• Nenhum resultado encontrado

No intuito de compreendermos como as marcas da patriarcalização e da despatriarcalização se materializam nas imagens de mulheres nos livros didáticos para as escolas do território campesino, adotamos como procedimento de análise dos dados a Análise de Conteúdo. Em uma primeira acepção “a análise de conteúdo aparece como um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens” (BARDIN, 2011, p. 44). Contudo, esta definição inicial de Análise de Conteúdo foi complementada com a sua evolução uma vez que além de descrever os conteúdos das mensagens “a intenção da análise de conteúdo é a inferência de

conhecimentos relativos às condições de produção (ou, eventualmente, de recepção), inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não)” (BARDIN, 2011, p. 44).

Dessa maneira, entendemos que a técnica de Análise de Conteúdo adequa-se ao objeto desta pesquisa, visto que possibilita realizar inferências sobre os dados para além das aparências, sem que o rigor metodológico seja abandonado. Vala aponta que

a Análise de Conteúdo permite inferências sobre a fonte, a situação em que esta produziu o material objecto de análise, ou até, por vezes, o receptor ou destinatário das mensagens. A finalidade da Análise de Conteúdo será pois efectuar inferências com base numa lógica explicitada, sobre as mensagens cujas características foram inventariadas e sistematizadas (1990, p. 104).

Nessa direção, o pesquisador, por meio de um trabalho inventivo, busca ultrapassar o que está na base da superfície das mensagens, o que lhe permite inferir sobre os dados ao contextualizar suas formas de produção e de recepção das mensagens. Em síntese, o processo de análise dos dados pode ser descrito através da articulação entre os objetivos propostos com a pesquisa, o rigor da descrição detalhada dos dados e, por fim, a inferência. Ressaltamos que a Análise de Conteúdo pode ser realizada de distintas maneiras, a saber: Análise Lexical; Análise de Expressão; Análise de Relações, Análise de Enunciação e Análise Temática.

Nesta pesquisa fizemos uso da Análise Temática que consiste em desvendar os núcleos de sentido que compõem uma comunicação. Nessa direção, a Análise Temática acontece na busca por desvelar a confirmação e/ou negação de hipóteses, ou mesmo no intuito de reconstruí-las, possibilitando avanços e novas interpretações. Essa dinâmica ilustra bem o movimento de ir e de vir da Análise de Conteúdo, uma vez que, em uma pesquisa, muitas são as idas e as voltas à abordagem teórico-metodológica, aos objetivos, às interpretações e aos métodos de análise para, então, haver a inferência sobre os dados (BARDIN, 2011). Desse modo, entendemos a importância de construir um percurso de análise condizente com o objeto e com os objetivos da pesquisa. Apoiamo-nos em Vala (1990) e em Bardin (2011) para a construção de um modelo de análise.

Bardin aponta as seguintes condições de produção de uma Análise de Conteúdo: a) dissociação dos dados que o analista dispõe da fonte e das condições em que foram produzidos; b) inserção dos dados em um novo contexto construído com base no objeto e nos objetivos da pesquisa; c) elaboração de um sistema de conceitos analíticos, objetivando formular as regras de inferência.

Ainda de acordo com a autora, o caminho a ser percorrido no tratamento e na análise dos dados se desenvolve em três fases, são elas: pré-análise; exploração do material,

tratamento e inferências. A pré-análise foi efetivada por meio da seleção e organização dos LD e realização de leituras flutuantes, no intuito de identificar e selecionar as imagens de mulheres a serem analisadas. A exploração do material ocorreu através da análise das ilustrações a fim de codificar, classificar e categorizar as imagens que contivessem indícios dos temas investigados, ou seja, índices de patriarcalização e/ou de despatriarcalização.

Por fim, tratamos os dados e realizamos inferências no sentido de fazer interpretações mais aprofundadas levando em consideração o contexto de produção e o contexto de análise dos dados coletados e codificados (VALA, 1990). A figura 2 sintetiza o percurso da seleção, da organização, da análise dos dados e das inferências.

