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PARTE II: ESTUDO QUALITATIVO

CAPÍTULO 2 – METODOLOGIA

2.4 Procedimentos

2.4.1 Procedimentos de recolha de dados

No que diz respeito a técnicas de recolha de dados, de acordo com Silvestre e Araújo (2012) o uso das técnicas implica um processo racionalmente planeado que tem como fim aceder à realidade social para selecionar informações dotadas de significado para a pesquisa, recolhê- las e registá-las de forma duradoura. Estas informações constituem dados que representam unidades empíricas, permitindo avaliar um determinado facto. Esta definição leva a que tenhamos como “material empírico” as informações/conteúdos das entrevistas ou “evidências”. Estes diferentes termos são normalmente usados como equivalentes ao termo “dados” (Silvestre, 2012).

De acordo com Severino (2017, p. 124) técnicas de pesquisa são procedimentos operacionais que servem de medição prática para a realização das pesquisas e que precisam ser “compatíveis com os métodos adotados e com os paradigmas epistemológicos adotados” e que podem ser bibliográfica, documentação, entrevista, observação, história de vida, questionário, dentre várias. E, neste trabalho utilizamos pois a técnica da entrevista semiestruturada.

Esta é uma técnica de coleta de informações sobre um determinado assunto, diretamente dirigida aos sujeitos pesquisados. Trata-se de uma interação entre pesquisador e pesquisado. O objetivo desta técnica é que o pesquisador pode apreender o que os sujeitos pensam, sabem, sentem, experimentam, representam, fazem e argumentam. Marconi e Lakatos (2011) afirmam que o objetivo principal da entrevista é a obtenção de informações do entrevistado, sobre determinado assunto ou problema. Selltiz, citado por Lakatos (2011), defende que no que diz respeito ao conteúdo as entrevistas podem apresentar diferentes tipos de objetivos, por exemplo: uma entrevista com incidência na averiguação de factos, uma com o intuito de determinação das opiniões sobre os factos, outra entrevista para a determinação de sentimentos e anseios dos indivíduos, a entrevista para descoberta de planos de ação e inferir quais condutas atuais ou do passado ou terá no futuro, a entrevista para obter motivos conscientes para opiniões, sentimentos, sistemas ou condutas, que são fatores que podem influenciar as opiniões e sentimentos.

As entrevistas semiestruturadas partem de um guião com tópicos orientativos do pesquisador. Tem como principal objetivo suscitar liberdade para o entrevistado produzir a sua narrativa dando-lhe a sequência que entender (Silvestre, 2012). O entrevistador pode utilizar interrupções, pode voltar atrás no guião e retomar um tema previamente abordado, pode utilizar reformulações. Estes procedimentos servem para motivar o entrevistado a prosseguir com o seu raciocínio ou para o redimensionar. Neste trabalho utilizamos entrevistas

individuais, uma vez que nos focalizamos nas experiências pessoais de cada estudante universitário finalista e de cada Diretor Adjunto Pedagógico.

Antes de efetuar as entrevistas, contactamos, oficialmente, as instituições onde os potenciais participantes pertencem, isto é, as Direções das diversas Universidades por meio de credenciais remetidas, para efeitos de autorização para a pesquisa e recolha de dados que foram posteriormente deferidos pelos respetivos diretores.

A pesquisa para este trabalho sobre as perceções do estudante universitário finalista face à inserção no mercado de emprego no Norte de Moçambique requer uma atenção especial pelos entrevistados tendo em conta a sua situação e a sua liberdade. Assim, os estudantes interessados usaram a sua liberdade e manifestaram a sua disponibilidade para a participação na entrevista tendo todos assinado o formulário de consentimento informado (Anexo 4) ou explicitamente verbalizado (no caso das entrevistas telefónicas) a sua concordância segundo o formulário de consentimento informado (Anexo 4). Por razões éticas e com o objetivo de manter o anonimato dos entrevistados optamos por atribuir nomes simbólicos/fictícios aos mesmos para garantir a confidencialidade. A investigação que envolve seres humanos pode pôr em causa os direitos e liberdades da pessoa, tal como afirmam por exemplo Freitas, e Silveira, (2008) sendo que estes procedimentos têm como objetivo evitar que tal aconteça. Deste modo, inspirados em Carmo (1998) e Carmo e Ferreira (2008) seguimos os seguintes elementos éticos de pesquisa: respeitamos e garantimos os direitos dos que participaram voluntariamente no trabalho de investigação. A todos foram fornecidos claramente os objetivos da investigação. Para aqueles que se demonstraram indisponíveis, por vários motivos, deixamo-los respeitando a sua liberdade e para os que responderam positivamente acolhemos a disponibilidade deles. Prometemos facilitar, no fim, o acesso à informação por parte dos participantes. Foram fornecidos dados sobre todos os aspetos da investigação que podem influenciar na sua decisão de nela colaborar ou não, isto é, vantagens e desvantagens. Procuramos respeitar a todos e aceitamos a livre decisão dos indivíduos de colaborar ou não colaborar na investigação ou mesmo de desistir no seu decurso.

