” (Ibidem). Gonçalves (2000:143), citando Goffman, define a instituição total

como “um local de residência e trabalho onde um grande número de indivíduos, separados

da sociedade por um período de tempo considerável, levam em conjunto, uma vida fechada

e formalmente administrada”.

Nesta perspetiva avança ainda com quatro características destas instituições totais:

primeiro, a vida do indivíduo que é toda conduzida “no mesmo local e sob a mesma

autoridade”; segundo, todas as “atividades diárias” são realizadas para todos com todos e

da mesma forma; terceiro, as atividades são previamente “escalonadas” seguindo um

conjunto de regras conferidas e fiscalizadas pelos guardas prisionais; por último, estas

atividades obedecem a um “plano racional que traduz o completo cumprimento dos

objetivos oficiais da instituição” (idem).

A prisão: o caso Português

No panorama português verificam-se alterações nos sistemas penais, desde logo a

melhoria das condições das prisões e até mudanças significativas dos objetivos para a

reclusão. Para se compreender as evoluções no regime jurídico português recorremos à Lei

n.º 115/2009 de 12 Outubro, publicada em Diário da República Eletrónico

15

, que Aprova o

Código da Execução das Penas e Medidas Privativas da Liberdade, e aí destacamos alguns

pontos elementares para a compreensão do nosso objeto de estudo;

“artigo 5.º - Individualização da execução – ponto 2, o tratamento prisional consiste no conjunto de actividades e programas de reinserção social que visam a preparação do recluso para a liberdade, através do desenvolvimento das suas responsabilidades, da aquisição de competências que lhe permitam optar por um modo de vida socialmente responsável, sem cometer crimes, e prover às suas necessidades após a libertação”.

Ainda devemos sublinhar a importância de conhecer os direitos e deveres do recluso

que no campo da (re) educação deve, segundo o artigo 7, alínea h) ter direito “a participar

nas atividades laborais, de educação e ensino, de formação, religiosas, sócio -culturais,

cívicas e desportivas e em programas orientados para o tratamento de problemáticas

específicas” que lhe permitam a sua preparação para o futuro (cf. anexo 8).

A Lei n.º 115/2009 de 12 Outubro já foi objecto de três actualizações, pela Lei

33/2010 de 2 de Setembro

16

, Lei 40/2010 de 3 de Setembro

17

e a Lei 21/2013 de 21 de

Fevereiro

18

, pelo que é necessário estar dentro do actual quadro normativo.

15Anexo 8 - Lei n.º 115/2009 de 12 Outubro http://www.dre.pt/pdf1s/2009/10/19700/0742207464.pdf

16Cf. Anexo 20 - 1.ª alteração que regula a utilização de meios técnicos de controlo à distância (vigilância electrónica).

17Cf. Anexo 21 - 2.ª alteração que aprova o Código da Execução das Penas e Medidas Privativas da Liberdade e 26.ª alteração do Código penal.

Importa contextualizar que a Direção Geral dos Serviços Prisionais (DGSP) foi

extinta, tendo sido criada pelo Decreto-Lei n.º 215/2012, de 28 de Setembro, a Direção Geral

de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP), com a Portaria n.º 118/2013, de 25 de Março

de 2013, que englobou a DGSP e a DGRS.

A emergência de novas figuras profissionais: Os Técnicos Superiores

de Reeducação

19

(TSR)

Num ambiente complexo como é o dos Estabelecimentos Prisionais, estes técnicos

de educação vêm a carreira revalorizada por força do Decreto-Lei n.º 346/91 de 18 de

Setembro, exercendo, dentro do quadro funcional do EP diferentes funções, que destacamos

a dos serviços de Educação e Ensino.

Segundo conversas informais com um TSR percebemos, pelo seu testemunho, a

dimensão real das suas actividades no atendimento/acolhimento dos reclusos na entrada para

o EP, onde se procura recolher o máximo de informação possível,

“sobre o seu percurso de vida (…), sobre quaisquer problemas de saúde, sobre o agregado familiar (existência de menores ou idosos a seu cargo) e onde também é dado a conhecer ao recluso os seus direitos, bem como as suas obrigações enquanto permanecerem neste EP” (Cf. anexo 13).