Figura 2 – Síntese do percurso da organização das análises dos dados

Fonte: Autora

Diante do caminho apresentado, detalhamos os procedimentos de cada fase da Análise Temática. Na pré-análise, realizamos leituras flutuantes dos LD e selecionamos as imagens a partir da utilização das regras da exaustividade; da representatividade; da homogeneidade e da pertinência. Nesta fase articulamos as regras citadas com a análise denominada triádica, de Peirce, a partir da qual elegemos as imagens considerando a ocorrência de signos ícones, índices e símbolos de interesse para a investigação compondo, dessa forma, os dados analíticos desta pesquisa. A seguir apresentamos o percurso adotado:

1) articulamos a regra da exaustividade ao signo ícone, logo para tanto olhamos as imagens no intuito de identificar uma semelhança/valor do objeto representado. Nesse caso, seleção de ícones que representassem imagens de mulheres. Reunindo todas as imagens ícones de mulheres nos LD de História e de Geografia, atingimos um total de duzentas e quarenta e oito imagens;

2) cotejamos a regra da representatividade com o conceito do signo índice selecionando, a partir dessa aproximação, imagens cuja composição se relacionasse com objetivos pretendidos desta pesquisa;

3) relacionamos as regras da homogeneidade com aquelas que definem o signo símbolo, elegendo as imagens que possuíssem a mesma natureza, ou seja, que representassem signos similares;

4) por fim, pela aproximação conceitual feita entre a regra da pertinência e aquela que, em Peirce, promove um signo a símbolo de algo, recenseamos apenas as imagens que pudessem dar respostas aos objetivos da pesquisa.

Desses procedimentos resultou um Corpus de análises constituído por cento e cinquenta imagens, passando à segunda fase das análises que foi a de exploração dos dados. Nesta fase classificamos e categorizamos as imagens selecionadas. Identificamos, inicialmente, aquilo que nomeamos de “lugares” a partir da noção de territórios de Fernandes que o compreende enquanto

territórios materiais e imateriais: os materiais são formados no espaço físico e os imateriais no espaço social a partir das relações sociais, por meio de pensamentos, conceitos, teorias e ideologias. Territórios materiais e imateriais são indissociáveis, porque um não existe sem o outro e estão vinculados pela intencionalidade (2008, p. 282).

Assim, localizamos os seguintes lugares: família, escola, trabalho, comunidade e lazer. Na classificação destes lugares identificamos que eles apresentam naturezas distintas, mas articuladas: a natureza institucional e a natureza simbólica e cultural. Os lugares institucionais foram: escola e trabalho. Os simbólicos e culturais são: família, comunidade e lazer. Nesta fase utilizamo-nos da tríade peirceana para classificar as imagens uma vez que os lugares identificados e classificados são signos constituídos por ícones, índices e símbolos. A partir desta classificação, categorizamos as imagens agrupando-as por temáticas a fim de realizar inferências balizadas pelos Estudos Pós-coloniais e o Feminino Latino-americano.

Após a apresentação do caminho metodológico traçado e das fontes desta pesquisa, passamos para o próximo capítulo que traz a discussão das abordagens teóricas às quais nos filiamos para o desenvolvimento desta pesquisa.

Frida Kahlo

Frida Kahlo nasceu em 6 de julho de 1907. Foi uma importante pintora mexicana do século XX. É considerada, por alguns especialistas em artes plásticas, uma artista que fez parte do Surrealismo. Porém, a própria Frida negava que era surrealista, pois dizia que não pintava sonhos, mas sua própria realidade. Destacou-se ao defender o resgate à cultura dos astecas como forma de oposição ao sistema imperialista cultural europeu.

3 ABORDAGENS TEÓRICO-METODOLÓGICAS

Neste capítulo, versarmos sobre as abordagens teórico-metodológicas dos Estudos Pós-coloniais e do Feminismo Latino-americano, enfatizando o processo de constituição destas abordagens e os conceitos que fizemos uso no desenvolvimento da pesquisa. A título de organização este capítulo está divido em quatro seções. A primeira apresentou brevemente as diferentes vertentes dos Estudos pós-coloniais. A segunda evidenciou o processo de colonialismo e colonização das terras da Abya Yala e os principais conceitos da abordagem dos Estudos pós-coloniais. A terceira seção tratou, brevemente, das ondas do feminismo em que enfatizamos a quarta onda e os conceitos do Feminismo Latino-americano. A quarta seção discutiu o patriarcado, evidenciando a sua “origem” e as reconfigurações que este sofreu decorrentes das transformações históricas, culturais e sociais.