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Procedimentos de coleta dos dados

Para a realização das entrevistas, o critério adotado é que fossem feitas com professores que tivessem, no momento da investigação, aluno(s) com deficiência intelectual em sua classe.

É conhecida a dificuldade de precisar um diagnóstico de deficiência intelectual. Além do que já foi exposto anteriormente, vale ressaltar:

A dificuldade de detectar com clareza os diagnósticos de deficiência mental tem levado a uma série de definições e revisões do seu conceito. [...] O diagnóstico na deficiência mental não se esclarece por uma causa orgânica, nem tampouco pela inteligência, sua quantidade, supostas categorias e tipos. Tanto as teorias psicológicas desenvolvimentistas, como as de caráter sociológico, antropológico, têm posições assumidas diante da condição mental das pessoas, mas ainda assim não se consegue fechar um conceito único que dê conta dessa intrincada questão (BRASIL, 2005b, p. 12).

Soma-se a isso outra constatação:

O número de alunos classificados como deficientes mentais foi ampliado enormemente, abrangendo todos aqueles que não demonstram bom aproveitamento escolar e com dificuldades de seguir as normas disciplinares da escola. O aparecimento de novas terminologias como “necessidades educacionais especiais” e outras contribui para aumentar a confusão entre casos de deficiência mental e aqueles que apenas apresentam problemas na aprendizagem, muitas vezes devidos às próprias práticas escolares (BRASIL, 2005b, p. 15).

Em função disso, a decisão foi direcionar a escolha dos entrevistados por meio de indicações de professores que tivessem alunos com o diagnóstico que procurávamos, de modo a garantir a legitimidade de nossa investigação.

Para tanto, em início de 2007, em contato com a coordenação da área de educação da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae-SP), foi possível conhecer uma lista de Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEI) em que havia salas com alunos com deficiência intelectual.

A idéia subsidiária a essa escolha era que os professores de tais salas tivessem um conhecimento mais aprofundado sobre a defi ciência intelectual e que pudessem ter orientações acerca do seu atendimento, o que poderia ser interessante para a pesquisa.

A listagem inicial contava com escolas de diferentes regiões da cidade de São Paulo, distribuídas de acordo com a Tabela 2.

Partindo dessa lista, foram feitos contatos com as referidas escolas na primeira quinzena de julho de 2007, procurando pelos profissionais responsáveis pela coordenação ou pela direção dos estabelecimentos, para confirmar a informação registrada na referida lista de escolas municipais.

indicada por uma colega que fazia parte da lista inicial. A sugestão foi aceita porque a professora tinha, em sua sala, um aluno com deficiência intelectual que estava dentro da faixa etária enfocada nesta pesquisa. Além disso, um dos entrevistados foi indicado por uma coordenadora do Centro de Formação e Atendimento a Inclusão (Cefai) do Ipiranga – um serviço da Prefeitura de São Paulo –, por também atender ao critério já mencionado para escolha dos entrevistados.

Tabela 2 - Distribuição das escolas por região e coordenadoria de ensino – 2007

Região Coordenadoria Número de Escolas

Zona Norte Jaçanã / Tremembé 2 (1 EMEI; 1 CEI1)

Santana / Tucuruvi 1 EMEI

Zona Sul Campo Limpo 2 EMEI

Cidade Ademar 4 EMEI

Vila Mariana 1 EMEI

Ipiranga 1 EMEI

Capela do Socorro 2 EMEI

Zona Oeste Butantã 2 EMEI

Pirituba 2 EMEI

Zona Leste Aricanduva / Vila Formosa / Carrão 1 EMEI

Penha 1 EMEI

Itaquera (Zona Leste) 2 EMEI

São Mateus 2 EMEI

São Miguel 1 EMEI

Ermelino Matarazzo 1 EMEI

Moóca 1 EMEI

Fonte: Dados sistematizados a partir de consulta no site da Secretaria Municipal de

Educação de São Paulo (www.portaleducacao.prefeitura.sp.gov.br).

Após contato telefônico com as escolas relacionadas na Tabela 2, constatou-se que em todas havia professores que ministravam aulas em turmas com alunos que, segundo o informante, apresentavam deficiência intelectual. Assim, foi possível agendar entrevistas com tais professores ainda para o mês de julho.