É nossa convicção que os TSR são fundamentais pela articulação que desempenham

entre os reclusos e os diferentes departamentos do EP. Segundo estes, a organização do seu

dia-a-dia está distribuída em dois momentos, todas as tardes realizam atendimento nas Alas

Prisionais, das 14:00h às 17:30h, e durante as manhãs procedem aos registos no Sistema de

Informação Prisional

20

(SIP), tratam questões que emergem do atendimento, elaboram

relatórios, fazem assessoria aos tribunais, emitem pareceres sobre os reclusos, realizam as

avaliações, tratam do Plano Individual de Readaptação

21

(PIR), sempre que necessário

contactam as famílias, entre outras funções.

19Anexo 9 – Decreto Lei n.º346/91 de 18 Setembro que regula a carreira do Técnico Superior de Reeducação

20Segundo conversas com o TSR, o Sistema de Informação Prisional (SIP), é uma aplicação informática da DQRSP, onde regularmente procedem ao registos dos atendimentos que realizam, bem como se podem aí consultar informações respeitantes a diversas dimensões do recluso.

21Segundo o DL346/9, e de conversas informais tidas com o TSR, o Plano Individual de Readaptação (PIR) é elaborado tendo por base o levantamento de necessidades por áreas específicas e do seu diagnóstico, que ocorre em resultado da avaliação do recluso (feita à entrada). Este PIR é realizado com o recluso e firma alguns objetivos a alcançar, as ações a desenvolver, assim como o tempo previsível para a sua aplicação e os recursos necessários à sua concretização, como está definido pela lei: “é uma espécie de contrato entre as partes - Decreto-Lei n.º 51/2011 de 11 de Abril, artigo n.º69”.

Da nossa experiência, compreendemos que o papel do TSR no contexto prisional

deve integrar, por um lado, um trabalho social de intervenção e de resolução de problemas,

mobilizando competências de mediação, de compreensão da realidade social, das

necessidades reais dos sujeitos reclusos, contrabalançando-se com as diretivas impostas pelo

sistema de reclusão, por outro, o trabalho educativo/formativo fortemente conduzido pela

necessidade de uma mediação de proximidade com os sujeitos, procurando dar resposta às

suas aspirações de realizações pessoais e profissionais para o futuro.

A evolução da População Prisional em Portugal

Em dados disponibilizados no portal da Direcção-Geral de Reinserção e Serviços

Prisionais (DGRSP), pelo departamento da Direção de Serviços de Planeamento e Relações

Externas, verificamos que a população reclusa existente no segundo trimestre de 2012

fixava-se em 10.243 homens de nacionalidade portuguesa (destes, 8752 têm até 49 anos de

idade); 2487 homens estrangeiros (destes 2277 têm até 49 anos de idade); 579 mulheres de

nacionalidade portuguesa (destas 471 têm até 49 anos de idade); 181 mulheres estrangeiras

(destas 155 têm até 49 anos de idade) (cf. anexo7).

Analisando alguns dos dados disponibilizados, a população prisional que se situava

em 2009 nos 11.099 reclusos estava no segundo trimestre de 2012 nos 14.490 reclusos

(destes, 2.635 são preventivos), evidenciando-se aqui uma evolução crescente do número de

reclusos nas prisões portuguesas (idem).

Desta análise documental destacamos um quadro resumo de toda a população em

situação de reclusão, com a informação das “Habilitações literárias dos reclusos por sexo e

nacionalidade”

22

que nos revela alguns números significativos: “1º Ciclo Ensino Básico (1º,

2º, 3º e 4º anos): 3.911; 2º Ciclo Ensino Básico (5º e 6º anos):3.359; 3º Ciclo Ensino Básico

(7º,8º e 9º anos): 3.226”, permitindo perceber que ainda existe a necessidade proporcionar a

muitos indivíduos em situação de reclusão a possibilidade de elevação dos seus níveis de

escolarização, atendendo ao que constitui hoje no contexto português a escolaridade

obrigatória (12º ano) (Ibidem).

O Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira

O Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira (EPPF) foi inaugurado no ano de

1957, é um EP de segurança alta

23

para homens e segundo o Relatório de atividades de

2010

24

publicado pelo Ministério da Justiça no site da extinta Direção Geral dos Serviços

Prisionais, “o Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira ficou, após separação do

Estabelecimento Prisional do Vale do Sousa, com lotação para 548 reclusos”, sendo que

alberga atualmente (em meados de 2013), aproximadamente 640 reclusos (segundo a direção

do EPPF). O EPPF comporta a zona prisional, constituída por duas Alas, A e B, Enfermaria,

Sector Disciplinar, Secção de Segurança, sector oficinal e uma zona extramuros, com

oficinas e área agrícola/pecuária. Na sequência do definido no Plano de Pormenor de 2009,

foi aberta a nova sala de visitas, ficando assegurada a entrada diferenciada de visitantes e

funcionários/entidades. Esta sala permite aos visitantes aguardarem pela entrada no EP em

condições de conforto adequadas. Desde Novembro de 2009 que está organizado por duas

alas independentes que possuem acesso direto ao refeitório, equipadas com bar e cantina,

com celas individuais para dois reclusos e camaratas para quatro reclusos.

O espaço físico do EPPF é composto pelo edifício da portaria, que tem ligação para

um espaço interior, flanqueado por dois edifícios, um do corpo de segurança e outro dos

serviços administrativos. No seu interior temos quatro blocos de três andares onde estão

alojadas as celas, que se designam de alas A e B e que incluem também outros espaços

indispensáveis para o funcionamento do EP. Inclui, também, dois espaços ao ar livre

organizados para as práticas de desporto.

Os processos de Educação e Formação acontecem num dos blocos da ala B onde

funcionam cursos como de pintura, eletricidade, embutidor, olaria e informática entre outros.

Trabalham ainda neste bloco a sapataria e o artesanato e ainda aí está alojado o ginásio para

os reclusos. O estabelecimento prisional tem ainda um espaço reservado para a escola, tendo

esta sido remodelada no ano letivo de 2009-2010, implantada num espaço aberto entre os

blocos da ala B, ocupa dois edifícios com 12 salas de aula, uma sala para os alunos e

23 Portaria n.º13/2013 de 11 de Janeiro que classifica os Estabelecimentos Prisionais em função do nível de segurança e do grau de complexidade de gestão (Anexo 5)

instalações sanitárias, contando com um outro edifício, também remodelado, que alberga a

sala dos professores, o gabinete do guarda e mais duas salas de apoio

25

.

Na direção do EPPF, temos um Diretor e três Adjuntos, sendo que um dos adjuntos

acumula a função de substituto legal do director, apoiados por: - “técnico superior 2; técnico

superior de reeducação 8; assistentes técnicos 17; assistentes operacionais 9; pessoal

médico 2; pessoal de enfermagem 8, mais 1 a exercer funções de médico dentista; assistente

religioso 1; pessoal de vigilância 181”, segundo informação recolhida no gabinete Adjunto

para o Tratamento Prisional do EPPF.

A Educação e Formação Profissional na Prisão: o contexto português

Segundo a Declaração Universal dos Direitos do Homem

26

, artigo 26, o direito à

educação é um direito universal que pertence a cada pessoa. Muito embora esta seja uma

realidade assumida pelos Estados, devendo por isso, a educação estar acessível a todos, no

entanto, alguns grupos ainda estão privados deste bem fundamental, como as pessoas com

necessidades educativas especiais, os idosos, os refugiados, as minorias étnicas, os reclusos,

entre tantos outros. Estas minorias deveriam ter o acesso garantido a programas educativos

que visem as respostas necessárias à participação ativa na sociedade e a sua consequente

integração. Por conseguinte, todos estes cidadãos no uso pleno dos seus direitos devem ser

orientados para que possam beneficiar da educação, que possa responder às diferentes

necessidades educativas que apresentam.

