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Com as professoras selecionadas foram realizadas, primeiramente, entrevistas, nas quais foram abordados os seguintes pontos: aspectos importantes para o ensino de língua portuguesa; concepções de linguagem e oralidade; critérios utilizados para a escolha de cada gênero trabalhado, e, especificamente, a forma como são abordados os gêneros orais – atividades desenvolvidas e características e dimensões importantes no que concerne à oralidade.

De acordo com Rosa e Arnoldi (2006), as entrevistas podem ser classificadas, a partir de sua forma composicional, como estruturada, semiestruturada e livre. As entrevistas estruturadas seriam aquelas em que há um roteiro fechado e padronizado de questões em uma

5 O IQE é “uma associação civil de caráter educacional e de assistência social, sem fins econômicos” (http://www.iqe.org.br/instituto/instituto.php), com a qual a Prefeitura da Cidade do Recife realizou um contrato, e que se responsabiliza pela formação continuada dos professores da rede municipal de ensino, bem como pelo fornecimento de sequências didáticas de alguns componentes curriculares a serem seguidas pelos professores e pelo acompanhamento do reflexo das formações nas escolas.

sequência predefinida, havendo a necessidade de objetividade por parte dos entrevistados. Nas entrevistas semiestruturadas, de acordo com as autoras, pode-se perceber uma maior subjetividade, uma vez que há a possibilidade de levar os sujeitos a reflexões sobre os temas que desenvolvem. Para a realização desse tipo de pesquisa, é necessário “que se componha um roteiro de tópicos selecionados” (idem, p.31), que abordarão os temas relacionados aos objetivos da pesquisa. Já nas entrevistas livres, ainda segundo as autoras, não há um roteiro previamente elaborado de questões, mas busca-se um relato oral a ser realizado pelos entrevistados sobre o tema.

Na perspectiva de Zago (2003), a opção por determinado tipo de entrevista não é neutra, uma vez que depende do problema de pesquisa e dos objetivos estabelecidos. Assim, a entrevista funciona não só como instrumento de coleta, mas também como algo que permite a “construção sociológica do objeto de estudo” (idem, p.295).

Considerando, então, nosso objeto de pesquisa, optamos por realizar com os sujeitos participantes entrevistas semiestruturadas, uma vez que, de acordo com Boni e Quaresma (2005), através de uma combinação de perguntas objetivas e subjetivas, é possível uma maior interação com os entrevistados e uma abrangência maior do tema. Bortoni-Ricardo (2008, p.127) afirma que é preciso ter em conta, na realização de uma entrevista, a existência de três características principais, relacionadas aos papeis sociais dos participantes: “a posição assimétrica dos interlocutores; sua disposição para uma convergência na linguagem e a insegurança linguística de muitos entrevistados”. A consideração desses aspectos leva o entrevistador à consciência da necessidade de ações no sentido de minimizar essa assimetria e, assim, assegurar maior eficácia na coleta de informações.

Tendo isso em vista, elaboramos, então, a partir de nossos objetivos, o seguinte roteiro de tópicos para a entrevista semiestruturada (sem excluir a possibilidade do surgimento de outros pontos úteis para a pesquisa, a depender do que fosse dito por cada um dos sujeitos):

1. concepção de linguagem e de oralidade;

2. trabalho com gêneros textuais e, especificamente, gêneros orais em sala de aula; 3. critérios para a escolha dos gêneros orais a serem trabalhados;

4. atividades que realizam no trabalho com os gêneros orais;

5. aspectos da oralidade que consideram mais relevantes para serem trabalhados em sala.

6. articulação da oralidade com os demais eixos de ensino de língua (leitura, produção e análise linguística).

Uma vez que nos ativemos às concepções e às práticas das professoras, após a realização das entrevistas, solicitamos a ambas os planos de aula, visto que estes compõem a prática docente a ser efetivada em sala de aula. A partir daí, realizamos a análise documental, buscando observar nos planos:

1. os gêneros textuais trabalhados, destacando dentre esses os gêneros orais; 2. a justificativa para a escolha desses gêneros;

3. os objetivos de ensino e/ou metas de aprendizagem relacionados eles;

4. os procedimentos metodológicos que o professor traça para atingir os respectivos objetivos.

Em seguida às entrevistas e à análise dos planos de aula, realizamos observações das aulas dessas professoras. Uma vez que, em consonância com Moreira e Caleffe (2006), é importante observar os momentos relevantes para a questão da pesquisa, observamos as sequências de aulas em que as professoras afirmaram que iriam trabalhar os gêneros orais.

Realizamos uma observação participante, assim chamada, de acordo com André (2008), por pressupor uma maior interação com os sujeitos da pesquisa. Minayo (2011b), sobre a observação participante, destaca que esse é um instrumento essencial na pesquisa qualitativa, já que permite que o pesquisador se coloque em interação constante com seu interlocutor no espaço social em que a pesquisa ocorre, observando o que ocorre em sua vida social, participando do contexto como um todo e, por consequência, modificando-o. Moreira e Caleffe (2006) afirmam, ainda, que um aspecto essencial da observação é o fato de o pesquisador testemunhar o comportamento dos pesquisados, possibilitando uma maior veracidade dos dados.

Embora a observação, de acordo com Tura (2003, p.185), suscite o sentido de ser um procedimento metodológico que “segue caminhos menos normatizados e tem protocolos mais flexíveis”, é necessário considerar que ela segue pressupostos teóricos da pesquisa e se realiza de maneira metódica. Assim, de acordo com Selltiz et al. (1987, apud RICHARDSON, 1999, p. 259),

A observação torna-se uma técnica científica à medida que serve a um objetivo formulado de pesquisa, é sistematicamente planejada, sistematicamente registrada e ligada a proposições mais gerais e, em vez de ser apresentada como conjunto de curiosidades interessantes, é submetida a verificações e controles de validade e precisão.

Dessa forma, mais uma vez considerando o objeto de nossa pesquisa, bem como nosso referencial teórico, buscamos realizar a observação das aulas focando os seguintes aspectos:

1. as concepções de linguagem e oralidade implícitas nas abordagens;

2. os procedimentos didáticos adotados e as metodologias empregadas em relação ao trabalho com os gêneros orais;

3. a abordagem da variação linguística e das especificidades do oral ;

4. a articulação, caso houvesse, entre o trabalho com os gêneros orais e as práticas de leitura, produção textual e análise linguística.

Nessas aulas foram realizadas anotações em diários de campo e gravações em áudio, em aparelhos MP4, que permitiram registrar os posicionamentos das professoras em relação ao tema no momento do trabalho em sala de aula.

No quadro abaixo, podemos observar a relação entre os objetivos da pesquisa e os procedimentos de coleta dos dados:

Quadro 2: Relação entre objetivos e procedimentos de coleta de dados

Procedimentos de coleta de dados

Objetivos Entrevista Análise

documental

Observação de aulas

Identificar as concepções de oralidade dos professores investigados e confrontá-las com aquelas implícitas em suas abordagens dos gêneros orais em sala de aula

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Verificar se os professores inserem o oral em seus planejamentos, observando que gêneros orais vêm sendo explorados e com que frequência, bem como quais os critérios utilizados pelos professores para a escolha desses gêneros;

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Verificar como os gêneros orais são abordados na prática, observando se os professores direcionam os alunos, em sala de aula, para as especificidades do oral e se esse trabalho é realizado de forma articulada com as práticas de leitura, produção textual e análise linguística.

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