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PROCEDIMENTO PARA ANÁLISE DOS DADOS

No documento marinacarvalhofreitas (páginas 60-63)

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.3 PROCEDIMENTO PARA ANÁLISE DOS DADOS

Para análise dos dados qualitativos das entrevistas realizadas, bem como para análise dos grupos focais, foi utilizada a técnica de Análise de Conteúdo do tipo temática (GOMES, 2008), com o auxílio do software NVivo. O NVivo é um software elaborado para análise qualitativa dos dados, disponibilizando recursos que facilitam o trabalho do pesquisador, como processamento, codificação e análise de dados, elaboração de tabelas e gráficos, dentre outros (GUIZZO; KRZIMINSKI; OLIVEIRA, 2003). Nesta pesquisa, foram selecionados alguns recursos do software de apoio que se mostraram mais adequados para a análise dos dados e se encontravam em consonância com a metodologia adotada. Os recursos serão explicados a seguir, conforme forem sendo elucidadas as etapas de análise.

Para realização da Análise de Conteúdo do tipo temática foram utilizadas categorias semânticas que reúnem evidências de acordo com temas (BARDIN, 2011), isto é, trata-se do

processo de agrupamento de registros que possuem características em comum – são agrupados por temas (MORAES, 1999). Foi realizado um processo de (1) pré-análise, (2) exploração do material e (3) tratamento dos resultados, inferência e interpretação, constituindo o processo de análise do material construído na pesquisa.

Bardin (2011) elabora cinco regras para o procedimento adequado do processo: (1) exaustividade: esgotar todo o tema sem omissões; (2) representatividade: sujeitos da pesquisa que representem o campo pesquisado; (3) homogeneidade: todos os dados se referirem ao mesmo tema, tendo técnicas iguais e sujeitos de acordo com os objetivos; (4) pertinência: materiais adaptados aos objetivos da pesquisa; e (5) exclusividade: o mesmo elemento não pertencer a mais de uma categoria.

A primeira fase, pré-análise, tratou da organização dos dados coletados, na formulação de possíveis categorias e no princípio da elaboração de evidências que alicerçaram a interpretação final (CAREGNATO; MUTTI, 2006). Nessa fase, os dados coletados foram cadastrados no software que agrupou todas as respostas das entrevistas em um único documento, sendo separadas as respostas de acordo com a questão específica. Por exemplo, a questão da pesquisa – “você acha que existe alguma diferença no tratamento entre alunos brancos e negros dentro da universidade?” – foi colocada em um documento agrupando todas as falas de pessoas negras, facilitando a leitura de cada questão com suas respectivas respostas. Nesse momento, as entrevistas transcritas passaram por uma leitura cuidadosa em que se começou a detectar questões importantes para a criação das categorias e organização das evidências que respondem ao problema de pesquisa.

A etapa de exploração do material consistiu na codificação seguindo-se da categorização. Na codificação, os dados são agregados em unidades de registro que permitem descrições pertinentes. Entre as principais ferramentas do NVivo estão os nós, estrutura que armazena a codificação das informações (LAGE, 2011). De acordo com cada projeto, os nós podem ser isolados ou se desdobrarem em subcategorias, denominadas árvore de nós (LAGE, 2011), como no caso desta pesquisa. À medida que as respostas eram lidas e padrões eram identificados, alguns fragmentos das entrevistas foram selecionados e encaixados nos nós criados. O software permitia também consultar a ocorrência de determinadas palavras ou expressões para auxiliar a designar o fragmento para o nó específico (LAGE, 2011).

A partir dessa codificação em nós, todas as respostas foram se encaixando em algum nó que, então, possibilitou a entrada na fase seguinte da análise: as categorizações. Esses nós foram se transformando em categorias de análise que poderiam ter sido elaboradas a priori ou a

posteriori do processo de coleta de dados, sendo esta última a que foi adotada na presente

pesquisa, isto é, as categorias definidas emergiram das respostas analisadas.

A categorização refere-se ao processo de agrupamento dos registros por possuírem características em comum (MORAES, 1999). Essa fase demonstra a passagem de dados brutos para organizados, que devem ser profundamente trabalhados com vistas a integrar as respostas obtidas na construção de categorias. Buscou-se identificar a frequência de regularidades nas falas visando analisar as convergências e divergências presentes, bem como o que era tratado como centralidade. O software também auxiliou nesse processo através de uma função que identifica a frequência de palavras. A reiteração em que ocorre alguma unidade de registro se mostra importante, embora o fato de algumas questões não terem sido muito abordadas não significa que também não sejam relevantes, uma vez que se trata de um tema sensível que pode gerar dificuldades de se falar a respeito. Levou-se em consideração também as co-ocorrências das unidades de registro, ou seja, a presença simultânea de duas ou mais unidades num mesmo fragmento de resposta (BARDIN, 2011).

Por fim, a terceira e última etapa, tratamento dos resultados, inferência e interpretação, buscou alcançar, em profundidade, o discurso dos enunciados. A classificação dos elementos ocorreu a partir de semelhanças e diferenciações, com posteriores reagrupamentos e, caso fossem identificados elementos distintos, caberia ao pesquisador encontrar possíveis relações existentes (CAREGNATO; MUTTI, 2006).

Seguindo todos esses passos, foi realizada a análise final e interpretação dos dados categorizados e organizados, buscando compreender como se (re)constrói a identidade de estudantes no contexto da diversidade, inseridos em relações de poder estabelecidos-ousiders na universidade pública. A análise de conteúdo é um processo cíclico, isto é, sempre que preciso retorna-se ao material coletado em busca de um refinamento maior das categorias e das teorias que embasam a investigação (BARDIN, 2011). Dessa forma, a relação entre os dados coletados e a fundamentação teórica é o que traz sentido às interpretações e propicia os alicerces necessários às análises.

Goffman (2008), Dubar (1997) e Ciampa (1996), dentre diversos outros autores, defendem a construção identitária a partir da dialética eu-nós, da relação entre o indivíduo e o social que, ao se articularem, constituem identidades de indivíduos que são, simultaneamente, individuais e coletivas, e que não são estáticas, podem ir se modificando. A análise das entrevistas e dos grupos focais permitiram identificar três categorias que, a depender de suas

articulações, configuravam identidades distintas e mantinham organizações típicas:

estigmatização; pertencimento; e o ambiente universitário.

Essas três categorias se desdobraram em outras, denominado árvore de nós pelo

software NVivo, que foram as construções identitárias identificadas a partir da combinação das

três supracitadas: Identidade Mimética; Identidade de Combate e Empoderamento; Identidade

Ambivalente; Identidade Ameaçada Introjetada; Identidade de exaustão (exaustão-desistência; exaustão-persistência: Gabrielle Andersen).

No documento marinacarvalhofreitas (páginas 60-63)