O nosso sistema jurídico, como já referimos, tem por base a Lei n.º 115/2009 de que

aqui destacamos do capítulo I, o artigo 38º, sobre o Ensino e formação profissional, que nos

clarifica o Ensino e a Formação Profissional no plano normativo jurídico-prisional, que

garante um conjunto de procedimentos e pressupostos a serem seguidos pelos diferentes

intervenientes neste processo:

“1 — O ensino organiza -se em conexão com a formação profissional e o trabalho, de modo a promover condições de empregabilidade e de reinserção social, no quadro das políticas nacionais de educação e de emprego e formação de adultos; 2 — (…); 3 — Deve promover-se a frequência pelo recluso de outros níveis de escolaridade, designadamente através do recurso a meios de ensino à distância; 4 — Ao recluso com necessidades educativas especiais é garantido o apoio que lhe permita aceder ao ensino

25 No período em que coordenámos a formação neste EP, dele fazia parte um outro edifício - os Pavilhões Complementares (PC) -, inaugurado em 2003, com a capacidade para admitir 300 reclusos, no entanto estes PC foram alienados do EPPF em 2009, passando a ser um EP independente com a designação de Estabelecimento Prisional Regional do Vale de Sousa (EPRVS).

26 Fonte: Centro dos Direitos do Homem das Nações Unidas, publicação GE.94-15440.

em condições idênticas às dos restantes reclusos; 5 — (…); 6 — Dos certificados de habilitações ou diplomas não pode resultar a condição de recluso; 7 — Os ministérios responsáveis pelas áreas da educação e do ensino superior asseguram as atividades de ensino nos estabelecimentos prisionais, nos termos da lei”.

São visíveis medidas para o contexto prisional que apontam à reinserção social pela

formação e pelo trabalho, bem como a importância atribuída à FP e às suas modalidades

implementadas, como refere o artigo 40.º, sobre Formação Profissional, da mesma lei:

“1 — Nos estabelecimentos prisionais são desenvolvidas acções de formação e aperfeiçoamento profissionais que, considerando as necessidades e aptidões do recluso, privilegiem a sua empregabilidade; 2 — A organização da formação profissional enquadra--se nas políticas nacionais de educação e formação de adultos e tem em conta os recursos existentes nos estabelecimentos prisionais em matéria de trabalho e de desenvolvimento de actividades produtivas; 3 — Na organização da formação profissional atende-se especialmente às necessidades específicas dos reclusos jovens ou com necessidades educativas especiais; 4 — A frequência assídua de acções de formação e de aperfeiçoamento profissionais considera-se tempo de trabalho, sendo atribuída ao recluso uma bolsa de formação, nas condições e termos fixados na lei e no Regulamento Geral; 5 — O aproveitamento, a assiduidade e o comportamento nas acções de formação e de aperfeiçoamento profissionais são tidos em conta para efeitos de flexibilização da execução da pena; 6 — Dos certificados de frequência de acções de formação e aperfeiçoamento profissionais não pode resultar a condição de recluso”.

Da análise deste conjunto de dimensões é possível verificar que procura-se assegurar

a empregabilidade futura, enquadrada nas políticas nacionais e nos recursos existentes,

atendendo às características dos sujeitos, onde se prevê a atribuição de uma bolsa, com

enfoque nos valores do trabalho, comportamento e assiduidade para efeitos de flexibilização

da execução da pena, com o objetivo de promoção da “reinserção social ao serviço dos

reclusos”.

Consultando a página da Direção Regional dos Serviços Prisionais

27

(DGSP)

percebe-se que

“a formação profissional assume especial relevo como instrumento promotor da reinserção social dos reclusos e consequente prevenção da reincidência. A fim de atingir este objetivo, a oferta da formação é constantemente redefinida e reprogramada de forma a responder, quer às constantes mutações do contexto prisional, quer às exigências do mercado laboral”.

Dentro desta complexidade, a elaboração de um plano de formação profissional é

alicerçada num diagnóstico que leva em linha de conta as necessidades de aprendizagem da

população reclusa e a sua rentabilização em meio prisional e, sobretudo, no meio livre. Estes

objetivos definidos pela DGSP, na nossa opinião estão desajustados, dado que não se

conseguem refletir totalmente no terreno porque nem sempre alcançam as respostas

concretas às especificidades de cada local, nem conseguem perceber todas as necessidades

formativas da população reclusa. Reconhecemos que no contexto de reclusão a desejada

aproximação para perceber as necessidades dos reclusos seria, talvez, contra corrente com o

sentido de cumprimento da pena.