Foi assim estabelecido um acordo com os participantes antes de começar com a investigação no que respeita às responsabilidades do investigador e a deles próprios. Garantimos respeitar o direito a um tratamento justo e adequado das informações que os sujeitos nos disponibilizaram sem deturpar os conteúdos, sem usar as mesmas para outros fins diferentes destes que são académicos e científicos. E, durante o trabalho de recolha de dados tivemos em

consideração a dignidade de cada entrevistado prometendo os direitos de privacidade e ao anonimato para que ninguém se sinta exposto com os seus sentimentos, comportamentos, pensamentos e experiências pessoais na sociedade. Foi sempre solicitada a autorização para a gravação das entrevistas. Organizaram-se os momentos das entrevistas tendo em conta um horário próprio e adequado para o entrevistado e o entrevistador (e.g., Otman, 2016).

Dez das 26 entrevistas decorreram no mesmo espaco físico numa das universidades em dois dias no mês de Agosto de 2016. Previamente tínhamos sido direcionados para os diretores de turma do 4º Ano (último) e estes indicaram-nos o presidente do núcleo dos estudantes que, juntamente com os chefes das turmas, mobilizaram os seus colegas para a participação. Antes das entrevistas, marcamos audiência com os indivíduos, expusemos os objetivos da nossa pesquisa e, pedimos respeitosamente aparticipação deles neste trabalho. Nos dias previamente combinados um dos estudantesfez recordar e mobilizou todos aqueles estudantes que haviam manifestado interesse de participar a fim de comparecerem nas instalações desta instituição de ensino superior. Os que aderiram à participação assinaram o formulário de consentimento previamente elaborado para o efeito (Anexo 4). Essas entrevistas foram presenciais. As outras entrevistas foram feitas no mês de Setembro, tendo sido os próprios Diretores Adjuntos Pedagógicos a apresentarem o estudo aos estudantes e a solicitar a sua adesão. Nestas situações as entrevistas foram efetuadas via telefone. Oltmann (2016) defende que na última década do século XX, as entrevistas por telefone tornaram-se cada vez mais comuns nos estudos qualitativos, admitindo que pode haver motivos para usar o telefone. O autor aponta alguns motivos, tais como: quando há separação geográfica entre o entrevistador e entrevistado, isto é, quando as distâncias geográficas são difíceis de superar, nas áreas perigosas ou politicamente sensíveis etc. Para o autor, para além do telefone podem ser usados outros modos: Sype, VolP (Voz sobre protocolo de internet) e e-mail. No caso do presente estudo foi escolhido o telefone pois foi de mais fácil e generalizada utilização. Nestas entrevistas recorrendo ao telefone foram cumpridos todos os requisitos éticos em cima. O consentimento informado foi lido inicialmente tendo o entrevistado concordado explicitamente em participar.

Oltmann (2016), tendo em conta as ideias de Gerson e Horowitz, afirma que se deve ter em conta alguns cuidados práticos nomeadamente, organizar previamente o gravador, garantir que no momento de entrevista não haja obstáculos e outros indícios não-verbais que possam obstruir a comunicação para que a entrevista progrida normalmente. O autor apresenta a revisão de alguns trabalhos do fim do século XX e da primeira década do século XXI, que discutiram sobre a possibilidade de usar os meios de tecnologia e comunicação, sobretudo o

telefone, para os estudos qualitativos. Tais autores experimentaram o uso do telefone como modo de realizar entrevistas e demonstraram que, apesar de haver algumas desvantagens, há também muitas vantagens e os seus estudos produziram resultados comparáveis às entrevistas presenciais.

O autor refere que nas entrevistas pelo telefone, provavelmente se reduz o tempo e custos financeiros, a questão da distância geográfica entre o entrevistador e o entrevistado é ultrapassada e deixa-se maior liberdade ao entrevistado de se expressar sobre os temas sensíveis ou controversos. Na entrevista telefonica há uma certa segurança, diminuem-se os efeitos de interação que podem influenciar as respostas nomeadamente quanto à linguagem não-verbal e sugestões do entrevistador.

No presente estudo as entrevistas duraram em média 15 minutos. Foram utilizados dois telefones/telemóveis servindo um como instrumento de comunicação em alta voz e o outro foi utilizado como gravador. As entrevistas foram recolhidas no escritório do autor, com porta fechada para garantir a tranquilidade e boas condições de comunicação. As entrevistas presenciais duraram aproximadamente 30 minutos. Como também autorizado pelos participantes, procedeu-se às mesmas estratégias de gravação. Todas as entrevistas foram pois gravadas e posteriormente transcritas na íntegra. Quanto às entrevistas aos Diretores Adjuntos Pedagógicos seguiram-se os mesmos procedimentos éticos e práticos (nomeadamente de marcação e gravação de entrevistas) descritos anteriormente para as entrevistas aos estudantes. Três (3) das entrevistas foram realizadas presencialmente e em duas (2) situações efetuamos a entrevista pelo telefone/telemóvel. Em todas as situações as entrevistas foram gravadas após autorização dos participantes e posteriormente transcritas na íntegra (exemplo de entrevista aos estudantes universitários encontra-se no Anexo 5 e aos Diretores Adjuntos Pedagógicos no Anexo 6).