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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 197 REFERÊNCIAS

1.1 PROBLEMA DE PESQUISA

Embora a investigação na área da alfabetização financeira venha aumentando ao longo dos anos, existe ainda pouca consistência na forma como a mesma é definida e mensurada, uma vez que vários autores abordam o tema de forma distinta, atribuindo-lhe diferentes conotações e maneiras de mensuração (FERNANDES; LYNCH; NETEMEYER, 2014). Além disso, vários estudos têm destacado o uso ambíguo da alfabetização financeira. Huston (2010) apresentou um resumo da vasta gama de medidas de alfabetização financeira utilizadas na última década, incluindo as definições da mesma e descobriu que os termos de alfabetização financeira, do conhecimento financeiro e da educação financeira são frequentemente usados como sinônimos.

Da mesma forma, Robb, Babiarz e Woodyard (2012) realizaram uma análise das diferentes definições de alfabetização financeira utilizada na literatura, porém enfatizaram que a falta de uma medida consistente de alfabetização financeira limita a extensão em que os resultados das pesquisas sobre alfabetização financeira podem ser usados para acompanhar as mudanças na alfabetização financeira da população em geral. Com isso, um dos dilemas na análise da alfabetização financeira é o entendimento das diferenças entre esse construto, o conhecimento financeiro e a educação financeira, uma vez que a alfabetização financeira vai

além da ideia básica da educação financeira (MCCORMECK, 2009; HUSTON, 2010; ROBB; BABIARZ; WOODYARD, 2012).

Assim, Huston (2010), Remund (2010) e Robb, Babiarz e Woodyard (2012) destacam que a alfabetização financeira possui uma definição, no entanto, não há nenhum instrumento padronizado para medi-la, concluindo que a mensuração da alfabetização financeira é outra questão complexa. Lusardi e Mitchell (2011) comentam que embora seja importante avaliar como as pessoas são financeiramente alfabetizadas, na prática, é difícil explorar a forma como as pessoas processam as informações financeiras e tomam suas decisões baseadas neste conhecimento e por isso, torna-se difícil a sua correta mensuração.

Além disso, diversas pesquisas têm comprovado relações das variáveis socioeconômicas e demográficas com a alfabetização financeira dos indivíduos (CHEN; VOLPE, 1998; LUSARDI; TUFANO, 2009; MONTICONE, 2010; BOTTAZZI; JAPPELLI; PADULA, 2011; LUSARDI; MITCHELL, 2011; ATKINSON; MESSY, 2012; BROWN; GRAF, 2013; GERRANS; HEANEY, 2014; SARIGÜL, 2014; LUSARDI et al., 2014; BUCHER-KOENEN et al., 2014; SALLEH, 2015; GROHMANN; KOUWENBERG; MENKHOFF, 2015; MESSY, MONTICONE, 2016) e isto faz com que o problema da sua mensuração se torne ainda maior, uma vez que surgem questionamentos de quais dimensões são mais robustas para os diferentes perfis da sociedade.

No entanto, a complexidade da alfabetização financeira vai além da sua mensuração ou da relação com diferentes grupos, ainda há muita incerteza no que tange aos efeitos integrados que esta pode ter quando associada a outros fatores comportamentais, como o materialismo e o comportamento de compras compulsivas, tendo como resultado uma maior propensão ao endividamento. Uma vez que diversos estudos têm considerado que a alfabetização financeira afeta a dívida dos indivíduos, onde o baixo nível de alfabetização financeira está relacionado com encargos de dívida mais elevados, com a ocorrência em taxas maiores e com o aumento da inadimplência (CAMPBELL, 2006; BUCKS; PENCE 2008; GERARDI, GOETTE; MEIER, 2010; DISNEY; GATHERGOOD, 2013; DUCA; KUMAR, 2014), além de impactar diretamente nos comportamentos de compras compulsivas e materialistas (TATZEL, 2002; RUSSELL; BROOKS; NAIR, 2006; RICHINS, 2011; PHAM; YAP; DOWLING, 2012; GARÐARSDÓTTIR; DITTMAR, 2012; ALEMIS; YAP, 2013).

Assim, deve-se considerar que o tema em questão, deve ser compreendido a partir da interdisciplinariedade, buscando suporte nas diversas áreas do conhecimento. Isto ocorre pela multidimensionalidade da alfabetização financeira, que pode possuir relações distintas com os mais diversos aspectos do indivíduo, como os fatores comportamentais, o gênero, a renda, a

escolaridade, entre outros. Em consequência disso, o presente trabalho busca responder à seguinte questão de pesquisa: Qual é o impacto da alfabetização financeira nos fatores comportamentais e quais as diferenças existentes em grupos socioeconômicos e demográficos distintos dos moradores da Mesorregião Centro Ocidental Rio-Grandense?

1.2 OBJETIVO

1.2.1 Objetivo geral

Desenvolver um modelo capaz de identificar o efeito integrado da alfabetização financeira sobre os fatores comportamentais materialismo, compras compulsivas e propensão ao endividamento, além de encontrar as diferenças de alfabetização financeira entre as variáveis socioeconômicas e demográficas.

1.2.2 Objetivos específicos

a) Construir e validar um instrumento para avaliação do nível de alfabetização financeira;

b) Desenvolver um modelo para identificar os efeitos integrados da alfabetização financeira sobre os fatores comportamentais materialismo, compras compulsivas e propensão ao endividamento;

c) Testar a invariância e a diferença de médias (análise multigrupo) da alfabetização financeira, segundo as variáveis socioeconômicas e demográficas.