Quando estão concretizadas as escolhas dos eixos e das áreas formativas a

desenvolver, são sujeitas a concurso público para serem selecionadas as entidades que devem

cumprir uma série de requisitos legais, e aqui entramos no processo de organização dos

processos de formação. A tendência inicial que antecede estas escolhas, como já referimos

a propósito da nossa experiência, será a de rentabilizar os espaços disponíveis para que possa

dar respostas às necessidades internas de cada EP. Cronologicamente, para a preparação do

arranque de uma ação de formação: i) é dado a conhecer o tipo de ação a desenvolver e os

seus objetivos através dos canais internos de cada EP, ii) para que os adultos se possam

inscrever; iii) realizam-se as entrevistas individuais aos possíveis candidatos, (alguns podem

já ter sido sinalizados pelos técnicos do EP); iv) segue-se a constituição do grupo de

formandos; v) paralelamente seleciona-se a equipa de formadores e dá-se início ao curso de

formação.

Uma boa parte da nossa experiência com os Cursos EFA foi sendo desenvolvida nos

EP com uma população inteiramente masculina. Esta modalidade de formação foi seguida

de acordo com os referenciais da ANEFA e posteriormente da ANQ. Este sistema de

formação, como já explicámos, tem dupla certificação, incluindo as áreas de base e a

formação tecnológica - as Unidades de Formação de Curta Duração (UFCD) específicas de

cada uma das áreas a desenvolver

28

.

O contexto onde se desenvolvem é, sem dúvida, um contexto diferente do que se

pode encontrar em outros locais e, claro que o facto de se desenrolar num estabelecimento

prisional, apresenta as naturais dificuldades na gestão diária dos problemas. Desde logo,

somos confrontados com a falta de contato imediato com o exterior (por exemplo, o nosso

portátil e telemóvel não nos acompanham diariamente), os recursos mais simples, nestes

locais, têm um valor diferente, faltam, não estão acessíveis a qualquer instante numa

qualquer papelaria ou prateleira, acentuando a condição de se estar num sistema fechado ao

exterior.

Formar e Intervir

28Ao longo da nossa experiência, fomos acompanhando Cursos de Qualificação, Cursos EFA-B2 e Cursos EFA-B3, em áreas muito diversas como: Construção Civil; Carpintaria; Embutidor Entalhador; Eletricidade; Serralharia; Informática; entre outros.

Resultado da nossa experiência podemos afirmar que a Formação Profissional (FP)

assume-se, como porta de entrada entreaberta para a vida ativa. Correia (1997:4) sublinha as

relações entre formação e trabalho, onde a formação se assume enquanto instância de

“socialização profissional” e como mecanismo de regulação social, logo é indispensável

continuar a pensar a formação de dentro e ajustada às necessidades atuais.

Já Coimbra (2001) defende que a (re)entrada no mercado de emprego está

dependente do domínio das competências técnicas específicas, do desenvolvimento no

indivíduo de competências pessoais e transversais. São ideias com as quais concordamos,

dado que as empresas/organizações cada vez mais procuram que os seus ativos possuam

competências técnicas e que estejam aptos a se desenvolverem. Num sentido mais amplo, a

formação visa o desenvolvimento do indivíduo promovendo as fundamentais competências

técnicas (de ordem tecnológica) e sociais (a capacidade para trabalhar em grupos…).

Nesta linha, podemos afirmar que a formação nos contextos prisionais persegue uma

linha socializadora do indivíduo e pretende, igualmente, ser o reencontro com a educação

procurando transmitir não só os conhecimentos técnicos, como os hábitos de trabalho numa

preparação para a desejada reinserção social. Os seus efeitos não são imediatos porque o

formando, nestes contextos, opera sob diferentes formas de estar, no que diz respeito às

relações com os colegas, com a equipa pedagógica, com o corpo de segurança e com a