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6.2 CORPUS DA PESQUISA

6.2.2 Procedimentos de coleta e análise dos dados qualitativos

O estudo das elites, em especial, requer um conhecimento acurado dos predicados pessoais dos agentes de certa comunidade, para reconstrução do sistema objetivo de posições no campo científico, conferindo aos atributos presentes um tratamento estatístico. Posteriormente, este tipo de estudo necessita compreender, de perto, o que pensam os agentes acerca dos atributos de posição que os constituem, uma vez que, como afirma Bourdieu (1989), as questões do mundo acadêmico e social estão interligadas aos indivíduos.

Contudo, alguns outros recursos poderão auxiliar o pesquisador neste tipo de estudo, a exemplo de técnicas prosopográficas, com elaboração de quadro sinóptico das principais características de agentes e instituições, bem como o uso de técnicas mais comuns, como questionário, entrevista, etnografia e observação participante (PERISSINOTTO; CODATO, 2008). Para Poupart et al. (2010, p. 32), “a pesquisa qualitativa abrange uma pluralidade de pontos de vistas epistemológicos e teóricos e pressupõe uma variedade de técnicas, sem contar a própria multiplicidade dos objetos pesquisados”.

Padronização

170 É neste sentido, que, para realização da pesquisa, foram consideradas a interação entre pesquisador e sujeitos pesquisados, com intuito de preconizar a produção do conhecimento no campo científico em Política e Gestão da Educação no contexto e nas práticas sociais vivenciadas por seus agentes, pois

Esta escuta não deveria cair na parcialidade, simplesmente ficando sensível às preocupações dos atores e ao seu vivido. Trata-se aí de um equilíbrio delicado – como o atestam as vastas discussões sobre a noção paradoxal de observação participante –, algumas correntes do qualitativo renunciaram veementemente a isso, preconizando uma implicação sem reservas na ação, que sozinha permitiria ir ao fim da verdade de uma situação. (LAPERRIÉRE, 2010, p. 415)

Particularmente, optou-se por utilizar a técnica da entrevista semiestruturada30, com os agentes produtores no campo científico em Política e Gestão da Educação, que consiste “em interrogar os atores e utilizá-los, enquanto recursos para compreensão das realidades sociais, [constituindo] uma das grandes vantagens das ciências sociais sobre as ciências da natureza, as quais se interessam por objetos desprovidos de palavras” (POUPART, 2010, p. 215). Ou, nas palavras de Bourdieu, Chamboredon e Passeron (1968, p. 56), como frisado por Poupart (2010, 215), “é, talvez, a maldição das ciências do homem, a de ter relação com um objeto que fala”. Ademais, a análise das realidades sociais, segundo a perspectiva dos atores sociais, não pode ser compreendida fora das perspectivas de seus próprios atores sociais, sendo, neste caso, a entrevista uma técnica

[...] indispensável, não somente como método para aprender a experiência dos outros, mas, igualmente, como instrumento que permite elucidar suas condutas, na medida em que estas só podem ser interpretadas, considerando-se a própria perspectiva dos atores, ou seja, o sentido que eles mesmos conferem às suas ações. Sabe-se o quanto este argumento foi fundamental, na sociologia americana para justificar o recurso aos métodos qualitativos. (POUPART, 2010, p. 217)

Com efeito, a escolha das elites acadêmicas para as entrevistas fundamentou-se na análise da produção científica e nas redes de colaboração, com intuito de identificar os pesquisadores do polo dominante do campo da Política e Gestão da Educação, por possuírem características especiais – ou seja, produzirem e colaborarem entre si para o desenvolvimento científico na região Nordeste do Brasil. Deste modo, foram considerados neste estudo os seguintes critérios: i) observou-se, primeiramente, o critério de Price (Teoria da Raiz

30 Este projeto de pesquisa foi aprovado em 12 de junho de 2014 pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres

Humanos da UFSCar sob o processo CAAE: 27152214.8.0000.5504. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e o Roteiro de Entrevista encontram-se dispostos nos Apêndices A e B.

171 Quadrada)31 que forneceu os agentes mais produtivos com base na população de 95 pesquisadores considerados na primeira fase da pesquisa, a partir das produções de artigo científico, livros e capítulos de livros; e, por sua vez, ii) procurou-se garantir que pelo menos 1 pesquisador de cada PPGE/NE participasse das entrevistas. Assim, conforme disposto no Apêndice C, 25 pesquisadores foram selecionados para a segunda fase da pesquisa, entretanto apenas 20 pesquisadores concordaram em participar das entrevistas, e apenas 16 entrevistas se concretizaram.

