As entrevistas foram analisadas a partir do conteúdo temático, de acordo com Bardin (1995)
estabelecendo critérios de leitura geral das entrevistas transcritas, construção de categorias inicias,
intermediárias e finais, com posterior inferência e interpretação conforme o referencial teórico
apresentado.
Posteriormente foi realizada a análise do desenho do Procedimento DF-E, tendo como
referencial de análise a proposta de Van Kolck (1984), observando a avaliação dos aspectos
adaptativos (produção de acordo com o solicitado, evolução geral do grafismo conforme idade,
sexo, cultura e nível socioeconômico), aspectos expressivos (significado geral do desenho como
localização do desenho na página, tamanho do desenho, consistência do traçado, indicadores de
conflito, entre outros) e análise dos aspectos projetivos (questões inconscientes que podem indicar
conflitos ou organização e estrutura da personalidade).
Já as análises dos inquéritos foram pautadas nas orientações de Trinca (2013) e Villela
(2013), que sugerem princípios gerais de observação, como a dinâmica familiar, descortinando as
figuras de identificação, possíveis angústias, defesas e conflitos básicos, os sentimentos expressos e
principais soluções dadas ao conflito. Assim como, a pesquisa de Barbieri (2013) que procurou
estudar a contribuição do DF-E para a compreensão da tendência antissocial infantil.
4. Resultados e Discussão
Os dados sociodemográficos sobre os adolescentes e familiares estão apresentados nas
Tabelas 2 e 3, respectivamente. Na Tabela 4 estão descritas as principais características da ação
judicial que estes adolescentes respondem. Na sequência podem-se encontrar as entrevistas com os
adolescentes e pais, discutidas em categorias de análises, separadamente; as produções dos
adolescentes do procedimento Desenho Família-Estória; e, por fim discute-se os casos apresentados,
com as correlações observadas.
Tabela 2 - Dados gerais dos adolescentes
Idade
Atual Sexo Escolaridade atividade Exerce
laboral
Responde a
outros
processos
Sofreu abuso
sexual
Caso 1 16 M 1º ano Ens. Médio
(rede pública)
Não Não Não
Caso 2 16 M 1º ano Ens. Médio
(rede pública)
Não Vias de Fato
(agressão)
Não
Caso 3 15 M 2º ano Ens. Médio
(rede pública) Não Não Não
Caso 4 14 M 1º ano Ens. Médio
(rede pública)
Não Não Sim
Caso 5 17 M 1º ano Ens. Médio
(rede pública)
Não Não Não
Caso 6 16 M 6º/7º (EJA)
(rede pública)
Sim Não Não
Caso 7 17 M 1º ano Ens. Médio
(rede pública) Não Não Não
Fonte: Organização Sandra Salles
Na Tabela 2 é possível observar que todos os adolescentes que participaram da pesquisa
eram do sexo masculino, inseridos na rede de ensino, provenientes de escolas públicas. A maioria
cursava o ensino médio, e somente (um) adolescente encontrava-se ainda no ensino fundamental,
pela Educação de Jovens e Adultos. Em contrapartida, também era o único adolescente que exercia
atividade remunerada, laborando durante o dia e estudando no período noturno.
Dos sete casos estudados, somente o adolescente do caso 2 tinha outro processo judicial de
Vias de Fato, após agredir um adolescente na escola e o vídeo da agressão ter sido veiculado por
grupos de WhatsApp. Contudo o processo foi arquiva do, sendo concedida remissão direta ao
adolescente, isto é, perdão judicial.
Dos adolescentes pesquisados, apenas no caso 4 houve relato de possível abuso sexual
quando criança, verbalizado pela genitora.
