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Trabalho com gêneros textuais, especificamente, gêneros orais

4.1 Professora A

4.1.1 Entrevista professora A

4.1.1.3 Trabalho com gêneros textuais, especificamente, gêneros orais

Para o trabalho que realizaria no segundo semestre de 2012, a professora afirmou que se basearia na proposta da Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa, segundo a qual, no 7º ano/6ª série do Ensino Fundamental, os alunos devem produzir um texto do gênero memórias

No nosso cotidiano a gente usa as duas... é verdade que a escrita tem um valor pra sociedade diferente do da fala, mas a gente procura na sala de aula trabalhar, na medida do possível, com essas duas modalidades de maneira complementar, como a gente faz no nosso cotidiano.

literárias, sobre o tema “O lugar onde vivo”. A partir das sugestões presentes no material de formação de professores da Olimpíada, a professora elaborou uma sequência de aulas em que, para a produção final de um texto do gênero memórias literárias, lançaria mão também do trabalho com o gênero entrevista:

É necessário ressaltar, nessa proposta de trabalho, que a professora efetivamente busca utilizar o conceito de gêneros textuais numa perspectiva interacionista. Assim, ela propõe um objetivo claro e significativo para os alunos, por envolver a percepção e a construção de uma identidade. Assim, os textos não são abordados de maneira estanque, como objetos fixos, mas sim como enunciados passíveis de modificação e construídos a partir de outros textos.

Nesse sentido, portanto, os gêneros são tomados em uma perspectiva que se afilia à de Marcuschi (2003b), segundo o qual o domínio dos mais diversos gêneros textuais é uma forma de “legitimação discursiva” (p. 29), já que permite a inserção comunicativa a partir de aspectos linguísticos de maneira socialmente adequada. O autor destaca, ainda, que, no ensino, é preciso considerar que os gêneros textuais são essencialmente resultantes de práticas comunicativas, e não de ações individuais, o que se faz presente na proposta da professora, quando ela considera o contexto sócio-histórico em que os alunos estão envolvidos para realizar o trabalho com a língua. Essa perspectiva da professora também lembra o posicionamento de Marcuschi (2011, p. 23), que diz: “os gêneros são, em primeiro lugar, fatos sociais e não apenas fatos linguísticos”.

Dolz, Schneuwly e Haller (2004) consideram extremamente importante o trabalho com gêneros, pois estes proporcionam, em sala de aula, a proposição de atividades “que, a um só tempo, são específicas e fazem sentido” (p. 144). Além disso, defendem o trabalho com gêneros no sentido de que ele possibilita que os alunos fiquem cada vez mais preparados para as diversas situações de produção e recepção de textos de gêneros diversos.

Esse bimestre a gente vai focar no projeto da Olimpíada de Língua Portuguesa, e o nosso trabalho vai ser sobre Brasília Teimosa. Inicialmente sobre a história de Brasília Teimosa, do bairro, como ele se construiu, qual a relação que as pessoas têm com o bairro, e as histórias pessoais, que histórias as pessoas construíram aqui nesse bairro. Porque o gênero textual que a gente vai trabalhar no sétimo ano, a sexta série, é memórias literárias. [...]Só que a gente precisa partir de uma história, não da criança, não do estudante, mas sim de uma pessoa mais velha que viveu nesse lugar, que vive ou viveu nesse lugar. Então essa pessoa vai contar essa história pro estudante e o estudante vai retextualizar. Então, na verdade, é a retextualização de um gênero oral e a sua transposição pro gênero escrito. A gente vai iniciar com uma entrevista, com essa pessoa, uma entrevista mais... essa pessoa mais velha da comunidade, é... mas inicialmente uma entrevista mais distensa, sem muita preocupação, só pra conhecer a pessoa, que idade ela tem, que histórias ela já viveu aqui.

Assim, na diversidade de gêneros, especificamente em relação aos gêneros orais, a professora destaca que procura abordá-los em sala de aula, apesar das dificuldades estruturais da escola pública:

É importante perceber que ela não deixa que essas dificuldades sirvam como justificativa para não trabalhar com essa modalidade da língua, embora saibamos que tais trabalhos poderiam ser melhor desenvolvidos se houvesse as condições propícias para tal realização. Assim, a professora destaca alguns exemplos de atividades já realizadas com os gêneros orais naquela turma:

É interessante notar como ela sempre demonstra uma preocupação de que o trabalho com a língua seja feito a partir de situações interessantes e autênticas para os alunos, ou seja, partindo de questões que possibilitam um estudo da linguagem a partir de seu cotidiano, buscando envolver a comunidade escolar como um todo e, por conseguinte, os alunos de sua turma.

Além disso, nessa fala da professora, fica claro que os gêneros orais estão presentes em sua prática de forma variada, na forma de entrevista, documentários, palestras e conto popular (definido pela mesma como um “gênero misto”), e que tais gêneros são tomados não apenas como uma maneira de produção textual, mas sim como uma forma de “atuação sociodiscursiva numa cultura” (MARCUSCHI, 2011, p. 20).

Eu trabalho os gêneros orais com as limitações da escola pública, que a gente não tem, por exemplo, muito acesso ao gravador, nem tanto ao gravador, porque o celular ajuda muito nisso, mas a reprodução para a turma é um pouquinho complicado. Então a gente trabalha sempre nesse sentido, de trazer pra sala a transcrição de uma entrevista, por exemplo.

Eu já trabalhei também com entrevistas gravadas e que muitas vezes já estão retextualizadas nos próprios livros didáticos. Mas com o gênero oral a gente trabalha muito também com documentários que a escola oferece, aí lá a gente encontra entrevistas, palestras, enfim, então são alguns gêneros orais que a gente já trabalhou. Esse bimestre, a gente trabalhou com um gênero, vamos dizer, misto, que a gente sabe ser escrito, porém ele é apresentado como se fosse um texto oral. Como a gente estava trabalhando contos populares com a sexta série, a gente trabalhou um texto de Marieta Severo apresentando esses contos populares, só que de uma maneira como se ela tivesse realmente conversando com alguém e apresentando esses contos populares. Como normalmente a gente faria, né, pra contar um filho, ou a um amigo, uma história que é realmente reproduzida oralmente, na nossa tradição, é... no nosso folclore até, chame como quiser, esses contos populares.