• Nenhum resultado encontrado

Procedimentos de análise

No documento SANDRA REGINA MONTEIRO SALLES (páginas 42-46)

As entrevistas foram analisadas a partir do conteúdo temático, de acordo com Bardin (1995)

estabelecendo critérios de leitura geral das entrevistas transcritas, construção de categorias inicias,

intermediárias e finais, com posterior inferência e interpretação conforme o referencial teórico

apresentado.

Posteriormente foi realizada a análise do desenho do Procedimento DF-E, tendo como

referencial de análise a proposta de Van Kolck (1984), observando a avaliação dos aspectos

adaptativos (produção de acordo com o solicitado, evolução geral do grafismo conforme idade,

sexo, cultura e nível socioeconômico), aspectos expressivos (significado geral do desenho como

localização do desenho na página, tamanho do desenho, consistência do traçado, indicadores de

conflito, entre outros) e análise dos aspectos projetivos (questões inconscientes que podem indicar

conflitos ou organização e estrutura da personalidade).

Já as análises dos inquéritos foram pautadas nas orientações de Trinca (2013) e Villela

(2013), que sugerem princípios gerais de observação, como a dinâmica familiar, descortinando as

figuras de identificação, possíveis angústias, defesas e conflitos básicos, os sentimentos expressos e

principais soluções dadas ao conflito. Assim como, a pesquisa de Barbieri (2013) que procurou

estudar a contribuição do DF-E para a compreensão da tendência antissocial infantil.

4. Resultados e Discussão

Os dados sociodemográficos sobre os adolescentes e familiares estão apresentados nas

Tabelas 2 e 3, respectivamente. Na Tabela 4 estão descritas as principais características da ação

judicial que estes adolescentes respondem. Na sequência podem-se encontrar as entrevistas com os

adolescentes e pais, discutidas em categorias de análises, separadamente; as produções dos

adolescentes do procedimento Desenho Família-Estória; e, por fim discute-se os casos apresentados,

com as correlações observadas.

Tabela 2 - Dados gerais dos adolescentes

Idade

Atual Sexo Escolaridade atividade Exerce

laboral

Responde a

outros

processos

Sofreu abuso

sexual

Caso 1 16 M 1º ano Ens. Médio

(rede pública)

Não Não Não

Caso 2 16 M 1º ano Ens. Médio

(rede pública)

Não Vias de Fato

(agressão)

Não

Caso 3 15 M 2º ano Ens. Médio

(rede pública) Não Não Não

Caso 4 14 M 1º ano Ens. Médio

(rede pública)

Não Não Sim

Caso 5 17 M 1º ano Ens. Médio

(rede pública)

Não Não Não

Caso 6 16 M 6º/7º (EJA)

(rede pública)

Sim Não Não

Caso 7 17 M 1º ano Ens. Médio

(rede pública) Não Não Não

Fonte: Organização Sandra Salles

Na Tabela 2 é possível observar que todos os adolescentes que participaram da pesquisa

eram do sexo masculino, inseridos na rede de ensino, provenientes de escolas públicas. A maioria

cursava o ensino médio, e somente (um) adolescente encontrava-se ainda no ensino fundamental,

pela Educação de Jovens e Adultos. Em contrapartida, também era o único adolescente que exercia

atividade remunerada, laborando durante o dia e estudando no período noturno.

Dos sete casos estudados, somente o adolescente do caso 2 tinha outro processo judicial de

Vias de Fato, após agredir um adolescente na escola e o vídeo da agressão ter sido veiculado por

grupos de WhatsApp. Contudo o processo foi arquiva do, sendo concedida remissão direta ao

adolescente, isto é, perdão judicial.

Dos adolescentes pesquisados, apenas no caso 4 houve relato de possível abuso sexual

quando criança, verbalizado pela genitora.