4.1.1 As escolas de origem dos professores que compuseram a amostra da pesquisa

As entrevistadas foram selecionadas quando havia possibilidade de agendamento entre a pesquisadora e os professores que atuavam com o alunado em questão.

Alguns entraves encontrados para a realização das entrevistas foram:

- a indisponibilidade de alguns coordenadores das EMEI indicadas para viabilizar a realização da entrevista, de modo que não foi possível ter contato com os professores;

- o período de férias de alguns professores, o que impossibilitou a realização das entrevistas na época necessária para o desenvolvimento da pesquisa;

- alegações de que a diretoria de ensino da região não permitia tal atividade na escola; e

- a falta de comunicação entre coordenação e professores de uma escola em que a entrevista havia sido marcada, pois, ao chegar ao local, a coordenadora não estava presente e os professores não haviam sido comunicados, de modo que não se dispuseram a participar da pesquisa, solicitando que novo contato fosse feito via coordenação.

Assim, a investigação teve andamento com os professores que pudemos contatar à época. A operacionalização do trabalho com as entrevistas envolveu mudanças nos critérios que haviam sido levantados inicialmente para selecionar os professores, pois estes foram sendo descaracterizados, particularmente no que se refere ao conhecimento que poderiam ter acerca da defi ciência intelectual e à possibilidade de terem alguma orientação sobre a gestão do currículo.

Entretanto, manteve-se o critério da defi ciência visada pela presente investigação, mesmo nos casos de alunos com defi ciência múltipla (que serão caracterizados mais adiante), uma vez que todos apresentavam comprometimento cognitivo associado a algum outro tipo de defi ciência.

Dessa forma, as entrevistas aconteceram no período de julho de 2007, conforme já mencionado, nas escolas citadas na Tabela 3, na qual também está sistematizado o número de entrevistados em cada uma delas, a região em que fi ca situada e a coordenadoria de ensino a que pertence (Tabela 3).

Tabela 3 - Dados de caracterização das entrevistas – 200724

Região Coordenadoria Escola Entrevistados Nomes Fictícios

Zona Sul Cidade Ademar EMEI 1 1 Ana Carolina (E1)

Campo Limpo EMEI 2 1 Fabiana (E2)

Capela do Socorro EMEI 3 2 Letícia (E3) e Dora (E4)

EMEI 4 1 Marina (E8)

Ipiranga EMEI 5 1 Clara (E7)

Zona Oeste Butantã EMEI 6 2 Cecília (E5) e Marcela (E6)

Fonte: Dados sistematizados a partir das entrevistas.

4.1.2 Os encontros: técnica utilizada

Inicialmente, a entrevista (roteiro no APÊNDICE A) teve caráter padronizado ou estruturado, de modo que se pudesse garantir que todos os entrevistados respondessem a um rol comum de perguntas. Caso fosse necessário o aprofundamento de aspectos relacionados ao tema da pesquisa, seriam acrescentadas perguntas complementares. Todavia, esse recurso foi pouco necessário, uma vez que os entrevistados puderam acrescentar informações no item 14 das entrevistas (“Há complementações que deseja inserir?”).

Cada sessão foi gravada e posteriormente transcrita, com a prévia anuência do entrevistado, por escrito, por meio de leitura e posterior assinatura em “Termo de Consentimento Livre e Esclarecido” (APÊNDICE B).

Cada entrevistado recebeu posteriormente a transcrição de sua entrevista, para que pudesse verificar os dados registrados. No entanto, apesar de tal documento ter sido encaminhado por mais de uma vez, até o presente momento a pesquisadora obteve retorno somente de uma das entrevistadas, que não sugeriu alterações no registro, fossem supressões, alterações ou mesmo inclusão de outros dados.

Na transcrição das entrevistas, foi adotado o procedimento de manter a forma como cada entrevistada se expressou. No entanto, foram excluídas marcas de oralidade e omitidos vícios de linguagem que apareceram durante a conversa, de modo a tornar a leitura do material mais contínua.