As vozes dos agentes foram reproduzidas de acordo com categoria analítica, aquelas capazes de ilustrar a construção do espaço acadêmico previamente definido e construído pelos seus próprios partícipes. A este respeito, vale ressaltar que por questões éticas e científicas, os entrevistados foram identificados no Capítulo 8 por etiquetas que vão de “pesq_01...” a “pesq_16”.

A produção acadêmica na forma de livros, de capítulos de livros, de artigos de periódicos científicos, a organização de sua tarefa, por intermédio da criação de grupos de pesquisa, que são gerados neste universo e nesse momento, bem como as reuniões de associações científicas, assumem a lógica de uma produção condicionada por uma conjuntura que está acima da acadêmica (HEY, 2004).

De acordo com Mizruchi (2006), em tese, embora a ARS seja aplicável a uma variedade de estudos empíricos, alguns analistas em comum acordo defendem que, em relação aos efeitos da centralidade dos agentes sobre o comportamento e as implicações da natureza das relações entre as instituições,

Apesar da variedade de conclusões sobre a relação entre centralidade e poder, a maioria dos estudos revelou pelo menos alguma associação substancialmente significativa. Eles condizem, portanto, com um princípio básico da teoria das redes: de que a posição de um agente numa estrutura social tem impacto significativo sobre seu comportamento e bem-estar. (MIZRUCHI, 2006, p. 75)

Neste contexto, Bogdan e Biklen (1994) delineiam condições para encorajar os entrevistados e orientam o pesquisador sobre o melhor caminho a trilhar:

31 A distribuição da produtividade dos autores numa coordenada cartesiana é uma distribuição tão inclinada, que

inspirou Price a propor a Lei do Elitismo. Segundo esta lei, se k representa o número total de contribuintes numa disciplina, representaria a elite da área estudada, assim como o número de contribuintes que gera a metade de todas as contribuições. [...] A essa característica da produtividade dos autores se tem chamado também de “teoria da raiz quadrada” ou Lei de Price. Esta lei estabelece que a raiz quadrada de todos os autores produtores de literatura em determinado campo produzirá, quando menos, a metade de todos os artigos publicados pela população de autores estudados. (URBIZAGÁSTEGUI-ALVARADO, 2009, p. 70)

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[...] o objeto da investigação é a compreensão das diferentes perspectivas pessoais e não uma lição aos sujeitos. Poderão existir conflitos de valores em relação aos pontos de vistas que ouviu, mas o que realmente se pretende é encorajar os entrevistados a expressarem aquilo que sentem. O seu papel enquanto investigador, não consiste em mudar pontos de vista, mas antes em compreender os pontos de vista dos sujeitos e as razões que os levam a assumi-los. (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 137-138)

Portanto, para a verificação das hipóteses deste estudo, as análises quanti-quali empreendidas tomaram por base os estudos desenvolvidos pelo sociólogo Pierre Bourdieu (1983; 1984; 2004; 2008; 2010; 2011), com intuito de identificar as elites acadêmicas no campo da Política e Gestão da Educação, presentes nos programas de pós-graduação em educação da região Nordeste do Brasil.

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CAPÍTULO 7

REDES E TRAJETÓRIAS DE FORMAÇÃO ACADÊMICO-PROFISSIONAL NO

CAMPO DA POLÍTICA E GESTÃO DA EDUCAÇÃO NO NORDESTE DO BRASIL

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Neste capítulo, apresenta-se a descrição dos dados coletados na pesquisa quantitativa. Na primeira parte, a ênfase recai na tentativa de demonstrar os dados a partir da análise descritiva e exploratória, traçando a trajetória/perfil de formação acadêmico-profissional dos agentes produtores de conhecimento no campo da Política e Gestão da Educação nos PPGE/NE. Em seguida, operacionaliza-se a Análise Fatorial de Correspondência Múltipla (AFCM) com intuito de avaliar a associação entre variáveis categóricas e observar conjuntamente toda a informação contida na tabela de contingência de informações dos programas. Por fim, realiza- se a análise das redes sociais e a articulação dos agentes atuantes nos espaços de produção.