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2.4 O manual de Kanner

2.4.2 Problemas da fala e da linguagem

A eficiência da fala, de acordo com Kanner, dependerá de uma série de fatores o o: a i teg idade de e tas egi es do e o, do apa ato auditi o, dos g os de articulação e fonação, da inteligência e da compreensão de fatores afetivos que influem no it o, a se si ilizaç o e a si olizaç o. KANNER, , p. . Os p o le as ais comuns associados à fala e à linguagem seriam: mutismo, iniciação demorada da fala, transtornos da articulação, transtornos da fonação, transtornos do ritmo (gagueira), transtornos de compreensão e transtornos de simbolização.

Com exceção dos dois últimos tipos, todos os outros transtornos serão analisados por Kanner considerando suas prováveis causas orgânicas, suas relações com os diversos níveis de inteligência e como possível efeito das relações que as crianças estabelecem com os adultos ou outras crianças à sua volta. Desse modo estabelece os critérios de análise que se repetirão ao longo de sua obra. Como veremos, sempre que possível, os quadros clínicos

descritos serão analisados sob os aspectos: orgânico, cognitivo e relacional. Kanner constata que esses quadros apresentam sintomas evidentes, fáceis de detectar suas causas, contudo, devem ser examinados com cuidado para que não se descuide do exame mais abrangente de todos os fatores possivelmente relacionados.

Já os dois últimos grupos de transtornos trabalhados por Kanner nessa seção, transtornos de compreensão e transtornos de simbolização, serão apresentados, contudo, de maneira bem menos conclusiva que os anteriores. O próprio autor menciona a pouca atenção dada a esses transtornos até então. Para os nossos interesses, contudo, será especialmente importante examiná-los, uma vez que, até os dias atuais, situam-se entre os problemas mais comuns associados à aprendizagem e representam um especial desafio para os esforços pedagógicos.

Sob os chamados transtornos de compreensão, encontram-se casos de crianças que apresentam uma incapacidade de compreensão de algumas palavras, que pode ser devida a u a le e su dez o dete tada ou a algu a i apa idade espe ífi a de o ige des o he ida. KANNER, , p. a esses asos ha ou at opelos15 da compreensão

e al . E out os, há o ue de o i ou su dez e al , ue se a a te iza pela incapacidade para compreender o significado das palavras faladas. Entre os dois quadros descritos parece haver uma diferenciação quanto ao grau da dificuldade apresentada. As incertezas quanto a esses transtornos são enormes e produzem diagnósticos diferenciados e, por vezes, contraditórios. Kanner ilustra essa situação com o caso de uma criança que chegou a receber, de vários especialistas, diagnósticos distintos, expressos nas seguintes fo as: Deixe-o, ele j i fala , É u a ia ça i ada , Ou e pe feita e te , É du o de ou ido , É i telige te , É d il e tal , Te a lí gua u ta to uta , Os e os o e to pe e KANNER, , p. . Esta ia ça, ai da ue o fosse su da, foi e iada a uma escola de surdos. Lá, rapidamente aprendeu a ler os lábios e, posteriormente, aprendeu a ler e escrever.

Quanto aos transtornos de simbolização, utilizará o termo afasia para designar os casos em que há diminuição da capacidade de falar. Entre as várias classificações existentes sobre a afasia, Kanner destaca a que propõe duas categorias de afasias: afasia sensorial e

15 O termo utilizado na o a e a i ada e espa hol fa fulla ue, segu do o Mi haellis , p. sig ifi a ia gagueja , al u ia , at opela as pala as. Ata alhoa -se, atropelar-se, atrapalhar-se Opta os então pela tradução como atropelo que nos parece melhor refletir a descrição do autor.

receptiva e afasia motora e expressiva. Na primeira localizam-se as duas modalidades descritas de transtornos de compreensão, situadas também sob o nome de afasia, e acrescidas da incapacidade específica para a leitura. Esta última, costumeiramente o p ee dida o o ale ia16 o g ita , o ue e ete a u a ausa o g i a, passa ia,

posteriormente, a ser também considerada como decorrente , em grande parte, de conflitos afetivos. Já os quadros de afasia motora compreendem os transtornos da expressão verbal decorrentes exclusivamente de lesão cerebral, portanto não incluem o mutismo dos surdos, idiotas e esquizofrênicos, a afonia histérica e os casos de mudez temporária. O quadro abaixo apresenta, de maneira resumida, a organização proposta por Kanner para os transtornos de compreensão e simbolização. Observamos que o termo dislexia não será utilizado nessa primeira categorização, aparecerá apenas mais tarde na discussão dos problemas escolares. Afasias sensoriais e receptivas Transtornos de compreensão su dez e al atropelos da compreensão Incapacidade específica

para a leitura (alexia congênita)

Afasias motoras e expressivas

Transtornos da expressão verbal decorrentes exclusivamente de lesão cerebral

A discussão sobre as afasias será retomada posteriormente na análise dos problemas escolares relacionados por Kanner na última seção a ser examinada por nós. Por hora, cabe registrar que o autor de Psiquiatria Infantil ainda incluirá, entre os distúrbios da fala e li guage o ue ha ou li guage e te po ea e etaf i a e os eologis os, fenômenos associados aos quadros de esquizofrenia e autismo infantil.

O exame dos problemas relacionados à fala e linguagem permite que percebamos, o quanto ainda é precária, nesse estágio de desenvolvimento da psiquiatria infantil, a

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abordagem de fenômenos em relação aos quais as causas orgânicas não possam ser verificadas com clareza. Reconhecemos, contudo, o mérito de Kanner em colocar, com toda franqueza, os limites e incertezas de seu campo de estudos quanto a essas questões. A própria denominação apresentada, transtornos de compreensão e simbolização, denota as dificuldades em se defi i p e isa e te o ue se passa o essas ia ças ue pa e e não compreender o que se diz ou os escritos que se apresentam a elas. Não obstante, como destacamos no quadro acima, certas nomeações são produzidas passando a integrar o discurso científico oferecido à abordagem das dificuldades das crianças, muitas vezes detectadas no contexto escolar como relacionadas à aprendizagem.