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CAPÍTULO IV: METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

4.4 Os Procedimentos de Recolha e de Análise de Dados

4.4.2 Procedimentos de Análise de Dados

A análise de dados nos estudos de caso é uma atividade complexa, pode-se dizer que na maioria das pesquisas qualitativas a análise é um processo que se dá simultaneamente à sua coleta. Segundo Gil (2009, p.91-92) o rigor da análise se inicia com a primeira entrevista, a primeira observação e a primeira leitura de um documento.

Para Bogdan e Biklen (2010, p.205) a análise de dados “é o processo de busca e de organização sistemática de transcrições de entrevistas (...) com o objetivo de aumentar a sua própria compreensão desses mesmos materiais e de lhe permitir apresentar aos outros”.

Nesse sentido, a análise envolve o trabalho que busca reunir todas as informações recolhidas e registradas durante o processo que antecede a recolha de dados para, em seguida,

proceder à sua organização, divisão em unidades manipuláveis, síntese, descobertas dos aspectos importantes para que possam ser interpretados. Este procedimento de análise deve ser feito com rigor, porque é através dele que permitirá verificar a reposta ao problema, bem como o cumprimento dos objetivos da investigação.

De posse dos dados recolhidos, nos pareceu apropriado realizarmos a análise de conteúdo dos protocolos das entrevistas e das notas de campo da observação das aulas.

Importa dizer que a escolha do uso da técnica de análise de conteúdo reside da possibilidade que a mesma oferece em tratar e analisar documentos, tendo em consideração o problema e os objetivos da pesquisa. Assim, os dados do conteúdo da comunicação devem ser analisados buscando a compreensão do conteúdo das mensagens.

Para Bardin (2011, p. 44), a análise de conteúdo designa-se como:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimento relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas destas mensagens.

Triviños (2013, p. 160), enfatiza que essa definição de Bardin caracteriza a análise de conteúdo com algumas peculiaridades essenciais:

Uma delas é o de ser um meio para estudar as “ comunicações” entre os homens, colocando ênfase no conteúdo “ das mensagens “. Isto limita o âmbito do método, privilegiando, mas não excluindo outros meios de comunicação, as formas de linguagem escrita e oral. Verdadeiramente, nossa intenção é usar o método de análise de conteúdo nas mensagens escritas, porque estas são mais estáveis e constituem um material objetivo ao qual podemos voltar todas as vezes que desejarmos.

O referido autor destaca uma outra ideia advinda da análise de conteúdo, o da “ inferência” que pode partir das informações que que fornece o conteúdo da mensagem, que é o que normalmente ocorre, ou de premissas que se levantam como resultado do estudo de dados que apresenta a comunicação.

A última peculiaridade da análise de conteúdo a ser destacada pelo referido autor, é de ser um “conjunto de técnicas”. Isto é importante sublinhar porque se não tivermos clareza deste aspecto, o processo de inferência será muito difícil ou impossível. A classificação dos conceitos, a codificação dos mesmos, a categorização etc, são procedimentos indispensáveis na utilização deste método de análise de dados.

De modo geral, a categorização é considerada um procedimento que requer, por parte do investigador, muita atenção, pois “os dados (invocados ou suscitados) são classificados e reduzidos, após terem sido identificados como pertinentes, de forma a reconfigurar o material ao serviço de determinados objectivos de investigação” (ESTEVES, 2006, p. 108).

Deste modo, o processo de categorização na análise de conteúdo comporta duas etapas principais, segundo Morgado (2012):

i. uma primeira, em que os elementos são isolados, classificados e reduzidos, após ter sido detetada a sua pertinência;

ii. uma segunda etapa, em que os dados são novamente reagrupados em função de suas analogias, o que permite reconfigurá-los em função dos propósitos da investigação.

Esteves (2006, p. 109 citado por MORGADO, 2012, p. 112) considera que nesta fase do processo de categorização, isto é, depois de os dados terem sidos identificados como pertinentes e se agruparem em categorias, se pode recorrer a dois tipos de categorias: os procedimentos fechados – designados no seu conjunto como pré-categorização - que abarcam os casos em que o investigador já possui uma lista prévia de categorias, delineada a partir do objeto de estudo e das teorias que lhe servem de suporte, e a utiliza para classificar os dados; e os procedimentos abertos – também designados por categorização emergente - que englobam os casos em que as categorias emergem do próprio material, sendo frequentes na investigação educacional onde existe um défice de teorias gerais que descrevam e expliquem muitos fenómenos que aí ocorrem.

Uma questão fundamental na análise de conteúdo está relacionada com a realização de inferências (implícitas ou explicitas). Bardin (2011) lembra que a inferência ou (dedução lógica) é um passo intermédio que, operando de forma dedutiva a partir de índices ou indicadores, permite dar o salto do nível descritivo para o nível interpretativo:

Se a descrição (a enumeração das características do texto, resumida após tratamento) é a primeira etapa necessária e se a interpretação (a significação concedida a estas características) é a última fase, a inferência é o procedimento intermediário, que vem permitir a passagem, explícita e controlada, de uma à outra (BARDIN, 1995, p. 35 apud MORGADO, 2012, p. 105).

