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A partir das gravações das entrevistas realizadas com os professores e da leitura dos planos de aula, procuramos:

1) fazer um levantamento dos gêneros textuais que constem nos planos de trabalho dos professores, destacando, dentre eles, os gêneros orais;

2) categorizar os critérios que os professores utilizam para selecionar os gêneros orais a serem trabalhados;

3) identificar indícios das concepções de linguagem e oralidade dos professores a partir de suas falas.

Com relação à observação das aulas, adotamos os seguintes procedimentos analíticos: 1. procurar indícios das concepções de linguagem e oralidade a partir da

abordagem do professor em sala de aula em relação aos gêneros orais e relacioná-las às concepções percebidas nas entrevistas;

2. fazer um levantamento das situações didáticas propostas em sala de aula pelos professores para o trabalho com os gêneros orais;

3. categorizar as atividades realizadas com os gêneros orais em relação a práticas de leitura, produção textual e análise linguística.

A partir daí, foi realizada a triangulação dos dados, que, segundo Bortoni-Ricardo (2008), consiste na análise de dados provenientes de diferentes instrumentos de coleta, o que permite observar um fenômeno de diversas perspectivas e, assim, ter maior clareza para chegar a determinados resultados. Gil (2010), no mesmo sentido, afirma que a triangulação dos dados permite que se amplie a maneira como os dados são compreendidos, que as interpretações realizadas na pesquisa sejam contextualizadas e que vários pontos de vista relacionados ao mesmo tema sejam abordados.

Para a análise dos dados da pesquisa, utilizamo-nos de princípios da Análise de Conteúdo proposta por Laurence Bardin (1979), a qual pode ser concebida como o conjunto de técnicas que objetivam conseguir indicadores que levem o pesquisador a inferir conhecimentos em relação ao conteúdo de algumas mensagens, de forma sistemática e objetiva.

Bardin (idem) destaca que a Análise de Conteúdo tem como intenção “a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção (ou, eventualmente, de recepção), inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não.” (p. 38).

A autora propõe que a análise se concretize em três fases: a pré-análise; a exploração do material; e o tratamento dos resultados, que se divide em inferência e interpretação.

Na fase de pré-análise, inicia-se a organização do conteúdo a ser analisado. Nela, ocorre a leitura flutuante, que, por ser exploratória, permite a construção de uma visão geral de todo o material passível de análise. A partir dela, são escolhidos os documentos que serão analisados, ou seja, o corpus da pesquisa é constituído. Essa escolha deve ser pautada, de acordo com Bardin, em algumas regras: 1) da exaustividade, em que todos os elementos são considerados; 2) da representatividade, segundo a qual se considera que uma amostra é rigorosa à medida que representa o todo; 3) da homogeneidade, em que os textos a serem

analisados devem seguir alguns critérios de escolha e não serem muito singulares; 4) da pertinência dos dados para os objetivos da pesquisa.

É também nessa fase que todo o material de que o pesquisador dispõe é preparado para a análise, podendo ser padronizado e classificado a partir de suas semelhanças. Assim, há uma transformação dos dados brutos em dados organizados a partir de seu conteúdo, de forma que certas características começam a se sobressair para o pesquisador.

Para a segunda etapa, a exploração do material, pode-se utilizar a Análise Temática, que faz parte da diversidade de técnicas de análise de conteúdo propostas por Bardin e que se mostra bastante adequada para a pesquisa qualitativa, uma vez que envolve a descoberta de “núcleos de sentido” presentes na comunicação e que têm relevância para o objetivo de análise.

Nessa segunda etapa, são construídas as categorias, a partir da classificação dos elementos em conjunto, seguindo alguns critérios. Essas categorias podem ser teóricas, ou seja, elaboradas a partir do referencial teórico adotado; ou empíricas, que se concretizam a partir da leitura dos dados. Para essa construção, a autora destaca alguns critérios que devem ser considerados, como a exclusão mútua, em que o mesmo elemento não pode constar em mais de uma categoria; a homogeneidade, em que cada categoria deve ser guiada por um único princípio; a pertinência, em que a categoria está adequada ao objetivo da pesquisa e ao quadro teórico utilizado; a objetividade e a fidelidade, em que os materiais devem ser tratados da mesma maneira; e a produtividade, em que o conjunto das categorias deve se constituir no sentido de fornecer resultados relevantes para a produção de inferências, hipóteses e dados.

Na terceira etapa os resultados são tratados, podendo ser organizados em quadros e tabelas, que facilitam a análise no sentido de destacar determinadas informações. A partir disso, o pesquisador pode realizar inferências e interpretações relacionadas a seus objetivos de pesquisa.

Bardin (idem) destaca que tratar o material significa codificá-lo, ou seja, transformá- lo, de forma que este passe a ser representativo do conteúdo. Essa codificação se dá a partir da escolha de unidades de registro e de contexto, que apontam para os elementos que devem ser considerados no momento do tratamento dos dados, e também indicam como o recorte deve ser feito.

Inicialmente, realizamos a análise dos dados pautando-nos em alguns critérios extraídos do nosso referencial teórico:

Quadro 3: Relação entre procedimentos de coleta e critérios de análise dos dados

ENTREVISTA ANÁLISE DOCUMENTAL OBSERVAÇÃO

PARTICIPANTE Concepção de linguagem e

de oralidade ----

Concepções de linguagem e oralidade implícitas nas abordagens Trabalho com gêneros

textuais e, especificamente, gêneros orais em sala de

aula

Os gêneros textuais que serão trabalhados, destacando dentre esses os gêneros orais

e os objetivos de ensino relacionados aos gêneros

. ----

Critérios para a escolha dos gêneros orais a serem

trabalhados

Justificativa para a escolha dos gêneros a serem abordados esses gêneros

---- Atividades que os

professores realizam no trabalho com os gêneros

orais

Procedimentos metodológicos que o professor pretende

utilizar para atingir os respectivos objetivos

Procedimentos didáticos adotados e metodologias empregadas em relação ao trabalho com os gêneros

orais Aspectos da oralidade que

consideram mais relevantes para serem trabalhados em

sala

----

Abordagem dada às especificidades do oral e à variação linguística

Articulação da oralidade com os demais eixos de ensino de língua (leitura,

produção e análise linguística)

----

Articulação do trabalho com os gêneros orais com as práticas de leitura, produção textual e análise

linguística

A partir dessas categorias, prosseguiremos, agora, com a análise dos dados da professora A e, em seguida, da professora B.

4ANÁLISEDOSDADOS

Apresentaremos o resultado da análise dos dados de cada professora – inicialmente da professora A e, em seguida, da professora B. Uma vez que realizamos entrevistas, análises de planos de aula e observações de aulas de ambas, faremos a exposição dos dados obtidos por meio de cada instrumento de pesquisa a partir dos seguintes critérios de análise: concepções de linguagem e oralidade; abordagem dos gêneros textuais, especificamente os orais; critérios para a escolha desses gêneros; especificidades da linguagem oral abordadas; se e como as docentes articulam a oralidade com os demais eixos de ensino de língua portuguesa.