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As escolas em que foram realizadas as entrevistas não serão identifi cadas pelos respectivos nomes, mas por numeração estabelecida pela pesquisadora (EMEI 1, EMEI 2 etc.), de modo que os participantes da investigação sejam preservados.

4.1.3 Os sujeitos das entrevistas

Passaremos agora a uma caracterização dos entrevistados, preservando seus nomes e também os nomes dos alunos com deficiência intelectual com quem trabalhavam. Para isso, utilizarei nomes fictícios na transcrição das mesmas e na análise dos dados.25

A entrevista 1 (APÊNDICE C) foi realizada na EMEI 1, situada na zona Sul de São Paulo. Por ocasião da realização da entrevista, a professora entrevistada tinha 36 anos, 13 dos quais atuando em classes de educação infantil. Neste texto, essa professora será denominada Ana Carolina que, com formação em Pedagogia, tinha em 2007 uma sala de alunos de 5 e 6 anos de idade (3o estágio), dentre os quais uma aluna com síndrome de

Down com 5 anos de idade.

A entrevista 2 (APÊNDICE D) ocorreu na EMEI 2, na zona Sul da capital. A professora, doravante identificada por Fabiana, estava então com 48 anos de idade. Tinha formação em Pedagogia e atuava havia 20 anos em classes de educação infantil. Nesse ano, sua classe era formada por alunos de 5 e 6 anos de idade (“3o estágio”) na qual havia

um aluno com síndrome de Down com 6 anos de idade.

Na EMEI 3 (zona Sul), foram realizadas duas entrevistas. A terceira entrevista (APÊNDICE E) foi feita com a professora que será chamada de Letícia. Com 51 anos de idade, formação em magistério e 25 anos de atuação em classes de educação infantil, na ocasião da entrevista trabalhava com alunos de 4 e 5 anos de idade (“2o estágio”) em um

grupo em que havia uma aluna com síndrome de Down com 4 anos de idade. O sujeito da entrevista 4 (APÊNDICE F) será designado como Dora. Com 38 anos de idade e formação em Magistério e Direito, cursava Pedagogia à época da entrevista. Lecionando havia sete anos em classes de educação infantil, tinha uma aluna de 4 anos de idade com deficiência múltipla, com associação de deficiência intelectual a outras deficiências (perda visual e deficiência física), em uma sala de “1o estágio”.

As entrevistas 5 e 6 (APÊNDICES G e H, respectivamente) foram realizadas na EMEI 6, na zona Oeste. A professora da entrevista 5, que denominaremos Cecília, com 59 anos de idade, tinha licenciatura curta em Estudos Sociais, além de licenciatura plena para educação infantil e ensino fundamental em ciclo I. Lecionando há nove anos em classes de educação infantil, atuava com um grupo de “3o estágio”, no qual estudava uma aluna

com diagnóstico de polioneuropatia sensitivo-motora, associada a um atraso cognitivo importante (6 anos de idade). A professora da entrevista 6 será identificada como Marcela.

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À época da entrevista, tinha 35 anos de idade e formação em Magistério, Filosofia e Estudos Sociais, com licenciatura curta em História. Com 11 anos de experiência em classes de educação infantil, atuava com um grupo de crianças de “3o estágio”, tendo um

aluno de 6 anos de idade com síndrome de Down.

Na EMEI 5 (zona Sul), com uma professora de 32 anos de idade e 14 anos de atuação em classes de educação infantil, foi realizada a sétima entrevista. Com formação em Magistério e Especialização em pré-escola, a professora, que denominaremos Clara, tinha formação também em Geografia. Atuando com um grupo de “3o estágio”, tinha

uma aluna de 6 anos de idade com deficiência múltipla, com nítido comprometimento cognitivo associado a questões visuais e motoras (APÊNDICE I).

A entrevista 8 foi realizada na EMEI 4 (zona Sul), com uma professora de 42 anos de idade e oito anos de atuação em classes de educação infantil. Marina, como será identificada, tinha formação em Pedagogia e, por ocasião da entrevista, trabalhava com um grupo de alunos de “3o estágio”, no qual estudava um aluno com 6 anos de idade, que

tinha síndrome de Down associada a perda auditiva e visual (APÊNDICE J).

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