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CAPÍTULO 2 – O ENSINO MÉDIO DA REDE ESTADUAL DE SÃO PAULO

2.1 Os caminhos da pesquisa

2.1.6 Procedimento de coleta de dados: entrevista

Diante da dificuldade para obter retorno dos questionários enviados, optamos por realizar entrevistas semiestruturadas, com as mesmas questões utilizadas no questionário. Trata-se, portanto, de quatro questões abertas cujo objetivo era fornecer mais informações a respeito do tema investigado. Com essa técnica, os entrevistados puderam discorrer sobre o tema da pesquisa respondendo às questões livremente.

A principal vantagem da entrevista aberta e também da semi-estruturada é que essas duas técnicas quase sempre produzem uma melhor amostra da população de interesse. Ao contrário dos questionários enviados por correio que têm índice de devolução muito baixo, a entrevista tem um índice de respostas bem mais abrangente, uma vez que é mais comum as pessoas aceitarem falar sobre determinados assuntos (SELLTIZ et al., 1987 apud BONI; QUARESMA, 2005, p. 75)

A entrevista semiestruturada, no entanto, pode causar certa insegurança aos entrevistados no tocante ao anonimato, o que por vezes resulta na omissão de informações importantes, ou ainda, na recusa em participar da pesquisa. Essa última condição nos foi revelada por quatro professores que se recusaram a colaborar com a pesquisa com receio de que as informações por eles fornecidas pudessem prejudicá-los de alguma forma na função que ocupam. Ressaltamos que tanto os questionários quanto as entrevistas foram acompanhados do Termo de Livre Esclarecimento (Apêndice G), em que se assegura, dentre outras coisas, o anonimato dos participantes.

Durante todas as entrevistas, estivemos atentos e escutamos com apreço a narrativa dos entrevistados, procurando intervir o mínimo possível para não interromper o encadeamento de seu raciocínio.

O critério norteador da escolha dos entrevistados foi a familiaridade com o tema. Assim, entrevistamos 10 professores que lecionam Filosofia no nível Médio da Rede Estadual de São Paulo. Optamos por aqueles professores que atuassem na COGSP em face:

a) do tempo disponível – as entrevistas foram realizadas durante a segunda semana de dezembro de 2011, período que coincidia com o fim das atividades escolares – isso porque, como relatamos na coleta dos questionários, os professores de Filosofia atuam, em rigor, em mais de uma escola, e já não há atividades letivas (conselhos de classe, reunião de pais, reunião pedagógicas etc.), o que nos possibilitou encontrá-los nas escolas, mas não em exercício na sala de aula e, portanto, com horários mais flexíveis para nos atender;

b) da proximidade geográfica – diante do pouco tempo que dispúnhamos, já que se tratava da última semana do ano letivo, escolhemos escolas próximas uma das outras para que pudéssemos recolher o maior número de entrevistas possíveis; c) do período em que lecionam – procuramos por professores que ministrassem

aulas nos períodos matutino, vespertino e noturno para diversificar a análise. As entrevistas foram marcadas por contato telefônico durante as duas semanas que as antecederam. O resumo dos critérios utilizados são apresentados em combinação com os entrevistados, no Quadro 2.2.

QUADRO 2.2 – Número de entrevistados segundo os critérios utilizados

Entrevistado Data da Entrevista Diretoria de Ensino do entrevistado

Período em que leciona

Entrevistado 1 12/12 Carapicuíba Matutino Entrevistado 2 12/12 Carapicuíba Noturno Entrevistado 3 13/12 Leste 2 Diurno Entrevistado 4 13/12 Carapicuíba Noturno Entrevistado 5 14/12 Santo André Noturno Entrevistado 6 14/12 Leste 1 Vespertino Entrevistado 7 15/12 Leste 1 Vespertino Entrevistado 8 15/12 Leste 1 Matutino Entrevistado 9 16/12 Leste 4 Matutino Entrevistado 10 16/12 Carapicuíba Matutino

Fonte: Elaborado pela autora.

O perfil estatístico apontou-nos algumas direções para a elaboração das questões que deram aporte para os questionários e para as entrevistas.

A primeira questão decorre de que a maior parte dos professores tem poucos anos de carreira, consequência do fato de que a Lei da obrigatoriedade do ensino de Filosofia é também recente – sua aprovação ocorreu em 2008. Em face dessa situação, elaboramos a seguinte questão: O que você pensa sobre a inserção da Filosofia como

A segunda questão aponta para a problemática da formação do professor de Filosofia que ministra aula no Ensino Médio paulista. Essa questão versa, também, sobre a prática desse professor em sala de aula. Procurar entender a relação entre a formação acadêmica e a prática docente é a finalidade da questão assim elaborada, em duas etapas: Você participou de alguma atividade de formação continuada oferecida

pela SEE ou de forma autônoma nos últimos três anos? Essas atividades foram úteis para a melhoria da sua prática em sala de aula?

A terceira pergunta tem por objetivo assinalar as dificuldades que esses professores encontram no cotidiano da sala de aula. O perfil estatístico traçado apresentou-nos alguns facilitadores e alguns dificultadores para o exercício da Filosofia no currículo do Ensino Médio paulista e foi assim elaborada: Quais as principais

dificuldades que você encontra no exercício da docência? Essa pergunta permite-nos

confrontar “os números” com a “voz” do professor a fim de obter melhor compreensão da realidade.

Por derradeiro, enxergamos o professor como sujeito de suma importância na educação escolar – ele é o agente que está mais próximo da realidade escolar, da comunidade, dos alunos, do currículo etc. É esse agente que está na escola no dia a dia e que, diante das adversidades da profissão, procura encontrar alternativas para desenvolver o seu trabalho. A quarta questão tem por finalidade justamente valorizar as sugestões desses professores que tornam possível o ensino de Filosofia no nível Médio:

Quais sugestões você propõe para superar essas dificuldades?

Exposto o percurso de nossa investigação, passamos para a caracterização da Rede Estadual paulista, lócus da pesquisa.