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AVALIAÇÃO ALTERNATIVA A avaliação a partir da

2.2.3. Procedimentos de avaliação da compreensão da leitura

2.2.3.3. Procedimento cloze

O teste cloze consiste em apagar sistematicamente algumas palavras de um texto para que o leitor o complete com as palavras adequadas que foram suprimidas. O introdutor e o responsável por cunhar o termo cloze foi Wilson Le Taylor. O procedimento foi apresentado pela primeira vez num workshop, em 1953 (GABRIEL e

FRÖMMING, 2002, p. 23). Conforme Oller81 (1979 apud SIGOT, 2004, p. 102), cloze é uma corrupção do inglês close que, por sua vez, deriva de closure que corresponde, em português, a fechar, terminar, confluir. Dessa forma, diante das lacunas no texto, o leitor deve completá-las com elementos adequados.

O suporte psicológico do procedimento cloze vem da Teoria da Gestalt que defende a ideia de que temos a tendência a completar um padrão familiar não concluído, por exemplo, completar um círculo. Nesse sentido, explicam Gabriel e Frömming (2002) que o mesmo raciocínio levaria as pessoas a completarem uma sentença mutilada, de forma a construir um todo significativo. Os pesquisadores citam a seguinte oração: “Ele chegou às oito _____________.” (GABRIEL e FRÖMMING, 2002, p. 23). Neste caso a oração é facilmente completada com a palavra horas. Para os referidos pesquisadores, não se pode confundir o procedimento cloze com o teste de completar lacunas, já que para o primeiro caso o indivíduo elabora hipóteses levando em conta o contexto e, no segundo caso, o objetivo é verificar um conhecimento específico.

O cloze pode ser aplicado tanto em situações de expressão escrita quanto oral, mas segundo Gabriel e Frömming (2002, p. 23) as investigações têm privilegiado o âmbito escrito e muitas delas foram direcionadas, sobretudo, a falantes de inglês como língua materna, língua estrangeira ou segunda língua.

Sobre a construção do teste, Sigot (2004) cita três tipos de sistema de apagamento: o randômico, o racional e, por fim, o cloze modificado. O apagamento randômico consiste em excluir sequencialmente a quinta palavra, após a apresentação da primeira frase. Dessa forma, qualquer palavra pode ser omitida, diferente do apagamento racional – denominado por Alderson (2000, p. 208) de gap-filling

procedure – que determina que sejam excluídas determinadas classes de palavras:

substantivos, verbos, advérbios. O cloze modificado consiste em fornecer ao leitor cinco opções ao lado da lacuna para que ele complete o espaço em branco. Segundo Alderson (2000, p. 208), deveria ser denominado cloze test somente o primeiro caso, o de apagamento randômico, posto que para completar os espaços o indivíduo precisa elaborar hipóteses considerando o contexto. Todos os outros medem aspectos diferentes, objetivam verificar um conhecimento específico, seja lexical ou de ordem gramatical.

Na elaboração do cloze devem ser considerados diversos fatores, conforme Alderson (2000, p. 207-211), Alliende e Condemarín (2005, p. 129-131), Condemarín e Medina (2005, p. 108)e Gabriel e Frömming (2002, p. 24):

a) o tamanho das lacunas deve ser sempre o mesmo, independentemente da extensão da palavra apagada, com a finalidade de não influenciar a resposta do leitor;

b) o início e o final do texto devem permanecer intactos para fornecer mais pistas sobre o contexto;

c) o texto não deve ser muito curto para que haja maior possibilidade de redundância e recursividade lexical e sintática. O ideal é que tenha aproximadamente 50 lacunas;

d) não devem ser omitidos nomes próprios, nem referenciais numéricos;

e) o texto deve permitir ao aluno lê-lo sem que a tarefa seja fácil ou difícil demais.

A facilidade para elaborar o teste, administrar e interpretar os resultados constitui uma das vantagens do procedimento, embora exista a discussão se o avaliador deve considerar apenas a palavra exata ou qualquer outra que estabeleça sentido no contexto. Para Alderson et. al. (1998, p. 58) não há motivos para não aceitar como resposta “envie um fax” se no original constava “mande um fax”. Contudo, estabelecer uma planilha com todas as respostas possíveis para cada palavra omitida demandaria a aplicação de um piloto envolvendo um número maior de pessoas. Sigot (2004) cita outro estudo de Alderson82 (1979) que defende que, quando o procedimento for usado para medir a proficiência em língua estrangeira, o mais procedente é considerar todas as palavras semanticamente adequadas. Por outro lado, se o cloze visa a medir a proficiência de leitores em língua materna, o procedimento de escore deve considerar como correta apenas a palavra exata que foi omitida, já que geralmente os nativos possuem maior domínio do léxico e da sintaxe.

Outra vantagem, segundo Alliende e Condemarín (2005, p. 129), reside na não interferência negativa resultante de problemas no enunciado da questão na avaliação da

82 ALDERSON, J. The cloze procedure and proficiency in English as a foreign language. TESOL

compreensão leitora: “as respostas dos alunos estão baseadas apenas nos indícios dados pelo texto e não são induzidos ou obscurecidos pelas perguntas do avaliador.”

Condemarín e Medina (2005, p. 109), com base em pesquisa de Harris e Sipay83 (1979), apresentam a seguinte fórmula para atribuir notas ao teste:

Pontuação close = número de respostas corretas x 100 Total de omissões

E o resultado pode ser analisado com base no seguinte quadro:

Nível independente Nível instrucional Nível de frustração

Êxito maior ou igual a 57% Êxito entre 44 e 57% Êxito inferior a 44% Lê o material com relativa

facilidade

Precisa de apoio Apresenta muitas dificuldades

Não precisa de ajuda Precisa de apoio

individualizado

Quadro 6 – Análise dos resultados do procedimento cloze (Fonte: CONDEMARÍN e MEDINA, 2005, p. 109)

Muitos pesquisadores, entre eles Alderson84 (1979), Bachman85 (1982), Flippo; Schumm86 (2000), citados por Sigot (2007), divergem a respeito do uso do tipo de cloze enquanto teste para medir a compreensão do texto. Entretanto, segundo Sigot (2004) e Souza (2003), outras investigações já confirmaram a validade do procedimento cloze para medir a compreensão em leitura e a leiturabilidade dos textos, contudo, a maior parte das investigações, como já mencionamos, voltou-se para sujeitos de língua inglesa como língua materna. Sigot (2004, p. 112) afirma que o cloze mede a compreensão em língua materna, mas há necessidade de estudos para verificar sua validade para medir a compreensão em língua estrangeira. Isso se deve ao fato de que para preencher as lacunas, o leitor, conforme defende a pesquisadora (SIGOT, 2004, p. 107), pode não ter conhecimento linguístico suficiente e para verificar se o cloze mede a compreensão leitora em língua estrangeira, existe a necessidade de mais estudos.

83 HARRIS, A. e SIPAY, E. R. How to teach reading. New York, N.Y.: Longman Inc. 1979.

84 ALDERSON, J. The cloze procedure and proficiency in English as a foreign language. TESOL

Quarterly, v. 13, n. 2. Virginia, USA. 1979.

85 BACHMAN, L. The trait structure of cloze tests scores. TESOL Quarterly, v. 16, n. 1. Virginia, USA.

1982.

86 FLIPPO, R.F., SCHUMM, J.S. Reading tests. In: FLIPPO, R.F., CAVERLY, D.C. (Eds.). Handbook