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Diagrama 13- Comunicação como constituinte do ser humano

3.4 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE

Os dados obtidos por meio das entrevistas foram transcritos na íntegra, e o conteúdo submetido à análise com auxílio do software ALCESTE (Analyse Lexicale par Contexte d’un

Ensemble de Segments de Texte). À vista disso, somente a parte I do instrumento da pesquisa,

composta pelos “dados demográficos”, não recebeu tratamento do ALCESTE.

O primeiro passo foi produzir uma transcrição com boa qualidade de todas as palavras faladas, mas não as características paralinguísticas, a fim de dar sentido e compreensão. Porém, para a realização da análise e interpretação, foram necessários tempo e esforço, implicando a imersão das pesquisadoras no corpus do texto, pois “os textos do mesmo modo que as falas referem-se aos pensamentos, sentimentos, memórias, planos e discussões das pessoas, e algumas vezes nos dizem mais do que seus autores imaginam” (BAUER; GASKEL, 2012, p. 189).

Durante as exaustivas leituras das transcrições foram anotadas as ideias que vieram à mente. Também foi preciso manter as finalidades e os objetivos da pesquisa, estabelecendo padrões e associações, contradições mediante as atitudes e opiniões que se desenvolveram nas entrevistas . A partir dos dados coletados e armazenados, as pesquisadoras se voltaram para os fundamentos da teoria, refletindo e analisando os conceitos e pressupostos, elaborando uma aproximação do objeto de estudo. Para auxiliar esse trabalho, foi utilizado o software, o qual representa um avanço na pesquisa qualitativa principalmente na área da saúde (BAUER; GASKEL, 2012).

O software tem a função de analisar quantitativamente os dados textuais, densos e de um número significativo de participantes, seja através da exploração de vocabulários em conteúdo escrito, em transcrições do conteúdo oral, e apresentações discursivas (AZEVEDO; MIRANDA, 2012). Ele “atende satisfatoriamente à condição de respostas advindas de perguntas abertas, entrevistas, narrativas orais, dados de mídia, artigos ou capítulos de livros a partir de um foco comum” (AZEVEDO; COSTA; MIRANDA, 2013).

Existem vários motivos para o uso de softwares na análise de dados qualitativos, como: a velocidade para manipular, comandar, investigar, mostrar as informações; realizar associações de dados entre eles; e dispor códigos ou memorandos em links para essas informações (FLICK, 2009). Além disso, apresentam com uniformidade e exatidão a análise dos procedimentos, auxiliam na comunicação entre os pesquisadores e arquivam todas as informações relacionadas à pesquisa (FLICK, 200; AZEVEDO; COSTA; MIRANDA, 2013).

O software ALCESTE é pioneiro na tecnologia da comunicação. Trata-se de uma técnica computadorizada e uma metodologia para análise de texto, exploração e descrição. Foi desenvolvido por Max Reinert na década de 1970 como “uma técnica para investigar a distribuição de vocabulário em um texto escrito e em transcrições de texto oral” (BAUER; GASKEL, 2012, p. 426). Esse software pode ser considerado uma metodologia, porque o programa dispõe de uma enorme quantidade de métodos estatísticos sofisticados que são adequados ao objetivo de análise de discurso (BAUER; GASKEL, 2012).

O corpus do texto foi preparado por um analista experiente na área, correspondendo ao conjunto discursivo transcrito na íntegra, a partir dos dados alcançados na pesquisa, produzindo um enorme arquivo de resultados. Durante a investigação do texto produzido pelos diferentes participantes, foi fundamental entender os diferentes pontos de vista coletivamente compartilhados. Desta maneira, cada afirmação foi conceituada como uma expressão de um quadro de referência, falada pelo entrevistado. O ALCESTE envolveu diferentes pontos de referências, constituindo diferentes formas de falar, ou seja, a utilização

de um vocabulário particular foi percebido como um motivo para identificar formas de pensar sobre um objeto. Portanto, o objetivo da análise do software foi distinguir classes de palavras que demonstraram diferentes maneiras do discurso a respeito do tópico em questão (BAUER; GASKEL, 2012). Durante a análise lexical realizada pelo programa, ocorreu a contagem sistemática de palavras no texto, no sentido do reconhecimento do número total e tipos de palavras nele presentes. Esse processo possibilitou um agrupamento das raízes semânticas, definindo-as por classes, de acordo com a função da palavra no discurso. Dessa maneira, foi possível quantificar e entender a delimitação das classes, a partir da ocorrência, co-ocorrência das palavras e função textual (AZEVEDO; MIRANDA, 2012; AZEVEDO; COSTA; MIRANDA, 2013).

Foi registrada para cada classe, uma relação de palavras características do enunciado que contribuíram para a apuração, a partir da análise do Qui-Quadrado (teste estatístico não paramétrico), das associações de palavras dentro de classes estudadas e na análise fatorial de correspondência múltipla. Todas as palavras que ultrapassaram determinado valor do Qui- Quadrado foram listadas. Quanto maior o valor, mais relevante foi a palavra para a construção estatística da classe. Os resultados foram representados graficamente em espaço de correspondência; para tanto, foi necessário empregar tabelas cruzadas de classes e palavras em sua forma reduzida (radicais) submetida a uma análise de correspondência (BAUER; GASKEL, 2012).

Ao analisar o corpus das entrevistas, o programa identificou as variáveis denominadas de Unidades de Contexto Inicial (UCI) usadas para individualizar o discurso de cada entrevista, caracterizada por seus aspectos relevantes (idade, profissão, sexo, escolaridade, dentre outras). Nesta etapa, as pesquisadoras participaram ativamente na ordenação do discurso, sendo que as demais etapas foram elaboradas pelo software através de combinações estatísticas, que são chamadas Unidades de Contexto Elementar (UCE). As UCEs são constituídas de enunciados linguísticos que compõem cada entrevista (AZEVEDO; MIRANDA, 2012). Depois da identificação e classificação dessas UCEs, o software avaliou a presença de ocorrências, fundamentadas em contextos de similaridade de cada raiz lexial, identificando os contextos-tipo, isto é, contextos que se reapresentaram nas entrevistas, viabilizando a formação de categorias gerais de conteúdo. Os resultados foram apresentados mediante um dendograma da Análise Hierárquica Descendente (AHD), mostrando as relações entre as classes/categorias. Em seguida ocorreu a Análise Fatorial de Correspondência (AFC), ou melhor, um plano fatorial que possibilitou visualizar prováveis oposições entre as classes/categorias (AZEVEDO; MIRANDA, 2012). O desafio foi integrar os vários resultados

em uma interpretação compreensível, e o conhecimento das pesquisadoras no campo conceitual esquematizado, para análise teórica empiricamente justificada.