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1 Introdução

1.2 Problemas e oportunidades

O presente trabalho teve início no LOPCA (Laboratório de Otimização, Projeto e Controle Avançado do Departamento de Processos Químicos da Faculdade de Engenharia Química da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP) como uma proposta de melhoria na gestão do conhecimento desse laboratório. Inicialmente foram levantadas publicações relacionadas com o tema gestão do conhecimento de uma forma geral e suas várias facetas. Verificou-se para esta área uma bibliografia abundante e abrangente em vários domínios do conhecimento como as engenharias, ciências humanas e ciências médicas, entre outras.

A gestão do conhecimento começa a fazer parte das publicações em congressos e periódicos científicos e as poucas ocorrências na literatura se iniciam partir de 1986 com crescimento exponencial a partir de 1997 (WILSON, 2002). Além disso, o entendimento da área é de espectro amplo e uma simples aplicação de ferramentas ou recursos computacionais, como um projeto de Intranet, por exemplo, pode ser considerada uma implementação da gestão do conhecimento. No outro extremo, publicações sobre considerações de caráter mais ligado às teorias da criação do conhecimento e, portanto, relacionadas ao comportamento humano ou mesmo à origem do conhecimento, também são consideradas desta área.

Isso tudo coloca a gestão do conhecimento como um tema abrangente em qualquer tipo de organização (BINNEY, 2001).

O propósito inicial desta tese era entender a abrangência da gestão do conhecimento como uma ferramenta estratégica e então tornar possível o que seria, na época, uma proposta mais adequada para a gestão do conhecimento no LOPCA (ver tabela de acrônimos).

No desenvolver do trabalho e com o objetivo de entender melhor as relações pessoais e práticas da gestão do conhecimento no LOPCA, com foco na melhoria de suas ações, foram realizados levantamentos por meio de questionários (respondidos pelos membros dos laboratórios) e entrevistas (conduzida pessoalmente com o pesquisador principal). O resultado revelou uma complexidade na sua gestão decorrente dos vários desafios. Com o objetivo de subsidiar e ter outros parâmetros de comparação refinou-se o questionário e roteiro de entrevista que em seguida foram aplicados (utilizando o mesmo

método) em outros três laboratórios, bem sucedidos nas suas áreas de atuação e de diferentes universidades públicas, ressaltando estratégias e práticas de gestão diversas.

A forma de gerenciar recursos nesses ambientes, apesar de muitas vezes implícitas ou empíricas, obviamente estavam presentes, mas avaliou-se, poderiam ser em muito refinadas. A complexidade e dificuldade de gerenciar estrategicamente laboratórios universitários de pesquisas se apresentaram como desafios imediatos ao levantamento realizado. Isso ressaltou a necessidade e oportunidade de evoluir de uma proposta mais específica de gestão do conhecimento no LOPCA para uma mais abrangente que pudesse ser adequada à gestão estratégica de laboratórios universitários de pesquisa.

Esta foi uma evolução natural do trabalho proposto e como preconizado por Quivy & Campenhoudt (1998), seria um equívoco formular um projeto de investigação fechado e de forma totalmente satisfatória. Ao contrário, é um “caminhar para um melhor conhecimento e deve ser aceito como tal, com todas as hesitações e incertezas que isso implica”, no entanto deve ser escolhido um “fio condutor tão claro quanto possível” de forma a iniciar o trabalho rapidamente, estruturado e coerente com a linha de investigação.

No entanto, há algumas considerações com relação à hegemonia da gestão do conhecimento sobre a gestão estratégica e vice-versa têm sido ressaltadas (SNYMAN & KRUGER, 2004; FIRESTONE & McELROY, 2003). Porém, para o contexto deste trabalho, considera-se que a gestão do conhecimento e a gestão estratégica são temas próximos e necessitam ser abordados de forma integrada conforme sugerido por Snyman & Kruger (2004). Isso permitiu uma abordagem em que outros processos, além dos relacionados com a gestão do conhecimento, pudessem ser inseridos no modelo para a gestão estratégica dos laboratórios universitários de pesquisa.

Determinou-se que a gestão do conhecimento e seu ciclo completo (identificação, criação, representação, disseminação e utilização, além da gestão dos ativos do conhecimento) seria uma das dimensões importantes do modelo. As outras três dimensões ressaltadas como importantes são: a infra-estrutura, complexa e vital para as atividades; a gestão estratégica traduzida em um planejamento estratégico; gestão da agenda de pesquisa; gestão das cooperações e; uma dimensão relacionada às pessoas e cultura onde são considerados os recursos humanos, processos de treinamento e capacitação e as capacidades individuais e institucionais. Assim, foi composto um quadro de referência

(framework) para a gestão estratégica de laboratórios universitários de pesquisa composto de quatro dimensões.

Assumindo que as dimensões do quadro de referência e suas práticas se traduzem em um conjunto necessário e suficiente de ações para a gestão estratégica dos laboratórios, ainda restariam algumas outras questões a serem respondidas:

1) As práticas são realmente organizadas de modo que possam ser implementadas? 2) Se implementadas, em que nível de capacidade os processos a elas relacionados

se encontram?

3) Quão bem estas práticas são utilizadas e como avaliar os seus resultados? 4) Com que freqüência são utilizadas?

5) É de conhecimento de todos os que necessitam conhecê-las? 6) Há previsibilidade e possibilidades de melhorias nos processos? 7) Há uma consciência na priorização das ações de gestão?

8) Há uma referência para a aferição destas práticas nos laboratórios?

Para responder estas e outras questões seria necessário avaliar a capacidade dos processos específicos para a gestão dos laboratórios de forma a determinar em que nível de capacidade se encontra cada um desses. Assim, optou-se por investigar os modelos de capacidade de processos, inicialmente sistematizados e desenvolvidos para a melhoria e avaliação de processos de desenvolvimento de software (SEI-CMM, 1993). Esses modelos evoluíram para outras áreas do conhecimento como o desenvolvimento de produtos, sistemas e aquisição (SEI-CMMI, 2003), além de especificações para se criar modelos de capacidade em qualquer área (ISO/IEC 15504-2, 2002). O modelo proposto nesta tese se configura como uma destas tendências. Como resultado desta investigação, verificou-se que o método de formular modelos de capacidade poderia servir de base para as respostas às questões acima.

Embora exista um grande número de modelos de gestão e avaliação de organizações utilizando diferentes princípios e práticas, não há um modelo específico que cumpra esta função para laboratórios universitários de pesquisa.