Tabela 3 - Dados gerais dos familiares
Composição
Familiar
Renda
Informada
Moradia Histórico de
abuso sexual
familiar
Respondem a
processos judiciais
Caso 1 Mãe, pai,
irmãos (3) R$ 1.107,00 (mãe) Própria Não Não
Caso 2 Avó, mãe,
padrasto,
irmãos (2)
R$ 937,00
(mãe)
Própria Não Irmão mais velho
(receptação e
estelionato)
Caso 3 Mãe, pai e
irmãos (2)
Não
informado
Própria Não Não
Caso 4 Mãe, avó, tios,
irmãos (3) R$ 937,00 (mãe) Própria Mãe Não
Caso 5 Pai, mãe,
madrasta e
irmãos (12)
R$ 1600,00
(pai)
Própria Não Não
Caso 6 Mãe, padrasto,
irmãos (3),
sobrinho (1),
prima, marido
da prima, avô.
R$ 937,00
(mãe)
R$ 350,00
(sublocação)
R$ 400,00
(adolescente)
Própria Mãe Pai (tráfico de drogas)
/ Padrasto (homicídio)
Caso 7 Mãe, pai,
irmãos (2)
R$ 4.000,00
(pai/mãe)
Própria Não Não.
Fonte: Organização Sandra Salles
Na Tabela 3 é possível observar que todos os adolescentes estão inseridos em ambiente
familiar, havendo o contato com a figura materna e irmãos em todos os casos. A figura paterna se
mostra ausente ou é representada pelo padrasto ou avô. Em sua maioria, tratam-se de famílias de
camadas populares, que possuem casa própria e recebem em média até dois salários mínimos.
Quanto ao histórico de abuso sexual familiar, em dois casos as mães relataram ter sofrido
abuso sexual na infância, um abuso intrafamiliar e o outro extrafamiliar. Já em relação ao
envolvimento de familiares em atos ilegais, destaca-se em dois casos, o envolvimento do irmão, pai
e padrasto com crimes e consequente encarceramento.
Tabela 4 – Características sobre a ação judicial
Idade do
adolescente
à época da
denúncia
Idade das supostas vítimas
(todas do sexo feminino)
Vínculo existente Reconhece a
prática do abuso
sexual
Caso 1 16 5 anos Mãe do adolescente era
babá da criança
Sim
Caso 2 15 14 anos Colega da escola Parcialmente
Caso 3 16 14 anos Colega da escola Não
Caso 4 14 9 anos Irmã Não
Caso 5 17 4 anos Filha da madrasta Sim
Caso 6 14 4; 6; 6; e 7 anos Sobrinhas Não
Caso 7 16 7 anos Vizinha Não
Fonte: Organização Sandra Salles
Na Tabela 4, sobre as ações judiciais, nota-se que todos os adolescente denunciados tinham
acima de 14 anos, na época da denúncia. Já as vítimas variaram quanto a idade, sendo cinco na
segunda infância (4 a 6 anos), três na terceira infância (7 a 9 anos) e dois na adolescência (14 anos).
O vínculo existente entre adolescente e supostas vítimas foram variadas, sendo que em três
casos, as crianças pertenciam ao grupo familiar do adolescente, com convivência frequente,
indicando possível violência intrafamiliar. Já em dois casos, tratava-se de vizinhos, colega da escola
e crianças cuidadas por adultos da família, apesar de configurar possível violência extrafamiliar,
nota-se que as supostas vítimas conviviam diariamente com os adolescentes, indicando proximidade
entre eles. Autores como Habigzang et al. (2008) argumentam a grande possibilidade do abuso
sexual ocorrer no contexto familiar, ou com pessoas que convivem ou possuem laços afetivos
próximos de confiança com a vítima, gerando muitas vezes sentimento de culpa nesta, o que
dificulta a denúncia.
Apenas dois adolescentes reconheceram que perpetraram o abuso sexual, e o terceiro
reconheceu parcialmente a responsabilidade pelos fatos. Como trata-se de ações judiciais em
andamento, os casos pesquisados ainda não possuem decisão transitada em julgado.
No documento
SANDRA REGINA MONTEIRO SALLES
(páginas 42-46)