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Apêndice 4 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 255 Apêndice 5 – Carta anexada às devolutivas individuais

3.2. Marcas sociais e psíquicas

3.3.2. Procedimentos de coleta de informações 1 Fase exploratória

Inicialmente foi realizada uma fase exploratória, durante a etapa da construção do projeto de pesquisa, anterior a fase de campo propriamente dita. A fase exploratória

contém a escolha do tópico de investigação, a delimitação do problema, a definição do objeto e dos objetivos, a construção de hipóteses ou pressupostos e do marco teórico conceitual, a elaboração dos instrumentos de coleta de dados e da exploração do campo. (Minayo, 2008, p. 171)

Nesta fase foi realizada extensa revisão bibliográfica sobre mulher, trabalho e sobre a área de vigilância privada70. Também foi realizada pesquisa documental relativa à legislação que rege a área de

70 No ano de 2008 foi realizada pesquisa bibliográfica nas seguintes bases de dados nacionais:

Scielo, BVSpsi, Pepsic, Google Acadêmico, Capes, revistas científicas que abordam a temática gênero e/ou trabalho e sites Governamentais ou de ONGs que abordam a temática da inserção feminina no mercado de trabalho. Os seguintes descritores foram pesquisados: trabalho + feminino; trabalho + mulher; trabalho + gênero; escolha profissional feminina; divisão sexual do trabalho; profissão + vigilante; vigilância + privada; segurança + privada; segurança + particular. Esta pesquisa foi refeita no ano de 2011. Também foi realizada pesquisa na base de dados internacional SAGE (https://online.sagepub.com/cgi/register?registration=FT2010-1) entre os dias 05 e 15.10.2010 utilizando os seguintes descritores: gender + job; gender + work; woman’s work; woman’s job; sexual division of labour; gendered occupations; gender + employment; private + security; security + guards; security + gender; security + woman; security + man; security female.

vigilância patrimonial privada (Lei no 7.102/1983, Decretos no 89.056/1983 e no 1.592/1995 e Portaria no 387/2006). Estas informações configuraram fontes secundárias e deram suporte tanto à elaboração do projeto como à análise das informações de campo.

Também foi realizado contato com a Delegada Chefe da DELESP buscando levantar informações sobre as escolas de formação de vigilantes e EPS de vigilância privada em Santa Catarina; sobre o exercício da profissão de vigilante; e sobre as impressões profissionais da delegada a respeito da participação feminina nesta área.

3.3.2.2. Entrevistas individuais semi-estruturadas

O procedimento adotado em uma pesquisa deve se articular à problemática do estudo (Zago, 2003), cabendo ao pesquisador compreender os sentidos que os atores dão às suas vivências (Sévigny, 2001). O uso de entrevistas individuais semi-estruturadas, baseadas em um roteiro norteador, foi o principal procedimento de coleta de informações dessa pesquisa. Estas permitiram contato face a face entre a entrevistadora e os/as entrevistados/as, proporcionando maior aprofundamento na coleta das informações.

Zago (2003) denomina compreensiva este tipo de entrevista. “Na entrevista compreensiva, o pesquisador se engaja formalmente; o objetivo da investigação é a compreensão do social e, de acordo com este, o que interessa ao pesquisador é a riqueza do material que descobre” (p. 296). Dois roteiros orientaram a condução das entrevistas, um para cada conjunto de sujeitos (Apêndices 1 e 2). Vale reforçar que o fluxo das questões foi flexibilizado de acordo com o discurso dos sujeitos, pois “frequentemente o encontro com o[a] entrevistado[a] se amplia para além do que foi previsto, produzindo uma conversação rica em detalhes” (Zago, 2003, p. 304).

Todos/as entrevistados/as concordaram que as entrevistas fossem gravadas em meio digital. “A gravação do material é de fundamental importância, pois, com base nela, o pesquisador está mais livre para conduzir as questões, favorecer a relação de interlocução e avançar na problematização” (Zago, 2003, p. 299). Os áudios foram literalmente transcritos e utilizados como principal fonte de análise.

3.3.2.3. Método da Trajetória Sócio-Profissional

O método da Trajetória Sócio Profissional (TSP), baseado em Gaulejac (1987), foi utilizado para coleta de informações junto às mulheres que aspiravam atuar no mercado de vigilância. Para o autor, defrontar-se com sua produção gráfica e verbal pode possibilitar ao sujeito refletir e analisar sua trajetória, bem como a relação que esta mantém com sua história pessoal e social. Este método busca articular aspectos econômicos, sociais e/ou ideológicos que condicionam as escolhas sócio-profissionais dos sujeitos. Soares e Sestren (2007) apontam que a TSP propicia ao/à pesquisador/a observar diferentes posições ocupadas pelos sujeitos a partir dos indicadores e a influência de eventos pessoais ou sócio-históricos.

Depois da realização da segunda entrevista, foi solicitado às mulheres que completassem o Modelo da TSP, baseado em Soares e Sestren (2007) (Apêndice 3), com as ocupações de seus avós maternos e paternos, seu pai, sua mãe e seu esposo ou companheiro. Quando necessário, a pesquisadora realizava questionamentos buscando esclarecer alguns aspectos, tais como inserção social, espaço geográfico, grau de escolaridade dos familiares etc. Soares e Sestren (2007) salientam que esta primeira etapa permite levantar a identidade hereditária do sujeito, sendo importante para compreender seu romance familiar (Gaulejac, 1987). Em seguida, as entrevistadas foram convidadas a escrever seus trabalhos em ordem cronológica, alinhavando-os à sua trajetória escolar, vida familiar ou acontecimentos sociais e políticos que influenciaram suas escolhas.

Em alguns casos, a pedido das entrevistadas, a própria pesquisadora transcreveu suas falas no Modelo da TSP. Foi possível observar que algumas mulheres puderam se “dar conta” de como sua trajetória foi influenciada pelas suas histórias pessoais e sociais, narrando suas inserções profissionais alinhavadas à maternidade, casamento, mudanças regionais, práticas ideológicas etc. (Soares & Sestren, 2007), e enriquecendo o material coletado pela pesquisadora. Contudo, a maioria das entrevistadas teve dificuldade em compreender o método da TSP e/ou este resultou em pura descrição de trabalhos realizados e suas datas. Algumas manifestaram “medo de errar”, apesar do esclarecimento da pesquisadora que este não era um contexto de avaliação, portanto não havia “certo ou errado”. Estas TSP resultaram em material mais sintético e menos elaborado.

Por fim, cabe ressaltar que não foram realizadas interpretações ou outras formas de análise das TSP durante o processo, pois essas fugiriam do escopo da pesquisa. As TSP, de acordo com a proposta de Gaulejac (1987) utilizada por Soares e Sestren (2007), configuram um método de implicação (realizada por meio de interpretações e discussões, geralmente realizadas em grupos) e pesquisa (reflexão teórica). A execução desta atividade possivelmente gerou insights para algumas entrevistadas, porém estes foram proporcionados pelo próprio processo e não por técnicas analíticas.