1.3 JUSTIFICATIVA

A alfabetização financeira tornou-se um elemento importante de estabilidade econômica e financeira, tanto para o indivíduo, como para a economia. Sendo que a ampla evolução do mercado financeiro tem contribuído para as preocupações crescentes sobre o nível de alfabetização financeira dos cidadãos de muitos países. Além disso, a crise financeira de 2008 demonstrou que as decisões financeiras mal informadas podem ter enormes consequências negativas e muitas vezes, são causadas pela falta de alfabetização financeira (LUSARDI, 2015b).

Neste panorama, o que os adultos sabem sobre finanças torna-se importante por causa das muitas responsabilidades financeiras pessoais que os indivíduos assumem ao longo da vida. Uma vez que cada vez mais devem gerenciar orçamentos familiares sujeitos às restrições de renda, comprar produtos e serviços, monitorar contas financeiras, lidar com cartões de crédito e poupar ou investir para um evento futuro, como a faculdade de um filho ou a sua aposentadoria. No entanto, a dificuldade em saber tudo o que uma pessoa deveria conhecer sobre finanças pessoais em um mundo financeiro de constante mudança e cada vez mais complexo é um enorme desafio, mesmo para os adultos mais educados (ALLGOOD; WALSTAD, 2016).

Assim, compreende-se que a falta dessa ferramenta faz com que as pessoas tomem decisões ineficientes, diante dos diversos produtos financeiros ofertados (MITCHELL; LUSARDI, 2015). Uma vez que ser alfabetizado financeiramente torna as pessoas mais informadas acerca de aspectos financeiros e mais capacitadas para decidir, aproveitando as oportunidades ofertadas e identificando os riscos nelas existentes (AMADEU, 2009) e fazendo com que as pessoas tomem decisões mais assertivas diante do uso do dinheiro (JUMP$TART COALITION, 2007; HUNG; PARKER; YOONG, 2009; HUSTON, 2010; ATKINSON; MESSY, 2015; OECD, 2015a).

Corroborando, Atkinson e Messy (2015) ressaltam o fato de que as competências de ser alfabetizado financeiramente não só facilita a inclusão financeira dos indivíduos, como também são vitais para uma efetiva gestão do dinheiro e do planejamento financeiro de longo prazo, além de que tais comportamentos podem melhorar significativamente o bem-estar financeiro. Disney, Gathergood e Weber (2015) também destacam que a alfabetização financeira pode ser vista como fundamental para a tomada de decisão financeira e para a independência financeira.

Além disso, dadas as muitas diferenças de alfabetização financeira entre diferentes grupos socioeconômicos e demográficos, pode ser importante se concentrar naqueles mais vulneráveis e, por exemplo, criar programas direcionados a estes grupos. Ademais, com a disponibilidade de dados sobre alfabetização financeira, também é possível explicar melhor as causas e consequências do analfabetismo financeiro e essa informação, por sua vez, pode auxiliar a enriquecer o quadro para estudar a tomada de decisão financeira (LUSARDI, 2015a).

Apesar dessa importância, ainda não há estudos que comprovem os efeitos integrados que a alfabetização financeira pode ter quando associada a diferentes fatores comportamentais, como o indivíduo com comportamentos de compras compulsivas e

materialistas, e o quanto isso impacta de forma conjunta, na sua propensão ao endividamento. Uma vez que existem estudos que comprovam estas relações de forma isoladas, afirmando que o fato de o indivíduo ser alfabetizado financeiramente diminui o seu comportamento de compras compulsivas e materialista, além da sua propensão a endividar-se (GARÐARSDÓTTIR; DITTMAR, 2012; ALEMIS; YAP, 2013; ACHTZIGER et al., 2015; CAKARNIS; D'ALESSANDRO, 2015).

Assim, espera-se construir e validar um modelo para avaliar os efeitos diretos e indiretos da alfabetização financeira sobre o materialismo, a compra compulsiva e a propensão ao endividamento, gerando um conhecimento mais aprofundado sobre o assunto que ainda é incipiente. Uma vez que a literatura sobre este tema argumenta que a alfabetização financeira seria um conceito multidimensional e ainda não há um modelo consolidado de avaliação do quanto à alfabetização financeira, quando associada a outros fatores comportamentais, pode resultar sobre a propensão ao endividamento, buscando comprovar que o efeito desta pode ser ainda maior do que quando apenas a mensuramos isoladamente.

Além disso, buscar-se-á por meio de proposições apontadas pela literatura do efeito que variáveis socioeconômicas e demográficas possuem nos níveis de alfabetização financeira dos indivíduos e ainda se o modelo de mensuração pode ser o mesmo para diferentes grupos. Assim, o presente trabalho além de inovar no desenvolvimento de um modelo para a análise do papel da alfabetização financeira integrado a outros fatores comportamentais, também analisará as diferenças existentes entre as variáveis socioeconômicas e demográficas na alfabetização financeira.

Tais resultados contribuirão para a construção de modelos de concessão de crédito mais robustos e adequados a cada variável socioeconômico e demográfico, e consequentemente, auxiliar na redução dos níveis de inadimplência da população. Além disso, poderão auxiliar na elaboração de tratamentos para grupos com comportamentos materialistas, compradores compulsivos e com alta propensão ao endividamento. As instituições financeiras também terão a oportunidade de usufruir destas informações a fim de conhecer melhor a alfabetização financeira de seus clientes e construir produtos mais adaptados a cada perfil.