Amado (2000, p. 54 apud MORGADO, 2012, p. 106) assim se reporta à análise de conteúdo no que respeita às inferências que possibilita:

A análise de conteúdo além de permitir uma representação rigorosa e objetiva do conteúdo das mensagens, possibilita um ”avanço fecundo, à custa de inferências interpretativas derivadas dos quadros de referência teórica do investigador, por

zonas menos evidentes que constituem o referido contexto de produção”, um aspecto que sustenta a aplicação criativa da análise de conteúdo a uma gama variada de comunicações, em particular as que traduzem visões mais subjetivas do mundo. Esta é, em nossa opinião, a característica mais importante da análise de conteúdo, sobretudo se tivermos em atenção que qualquer tarefa interpretativa, em particular no campo das metodologias qualitativas, carece de espírito crítico e criativo, aspetos que são conseguidos através da realização de inferências.

Assim, para procedermos à análise de conteúdo dos dados recolhidos das entrevistas e da observação de aulas começámos por fazer uma leitura flutuante do material coletado, para que pudéssemos ficar atentos aos discursos recolhidos e aos sentidos gerais neles contidos e assim iniciar o sistema de categorias a usar no tratamento.

Segundo Bardin (1995, p.117 apud Morgado, 2012. p.111), a categorização é definida como uma “ operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o género (analogia), com os critérios previamente definidos”.

Para Morgado (2012, p.112) o processo de categorização comporta duas etapas principais:

(i) uma primeira , em que os elementos são isolados, classificados e reduzidos, após ter sido detetada a sua pertinência;

(ii) uma segunda etapa, em que os dados são novamente reagrupados em função das suas analogias, o que permite reconfigurá-los em função dos propósitos da investigação.

Assim sendo, codificamos as estrevistas e a observação das aulas, em seguida passamos à seguinte fase: sistematização de conteúdos do discurso, exploração e tratamento do texto, inferindo e interpretando, de modo que os dados obtidos nas entrevistas e na observação de aulas se tornassem significativos e pertinentes (Bardin, 2011).

Feita a classificação das categorias de análise, as unidades de significado e temas advindas da exploração do conteúdo das entrevistas foram organizadas e agrupadas por afinidade, em seguida foram classificadas em subcategorias.

Do resultado da análise dos protocolos das entrevistas emergiram as seguintes categorias e subcategorias:

Quadro 3 - Categorias e subcategorias dos protocolos das entrevistas dos professores

Categorias Subcategorias

Tipo de formação contínua Meios formais de formação

Participação em eventos Meios informais de formação Contributos da formação contínua nas

práticas pedagógicas

Desenvolvimento de projetos de educação ambiental

Articulação teoria-prática na lecionação Alteração da prática

Opinião sobre as propostas curriculares de educação ambiental

Possibilita a reflexão dos alunos sobre questões do meio ambiente

Abordagem interdisciplinar da educação ambiental

Opinião sobre as propostas de educação ambiental do Projeto Político-Pedagógico

Necessidade de discussão na comunidade escolar

Gera impacto no contexto escola e meio envolvente

Promoção da interdisciplinaridade nas práticas de educação ambiental Temas de educação ambiental regional no

projeto político-pedagógico

Fatores do ambiente: bióticos e abióticos Possibilitam o conhecimento sobre o patrimônio natural

Possibilitam o conhecimento sobre o patrimônio cultural

Contributos da formação em educação ambiental na compreensão das propostas curriculares

Realização de eventos/projetos sobre o Meio Ambiente

Alteração de conceções dos professores Alteração das conceções dos alunos

Planejamento das práticas de Educação Ambiental

Abordagem de temas socioambientais Abordagem interdisciplinar da educação ambiental

Produção de Materiais reciclados Documentos de referência para o

planejamento das aulas de educação ambiental

Documentos oficiais Documentos não oficiais Metodologias da prática do ensino da

Educação Ambiental

Aulas expositivas

Metodologia de pesquisa dos alunos

Quadro 4 - Categorias e subcategorias dos protocolos das notas de campo da observação de

aulas

Categorias Subcategorias

Conteúdos Conteúdos do meio ambiente local

Conteúdos do meio ambiente na Europa Conteúdos do meio ambiente no Planeta Conteúdos do meio ambiente na cidade de São Paulo

Conteúdos do meio ambiente numa perspectiva interdisciplinar

Metodologias de ensino da educação ambiental

Visualização de um vídeo sobre educação ambiental

Diálogo sobre o vídeo visualizado

Audição de uma música sobre educação ambiental

Diálogo sobre a música ouvida

Audição de uma paródia sobre educação ambiental

Elaboração individual de um texto sobre educação ambiental

Diálogo sobre o meio ambiente local

Propostas de atividades de intervenção no espaço escolar realizadas em grande grupo Realização individual de exercícios práticos da matemática sustentável

Uma vez realizada esta etapa de trabalho, encontrávamos em condições de iniciarmos as conclusões fundamentadas, apresentadas no formato de narrativa, identificando os pontos relevantes encontrados, bem como respondendo ao problema e objetivos do estudo.