Tabela 3 - Dados gerais dos familiares

Composição

Familiar

Renda

Informada

Moradia Histórico de

abuso sexual

familiar

Respondem a

processos judiciais

Caso 1 Mãe, pai,

irmãos (3) R$ 1.107,00 (mãe) Própria Não Não

Caso 2 Avó, mãe,

padrasto,

irmãos (2)

R$ 937,00

(mãe)

Própria Não Irmão mais velho

(receptação e

estelionato)

Caso 3 Mãe, pai e

irmãos (2)

Não

informado

Própria Não Não

Caso 4 Mãe, avó, tios,

irmãos (3) R$ 937,00 (mãe) Própria Mãe Não

Caso 5 Pai, mãe,

madrasta e

irmãos (12)

R$ 1600,00

(pai)

Própria Não Não

Caso 6 Mãe, padrasto,

irmãos (3),

sobrinho (1),

prima, marido

da prima, avô.

R$ 937,00

(mãe)

R$ 350,00

(sublocação)

R$ 400,00

(adolescente)

Própria Mãe Pai (tráfico de drogas)

/ Padrasto (homicídio)

Caso 7 Mãe, pai,

irmãos (2)

R$ 4.000,00

(pai/mãe)

Própria Não Não.

Fonte: Organização Sandra Salles

Na Tabela 3 é possível observar que todos os adolescentes estão inseridos em ambiente

familiar, havendo o contato com a figura materna e irmãos em todos os casos. A figura paterna se

mostra ausente ou é representada pelo padrasto ou avô. Em sua maioria, tratam-se de famílias de

camadas populares, que possuem casa própria e recebem em média até dois salários mínimos.

Quanto ao histórico de abuso sexual familiar, em dois casos as mães relataram ter sofrido

abuso sexual na infância, um abuso intrafamiliar e o outro extrafamiliar. Já em relação ao

envolvimento de familiares em atos ilegais, destaca-se em dois casos, o envolvimento do irmão, pai

e padrasto com crimes e consequente encarceramento.

Tabela 4 – Características sobre a ação judicial

Idade do

adolescente

à época da

denúncia

Idade das supostas vítimas

(todas do sexo feminino)

Vínculo existente Reconhece a

prática do abuso

sexual

Caso 1 16 5 anos Mãe do adolescente era

babá da criança

Sim

Caso 2 15 14 anos Colega da escola Parcialmente

Caso 3 16 14 anos Colega da escola Não

Caso 4 14 9 anos Irmã Não

Caso 5 17 4 anos Filha da madrasta Sim

Caso 6 14 4; 6; 6; e 7 anos Sobrinhas Não

Caso 7 16 7 anos Vizinha Não

Fonte: Organização Sandra Salles

Na Tabela 4, sobre as ações judiciais, nota-se que todos os adolescente denunciados tinham

acima de 14 anos, na época da denúncia. Já as vítimas variaram quanto a idade, sendo cinco na

segunda infância (4 a 6 anos), três na terceira infância (7 a 9 anos) e dois na adolescência (14 anos).

O vínculo existente entre adolescente e supostas vítimas foram variadas, sendo que em três

casos, as crianças pertenciam ao grupo familiar do adolescente, com convivência frequente,

indicando possível violência intrafamiliar. Já em dois casos, tratava-se de vizinhos, colega da escola

e crianças cuidadas por adultos da família, apesar de configurar possível violência extrafamiliar,

nota-se que as supostas vítimas conviviam diariamente com os adolescentes, indicando proximidade

entre eles. Autores como Habigzang et al. (2008) argumentam a grande possibilidade do abuso

sexual ocorrer no contexto familiar, ou com pessoas que convivem ou possuem laços afetivos

próximos de confiança com a vítima, gerando muitas vezes sentimento de culpa nesta, o que

dificulta a denúncia.

Apenas dois adolescentes reconheceram que perpetraram o abuso sexual, e o terceiro

reconheceu parcialmente a responsabilidade pelos fatos. Como trata-se de ações judiciais em

andamento, os casos pesquisados ainda não possuem decisão transitada em julgado.

No documento SANDRA REGINA MONTEIRO SALLES (páginas 42-46)